Antibioticoterapia 4.0: o novo campo de batalha contra a resistência microbiana.
A medicina moderna vive uma encruzilhada histórica — e silenciosa. As superbactérias desafiam nossa capacidade de curar, corroendo conquistas que antes pareciam definitivas. Cirurgias de rotina, transplantes e quimioterapias estão, novamente, sob ameaça. No epicentro dessa crise, os profissionais de CCIH enfrentam um inimigo adaptável e mutante: a resistência antimicrobiana (RAM).
Mas há razões para otimismo — e estratégia.
O avanço de novos antibióticos como plazomicina, cefiderocol e meropenem-vaborbactam, as inovações em nanotecnologia e sistemas de liberação de fármacos, e o fortalecimento dos programas de Antimicrobial Stewardship (AMS) desenham um novo cenário.
Este artigo explora como ciência, gestão e tecnologia convergem para transformar o enfrentamento da RAM — e por que a liderança das equipes de CCIH é decisiva para garantir um futuro terapêutico sustentável.
FAQ: Desafios e Novidades na Antibioticoterapia e Controle de Infecção
Página de Perguntas Frequentes para Profissionais de Saúde
Este FAQ foi elaborado para auxiliar gestores hospitalares, membros da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), médicos, farmacêuticos e enfermeiros a se atualizarem sobre as principais mudanças e desafios na antibioticoterapia, com foco na resistência antimicrobiana e nas estratégias de prevenção e controle.
Parte 1: Conceitos Fundamentais e Cenário Global
1. O que é a resistência antimicrobiana (RAM) e por que é chamada de “pandemia silenciosa”?
A resistência antimicrobiana (RAM) é a capacidade de microrganismos (como bactérias, fungos, vírus e parasitas) de resistirem à ação de medicamentos que antes eram eficazes para tratá-los. É chamada de “pandemia silenciosa” porque, ao contrário de pandemias como a de COVID-19, sua progressão é gradual e menos visível, mas com consequências igualmente devastadoras para a saúde global.
2. Qual o impacto da RAM na segurança do paciente e nos procedimentos médicos?
A RAM ameaça reverter décadas de progresso na medicina, tornando procedimentos comuns, como cirurgias, quimioterapias e transplantes, muito mais arriscados devido à possibilidade de infecções intratáveis.
3. Quais são os principais fatores que contribuem para o aumento da RAM?
O uso excessivo e inadequado de antibióticos na saúde humana e na agropecuária, a falta de saneamento básico, a dificuldade de acesso à água potável e a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos são os principais fatores.
4. O que a OMS recomenda para combater a RAM?
A OMS recomenda um plano de ação global que inclui a melhoria da conscientização sobre o problema, o fortalecimento da vigilância e da pesquisa, a redução da incidência de infecções, a otimização do uso de antimicrobianos e o aumento do investimento em novas tecnologias.
5. Qual a relação entre a pandemia de COVID-19 e o aumento da RAM?
A pandemia de COVID-19 levou a um aumento no uso de antibióticos para tratar coinfecções bacterianas (muitas vezes de forma empírica e desnecessária), além de sobrecarregar os sistemas de saúde, o que pode ter contribuído para o aumento da RAM.
Parte 2: Epidemiologia e Desafios no Brasil
6. Qual a taxa de infecções hospitalares no Brasil?
Estima-se que a taxa de infecções hospitalares no Brasil atinja 14% das internações, segundo dados do Ministério da Saúde.
7. Quais são os patógenos multirresistentes mais preocupantes no Brasil?
No Brasil, os patógenos multirresistentes que mais preocupam são as enterobactérias resistentes a carbapenêmicos (CRE), como Klebsiella pneumoniae, e os bacilos não fermentadores, como Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa.
8. O que são Enterobactérias Resistentes a Carbapenêmicos (CRE)?
São bactérias da família Enterobacterales que se tornaram resistentes aos antibióticos carbapenêmicos, considerados de última linha para o tratamento de infecções graves.
9. O que são KPC e NDM?
KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) e NDM (New Delhi metallo-beta-lactamase) são enzimas que conferem resistência a múltiplos antibióticos, incluindo os carbapenêmicos.
10. Qual a mudança no perfil epidemiológico das carbapenemases no Brasil?
Observa-se uma mudança no perfil, com o aumento da prevalência de metalo-β-lactamases (MBLs), como a NDM, em detrimento da KPC. Essa mudança é preocupante, pois os novos inibidores de β-lactamase não são eficazes contra MBLs.
11. Por que a prevalência de Acinetobacter baumannii resistente é um problema?
Acinetobacter baumannii é um patógeno oportunista frequentemente associado a infecções hospitalares, com alta capacidade de adquirir resistência a múltiplos antibióticos, tornando o tratamento um grande desafio.
- Referência: The Evolution of Antimicrobial Resistance in Acinetobacter baumannii and New Strategies to Fight It – MDPI
12. E quanto a Pseudomonas aeruginosa resistente?
Pseudomonas aeruginosa é outra bactéria com alta resistência intrínseca e adquirida a antibióticos, sendo uma causa comum de infecções em pacientes hospitalizados e imunocomprometidos.
- Referência: Resistência da Pseudomonas aeruginosa – CRBM1
13. Quais as implicações clínicas da mudança de KPC para NDM?
A mudança para a predominância de NDM limita as opções terapêuticas, uma vez que novos medicamentos como ceftazidima-avibactam e meropenem-vaborbactam não são eficazes contra bactérias produtoras de MBLs como a NDM.
14. Como identificar o tipo de carbapenemase em um paciente?
A identificação pode ser feita por meio de testes moleculares rápidos, que detectam os genes responsáveis pela produção das enzimas (KPC, NDM, etc.) antes mesmo do resultado do teste de sensibilidade aos antimicrobianos.
- Referência: Novos antibióticos são ativos contra enterobactérias resistentes a carbapenêmicos? – ccih.med.br
15. Qual a importância da vigilância epidemiológica da RAM?
A vigilância epidemiológica é fundamental para monitorar a disseminação de cepas resistentes, orientar as políticas de controle de infecção e o uso de antimicrobianos, e desenvolver estratégias de prevenção.
- Referência: Desafios para o Controle de Infecção – YouTube
Parte 3: Impacto Clínico e Econômico
16. Qual o impacto clínico das infecções por CRE?
As infecções por CRE estão associadas a maiores taxas de mortalidade, hospitalizações mais longas e maior risco de complicações em comparação com infecções causadas por bactérias sensíveis.
17. Qual o impacto econômico das infecções por CRE para os hospitais?
O tratamento de infecções por CRE gera custos elevados para os hospitais, devido à necessidade de medicamentos mais caros, isolamento do paciente, maior tempo de internação e exames adicionais.
