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Um caminho para desbravar: serviços farmacêuticos em Cuidados Paliativos

Atenção farmacêutica em cuidados paliativos

Um caminho para desbravar: serviços farmacêuticos em Cuidados Paliativos

 

O que são e o que pretendem os Cuidados Paliativos?

 

Antes que o profissional farmacêutico busque se inserir no cenário dos Cuidados Paliativos, é necessário se apropriar da filosofia e dos seus princípios básicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2002), essa vertente consiste na “assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”. A definição datada há mais de vinte anos ainda se faz atual e traz desafios.

 

Os antecedentes dos Cuidados Paliativos se confundem com a trajetória de vida de Cicely Saunders, enfermeira e médica que se dedicou à abordagem integral do cuidado dos pacientes do St. Christopher´s Hospice (Inglaterra), uma instituição fundada por ela. Dentro dos seus célebres ensinamentos, ela também registrou: “We cannot add days to life, but we can add life to days” que, em tradução livre, diz: não podemos acrescentar dias à vida, mas podemos acrescentar vida aos dias. Esta é premissa basilar dos Cuidados Paliativos, muitas vezes visto como alternativa quando não há mais opções terapêuticas disponíveis e quando o paciente apresenta certa fragilidade  na terminalidade. O termo que assusta familiares e pacientes com condições limitantes à vida deveria, na verdade, lhes trazer conforto. Este é o seu objetivo. E é nesta causa que os farmacêuticos devem ser aliados.

 

Qual a dimensão dos Cuidados Paliativos no país?

 

No Brasil, os centros desse cuidado integral são pouco numerosos, ainda mais quando se trata das regiões Norte e Nordeste. Outro mal entendido é acreditar que a Oncologia se responsabiliza pela grande fatia dos pacientes que necessitam dos Cuidados Paliativos quando, na verdade, esse ideal foi criado em sociedade porque a mobilização dessa abordagem é cada vez mais demonstrada e presente nas instituições de cuidado oncológico, enquanto todo paciente que dispõe de uma condição que limita sua vida, seja mensurado em meses ou anos, deveria receber este suporte desde o seu diagnóstico.

 

 

Ferramentas para o exercício farmacêutico dos Cuidados Paliativos

 

O que torna a prática dos Cuidados Paliativos uma alçada ambiciosa é justamente a insuficiência literária nacional a esse respeito. Dentro dos cursos da área da saúde, o tema recebe maior atenção nas grades curriculares de Medicina e Enfermagem, enquanto as graduações mais tradicionais e renomadas de Farmácia ainda carecem dessa discussão em sala de aula. Por este motivo há muitos profissionais que ainda entoam o coro da dificuldade e do pesar que o processo de morte traz consigo, enquanto descomplicá-lo deve ser o primeiro passo. A pauta também avança de forma limitada nas especializações e pós-graduações do país.

 

 

Cuidados Paliativos no modelo integrado de Assistência Farmacêutica

A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) é a principal entidade de representação multiprofissional da prática paliativa no Brasil. Em 2009 foi divulgada a 1ª edição do Manual de Cuidados Paliativos organizada pela ANCP, que traz o farmacêutico como um profissional não vinculado diretamente à equipe. Dentre as principais funções atribuídas estão: informar sobre as disponibilidades dos medicamentos, com relação às possibilidades farmacotécnicas e aos aspectos legais, bem como aos pacientes e familiares, quanto ao uso e ao armazenamento corretos dos medicamentos. Inegavelmente, as atividades clínicas do farmacêutico se somam a essa gama de atribuições.

 

Walker et. al (2010) também delimitaram importantes contribuições farmacêuticas no artigo Fifty reasons to love your palliative care pharmacist (Cinquenta razões para amar o seu farmacêutico paliativista), tendo a otimização terapêutica grande repertório. De acordo com essa literatura, a realização de cálculos precisos para a conversão de opióides, recomendação de alternativas para a troca de medicamentos na mesma classe, identificação de vias para a administração de medicamentos em pacientes com dificuldade para engolir ou com perda de consciência estão entre essas medidas. No viés educativo, destaca-se o empoderamento da rede de apoio e do paciente quanto ao uso e administração adequada de medicamentos, principalmente os que utilizam de insumos como seringas, inaladores, nebulizadores, adesivos transdérmicos, entre outros.

 

Atuação farmacêutica em Cuidados Paliativos Pediátricos

 

Outro segmento de notoriedade nos Cuidados Paliativos é a Pediatria. Como um contrassenso às expectativas da sociedade para aquele indivíduo, é necessário assumir que crianças adoecem, sofrem e podem morrer. Assumir isso é um passo importante para garantir dignidade a esses seres que, muitas vezes, não sabem ou não conseguem se expressar. O segundo passo é não subestimá-los. Nessa jornada, o farmacêutico pode se empenhar na busca por evidências clínicas relevantes para o uso de medicamentos, tão limitadas nos estudos clínicos para essa faixa etária, bem como levar para a equipe as particularidades na prescrição para grupos específicos de crianças, que por vezes justificam o uso de medicamentos off label e não licenciados, requerendo monitoramento de efetividade e segurança constante.

 

 

Farmª. Maria Clara Rodrigues

[email protected]  

https://www.linkedin.com/in/farm-maria-clara-rodrigues

 

Referências

 

ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS (Brasil). Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro, 2009. 320 p. ISBN: 978-85-89718-27-1.

 

SAUNDERS, C. The Management of Terminal Illness. Hospital Medicine Publications Limited. London, 1967.

 

WALKER, Kathryn A.; SCARPACI, Laura; MCPHERSON, Mary Lynn. Fifty reasons to love your palliative care pharmacist. American Journal of Hospice and Palliative Medicine®, v. 27, n. 8, p. 511-513, 2010.

 

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cancer pain relief and palliative care: report of a WHO expert committee. Expert Committee on Cancer Pain Relief and Active Supportive Care & World Health Organization. Geneva, 1990.

 

 

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