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Superbactérias: O Inimigo Invisível que Está Dentro dos Hospitais

Como enfrentar as superbactérias, o inimigo invisível que está dentro dos hospitais? Veja este artigo que tem por base um guia recentemente publicado pela FioCruz  e apresenta outros artigos relacionados ao tema.

Enquanto muitos ainda enxergam as superbactérias como um problema futuro, elas já estão causando mortes evitáveis, falências terapêuticas e ameaçando todo o modelo atual de cuidado hospitalar. Neste conteúdo, revelamos como a resistência antimicrobiana está sendo acelerada por falhas sistêmicas — da produção agropecuária ao uso irracional na clínica médica — e porque isso exige ação imediata de controladores de infecção e gestores hospitalares. A leitura é estratégica. O alerta é real.

1. Introdução

A resistência antimicrobiana (RAM) representa uma das mais prementes e complexas crises de saúde pública do século XXI, com implicações profundas na morbidade, mortalidade e nos custos econômicos globais.1 Projeções indicam que, sem intervenções decisivas, a RAM poderá resultar em perdas anuais do Produto Interno Bruto (PIB) global de aproximadamente US$ 1,7 trilhão nos próximos 25 anos, e um aumento projetado de 60% nas mortes relacionadas até 2050.1 A gravidade do problema transcende o ambiente clínico, estendendo-se aos setores veterinário, agrícola e ambiental, o que exige uma abordagem integrada e multissetorial para seu enfrentamento eficaz.2

Nesse cenário desafiador, guias e diretrizes desempenham um papel crucial na disseminação do conhecimento científico, na padronização de práticas clínicas e de saúde pública, e no estímulo à pesquisa e inovação. A capacidade de traduzir descobertas científicas em informações acessíveis e aplicáveis é fundamental para a conscientização e a ação coletiva.

O presente artigo tem como objetivo realizar uma análise crítica e abrangente do guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos”, publicado pela Editora Fiocruz.3 Será avaliado o propósito do guia, as entidades responsáveis por sua elaboração, a metodologia empregada na revisão bibliográfica, e a presença de patrocínios ou conflitos de interesse. Adicionalmente, o conteúdo principal do guia será detalhado, com foco em suas recomendações e aplicabilidade prática. Será conduzida uma avaliação da qualidade do guia sob a perspectiva de sistemas de classificação de evidências como GRADE, PRISMA e HICPAC, seguida de uma análise comparativa com outras diretrizes relevantes, incluindo as mais recentes recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com especial atenção às implicações para a pediatria. Por fim, serão identificados os campos em aberto para pesquisas futuras e sintetizadas as recomendações finais.

2. Análise do Guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos”

2.1. Objetivo e Entidades Responsáveis

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” tem como objetivo primordial a disseminação de conhecimento sobre bactérias resistentes a antimicrobianos para um público diversificado.3 Destina-se a estudantes de graduação e pós-graduação, bem como a profissionais da área da saúde, buscando ser um material de referência que ofereça explicações claras e resumidas sobre os temas mais relevantes em resistência bacteriana a antimicrobianos.3 A obra também visa capacitar o leitor a navegar na literatura científica e a compreender o cenário futuro da resistência, bem como as novas metodologias e pesquisas para seu enfrentamento.3 Uma das premissas centrais do guia é contextualizar a resistência antimicrobiana nos níveis local e global, com uma forte ênfase no conceito de Saúde Única.3

A publicação do guia foi realizada pela Editora FIOCRUZ, parte da Fundação Oswaldo Cruz, uma instituição pública brasileira de ciência e tecnologia em saúde.3 A organização da obra coube a Ana Paula D’Alincourt Carvalho Assef, Leticia Miranda Lery Santos e Viviane Zahner, todas pesquisadoras da Fiocruz. Os capítulos foram escritos por uma equipe multidisciplinar de autores, incluindo jovens pesquisadores de pós-graduação e especialistas afiliados a instituições como o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a Universidade Estácio de Sá, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Hospital Central da Aeronáutica.3 A natureza do guia como uma iniciativa educacional e de divulgação científica, com a participação de uma equipe diversificada de acadêmicos e pesquisadores, sublinha o compromisso da Fiocruz e dos autores com a disseminação do conhecimento e a formação de novas gerações de cientistas e profissionais de saúde. A descrição explícita do guia como “material de referência para leitores que buscam explicações claras e resumidas” e o fato de ser “resultado de atividades educativas coordenadas” e escrito por “jovens pesquisadores da pós-graduação” 3 indicam claramente que se trata de uma obra didática. A afiliação dos organizadores e autores a instituições acadêmicas e de pesquisa reforça o caráter científico e educacional da publicação, distinguindo-a de uma diretriz clínica formal.

2.2. Estrutura e Conteúdo Principal

O guia apresenta uma estrutura organizada em nove capítulos, proporcionando uma visão abrangente da resistência antimicrobiana (RAM), desde seus fundamentos históricos e biológicos até as estratégias de combate e perspectivas futuras.3

O Capítulo 1, “Antimicrobianos e Antibióticos”, oferece uma retrospectiva da descoberta dos antimicrobianos, detalhando suas classificações e mecanismos de ação.3

O Capítulo 2, “Superbactérias”, define os termos técnicos como MDR (Multidrug-resistant), XDR (Extremely drug-resistant) e PDR (Pan-drug resistant), discute o impacto global da RAM e apresenta as listas de patógenos prioritários da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2017 e 2024. Este capítulo também inclui dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre as bactérias multirresistentes mais prevalentes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) brasileiras em 2022.3

O Capítulo 3, “Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e Principais Bactérias Associadas”, aborda os fatores, consequências e os microrganismos mais frequentemente envolvidos em IRAS, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Enterococcus spp. resistentes à vancomicina (VRE), Enterobacterales e bacilos Gram-negativos não fermentadores (Acinetobacter spp. e Pseudomonas aeruginosa).3

O Capítulo 4, “Superbactérias e Saúde Única”, explora o uso de antimicrobianos em diversos setores – medicina humana, medicina veterinária, agricultura e indústria de cosméticos – e seu impacto na interconectividade da Saúde Única. Apresenta estratégias para prevenir o surgimento e a disseminação da RAM, incluindo dados sobre o consumo de antimicrobianos no Brasil.3