18. Existem estudos sobre os custos do tratamento de infecções resistentes no Brasil?
Sim, estudos brasileiros mostram que os custos com o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes são significativamente maiores em comparação com o tratamento de infecções por bactérias sensíveis.
19. Como o aumento da RAM afeta o orçamento da saúde pública?
O aumento da RAM pressiona o orçamento da saúde pública ao elevar os custos diretos do tratamento e os custos indiretos relacionados à perda de produtividade dos pacientes e seus familiares.
20. Como os gestores hospitalares podem se preparar para o impacto econômico da RAM?
Os gestores podem investir em programas de prevenção e controle de infecções, promover o uso racional de antimicrobianos (stewardship), investir em tecnologias de diagnóstico rápido e treinar as equipes de saúde.
- Referência: Desafios para o Controle de Infecção – YouTube
Parte 4: O Papel da CCIH e dos Profissionais de Saúde
21. Qual o papel da CCIH no combate à RAM?
A CCIH tem um papel central na implementação e monitoramento de programas de prevenção e controle de infecções, na vigilância epidemiológica da RAM, na educação dos profissionais de saúde e na promoção do uso racional de antimicrobianos.
22. Quais as responsabilidades do médico na prescrição de antibióticos?
O médico deve prescrever antibióticos apenas quando necessário, com base em evidências clínicas e microbiológicas, escolher o medicamento com o espectro de ação mais estreito possível e ajustar a terapia conforme os resultados dos exames.
23. Como o farmacêutico pode contribuir para o stewardship de antimicrobianos?
O farmacêutico pode atuar na revisão das prescrições, no monitoramento do uso de antimicrobianos, na orientação de médicos e pacientes, na gestão do estoque de medicamentos e na análise de dados de consumo.
- Referência: Novos antibióticos são ativos contra enterobactérias resistentes a carbapenêmicos? – ccih.med.br
24. Qual o papel do enfermeiro na prevenção de infecções hospitalares?
O enfermeiro é fundamental na aplicação das medidas de precaução e isolamento, na higiene das mãos, na administração correta de medicamentos, na educação do paciente e de seus familiares e na identificação precoce de sinais de infecção.
25. Como os gestores hospitalares podem apoiar a CCIH?
Os gestores podem garantir os recursos necessários para a CCIH (humanos, financeiros e tecnológicos), apoiar a implementação das políticas de controle de infecção e promover uma cultura de segurança do paciente em toda a instituição.
- Referência: Desafios para o Controle de Infecção – YouTube
26. O que é “stewardship” de antimicrobianos?
É um conjunto de estratégias coordenadas para promover o uso apropriado de antimicrobianos, com o objetivo de melhorar os desfechos clínicos dos pacientes, minimizar os efeitos adversos e a resistência bacteriana.
27. Quais os componentes essenciais de um programa de stewardship?
Um programa de stewardship deve incluir a definição de protocolos de tratamento, a restrição de antibióticos de amplo espectro, a reavaliação da antibioticoterapia após 48-72 horas, a educação contínua dos profissionais e o monitoramento do consumo de antimicrobianos.
28. Como a CCIH pode promover a adesão às práticas de prevenção de infecção?
Através da educação e treinamento contínuo dos profissionais de saúde, do fornecimento de feedback sobre as taxas de infecção e adesão às práticas, e do envolvimento dos líderes da instituição na promoção de uma cultura de segurança.
- Referência: Desafios para o Controle de Infecção – YouTube
29. Qual a importância da comunicação entre a equipe multiprofissional no combate à RAM?
A comunicação eficaz entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais é essencial para garantir a prescrição adequada de antibióticos, a implementação correta das medidas de prevenção e o monitoramento do paciente.
- Referência: Teamwork and communication in the ICU: a narrative review – Journal of Intensive Medicine
30. Como envolver o paciente e seus familiares na prevenção de infecções?
O paciente e seus familiares devem ser orientados sobre a importância da higiene das mãos, sobre os sinais e sintomas de infecção e sobre a importância de seguir as recomendações da equipe de saúde.
- Referência: Patient and family engagement for the prevention of healthcare-associated infections – CDC
Parte 5: Novas Terapias e Perspectivas Futuras
31. Quais são os novos antibióticos para o tratamento de bactérias multirresistentes?
Novos antibióticos, como a plazomicina, ceftazidima-avibactam e meropenem-vaborbactam, têm sido desenvolvidos para o tratamento de infecções por bactérias Gram-negativas multirresistentes.
32. O que é a plazomicina e qual sua indicação?
A plazomicina é um antibiótico aminoglicosídeo de nova geração, indicado para o tratamento de infecções complicadas do trato urinário.
- Referência: Plazomicin – Wikipedia
33. Ceftazidima-avibactam e meropenem-vaborbactam são eficazes contra MBLs?
Não, esses medicamentos não são eficazes contra bactérias produtoras de metalo-β-lactamases (MBLs), como a NDM.
- Referências:
34. Existem outras abordagens terapêuticas em estudo?
Sim, a medicina tradicional e os fito-antimicrobianos (substâncias derivadas de plantas) estão sendo pesquisados como fontes de novas moléculas com atividade antibacteriana.
- Referência: Atividade Antimicrobiana de Plantas Medicinais e Aromáticas Utilizadas no Brasil – Plone
35. Qual o papel da pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos?
A pesquisa e o desenvolvimento de novos antibióticos são cruciais para garantir que tenhamos opções terapêuticas eficazes para o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes no futuro.
- Referência: Antibiotic resistance – WHO
Parte 6: Prevenção e Controle
36. Qual a diferença entre prevenção e controle de infecção?
A prevenção busca evitar a ocorrência de novas infecções, enquanto o controle visa conter a disseminação de uma infecção já existente.
37. Quais as principais medidas de prevenção de infecções hospitalares?
As principais medidas incluem a higiene das mãos, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), a limpeza e desinfecção de superfícies e equipamentos, e a implementação de precauções específicas para cada tipo de transmissão.
- Referência: Desafios para o Controle de Infecção – YouTube
38. O que são os “5 momentos da higiene das mãos”?
São os cinco momentos em que os profissionais de saúde devem higienizar as mãos para prevenir a transmissão de microrganismos: 1) antes do contato com o paciente; 2) antes da realização de procedimento asséptico; 3) após risco de exposição a fluidos corporais; 4) após contato com o paciente; e 5) após contato com áreas próximas ao paciente.
- Referência: WHO | 5 Moments for Hand Hygiene
39. Qual a importância da limpeza e desinfecção ambiental no controle de infecções?
A limpeza e desinfecção adequadas do ambiente hospitalar são fundamentais para eliminar os microrganismos presentes em superfícies e equipamentos, que podem servir como reservatórios para a transmissão de infecções.
