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Administração de antibióticos e a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes.

A comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes é uma das etapas do processo de cuidado que pode ser explorada para melhorar a compreensão dos pacientes sobre o uso de antibióticos. Esse estudo relata a experiência de profissionais de saúde no atendimento de pacientes com infecção das vias aéreas superiores e as principais estratégias de comunicação adotadas.

Qual a justificativa do estudo?

A resistência a antibióticos é responsável por cerca de 35.000 mortes por ano nos EUA, sendo que estudos apontam que mais de 30% das prescrições totais de antibióticos no país são desnecessárias. Tratando-se de infeções das vias áreas superiores o percentual chega à 50% de prescrições consideradas desnecessárias, dado que elucida a oportunidade de reduzir a prescrição de antibióticos na atenção primária com o objetivo de reduzir as taxas de adoecimento e mortalidade por organismos resistentes. Apesar da maioria dos profissionais de saúde estar ciente dos riscos da prescrição desnecessária de antibióticos, relatos de dificuldade de comunicação com o paciente sobre o tema não são incomuns.

Qual o objetivo do estudo?

Esse estudo, centrado no atendimento a pacientes com infeção do trato respiratório superior, visou elucidar quais fatores os profissionais de saúde consideram desafiadores em conversar sobre antibióticos com esses pacientes, quais as principais táticas utilizadas por pacientes que buscam antibióticos para influenciar a decisão dos prescritores, e quais as principais estratégias empregadas por profissionais de saúde para gerir as expectativas relacionadas a antibióticos desses pacientes.

Qual a metodologia escolhida?

Uma pesquisa online foi distribuída para os médicos e/ou diretores executivos dos principais centros de saúde estudantil das universidades com campus grandes e majoritariamente residenciais dos EUA. A pesquisa incluía perguntas optativas e discursivas, miradas em coletar dados sobre a percepção dos profissionais sobre o desejo de antibióticos dos pacientes e os fatores motivantes dessa busca, o nível de conforto dos prescritores em discutir antibióticos com os pacientes, os comportamentos utilizados por pacientes para tentar influenciar a decisão do prescritores e as estratégias adotadas pelos profissionais para discutir antibióticos e resistência a antibióticos durante a consulta. A pesquisa podia ser respondida por até 3 profissionais de cada centro de saúde e um cartão-presente de $50 de uma plataforma de compras online foi oferecido aos participantes que completaram a pesquisa.

Quais os principais resultados?

No total, 103 profissionais (principalmente médicos e enfermeiros (NP)) completaram a pesquisa, sendo que a idade dos participantes variou entre 26-69 anos e a maioria possuía mais de 10 anos de experiência. Além disso, apenas 29% relataram haver um programa de stewardship em sua instituição. Em relação ao número de atendimentos relevantes para o estudo, os profissionais afirmaram atender em média 44 pacientes devido a infecção do trato respiratório superior por semana durante a temporada de gripe.

De acordo com as respostas coletadas, os prescritores relataram notar a busca pela prescrição de antibióticos em 50% das consultas realizadas. Os principais motivadores dessa busca reportados seriam o uso anterior de antibióticos, desinformação, e influência pelas redes sociais. Apesar da considerável percepção de busca por antibióticos, nem todos os casos levaram a situações desafiantes, sendo que os participantes relataram interações desconfortáveis em 21% das consultas.

As principais táticas adotadas para tentar influenciar as práticas de prescrição relatadas foram a menção ao uso anterior de antibióticos em situações clinicamente similares, enfatizar sintomas para implicar a necessidade de antibióticos, sugestão de diagnósticos, e a solicitação direta por antibióticos. Para lidar com a busca e demanda dos pacientes por antibióticos os profissionais relataram o uso de diversas estratégias. As principais estratégias de comunicação aplicadas reportadas foram a explicação do diagnóstico, explicação da utilidade e riscos do uso de antibióticos, explicação do plano de tratamento, explicação da resistência a antibióticos, e a discussão das opções de monitoramento e acompanhamento.

Um resultado importante a ser ressaltado foi a diferença nas estratégias utilizadas quando os profissinais percebiam que seus pacientes desejavam antibióticos. Para os pacientes que eram percebidos por não buscarem antibióticos os provedores privilegiaram a explicação do plano de tratamento. Já para os pacientes percebidos por buscadorem antibióticos a estratégia mais privilegiada foi a explicação da resistência antibiótica (causas e prejuízos). Além disso, nesses casos os profissionais apresentaram maior propensão a utilizar estratégias de comunicação centradas no paciente e a explicar o diagnóstico e a utilidade/riscos dos antibióticos.

Quais as principais conclusões dos autores?

Os autores concluem que, apesar dos profissionais da atenção primária estarem cientes da necessidade de responder de forma eficaz a busca pela prescrição de antibióticos em situações inapropriadas, ainda é preciso ampliar o léxico de estratégias disponíveis. Defendem que pesquisas futuras devem esclarecer e equipar os profissionais com estratégias de comunicação que permitam simultaneamente lidar com a pressão gerada pela demanda, responder de forma profissional e com compaixão para manter a satisfação com o atendimento, e educar os pacientes para reduzir a reincidência de buscas inadequadas por antibióticos.

Quais as limitações do estudo?

O estudo possui diversas limitações. As respostas foram limitadas aos profissionais de saúde de centros de saúde de universidades com campus grande e majoritariamente residenciais e, portanto, a maior parte da população atendida foi de estudantes universitários e jovens adultos. Devido as peculiaridades da coorte, a generalização dos resultados não é viável. Além disso, a participação foi voluntária e as percepções e perspectivas dos participantes pode não refletir a opinião geral dos prescritores da atenção primária em geral e as estratégias de comunicação mais empregadas podem ser diferentes das relatadas no estudo.

 

TAGs: Comunicação, Antibióticos, Atenção Primária, Prescrição, Resistência, Prevenção

Fonte: Sun G, Manzanares K, Foley KA, Zhou Y, MacGeorge EL. Antibiotic stewardship with upper respiratory tract infection patients at student health centers: Providers’ communication experiences and strategies. Am J Infect Control. 2023;51(2):154-158.

http://doi.org/10.1016/j.ajic.2022.05.013

Sinopse por Maria Julia Ricci

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Comunicação estratégica para aprimorar práticas de prevenção e controle de infecção – https://www.ccih.med.br/comunicacao-estrategica-para-aprimorar-praticas-de-prevencao-e-controle-de-infeccao/

Comunicação efetiva – https://www.ccih.med.br/comunicacao-efetiva/

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