No Capítulo 5, “Mecanismos de Resistência a Antimicrobianos”, são descritos os tipos de resistência (intrínseca e adquirida) e os mecanismos moleculares subjacentes, como a diminuição da permeabilidade da membrana, a ação de bombas de efluxo, a formação de biofilmes, a alteração do sítio-alvo do fármaco e a inativação enzimática, com destaque para as beta-lactamases (ESBLs e Carbapenemases).3

O Capítulo 6, “Genética e Genômica Bacteriana”, discute a variabilidade genética bacteriana, os mecanismos de transferência horizontal de genes (conjugação, transformação, transdução) e o papel dos elementos genéticos móveis (plasmídeos, sequências de inserção, transposons, integrons, bacteriófagos) na disseminação da resistência, além de introduzir o sistema CRISPR/Cas9.3

O Capítulo 7, “Métodos para Caracterização de Cepas e do Perfil de Resistência”, detalha diversas técnicas de tipagem bacteriana, incluindo RFLP, Southern blotting, Ribotipagem, PFGE, análise plasmidial, RAPD, AFLP, MLVA, sequenciamento de Sanger, MLST e sequenciamento de nova geração (NGS/WGS). Também aborda os Testes de Suscetibilidade aos Antimicrobianos (TSAs), como métodos de diluição, disco-difusão, fita com gradiente e sistemas automatizados, e a detecção fenotípica de mecanismos de resistência.3

O Capítulo 8, “Interações Ambiente-Bactéria-Hospedeiro”, explora a sinalização entre bactérias (quorum sensing), os fatores de virulência (toxinas, enzimas, adesinas, sideróforos, LPS, cápsula, sistemas de secreção) e a complexa relação entre virulência e resistência.3

Por fim, o Capítulo 9, “Tratamentos Não Convencionais para Infecções Bacterianas Resistentes”, apresenta abordagens terapêuticas alternativas ou complementares, como fagoterapia, estratégias antivirulência, uso de anticorpos monoclonais, probióticos e modulação da microbiota, e terapias direcionadas ao hospedeiro (HDTs).3

A vasta abrangência de tópicos, que vai desde a biologia molecular da resistência até as políticas de saúde pública e as inovações terapêuticas, demonstra uma visão holística e multidisciplinar da RAM. Essa abordagem está em consonância com o conceito de Saúde Única, que o guia explicitamente defende, ao reconhecer a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental como pilares essenciais para o enfrentamento da RAM.3

2.3. Metodologia de Revisão Bibliográfica do Guia

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos”, por sua natureza de livro didático e de divulgação científica, não descreve uma metodologia formal de revisão bibliográfica sistemática, como as exigidas por diretrizes de relato como o PRISMA.4 Não há menção explícita a critérios de seleção de artigos, bases de dados pesquisadas de forma sistemática para a elaboração do conteúdo, ou o número de artigos encontrados e rastreados.3

As bibliografias consultadas são listadas ao final de cada capítulo, mas sem detalhamento metodológico sobre sua seleção. A ausência de uma metodologia de revisão sistemática formal é uma característica esperada e compreensível, dado que o guia se posiciona como um livro didático/informativo e não como um documento de diretriz clínica ou revisão sistemática. Isso significa que, embora o guia seja inegavelmente valioso para a educação e a conscientização sobre a RAM, ele não se propõe a ser e, portanto, não deve ser avaliado como uma diretriz clínica formal que forneça recomendações para a prática baseadas em uma revisão sistemática e gradação de evidências.

2.2. Pontos Fortes e Limitações do Guia

Apesar de não se enquadrar como uma diretriz clínica formal, o guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” possui características que o tornam uma publicação de grande valor.

  • Pontos Fortes:
    • Abrangência Temática: O guia oferece uma cobertura excepcionalmente ampla de tópicos relacionados à RAM. Ele aborda desde os aspectos moleculares e genéticos da resistência até a epidemiologia, as políticas de saúde e as novas abordagens terapêuticas.3 Essa amplitude proporciona uma compreensão holística do fenômeno.
    • Atualidade dos Dados: A publicação incorpora informações recentes, como a lista de patógenos prioritários da OMS de 2024 3 e dados de vigilância da Anvisa de 2022.3 Essa atualização garante a relevância e a pertinência do conteúdo para o cenário atual da RAM.
    • Acessibilidade e Linguagem: A linguagem utilizada é simplificada, e o uso de figuras ilustrativas facilita a compreensão de conceitos complexos por um público diversificado, incluindo estudantes e profissionais de diferentes áreas de formação.3
    • Contexto Brasileiro: A inclusão detalhada das ações e planos nacionais de combate à RAM no Brasil, como o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos (PAN-BR), o PAN-Serviços de Saúde, a RDC 20/2011 da Anvisa e as regulamentações do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) 3, é um diferencial valioso que contextualiza o problema para o público local.
    • Abordagem “Saúde Única”: A forte e explícita adoção do conceito de Saúde Única, que integra a saúde humana, animal e ambiental como pilares essenciais para o enfrentamento da RAM, é um dos maiores méritos do guia.3 Essa perspectiva é crucial para combater um problema que se manifesta em múltiplas esferas.
    • Estímulo à Pesquisa Futura: O guia demonstra uma compreensão da natureza dinâmica do conhecimento científico, reconhecendo a necessidade contínua de pesquisa e a fluidez das informações.3 Isso incentiva os leitores a buscar novas informações e a contribuir para o avanço da área.
  • Limitações:
    • Ausência de Metodologia Formal de Evidências: A principal limitação, já discutida, é a falta de uma metodologia transparente para a revisão sistemática da literatura e a gradação da força das “recomendações” baseadas em evidências. Isso impede que o guia seja utilizado como uma diretriz clínica formal para a tomada de decisões terapêuticas ou de manejo.
    • Generalidade em Profundidade: Embora abrangente, a profundidade de alguns tópicos pode ser insuficiente para especialistas que buscam detalhes metodológicos específicos de estudos primários ou análises aprofundadas de dados. O guia serve mais como uma introdução robusta do que como um tratado exaustivo.
    • Foco Principalmente Educacional: O guia é, em sua essência, um compêndio de conhecimento e um material didático. Não se destina a ser um manual prático para a tomada de decisão clínica imediata, o que pode ser uma limitação se o leitor esperar esse tipo de orientação.