- Referência: Environmental cleaning and disinfection – CDC
40. Como a cultura de segurança do paciente contribui para a prevenção de infecções?
Uma cultura de segurança forte promove a comunicação aberta, o trabalho em equipe, o aprendizado com os erros e o engajamento de todos os profissionais na busca por um ambiente de cuidado mais seguro, o que resulta na melhoria da adesão às práticas de prevenção de infecções.
- Referência: Patient Safety – WHO
A Encruzilhada da Terapia Antimicrobiana: Navegando na Era da Multirresistência com Inovação, Estratégia e um Olhar para o Futuro
Introdução: A Ameaça Silenciosa no Coração dos Hospitais
A medicina moderna enfrenta um desafio existencial, uma crise que se desenrola não em manchetes diárias, mas nos corredores silenciosos dos hospitais e nos resultados de antibiogramas: a resistência antimicrobiana (RAM). Descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “pandemia silenciosa”, a RAM ameaça reverter décadas de progresso médico, tornando procedimentos rotineiros como cirurgias, transplantes e quimioterapias perigosamente arriscados (Ref. 1, 2, 3). A cada ano, estima-se que milhões de vidas são perdidas globalmente devido a infecções que não respondem mais aos tratamentos disponíveis, um número que pode chegar a 10 milhões por ano até 2050 se nenhuma medida drástica for tomada (Ref. 4, 5).
Para os profissionais que atuam no epicentro do Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) no Brasil, esta crise global tem um rosto familiar e urgente. A prevalência de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) causadas por patógenos críticos, como Enterobactérias Resistentes a Carbapenêmicos (CRE), Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa, transformou as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em verdadeiros campos de batalha microbiológicos (Ref. 6, 7, 8). A disseminação endêmica desses microrganismos não apenas eleva as taxas de mortalidade e o tempo de internação, mas também impõe um fardo econômico esmagador sobre o sistema de saúde (Ref. 9, 10).
A superação desta crise, no entanto, exige uma abordagem multifacetada que transcende a simples e reativa busca por novos antibióticos. É imperativo que se construa uma sinergia robusta entre a vanguarda da inovação farmacêutica – que nos oferece novas moléculas e sistemas de liberação inteligentes –, a redescoberta e o reposicionamento estratégico de terapias já existentes, e a criação de um ecossistema regulatório e econômico que sustente o desenvolvimento de novos fármacos. Acima de tudo, a pedra angular que sustenta todo este edifício é a implementação rigorosa e universal de programas de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos, ou Antimicrobial Stewardship (AMS) (Ref. 11, 12, 13).
Este artigo se propõe a ser um guia estratégico e aprofundado para os profissionais de CCIH. Navegaremos desde a vanguarda molecular dos novos antibióticos e suas evidências clínicas, passando pelas inovações em nanotecnologia e o potencial da medicina tradicional, até os desafios sistêmicos que moldam o futuro da antibioticoterapia. O objetivo é fornecer não apenas informação, mas também provocar reflexão e inspirar a ação, equipando os guardiões da segurança do paciente com o conhecimento necessário para enfrentar a era da multirresistência.
O Panorama Atual da Resistência a Antimicrobianos: Um Desafio Crítico para a Infectologia Hospitalar
Compreender a dinâmica da resistência antimicrobiana é o primeiro passo para combatê-la. No Brasil, o cenário epidemiológico é complexo e está em constante evolução, exigindo uma vigilância ativa e uma capacidade de adaptação contínua por parte das equipes de CCIH. O epicentro deste desafio reside na disseminação de bacilos Gram-negativos multirresistentes, especialmente aqueles que desafiam nossa última linha de defesa: os antibióticos carbapenêmicos.
A Ascensão e a Transformação das Enterobactérias Resistentes a Carbapenêmicos (CRE) no Brasil
Historicamente, a principal ameaça entre as CRE no Brasil tem sido a disseminação endêmica de cepas produtoras da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) (Ref. 14, 15, 16). Esta enzima, pertencente à classe A de Ambler, tem a capacidade de hidrolisar a vasta maioria dos antibióticos beta-lactâmicos, incluindo os carbapenêmicos, e seus genes são frequentemente carregados em elementos genéticos móveis, como plasmídeos, o que facilita sua disseminação explosiva no ambiente hospitalar (Ref. 6, 17). Por anos, a KPC definiu o perfil de resistência das UTIs brasileiras, direcionando as estratégias terapêuticas e de controle de infecção.
Contudo, a pandemia de COVID-19 atuou como um catalisador para uma mudança epidemiológica preocupante. Estudos recentes, incluindo análises abrangentes no Brasil, documentaram um declínio relativo na prevalência de KPC e uma ascensão alarmante de metalo-β-lactamases (MBLs), com destaque para a NDM (New Delhi metallo-β-lactamase) (Ref. 18, 19, 20). Um estudo conduzido na região Norte do Brasil, por exemplo, demonstrou que a prevalência de produtores de NDM entre isolados de K. pneumoniae resistentes a carbapenêmicos saltou de menos de 10% no período pré-pandemia para mais de 42% durante a pandemia, enquanto a prevalência de KPC caiu de 69% para 52% (p<0.001) (Ref. 19, 20). Este fenômeno, impulsionado pela sobrecarga dos sistemas de saúde e pelo uso indiscriminado de antibióticos de amplo espectro em pacientes com COVID-19, não é apenas uma troca de acrônimos (Ref. 19).
Esta transição de uma serina-carbapenemase (KPC) para uma metalo-β-lactamase (NDM) possui implicações clínicas diretas e dramáticas. O arsenal terapêutico recentemente desenvolvido, que inclui novas combinações de inibidores de β-lactamase como ceftazidima-avibactam e meropenem-vaborbactam, foi projetado especificamente para ser eficaz contra enzimas do tipo KPC. No entanto, esses inibidores são completamente inativos contra MBLs como a NDM, que utilizam um íon de zinco em seu sítio ativo para a hidrólise (Ref. 6, 21). Portanto, a mudança no perfil epidemiológico invalida, em grande parte, algumas das nossas mais novas e promissoras ferramentas terapêuticas, forçando os clínicos a retornarem a regimes baseados em polimixinas, aminoglicosídeos ou combinações complexas com aztreonam, terapias frequentemente associadas a maior toxicidade e eficácia incerta. A corrida armamentista entre o desenvolvimento de fármacos e a evolução bacteriana sofreu um revés significativo, sublinhando a necessidade crítica de diagnósticos moleculares rápidos que possam diferenciar os mecanismos de resistência em tempo real para guiar uma terapia eficaz.
O Fardo Clínico e Econômico das Infecções por CRE
As infecções causadas por CRE impõem um fardo devastador sobre os pacientes e as instituições de saúde. A literatura é robusta em demonstrar que estas infecções estão associadas a taxas de mortalidade significativamente mais altas, que podem ultrapassar 50% em casos de bacteremia, além de prolongarem o tempo de internação hospitalar e aumentarem drasticamente os custos do tratamento (Ref. 6, 22).
Um estudo brasileiro pioneiro, focado no impacto econômico da infecção por KPC, trouxe dados concretos para esta realidade. A pesquisa estimou que o custo direto apenas com medicamentos para tratar um paciente com infecção por KPC é de aproximadamente US$ 4.100,00, sendo que cerca de 60% desse valor é gasto durante o período ativo da infecção (Ref. 10, 23). Uma análise mais aprofundada revela que, embora os antimicrobianos sistêmicos representem a maior fatia dos custos (59.5%), outros grupos de medicamentos, como os relacionados ao “sangue e órgãos hematopoiéticos” (19.2%), também são significativos (Ref. 23). Isso demonstra que o custo de uma infecção por CRE transcende o preço do antibiótico de última linha; ele engloba o manejo de múltiplas complicações, como anemia, trombocitopenia, necessidade de suporte transfusional e outras terapias de suporte intensivo. Este dado reforça um princípio fundamental para a gestão hospitalar: cada infecção por CRE evitada representa uma economia que vai muito além do custo do antimicrobiano que deixou de ser prescrito. A prevenção, portanto, não é apenas a melhor estratégia clínica, mas também a mais custo-efetiva.
A Vanguarda Terapêutica: Novos Antibióticos para o Combate a Patógenos Gram-Negativos Multirresistentes
Diante do avanço implacável da resistência, a comunidade científica e a indústria farmacêutica têm se mobilizado para desenvolver uma nova geração de antibióticos capazes de contornar os mecanismos de defesa bacterianos. Esta seção oferece uma análise crítica e baseada em evidências de três dos mais importantes novos agentes que compõem a linha de frente contra os bacilos Gram-negativos multirresistentes (MDROs), com base em dados de capítulos de referência e nos principais ensaios clínicos publicados (Ref. 24, 25).
Plazomicina (Zemdri): O Renascimento dos Aminoglicosídeos
A plazomicina representa uma evolução na classe dos aminoglicosídeos, sendo um “neoglicosídeo” semissintético projetado especificamente para superar os mecanismos de resistência mais prevalentes, notadamente a inativação por enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (AMEs) (Ref. 26, 27). Seu mecanismo de ação clássico consiste na ligação à subunidade ribossomal 30S, inibindo a síntese proteica de forma bactericida e concentração-dependente (Ref. 24, 26). Sua principal força reside na potente atividade contra Enterobacterales, incluindo cepas produtoras de Beta-Lactamases de Espectro Estendido (ESBL) e, crucialmente, Enterobactérias Resistentes a Carbapenêmicos (CRE) (Ref. 24, 27).
Evidências Clínicas e Posicionamento:
O principal estudo que embasou sua aprovação foi o EPIC, um ensaio clínico de fase 3, randomizado e duplo-cego, publicado no New England Journal of Medicine, que comparou a plazomicina com o meropenem para o tratamento de infecções do trato urinário complicadas (ITUc), incluindo pielonefrite (Ref. 28, 29). No estudo, a plazomicina (15 mg/kg, uma vez ao dia) demonstrou não-inferioridade ao meropenem para o desfecho primário de cura composta (clínica e microbiológica) no dia 5. No entanto, um achado de grande relevância clínica foi a superioridade da plazomicina na visita de teste de cura (TOC, 15-19 dias após o início da terapia).
Nesta avaliação tardia, a taxa de cura composta foi de 81.7% no grupo plazomicina contra 70.1% no grupo meropenem, uma diferença estatisticamente significativa de 11.6 pontos percentuais (95% CI, 2.7 a 20.3) (Ref. 29, 30). Adicionalmente, o grupo da plazomicina apresentou taxas significativamente menores de recorrência microbiológica (3.7% vs. 8.1%) e de recidiva clínica (1.6% vs. 7.1%) no período de acompanhamento tardio (Ref. 28, 29). Outro estudo, o CARE, embora de menor porte, forneceu dados promissores sobre o uso de plazomicina em infecções graves por CRE, como bacteremia e pneumonia, reforçando seu potencial como agente de resgate (Ref. 24, 31).
A plazomicina está indicada para o tratamento de ITUc, incluindo pielonefrite (Ref. 24, 32). Seu uso, no entanto, exige atenção às características da classe dos aminoglicosídeos, incluindo a necessidade de monitoramento terapêutico para manter os níveis séricos de vale abaixo de 3 µg/mL, a fim de mitigar o risco de nefrotoxicidade. Advertências em bula para nefrotoxicidade, ototoxicidade e bloqueio neuromuscular também devem ser rigorosamente observadas (Ref. 24, 26).
A superioridade da plazomicina sobre o meropenem no desfecho tardio do estudo EPIC é um ponto que merece reflexão. Este resultado pode ser atribuído ao efeito bactericida rápido e concentração-dependente dos aminoglicosídeos, que pode promover uma erradicação mais completa e definitiva do patógeno no trato urinário em comparação com o efeito tempo-dependente dos carbapenêmicos. Para a prática do stewardship, isso posiciona a plazomicina não apenas como uma alternativa, mas como uma opção potencialmente superior e poupadora de carbapenêmicos para ITUc causadas por patógenos produtores de ESBL, com um benefício clínico duradouro.
Cefiderocol (Fetroja): O “Cavalo de Troia” Sideróforo
O cefiderocol representa uma das abordagens mais inovadoras na antibioticoterapia recente, utilizando um mecanismo de “Cavalo de Troia” para enganar as defesas bacterianas (Ref. 33, 34). Trata-se de uma cefalosporina siderófora que se quela ao ferro livre. As bactérias Gram-negativas, que possuem sistemas de transporte de alta afinidade para captar ferro, um nutriente essencial, reconhecem e transportam ativamente o complexo ferro-cefiderocol para o espaço periplasmático. Este mecanismo engenhoso permite que o fármaco contorne as principais barreiras de resistência, como a alteração de porinas e a superexpressão de bombas de efluxo (Ref. 24, 33, 34). Uma vez no seu alvo, o cefiderocol exerce sua ação bactericida inibindo a síntese da parede celular, como as demais cefalosporinas.