A força primordial do guia reside em sua capacidade de educar e conscientizar sobre a complexidade da RAM sob a perspectiva da Saúde Única, servindo como um pilar fundamental para a formação de profissionais e a sensibilização da sociedade. Suas limitações como “guia de evidências” são inerentes à sua natureza de livro didático e não diminuem seu valor para o propósito declarado.

3. Recomendações do Guia: Fundamento e Aplicabilidade Prática

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” 3 apresenta uma série de recomendações e estratégias para o enfrentamento da RAM, alinhadas com o Plano de Ação Global da OMS. Essas recomendações são multifacetadas e abrangem desde a prevenção de infecções até a implementação de políticas públicas e o fomento à pesquisa.

3.1. Estratégias de Prevenção de Infecções

O guia enfatiza a prevenção de infecções bacterianas como uma medida primordial para desacelerar o surgimento de superbactérias.3 Essa abordagem inclui a promoção de condições dignas de moradia, como acesso a água potável, sistemas adequados de drenagem e manejo de águas pluviais, tratamento de esgoto e destinação apropriada de resíduos (residenciais, industriais e hospitalares).3 Além disso, destaca a importância da utilização de vacinas para humanos e animais, a prática de sexo seguro com o uso de preservativos, e a educação continuada em saúde sobre higiene alimentar e higiene das mãos.3

A base para essas recomendações reside no fato de que a redução da incidência de infecções diminui diretamente a necessidade de uso de antimicrobianos. Menos uso de antimicrobianos, por sua vez, resulta em menor pressão seletiva sobre as bactérias, o que retarda o surgimento e a disseminação da resistência.3 A priorização da prevenção primária, por meio de saneamento básico e vacinação, antes mesmo do uso racional de antimicrobianos, demonstra uma visão abrangente e de longo prazo para o combate à RAM. Isso reconhece que a saúde ambiental e social são pré-requisitos fundamentais para a saúde individual e coletiva.

Na prática, essas recomendações se aplicam a políticas de saúde pública em larga escala, programas de saneamento básico, campanhas de vacinação e iniciativas de educação para a saúde em comunidades e escolas. A efetividade dessas ações é crucial para mitigar a carga de infecções e, consequentemente, a demanda por antimicrobianos.

3.2. Uso Racional de Antimicrobianos

O guia propõe o uso racional de antimicrobianos como uma estratégia central para combater a RAM. Isso envolve diversas frentes: a prescrição médica adequada, idealmente guiada por exames diagnósticos, evitando a automedicação e prescrições baseadas unicamente na anamnese; a adesão rigorosa do paciente ao esquema de medicamentos, incluindo horários e duração corretos; o descarte apropriado de medicamentos; e o uso controlado e fiscalizado de antimicrobianos na medicina veterinária e na produção animal.3

O fundamento para essa ênfase é que o uso inadequado e excessivo de antimicrobianos é apontado como o principal fator que acelera o processo natural de seleção de bactérias resistentes.3 A interconexão entre a prescrição humana e o uso na agropecuária é um ponto crítico da abordagem de Saúde Única. A resistência desenvolvida em um setor pode facilmente transitar para outro, por exemplo, através de resíduos em alimentos ou do contato com animais, tornando o controle em todas as esferas indispensável para uma estratégia eficaz.3

A aplicabilidade prática dessas recomendações se manifesta na implementação e fortalecimento de Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos (ASPs) em hospitais e unidades de atenção primária.7 Tais programas incluem o desenvolvimento de diretrizes de prescrição baseadas em dados epidemiológicos locais (antibiogramas), a educação contínua de pacientes e profissionais, e a regulamentação e fiscalização rigorosas do uso de antimicrobianos na agropecuária.3 O guia destaca a importância de evitar a prescrição de antibióticos para infecções virais, como resfriados e gripes, que não requerem esse tipo de tratamento e contribuem para o ciclo de resistência.11

3.3. Fortalecimento da Vigilância e Pesquisa

O guia preconiza o investimento contínuo em pesquisa científica para o desenvolvimento de novas vacinas contra bactérias patogênicas e a descoberta de novas opções terapêuticas para infecções por superbactérias.3 Além disso, destaca a necessidade de realizar a vigilância local e global da suscetibilidade aos antimicrobianos, incluindo o monitoramento de bactérias oriundas de amostras de animais.3

O monitoramento da resistência é essencial para nortear a escolha dos antimicrobianos a serem utilizados no tratamento, identificar linhagens bacterianas predominantes e controlar a dispersão de cepas resistentes.3 A escassez de novos antimicrobianos desde a década de 1980 ressalta a urgência de inovação na pesquisa e desenvolvimento de novas classes de agentes com mecanismos de ação inéditos.3

A aplicabilidade prática dessas recomendações implica na criação e manutenção de sistemas robustos de vigilância, como o Sistema de Vigilância Global da Resistência Antimicrobiana (GLASS) da OMS 12 e os programas da Anvisa e do MAPA 3, além do fomento a centros de pesquisa e desenvolvimento de fármacos. A vigilância não deve se limitar à mera detecção de resistência, mas deve evoluir para a compreensão aprofundada da dinâmica de disseminação de clones e genes de resistência. Isso exige a adoção e o investimento em ferramentas moleculares avançadas, como o sequenciamento de genoma completo (WGS) e o metagenômico (mNGS), que permitem rastrear a evolução e a transmissão das superbactérias em tempo real.13

3.4. Melhorias no Sistema de Saúde

O guia destaca a necessidade de assegurar o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde e aos antimicrobianos, conforme previsto pela lei brasileira n. 8.080 de 1990.3 Além disso, enfatiza a formação inicial e continuada em biossegurança para todos os profissionais de saúde, a higienização adequada das unidades de saúde (com foco na prevenção de biofilmes) e a capacitação dos profissionais para identificar e conter microrganismos resistentes, compartilhando essas informações com as equipes de vigilância.3

Essas medidas visam reduzir o tempo de infecção e, consequentemente, a disseminação dos patógenos, além de minimizar a exposição e a contaminação em ambientes de alto risco, como hospitais.3 A ênfase na higiene, biossegurança e combate a biofilmes revela que a transmissão de superbactérias é um problema multifacetado que vai além da prescrição de medicamentos. A falha de muitos profissionais da saúde na adoção de medidas básicas de controle de infecção hospitalar, como a lavagem das mãos, é um fator contribuinte para as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAs).3 O reconhecimento dos biofilmes como “um reservatório de resistência bacteriana” 3 e um “fator de risco na medicina” 3 sublinha a importância de estratégias de controle ambiental que complementem o uso racional de antibióticos.

A aplicabilidade prática envolve a implementação e o reforço dos Programas de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) e das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) 3, programas de gerenciamento de antimicrobianos, e investimento em infraestrutura hospitalar que permita o isolamento de pacientes e a desinfecção eficaz.

3.5. Medidas Regulatórias e Políticas

O guia propõe a ampliação da fiscalização para garantir o cumprimento da legislação existente e a instituição da prevenção e controle da RAM como uma política de Estado, com o compromisso de diversos atores governamentais.3

A resistência antimicrobiana é uma crise global que exige uma ação coordenada e integrada em níveis local, nacional e internacional, conforme o Plano de Ação Global da OMS.3 O Brasil, alinhado a essa perspectiva, desenvolveu o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos (PAN-BR, que envolve diversos ministérios e agências reguladoras.3 A coordenação multissetorial, envolvendo ministérios da Saúde, Agricultura, Cidades, Educação, Meio Ambiente, entre outros, no PAN-BR 3, é uma manifestação prática e exemplar do conceito de Saúde Única em nível governamental. Isso sugere que a governança da RAM é tão complexa e interconectada quanto sua biologia e epidemiologia.

A aplicabilidade prática dessas medidas regulatórias e políticas inclui a implementação e o monitoramento do PAN-BR e do PAN-Serviços de Saúde 3, bem como das regulamentações do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para o uso veterinário de antimicrobianos.3 A Anvisa, por exemplo, tem publicado planos nacionais para a prevenção e o controle da resistência microbiana em serviços de saúde, com orientações para o período de 2023 a 2027 15, e tem promovido avaliações nacionais sobre gerenciamento de antimicrobianos e prevenção de infecções.15

4. Análise Crítica Comparativa e Lacunas para Pesquisa Futura

4.1. Comparação com Diretrizes Similares (Foco em Pediatria)

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” 3 oferece uma visão abrangente da RAM, mas sua natureza de compêndio didático o diferencia de diretrizes clínicas formais. Ao comparar com diretrizes similares, especialmente no contexto pediátrico, algumas distinções importantes emergem.

Diretrizes pediátricas sobre resistência antimicrobiana, como as publicadas pela Infectious Diseases Society of America (IDSA) 16 ou programas de Antimicrobial Stewardship pediátricos 8, focam em aspectos mais específicos da prática clínica. Por exemplo, a IDSA publica orientações anuais sobre o tratamento de infecções por Gram-negativos resistentes a antimicrobianos, incluindo dosagens sugeridas de antibióticos para crianças.16 Programas de stewardship pediátricos, como os do Monroe Carell Jr. Children’s Hospital 8 ou do Baylor College of Medicine 9, concentram-se em melhorar o uso apropriado de antimicrobianos, monitorar o uso e a resistência, restringir o formulário de antibióticos, criar protocolos clínicos e educar pacientes e profissionais.8

Um estudo recente publicado no European Journal of Pediatrics sobre resistência antimicrobiana na sepse neonatal 17 destaca a preocupação crescente com a resistência à ampicilina, gentamicina e amicacina, frequentemente prescritas empiricamente, e à vancomicina, amicacina e meropenem para tratamento definitivo. O estudo aponta a falta de diagnósticos rápidos, o medo de não identificar sepse precoce, a inconsistência na adesão a diretrizes e a limitação de dados de antibiogramas locais como fatores que contribuem para o uso empírico excessivo de antibióticos em neonatos.17 Outro estudo sobre resistência antimicrobiana em pediatria 18 reforça a necessidade de políticas públicas de controle e uso racional de antibióticos, especialmente para infecções comuns como otites médias, pneumonia e infecções urinárias, onde se observa resistência crescente a antibióticos de primeira linha como amoxicilina e cefalexina contra Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus.18

O guia da Fiocruz 3, embora não forneça dosagens ou protocolos específicos para condições pediátricas, serve como uma base conceitual robusta que fundamenta a necessidade dessas diretrizes clínicas. Ele explica os mecanismos de resistência, a epidemiologia das superbactérias e o conceito de Saúde Única, que são essenciais para a compreensão do problema da RAM em qualquer faixa etária, incluindo a pediátrica. A abordagem do guia sobre a vulnerabilidade do sistema imunológico infantil e o uso inadequado de antibióticos em crianças, mesmo para infecções virais, é um ponto de convergência com as preocupações levantadas pelas diretrizes pediátricas.18

4.2. O que o Guia Foi o Primeiro a Dizer e o que Deixou de Informar

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” 3 não se apresenta como uma publicação pioneira em descobertas científicas inéditas, mas sim como uma obra que sintetiza e contextualiza o conhecimento existente. Seu principal valor reside na integração e na linguagem acessível de um tema complexo e multidisciplinar, especialmente para o público brasileiro.

  • O que o guia foi o primeiro a dizer (em seu contexto):
    • A principal contribuição do guia, em seu formato e propósito, é a sistematização e a apresentação didática de um volume tão vasto de informações sobre RAM, desde a biologia molecular até as políticas públicas, em português do Brasil, por uma instituição de referência como a Fiocruz. Isso o torna um recurso educacional de destaque para a formação de novos profissionais e para a conscientização da sociedade brasileira.
    • A ênfase explícita e contínua no conceito de Saúde Única como a lente através da qual a RAM deve ser compreendida e combatida é uma abordagem integrada que poucas publicações didáticas oferecem com tal profundidade para o público brasileiro.3
    • A inclusão de dados e regulamentações específicas do Brasil, como os planos de ação da Anvisa e do MAPA, e o consumo de antimicrobianos no país 3, confere ao guia uma relevância local que o distingue de publicações internacionais mais genéricas.
  • O que o guia deixou de informar (ou abordou de forma limitada):
    • Metodologia de Revisão de Evidências: Como já discutido, o guia não detalha uma metodologia formal de revisão sistemática da literatura, como o PRISMA 4, nem a gradação da qualidade da evidência ou força das recomendações, como o GRADE.5 Essa omissão é compreensível dada a sua natureza didática, mas significa que o leitor não encontrará uma avaliação rigorosa da qualidade da evidência por trás de cada afirmação.
    • Análise de Custos e Impacto Econômico Detalhado: Embora mencione o impacto econômico da RAM 1, o guia não aprofunda em análises de custo-efetividade das intervenções propostas, nem apresenta modelos econômicos ou exemplos de retorno sobre investimento (ROI) para programas de stewardship ou outras estratégias. Essa informação seria valiosa para gestores e formuladores de políticas.
    • Barreiras para Implementação: O guia aborda a necessidade de implementação de programas e políticas, mas não se aprofunda nas complexas barreiras socioeconômicas, culturais, estruturais e de recursos humanos que dificultam a aplicação dessas estratégias, especialmente em regiões menos desenvolvidas. Questões como a escassez de especialistas, a falta de infraestrutura laboratorial e a resistência de prescritores poderiam ser mais exploradas.
    • Estratégias de Mudança Comportamental: Embora a educação seja destacada, o guia poderia explorar mais a fundo as estratégias de mudança comportamental para superar a inércia e promover a adesão a práticas racionais de uso de antimicrobianos, indo além da mera conscientização.