Evidências Clínicas e Posicionamento:
O espectro de atividade do cefiderocol é seu grande diferencial, cobrindo a tríade de patógenos Gram-negativos mais temidos: CRE (incluindo produtores de KPC, MBLs e OXA-48), P. aeruginosa resistente a carbapenêmicos e, notavelmente, A. baumannii resistente a carbapenêmicos (CRAB) (Ref. 35, 36, 37).
O ensaio clínico pivotal para infecções graves foi o CREDIBLE-CR, um estudo de fase 3, aberto e randomizado, publicado no The Lancet Infectious Diseases, que comparou o cefiderocol com a melhor terapia disponível (BAT) em pacientes com infecções graves por Gram-negativos resistentes a carbapenêmicos (Ref. 38, 39). Os resultados mostraram eficácia clínica e microbiológica geral semelhante entre os grupos. Por exemplo, em pacientes com pneumonia nosocomial, a taxa de cura clínica foi de 50% no grupo cefiderocol versus 53% no grupo BAT (Ref. 38, 39).
No entanto, o estudo revelou um sinal de segurança que gerou intenso debate: um desequilíbrio numérico na mortalidade por todas as causas, que foi maior no braço do cefiderocol (34% [34/101]) em comparação com o braço BAT (18% [9/49]) (Ref. 38, 39, 40). Análises de subgrupo sugeriram que esse excesso de mortalidade foi observado principalmente em pacientes com infecções por Acinetobacter spp. (Ref. 38). Este achado levou a FDA a incluir uma advertência em bula, destacando o risco potencial (Ref. 36).
O posicionamento clínico do cefiderocol é, portanto, o de uma terapia de resgate para infecções causadas por patógenos com poucas ou nenhuma outra opção terapêutica, especialmente cepas produtoras de MBL (como NDM) e CRAB. A controvérsia sobre o sinal de mortalidade no CREDIBLE-CR exige uma análise ponderada. O estudo foi desenhado como “descritivo” e não para demonstrar superioridade, em uma população de pacientes extremamente graves e heterogêneos, onde a “melhor terapia disponível” frequentemente consistia em combinações com polimixinas, de eficácia questionável e alta toxicidade. É possível que o desequilíbrio de mortalidade reflita a gravidade extrema dos pacientes alocados para o braço do cefiderocol, e não uma toxicidade intrínseca do fármaco. Para o clínico, a mensagem é de uso criterioso e bem fundamentado: em um cenário de infecção por um patógeno pan-resistente, onde as alternativas são fúteis ou altamente tóxicas, o cefiderocol permanece uma opção vital, devendo ser utilizado após uma avaliação rigorosa do risco-benefício, idealmente com base em testes de sensibilidade e, quando possível, em terapia combinada.
Meropenem-Vaborbactam (Vabomere): A Resposta Direcionada à KPC
O meropenem-vaborbactam é uma combinação de um carbapenêmico consagrado, o meropenem, com um novo e potente inibidor de β-lactamase de ácido borônico, o vaborbactam (Ref. 41, 42). O vaborbactam foi especificamente desenhado para inibir serina-β-lactamases, restaurando a atividade do meropenem contra bactérias que produzem essas enzimas, com destaque para a KPC (Ref. 41, 43, 44). É crucial ressaltar que o vaborbactam é inativo contra metalo-β-lactamases (NDM, VIM, IMP) e a maioria das carbapenemases da classe D (OXA-48) (Ref. 41, 43).
Evidências Clínicas e Posicionamento:
O principal estudo que validou seu uso em infecções por CRE foi o TANGO II, um ensaio clínico randomizado que comparou meropenem-vaborbactam com a melhor terapia disponível (BAT) (Ref. 42, 44). Os resultados foram robustos: as taxas de cura clínica foram significativamente mais altas no grupo meropenem-vaborbactam (65.6%) em comparação com o grupo BAT (33.3%) no final do tratamento (p=0.03) (Ref. 42, 44, 45).
Além da maior eficácia, a combinação demonstrou um perfil de segurança superior. A incidência de eventos adversos renais foi notavelmente menor no grupo meropenem-vaborbactam (4%) em comparação com o grupo BAT (24%), que frequentemente incluía polimixinas ou aminoglicosídeos, fármacos de conhecida nefrotoxicidade (Ref. 42).
O meropenem-vaborbactam se posiciona como uma terapia de primeira linha para infecções graves (como bacteremia, pneumonia hospitalar e ITUc) onde a KPC é o mecanismo de resistência conhecido ou fortemente suspeito. A sua alta eficácia e perfil de segurança favorável representam uma transformação no manejo dessas infecções, oferecendo uma alternativa muito superior aos regimes baseados em polimixinas.
Contudo, sua utilidade clínica é diretamente proporcional à prevalência local de KPC. No contexto brasileiro atual, com a ascensão da NDM, a aplicação do meropenem-vaborbactam exige uma precisão diagnóstica que antes não era tão crítica. O uso empírico desta combinação em uma instituição com alta prevalência de NDM pode resultar em falha terapêutica. Isso reforça a ideia de que o laboratório de microbiologia, com sua capacidade de realizar diagnósticos moleculares rápidos para diferenciar os tipos de carbapenemases, tornou-se um parceiro indispensável para o programa de stewardship, guiando o uso racional e custo-efetivo desses novos e valiosos agentes.
Tabela 1: Novos Antimicrobianos contra Bacilos Gram-Negativos Multirresistentes
Fármaco | Classe/Mecanismo | Espectro Chave (Ênfase em CRE) | Indicação Aprovada (Exemplo FDA/EMA) | Ensaio Clínico Pivotal | Principal Desfecho de Eficácia | Principais Advertências/Limitações |
Plazomicina | Aminoglicosídeo (Neoglicosídeo) / Inibidor da síntese proteica (30S) | Ativo contra Enterobacterales produtoras de ESBL e muitas CRE (incluindo KPC). Atividade variável contra NDM. | Infecção do Trato Urinário Complicada (ITUc), incluindo Pielonefrite. | EPIC | Superioridade vs. Meropenem na cura composta no Teste de Cura (TOC) para ITUc (81.7% vs. 70.1%). | Nefrotoxicidade, ototoxicidade, bloqueio neuromuscular. Requer monitoramento terapêutico. |
Cefiderocol | Cefalosporina Siderófora / Inibidor da síntese da parede celular | Amplo espectro, incluindo CRE (KPC, NDM, OXA-48), P. aeruginosa resistente e A. baumannii resistente. | ITUc; Pneumonia Hospitalar/Associada à Ventilação (PAH/PAV). | CREDIBLE-CR | Eficácia clínica e microbiológica similar à melhor terapia disponível (BAT) para infecções por CRE. | Aumento numérico da mortalidade por todas as causas observado em comparação com BAT, principalmente em infecções por Acinetobacter. |
Meropenem-Vaborbactam | Carbapenêmico + Inibidor de β-lactamase (ácido borônico) | Ativo contra Enterobacterales produtoras de serina-carbapenemases (KPC). Inativo contra MBLs (NDM) e OXA-48. | ITUc; aprovado para infecções por CRE em pacientes com opções limitadas. | TANGO II | Superioridade vs. BAT na cura clínica para infecções por CRE (65.6% vs. 33.3%). | Espectro limitado a serina-carbapenemases. Ineficaz contra os mecanismos de resistência mais emergentes no Brasil (NDM). |
Além da Molécula: Inovações em Sistemas de Liberação de Fármacos (Drug Delivery)
A batalha contra a resistência bacteriana não se trava apenas no campo da descoberta de novas moléculas ativas. Uma fronteira igualmente promissora e revolucionária é a da nanomedicina, que desenvolve sistemas inteligentes de liberação de fármacos (drug delivery systems) para otimizar a terapia antimicrobiana. Essas tecnologias visam superar desafios clássicos como baixa biodisponibilidade no sítio da infecção, toxicidade sistêmica e a incapacidade dos antibióticos de penetrar em santuários bacterianos, como os biofilmes (Ref. 46, 47, 48).