4.3. Campos para Pesquisa Futura

O guia, em sua própria apresentação, reconhece a natureza dinâmica do conhecimento e a necessidade contínua de pesquisa.3 Diversos pontos abordados na obra e nas diretrizes comparadas apontam para áreas que demandam investigações futuras.

  • Desenvolvimento de Novos Antimicrobianos e Terapias Alternativas: A drástica redução na identificação de novos antimicrobianos desde a década de 1980 e a escassez de novos agentes direcionados a patógenos de alta prioridade são um desafio urgente.3 Pesquisas futuras devem focar na descoberta de novas classes de antimicrobianos com mecanismos de ação inovadores, bem como no desenvolvimento e validação de terapias não convencionais, como a fagoterapia, estratégias antivirulência, anticorpos monoclonais, probióticos e terapias direcionadas ao hospedeiro (HDTs).3 A regulação e a aplicação clínica em larga escala dessas abordagens ainda exigem extensos estudos.
  • Compreensão Aprofundada dos Mecanismos de Resistência e Virulência: Embora muitos mecanismos de resistência sejam conhecidos, a interação complexa entre resistência e virulência, e sua coevolução, necessita de mais estudos integrativos.3 A investigação de como a aquisição de resistência afeta a virulência e vice-versa, e como as bactérias compensam os custos biológicos associados à resistência, é crucial. O papel dos biofilmes como reservatórios de resistência e a comunicação química entre bactérias (quorum sensing) também são áreas promissoras para o desenvolvimento de novas intervenções.3
  • Avanços em Diagnóstico Rápido e Vigilância Genômica: A necessidade de diagnósticos rápidos e precisos para guiar a terapia antimicrobiana é uma lacuna atual, especialmente em pediatria.17 O aprimoramento e a implementação em larga escala de tecnologias como o sequenciamento de genoma completo (WGS) e o metagenômico (mNGS) são essenciais para a identificação rápida de clones resistentes, o rastreamento de surtos e a compreensão da dinâmica de transmissão de patógenos.3 Pesquisas sobre a otimização desses métodos para uso clínico e a integração de dados genômicos em sistemas de vigilância são fundamentais.
  • Impacto Ambiental da RAM: O guia destaca a presença de antimicrobianos e bactérias resistentes em diversos ambientes (solo, água, esgoto, animais).3 Pesquisas futuras devem quantificar a extensão da contaminação ambiental, avaliar o impacto ecológico desses compostos e microrganismos, e desenvolver tecnologias para a remoção eficaz de antimicrobianos de efluentes e resíduos.
  • Estratégias de Implementação e Políticas Públicas: Estudos sobre a efetividade de diferentes estratégias de Antimicrobial Stewardship em diversos contextos (hospitais, atenção primária, agropecuária), incluindo análises de custo-efetividade e barreiras à implementação, são necessários. A pesquisa em ciências sociais e comportamentais para entender e superar a resistência à mudança de práticas de prescrição e uso de antimicrobianos também é um campo vital.

5. Recomendações Finais e Aplicabilidade Prática

O guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos” da Editora Fiocruz 3 é uma contribuição valiosa para a educação e conscientização sobre a resistência antimicrobiana no Brasil. Embora não seja uma diretriz clínica formal baseada em evidências, sua abrangência, atualidade e foco na perspectiva da Saúde Única o tornam um recurso fundamental.

A análise do guia e sua comparação com outras diretrizes e o cenário atual da RAM levam às seguintes recomendações finais e considerações sobre sua aplicabilidade prática:

  1. Educação e Conscientização Contínuas: O guia deve ser amplamente divulgado e utilizado como material didático em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas da saúde, biologia, veterinária e ciências ambientais. A linguagem acessível e a abordagem multidisciplinar são ideais para formar uma nova geração de profissionais cientes da complexidade da RAM. Campanhas de conscientização pública, baseadas nos princípios do guia, são essenciais para promover o uso racional de antimicrobianos e práticas de higiene.3
  2. Fortalecimento dos Programas de Antimicrobial Stewardship: A implementação e o aprimoramento de Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos (ASPs) em todos os níveis de assistência à saúde são cruciais. Esses programas devem ser baseados em diretrizes locais e nacionais (como as da ANVISA) que promovam a prescrição adequada, a adesão do paciente e a vigilância contínua da resistência.7 A integração de diagnósticos rápidos e testes de suscetibilidade antimicrobiana (TSAs) 3 na rotina clínica é fundamental para guiar terapias direcionadas.
  3. Abordagem “Saúde Única” na Prática: As políticas públicas devem reforçar a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. Isso implica em:
    • Saneamento Básico e Gestão de Resíduos: Investimento contínuo em infraestrutura de saneamento, tratamento de esgoto e descarte adequado de resíduos (incluindo medicamentos) para prevenir a disseminação de bactérias resistentes no ambiente.3
    • Uso Responsável na Agropecuária: Fiscalização rigorosa e implementação de regulamentações para limitar o uso de antimicrobianos como promotores de crescimento em animais e para prevenir doenças, conforme as diretrizes do MAPA.3
    • Vigilância Integrada: Expansão dos sistemas de vigilância da RAM para incluir dados de saúde humana, animal e ambiental, permitindo uma compreensão mais completa da dinâmica de disseminação da resistência.3
  4. Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento: É imperativo direcionar recursos para a pesquisa e o desenvolvimento de novas vacinas, novos antimicrobianos com mecanismos de ação inovadores e terapias alternativas (fagoterapia, antivirulência, HDTs).3 A colaboração entre instituições de pesquisa, universidades e a indústria farmacêutica, com incentivos governamentais, é essencial para superar a escassez de novas opções terapêuticas.
  5. Aprimoramento da Vigilância Molecular: A adoção e o investimento em tecnologias de sequenciamento de nova geração (NGS/WGS) e metagenômica (mNGS) devem ser priorizados para a identificação rápida de linhagens resistentes, o rastreamento de surtos e a compreensão da evolução e transmissão da RAM.3 Isso é particularmente relevante para populações vulneráveis, como a pediátrica, onde a resistência tem se mostrado um desafio crescente.18