Lipossomas como Carreadores Estratégicos
Os lipossomas, vesículas esféricas compostas por uma ou mais bicamadas lipídicas, emergiram como uma das plataformas mais versáteis para a entrega de antibióticos (Ref. 49, 50). Ao encapsular um fármaco, os lipossomas oferecem múltiplas vantagens:
- Proteção e Estabilidade: Protegem o antibiótico da degradação enzimática no organismo, aumentando sua meia-vida e tempo de circulação (Ref. 51, 52).
- Entrega Direcionada: Podem ser projetados para se acumularem passivamente em sítios de infecção e inflamação devido ao efeito de permeabilidade e retenção aumentadas (EPR), ou podem ser funcionalizados com ligantes para um direcionamento ativo a células específicas (Ref. 51, 52).
- Redução da Toxicidade: Ao concentrar o fármaco no alvo e reduzir sua exposição a tecidos saudáveis, os lipossomas podem diminuir significativamente a toxicidade sistêmica, um benefício crucial para antibióticos como a anfotericina B ou os aminoglicosídeos (Ref. 51).
- Superação da Resistência: Um dos mecanismos mais promissores é a capacidade dos lipossomas de se fundirem diretamente com a membrana celular bacteriana. Esse processo libera uma alta concentração do antibiótico diretamente no citoplasma ou periplasma, contornando eficazmente barreiras de resistência como a baixa permeabilidade da membrana externa (em Gram-negativos) e as bombas de efluxo que expelem o fármaco para fora da célula (Ref. 52, 53).
Nanopartículas e Plataformas Responsivas a Estímulos
Avançando um passo além, as nanopartículas (sejam elas poliméricas, metálicas ou lipídicas) podem ser projetadas como sistemas “inteligentes” que respondem a sinais específicos do microambiente infeccioso (Ref. 46, 47, 54, 55). Essa abordagem de liberação desencadeada aumenta a precisão terapêutica e a eficácia.
Essas nanopartículas podem ser programadas para liberar sua carga antimicrobiana em resposta a:
- pH Ácido: O ambiente de um abcesso ou de um biofilme é frequentemente ácido. Nanopartículas sensíveis ao pH podem se desestabilizar nessas condições, liberando o antibiótico precisamente onde ele é mais necessário (Ref. 46, 56).
- Enzimas Bacterianas: Patógenos produzem uma variedade de enzimas, como fosfolipases e proteases. Os carreadores podem ser construídos com substratos para essas enzimas, de modo que a presença da bactéria desencadeie a degradação do carreador e a liberação do fármaco (Ref. 46, 55).
- Toxinas: Algumas nanopartículas são desenhadas para serem desestabilizadas por toxinas bacterianas, como as hemolisinas produzidas por S. aureus, transformando uma arma do patógeno em um gatilho para sua própria destruição (Ref. 55).
Essas tecnologias têm implicações futuras profundas, especialmente para infecções de difícil tratamento. Por exemplo, sistemas de liberação local injetáveis e biodegradáveis estão sendo desenvolvidos para o tratamento da osteomielite, permitindo altas concentrações do antibiótico diretamente no osso infectado, com mínima exposição sistêmica (Ref. 46). Da mesma forma, a capacidade de algumas nanopartículas de penetrar na matriz extracelular de biofilmes oferece uma esperança para erradicar essas comunidades bacterianas resilientes, que são uma causa comum de infecções crônicas e associadas a dispositivos médicos.
Enquanto a seção anterior discutiu as moléculas que temos disponíveis hoje, esta seção aponta para a forma como poderemos administrá-las no futuro. A inovação não reside apenas na “bala” (o antibiótico), mas também na “arma” (o sistema de entrega). Para os profissionais de CCIH, isso sinaliza que, no futuro, as decisões de stewardship poderão evoluir para além da escolha entre o fármaco A e o fármaco B, incluindo a seleção da formulação mais adequada – lipossomal, nanopartícula responsiva a pH, ou liberação local – adicionando uma nova e sofisticada camada de precisão à terapia antimicrobiana.
Redescobrindo o Arsenal: O Potencial e as Limitações da Medicina Tradicional
Diante da crescente ineficácia do arsenal antibiótico moderno, a ciência volta-se com renovado interesse para uma das mais antigas fontes de compostos medicinais da humanidade: a natureza. O uso de plantas no tratamento de infecções é uma prática milenar, documentada em registros ancestrais de diversas culturas ao redor do mundo (Ref. 57, 58, 59, 60). Hoje, a etnofarmacologia busca validar cientificamente esse conhecimento tradicional, investigando extratos vegetais e seus metabólitos secundários – os “fito-antimicrobianos” – como uma fonte rica para a descoberta de novas moléculas com potencial terapêutico (Ref. 57, 61, 62).
Prós: O Potencial Inexplorado da Farmacopeia Natural
A exploração da medicina tradicional oferece várias vantagens promissoras na luta contra a resistência microbiana:
- Fonte de Novidade Química: As plantas produzem uma diversidade química quase ilimitada de metabólitos secundários, como flavonoides, alcaloides, terpenoides e compostos fenólicos, muitos dos quais evoluíram como mecanismos de defesa contra microrganismos (Ref. 57, 61, 63). Essa vasta biblioteca molecular representa um terreno fértil para a descoberta de novos fármacos com estruturas e mecanismos de ação inéditos. Por exemplo, estudos demonstraram que extratos de plantas como Etlingera elatior (kecombrang) contêm flavonoides com atividade antibacteriana contra patógenos de pele como S. aureus (Ref. 57, 64).
- Mecanismos de Ação Múltiplos: Diferentemente dos antibióticos sintéticos que geralmente possuem um único alvo molecular, muitos extratos vegetais exercem sua atividade antimicrobiana atacando múltiplos alvos simultaneamente. Eles podem desestabilizar a parede e a membrana celular, inativar enzimas essenciais e interferir na síntese de proteínas e ácidos nucleicos (Ref. 57, 65). Essa abordagem multifacetada pode dificultar o desenvolvimento de resistência por parte das bactérias. O alcaloide berberina, por exemplo, demonstrou inibir a proteína FtsZ, essencial para a divisão celular bacteriana, um alvo distinto da maioria dos antibióticos atuais (Ref. 66).
- Potencial de Sinergia: Compostos vegetais podem atuar em sinergia com antibióticos convencionais, potencializando sua eficácia e, em alguns casos, revertendo a resistência. Eles podem, por exemplo, inibir bombas de efluxo bacterianas ou enfraquecer a parede celular, facilitando a entrada do antibiótico.
Contras: Os Desafios da Bancada à Beira do Leito
Apesar do enorme potencial, a transição dos remédios tradicionais para a prática clínica moderna é repleta de desafios significativos:
- Padronização e Reprodutibilidade: A principal barreira é a falta de padronização. A concentração dos compostos bioativos em um extrato vegetal pode variar drasticamente dependendo da espécie da planta, da parte utilizada (folha, raiz, casca), das condições de cultivo, do clima, da época da colheita e, fundamentalmente, do método de extração. Essa variabilidade torna a dosagem precisa e a reprodutibilidade dos efeitos terapêuticos extremamente difíceis (Ref. 61).
- Segurança e Toxicidade: O adágio “natural não significa seguro” é particularmente relevante aqui. Muitos compostos vegetais podem ser tóxicos para as células humanas, causando danos hepáticos, renais ou outros efeitos adversos. A ausência de ensaios clínicos rigorosos para a maioria dos produtos tradicionais impede uma avaliação adequada do seu perfil de segurança e da sua janela terapêutica.
- Limitação das Evidências Atuais: A esmagadora maioria das pesquisas sobre fito-antimicrobianos se limita a estudos in vitro. A demonstração de atividade em uma placa de Petri não garante eficácia in vivo, onde fatores como absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade (ADMET) determinam o sucesso ou o fracasso de um composto (Ref. 60). O caminho regulatório para aprovar um novo fármaco, mesmo que de origem natural, é tão longo, caro e rigoroso quanto para um composto sintético.
A medicina tradicional deve ser vista como uma fonte inestimável de inspiração e de leads químicos para a descoberta de fármacos, e não como uma farmácia pronta para ser utilizada na UTI. O exemplo paradigmático é o da artemisinina, isolada da planta Artemisia annua, usada na medicina tradicional chinesa. Após ser isolada, purificada, estudada e formulada, tornou-se um dos pilares do tratamento da malária no mundo. A mensagem para o clínico é de prudência e responsabilidade: a prescrição de chás, extratos ou preparações não padronizadas para o tratamento de infecções graves não tem respaldo científico e pode ser perigosa. A mensagem para o pesquisador, por outro lado, é de otimismo: a etnobotânica e a fitoquímica são campos férteis que podem nos fornecer as moléculas que se tornarão os antibióticos de amanhã e de depois de amanhã.
O Ecossistema da Inovação: Desafios Regulatórios, Econômicos e o Futuro do Pipeline de Antibióticos
A crise da resistência antimicrobiana não é apenas um desafio científico, mas também um profundo fracasso de mercado. O pipeline de desenvolvimento de novos antibióticos está perigosamente seco, não por falta de necessidade clínica, mas por um modelo de negócios que se tornou insustentável para a indústria farmacêutica. Compreender este ecossistema complexo é fundamental para traçar estratégias que garantam um fluxo contínuo de novas terapias.
O “Vale da Morte” Econômico no Desenvolvimento de Antibióticos
O desenvolvimento de um novo antibiótico é um empreendimento de alto risco e baixo retorno financeiro, um fenômeno conhecido como o “vale da morte” econômico (Ref. 67, 68, 69). Diversos fatores contribuem para este cenário desfavorável:
- Altos Custos e Baixa Probabilidade de Sucesso: O custo para levar um novo medicamento do laboratório ao mercado pode ultrapassar um bilhão de dólares, com uma taxa de falha extremamente alta, especialmente para antibióticos que precisam superar as complexas barreiras de entrada das bactérias Gram-negativas (Ref. 68, 69).
- Curto Período de Uso: Diferentemente de medicamentos para doenças crônicas (como hipertensão ou diabetes), os antibióticos são usados por períodos curtos, geralmente de 7 a 14 dias, limitando o volume de vendas por paciente.
- O Paradoxo do Stewardship: A própria natureza do uso racional de antimicrobianos, um pilar da saúde pública, age contra o modelo de negócios farmacêutico. Os novos e mais potentes antibióticos devem ser considerados agentes de último recurso, mantidos em reserva e usados o mínimo possível para preservar sua eficácia. Este uso restrito, embora clinicamente essencial, deprime as vendas e torna impossível para as empresas recuperarem seus investimentos em P&D (Ref. 67).
Iniciativas de Incentivo e Suas Limitações: O Caso do GAIN Act
Reconhecendo essa falha de mercado, governos e organizações têm implementado iniciativas para estimular a inovação. A mais notável foi a lei norte-americana Generating Antibiotic Incentives Now (GAIN) de 2012 (Ref. 67, 70, 71). O GAIN Act buscou revitalizar o setor oferecendo dois incentivos principais para fármacos designados como “Produtos Qualificados para Doenças Infecciosas” (QIDPs):
- Revisão Prioritária pela FDA: Aceleração do processo de análise regulatória.
- Extensão da Exclusividade de Mercado: Concessão de cinco anos adicionais de exclusividade de mercado, protegendo o novo fármaco da concorrência de genéricos.
O impacto do GAIN Act é ambíguo. Por um lado, houve um aumento no número de designações de QIDPs e de antibióticos aprovados no período pós-GAIN em comparação com os anos anteriores (Ref. 68, 72). Por outro lado, uma análise crítica revela que muitos desses “novos” fármacos não eram verdadeiramente inovadores, sendo frequentemente modificações de classes já existentes, e o pipeline de moléculas com novos mecanismos de ação permaneceu escasso (Ref. 70).