Em síntese, o guia da Fiocruz serve como um pilar educacional para o enfrentamento da RAM. Suas recomendações, fundamentadas na interconexão da Saúde Única, devem ser traduzidas em ações práticas coordenadas entre os setores de saúde, agropecuária e meio ambiente, apoiadas por políticas públicas robustas e investimento contínuo em pesquisa e inovação. A luta contra a resistência antimicrobiana é uma missão coletiva e urgente, que demanda conhecimento técnico, compromisso ético e políticas institucionais sólidas.

O texto encerra com um chamado veemente à responsabilidade coletiva e ação estratégica. A resistência bacteriana não é um fenômeno isolado, e sim um reflexo direto das nossas escolhas como sociedade, profissionais e instituições. O uso descontrolado de antimicrobianos, tanto na medicina humana quanto na produção animal, alimenta um ciclo que só será rompido com políticas rigorosas, vigilância ativa e educação técnica permanente.
Para os profissionais da linha de frente — infectologistas, enfermeiros de CCIH, farmacêuticos clínicos e gestores hospitalares —, compreender e agir sobre essa realidade deixou de ser diferencial: é questão de sobrevivência institucional e de saúde pública.

6. Referências Bibliográficas

Artigos Citados do Guia “Superbactérias Resistentes a Antimicrobianos”

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  1. ASSEF, A. D. C.; SANTOS, L. M.; ZAHNER, V. (orgs.). Superbactérias resistentes a antimicrobianos. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2025. Disponível em: https://books.scielo.org/fiocruz/. DOI: https://doi.org/10.7476/9786557082331.

Artigos Relacionados ao Tema (Pubmed, BIREME, ScienceDirect, Journal of Hospital Infection, Infection Control and Hospital Epidemiology)

  1. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Antimicrobial Resistance (AR). . Disponível em: https://www.cdc.gov/antibiotic-resistance/about/index.html.
  2. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Anvisa prorroga Avaliações Nacionais sobre Gerenciamento de Antimicrobianos e Prevenção de Infecções até 31/01. . Disponível em: https://www.inaff.org.br/noticias/anvisa-prorroga-avaliacoes-nacionais-sobre-gerenciamento-de-antimicrobianos-e-prevencao-de-infeccoes-ate-31-01/.
  3. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Antimicrobial-resistant superbugs could kill millions, cost $2 trillion yearly by 2050: report. . Disponível em: https://timesofindia.indiatimes.com/world/uk/antimicrobial-resistant-superbugs-could-kill-millions-cost-2-trillion-yearly-by-2050-report/articleshow/122810364.cms.
  4. LIBERATI, A. et al. The PRISMA Statement for Reporting Systematic Reviews and Meta-Analyses of Studies That Evaluate Health Care Interventions: Explanation and Elaboration. BMJ, v. 372, n. n71, 2020. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.n71.
    • Breve resumo: Este artigo apresenta a declaração PRISMA 2020, uma atualização das diretrizes para relatar revisões sistemáticas e meta-análises, visando melhorar a transparência e a completude dos relatórios de pesquisa em saúde.
  5. ONTARIOMIDWIVES. What is GRADE?. . Disponível em: https://www.ontariomidwives.ca/grade-methodology.
    • Breve resumo: Explica a metodologia GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation), um sistema sistemático para avaliar a qualidade da evidência e a força das recomendações em cuidados de saúde, destacando seus benefícios em relação a abordagens anteriores.
  6. SHEA. HICPAC FAQs. . Disponível em: https://shea-online.org/hicpac-faqs/.
    • Breve resumo: Fornece informações sobre o Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC), um comitê consultivo que orienta o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA e o CDC sobre as melhores práticas para vigilância e prevenção de infecções associadas à assistência à saúde.
  7. KHADSE, S. N.; UGEMUGE, S.; SINGH, C. Impact of Antimicrobial Stewardship on Reducing Antimicrobial Resistance. Instituto CCIH+, 2023. Disponível em: https://www.ccih.med.br/o-impacto-da-gestao-de-antimicrobianos-na-reducao-da-resistencia/.
    • Breve resumo: Este artigo de revisão discute a urgência da resistência antimicrobiana e o papel indispensável dos Programas de Gestão de Antimicrobianos (PGAs) no combate a essa crise, detalhando estratégias e evidências de sua eficácia.
  8. MONROE CARELL JR. CHILDREN’S HOSPITAL. Antimicrobial Stewardship Program. . Disponível em: https://pediatrics.vumc.org/antimicrobial-stewardship-program.
    • Breve resumo: Descreve o Programa de Gestão de Antimicrobianos do Monroe Carell Jr. Children’s Hospital, focado em melhorar os resultados dos pacientes, reduzir a resistência antimicrobiana e diminuir os custos de saúde através do uso apropriado de antibióticos.
  9. BAYLOR COLLEGE OF MEDICINE. Pediatric Antimicrobial Stewardship. . Disponível em: https://www.bcm.edu/departments/pediatrics/divisions-and-centers/infectious-diseases/pediatric-antimicrobial-stewardship.
    • Breve resumo: Apresenta as atividades da equipe de gestão de antimicrobianos pediátricos do Baylor College of Medicine, que visa garantir a prescrição apropriada de antimicrobianos em crianças, alinhada aos Core Elements do CDC.
  10. ST. LOUIS CHILDREN’S HOSPITAL. Antimicrobial Stewardship Program (ASP). . Disponível em: https://www.stlouischildrens.org/healthcare-professionals/resources/clinical-resources/antimicrobial-stewardship-program-asp/antim-0.
    • Breve resumo: Oferece recursos e diretrizes clínicas do Programa de Gestão de Antimicrobianos do St. Louis Children’s Hospital, incluindo antibiogramas, restrições de antimicrobianos e orientações para infecções comuns.
  11. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Antibiotic Use: Facts & Stats. . Disponível em: https://www.cdc.gov/antibiotic-use/data-research/facts-stats/index.html.
    • Breve resumo: Fornece informações sobre o uso apropriado de antibióticos, a ameaça da resistência antimicrobiana e o que está sendo feito para combatê-la, enfatizando que antibióticos não tratam infecções virais.
  12. NUNES, P. B. et al. Resistência antimicrobiana na pediatria: um desafio emergente no uso de antibióticos. Brazilian Journal of One Health, v. 2, n. 2, p. 105-115, mar. 2025. DOI: https://doi.org/10.70164/bjoh.v2i2.89.
    • Breve resumo: Analisa o impacto da resistência antimicrobiana em infecções pediátricas comuns, avaliando a prevalência de cepas resistentes e as práticas de prescrição de antibióticos, e reforça a necessidade de políticas públicas de controle.
  13. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório global de resistência antimicrobiana e sistema de vigilância de uso Antimicrobiano (GLASS). . Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/?p=7696.
    • Breve resumo: Relatório da OMS que revela altos níveis de resistência em bactérias que causam sepse e infecções comuns, com base em dados de 87 países, destacando a importância do sistema GLASS para vigilância.
  14. WANG, Y. et al. Longitudinal surveillance of the molecular evolution of methicillin-resistant Staphylococcus aureus isolates from pediatric patients in Shanghai, China, from 2013 to 2022. Emerging Microbes & Infections, . DOI: https://doi.org/10.1080/22221751.2025.2028109.
    • Breve resumo: Pesquisa que investiga a epidemiologia genômica de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) em uma população pediátrica, utilizando sequenciamento de genoma completo para caracterizar a diversidade genética, perfis de resistência e fatores de virulência.
  15. XU, Y. et al. Rapid prediction of antibiotic resistance in Enterobacter cloacae complex using whole-genome and metagenomic sequencing. Journal of Clinical Microbiology, . DOI: https://doi.org/110.1128/jcm.00080-25.
    • Breve resumo: Estudo que propõe uma abordagem combinada de sequenciamento de genoma completo e metagenômico para prever rapidamente a resistência a antibióticos em Enterobacter cloacae complex, visando melhorar o manejo clínico.
  16. INFECTIOUS DISEASES SOCIETY OF AMERICA (IDSA). Pediatric Dosing of Beta-Lactam Agents for Antimicrobial-Resistant Gram-Negative Infections: A Companion Document to the IDSA Guidance. . Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39847495/.
    • Breve resumo: Documento complementar da IDSA que oferece orientações de dosagem de agentes beta-lactâmicos para o tratamento de infecções por Gram-negativos resistentes a antimicrobianos em neonatos, crianças e adolescentes.
  17. MATORIA, R.; SONI, P. Antibiotic resistance a concern in neonatal sepsis cure: Study. European Journal of Pediatrics, . Disponível em: https://timesofindia.indiatimes.com/city/jaipur/antibiotic-resistance-a-concern-in-neonatal-sepsis-cure-study/articleshow/122801220.cms.
    • Breve resumo: Revisão que destaca a crescente preocupação com a resistência a antibióticos no tratamento da sepse neonatal, apontando o uso empírico excessivo de antibióticos e a falta de diagnósticos rápidos como fatores contribuintes.
  18. HEALTH SERVICE EXECUTIVE (HSE). HSE Antimicrobial Resistance Infection Control (AMRIC) Action Plan 2022-2025. . Disponível em: https://www.hse.ie/eng/about/who/healthwellbeing/our-priority-programmes/hcai/resources/general/hse-antimicrobial-resistance-infection-control-amric-action-plan-2022-2025.pdf.
    • Breve resumo: Plano abrangente da Irlanda para combater a resistência antimicrobiana, alinhado ao plano nacional “One Health”, com objetivos estratégicos para melhorar a conscientização, vigilância, controle de infecções e otimização do uso de antibióticos.
  19. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 30: avaliação dos indicadores nacionais das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (Iras) e resistência microbiana do ano de 2022. Brasília: Anvisa, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/boletim-seguranca-do-paciente
    • Breve resumo: Relatório da Anvisa que avalia os indicadores nacionais de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e resistência microbiana no Brasil em 2022, destacando as espécies bacterianas multirresistentes mais prevalentes em UTIs.
  20. AMERICAN JOURNAL OF INFECTION CONTROL. July 2023. . Disponível em: https://ge2p2-center.net/wp-content/uploads/2023/07/the-sentinel_-period-ending-15-jul-2023.pdf.
    • Breve resumo: Artigo que discute o custo da resistência antimicrobiana, estimando que pode chegar a 20 bilhões de dólares em custos médicos excessivos.
  21. THE LANCET REGIONAL HEALTH – EUROPE. Antimicrobial resistance in Neisseria gonorrhoeae and its risk groups in 23 European countries in 2022 within the European Gonococcal Antimicrobial Surveillance Programme (Euro-GASP): a retrospective observational study. . Disponível em: https://researchportal.ukhsa.gov.uk/en/organisations/nis-healthcare-associated-infections-surveillance-general/publications/.
    • Breve resumo: Estudo observacional retrospectivo sobre a resistência antimicrobiana em Neisseria gonorrhoeae em 23 países europeus em 2022, como parte do Programa Europeu de Vigilância Antimicrobiana Gonocócica (Euro-GASP).
  22. BLAIR, J. M. A. et al. Molecular mechanisms of antibiotic resistance. Nature Reviews Microbiology, v. 13, n. 1, p. 42-51, 2015. DOI: https://doi.org/10.1038/nrmicro3380.
    • Breve resumo: Uma revisão abrangente sobre os mecanismos moleculares de resistência a antibióticos, incluindo alterações no sítio-alvo, efluxo, inativação enzimática e diminuição da permeabilidade, destacando a complexidade do fenômeno.
  23. ARZANLOU, M.; CHAI, W. C.; VENTER, H. Intrinsic, adaptive and acquired antimicrobial resistance in Gram-negative bacteria. Essays in Biochemistry, v. 61, n. 1, p. 49-59, 2017. DOI: https://doi.org/10.1042/EBC20160067.
    • Breve resumo: Este artigo discute os diferentes tipos de resistência antimicrobiana em bactérias Gram-negativas (intrínseca, adaptativa e adquirida), explicando os mecanismos subjacentes e sua importância na sobrevivência bacteriana.
  24. CARRAMASCHI, I. N. et al. Multidrug-resistant Klebsiella quasipneumoniae subsp. similipneumoniae carrying bla. Journal of Global Antimicrobial Resistance, v. 24, p. 1-5, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jgar.2020.09.006.
    • Breve resumo: Estudo que descreve a detecção de uma cepa de Klebsiella quasipneumoniae subsp. similipneumoniae multirresistente, coprodutora de NDM e CTX-M15, isolada de uma mosca no Rio de Janeiro, evidenciando a disseminação de genes de resistência fora do ambiente hospitalar.
  25. CHEN, M.; YU, Q.; SUN, H. Novel strategies for the prevention and treatment of biofilm related infections. International Journal of Molecular Sciences, v. 14, n. 9, p. 18488-18501, 2013. DOI: https://doi.org/10.3390/ijms140918488.
    • Breve resumo: Aborda novas estratégias para prevenir e tratar infecções relacionadas a biofilmes, destacando a importância dessas estruturas na resistência antimicrobiana e na persistência de infecções.
  26. COSTERTON, J. W.; STEWART, P. S.; GREENBERG, E. P. Bacterial biofilms: a common cause of persistent infections. Science, v. 284, n. 5418, p. 1318-1322, 1999. DOI: https://doi.org/10.1126/science.284.5418.1318.
    • Breve resumo: Artigo seminal que estabelece os biofilmes bacterianos como uma causa comum de infecções persistentes, explicando sua estrutura e os mecanismos que conferem resistência a antimicrobianos.
  27. DANTAS, R. C. C. et al. Molecular epidemiological survey of bacteremia by multidrug resistant Pseudomonas aeruginosa: the relevance of intrinsic resistance mechanisms. PLOS One, v. 12, n. 5, p. e0176774, 2017. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0176774.
    • Breve resumo: Estudo epidemiológico molecular sobre bacteremia por Pseudomonas aeruginosa multirresistente, destacando a relevância dos mecanismos de resistência intrínseca na disseminação dessas cepas.
  28. DAVIN-REGLI, A.; PAGÈS, J. M. Enterobacter aerogenes and Enterobacter cloacae: versatile bacterial pathogens confronting antibiotic treatment. Frontiers in Microbiology, v. 6, p. 392, 2015. DOI: https://doi.org/10.3389/fmicb.2015.00392.
    • Breve resumo: Revisão sobre Enterobacter aerogenes e Enterobacter cloacae como patógenos versáteis que enfrentam o tratamento com antibióticos, com foco em seus mecanismos de resistência.
  29. GHOLIZADEH, P. et al. How CRISPR-Cas system could be used to combat antimicrobial resistance. Infection and Drug Resistance, v. 13, p. 1111-1121, 2020. DOI: https://doi.org/10.2147/IDR.S245422.
    • Breve resumo: Explora como o sistema CRISPR-Cas pode ser utilizado como uma ferramenta para combater a resistência antimicrobiana, oferecendo novas perspectivas terapêuticas.
  30. LUONG, T.; SALABARRIA, A. C.; ROACH, D. R. Phage therapy in the resistance era: where do we stand and where are we going? Clinical Therapeutics, v. 42, n. 9, p. 1659-1680, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.clinthera.2020.07.013.
    • Breve resumo: Revisão sobre a fagoterapia na era da resistência antimicrobiana, discutindo seu status atual, desafios e perspectivas futuras como alternativa ou complemento aos antibióticos.
  31. PARTRIDGE, S. R. et al. Mobile genetic elements associated with antimicrobial resistance. Clinical Microbiology Reviews, v. 31, n. 4, 2018. DOI: https://doi.org/10.1128/CMR.00088-17.
    • Breve resumo: Revisão detalhada sobre o papel dos elementos genéticos móveis (plasmídeos, transposons, integrons) na disseminação da resistência antimicrobiana entre bactérias.
  32. SCHAUFLER, K. et al. Carriage of extended-spectrum beta-lactamase-plasmids does not reduce fitness but enhances virulence in some strains of pandemic E. coli lineages. Frontiers in Microbiology, v. 7, p. 336, 2016. DOI: https://doi.org/10.3389/fmicb.2016.00336.
    • Breve resumo: Estudo que demonstra que plasmídeos portadores de ESBLs podem não reduzir a aptidão bacteriana e, em alguns casos, podem até aumentar a virulência em linhagens pandêmicas de E. coli.

Artigos/Blogs do www.ccih.med.br

  1. INSTITUTO CCIH+. O Impacto da Gestão de Antimicrobianos na Redução da Resistência. 2023. Disponível em: https://www.ccih.med.br/o-impacto-da-gestao-de-antimicrobianos-na-reducao-da-resistencia/.
  2. INSTITUTO CCIH+.  Superbactérias no Ar: Você Está Preparado para essa Ameaça Invisível?. Instituto CCIH+, https://www.ccih.med.br/superbacterias-no-ar-voce-esta-preparado-para-essa-ameaca-invisivel/.
  3. INSTITUTO CCIH+.  Uma Mudança Simples, Um Impacto Profundo: Stewardship Diagnóstico em Ação. Instituto CCIH+, 3 jul. 2025. Disponível em: https://www.ccih.med.br/uma-mudanca-simples-um-impacto-profundo-stewardship-diagnostico-em-acao/.
  4. INSTITUTO CCIH+.. Microbiologia que educa: o impacto de um simples comentário laboratorial. Instituto CCIH+, [s.d.]. Disponível em: https://www.ccih.med.br/microbiologia-que-educa-o-impacto-de-um-simples-comentario-laboratorial/

Sinopse por:

Antonio Tadeu Fernandes:

https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/

https://www.instagram.com/tadeuccih/

 

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