A falência da Achaogen, a empresa que desenvolveu a plazomicina, pouco tempo após a aprovação do seu fármaco pela FDA, serve como um estudo de caso contundente e um alerta para a inadequação do modelo atual (Ref. 73). A Achaogen teve sucesso científico, entregando um novo antibiótico valioso que recebeu a designação de QIDP, mas falhou comercialmente porque o mercado não recompensou a inovação. Este evento expôs o paradoxo fundamental do incentivo: a exclusividade de mercado, um incentivo de “puxar” (pull incentive), só é valiosa se o produto for vendido em grande volume. No entanto, os princípios do stewardship exigem exatamente o oposto. O modelo de negócios tradicional, baseado em volume de vendas, é intrinsecamente incompatível com a necessidade de preservar os novos antibióticos.
O Futuro do Pipeline: Novos Modelos e Novas Terapias
A constatação de que o modelo atual está quebrado impulsionou a busca por novos paradigmas de incentivo e desenvolvimento. A discussão agora se concentra em modelos de “desvinculação” (delinkage), que separam o retorno do investimento do volume de vendas. As propostas incluem:
- Recompensas de Entrada no Mercado (Market Entry Rewards): Pagamentos substanciais e fixos às empresas no momento da aprovação de um novo antibiótico que atenda a critérios de saúde pública pré-definidos, independentemente das vendas futuras.
- Modelos de Assinatura: Governos ou sistemas de saúde pagariam uma taxa anual fixa a uma empresa para ter acesso a um novo antibiótico, similar a uma assinatura de serviço. Isso garantiria um retorno financeiro previsível para a empresa, enquanto o sistema de saúde poderia usar o antibiótico de forma criteriosa, conforme a necessidade clínica, sem se preocupar com o custo por dose.
Paralelamente, o futuro do pipeline depende da exploração de terapias não tradicionais. A pesquisa em alternativas como a terapia fágica (uso de vírus que infectam bactérias), peptídeos antimicrobianos, anticorpos monoclonais e abordagens baseadas em CRISPR-Cas9 para atacar genes de resistência está ganhando força, representando a próxima fronteira no combate às infecções (Ref. 1, 74, 75). Essas estratégias, embora ainda em estágios iniciais de desenvolvimento clínico, oferecem a promessa de mecanismos de ação completamente novos que podem ser eficazes onde os antibióticos convencionais falham.
A Estratégia Mandatória: Consolidando o Antimicrobial Stewardship (AMS) na Prática Hospitalar Brasileira
Nenhuma inovação farmacêutica, por mais brilhante que seja, e nenhum modelo econômico, por mais engenhoso que pareça, será sustentável a longo prazo sem a fundação de um programa robusto e onipresente de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos (Antimicrobial Stewardship – AMS). O AMS transcende a ideia simplista de “restringir antibióticos”; trata-se de uma estratégia coordenada e multidisciplinar para otimizar o uso desses medicamentos, com o objetivo final de melhorar os desfechos clínicos dos pacientes, reduzir a toxicidade e os efeitos adversos, e, crucialmente, minimizar a pressão seletiva que impulsiona o surgimento e a disseminação da resistência (Ref. 11, 12, 13, 76).
Desafios e Oportunidades do AMS no Cenário Brasileiro
A implementação de programas de AMS é uma prioridade de saúde pública no Brasil, endossada por diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Ref. 77, 78). No entanto, estudos recentes conduzidos no país, com foco em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIPs), revelam um cenário de implementação desigual e com lacunas significativas (Ref. 79, 80, 81, 82).
Uma pesquisa multicêntrica realizada entre 2022 e 2023 em 219 UTIPs brasileiras com programas de AMS formalizados identificou os seguintes pontos críticos (Ref. 79, 80, 81):
- Lacunas na Educação: Embora 58.9% das unidades realizassem educação continuada para os profissionais, esta foi considerada uma área de fraqueza, especialmente em hospitais de menor porte. Mais alarmante, apenas 6.8% promoviam atividades educativas para pacientes e seus acompanhantes, um componente vital para o engajamento e a compreensão da importância do uso racional de antimicrobianos.
- Disparidades Estruturais e Regionais: O estudo revelou uma clara desigualdade. Hospitais privados, de maior porte (>200 leitos) e localizados nas regiões Sudeste e Sul do país demonstraram maior adesão e maturidade em suas práticas de AMS. Em contraste, hospitais públicos, menores e de outras regiões enfrentam maiores desafios estruturais e operacionais.
- Forças e Fraquezas: Curiosamente, as ações diretas para melhorar a prescrição, como auditoria prospectiva com feedback e pré-autorização de antimicrobianos, mostraram-se mais consolidadas (70.8% de implementação) do que as estratégias educativas. Isso sugere que os programas podem estar focando mais em intervenções reativas (“controlar”) do que em ações proativas e culturais (“educar”).
Recomendações Práticas para a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH)
Os achados desses estudos oferecem um roteiro claro para o fortalecimento do AMS no Brasil. As equipes de CCIH, como líderes naturais desses programas, devem focar em:
- Fortalecer a Liderança e a Estrutura Multidisciplinar: O sucesso de um programa de AMS depende do apoio inequívoco da alta gestão hospitalar e da formação de uma equipe multidisciplinar coesa, incluindo, no mínimo, um médico (preferencialmente infectologista), um farmacêutico clínico, um enfermeiro e um microbiologista, conforme preconizado por diretrizes nacionais e internacionais (Ref. 12, 77, 82).
- Priorizar a Educação: A lacuna educacional identificada é uma vulnerabilidade crítica. É preciso ir além de aulas esporádicas e desenvolver estratégias educacionais robustas e contínuas, utilizando múltiplos formatos (sessões clínicas, feedback individualizado, materiais informativos, campanhas) e direcionadas a todos os profissionais de saúde. Incluir pacientes e familiares na conversa sobre RAM e o porquê da duração do tratamento ser específica é uma oportunidade subutilizada.
- Integrar o Laboratório de Microbiologia: Em uma era de resistência complexa e dinâmica (como a transição KPC-NDM), o laboratório de microbiologia não é um mero prestador de serviços, mas um parceiro estratégico. A implementação de testes de diagnóstico rápido, especialmente painéis moleculares que identificam genes de resistência a carbapenêmicos, é essencial para guiar a terapia de forma rápida e precisa, permitindo o uso racional dos novos antibióticos e evitando falhas terapêuticas.
- Adotar e Monitorar Métricas de Desempenho: Um programa de AMS precisa demonstrar seu valor. É fundamental definir e monitorar indicadores de processo (ex: adesão a protocolos, tempo para descalonamento) e de resultado (ex: consumo de antimicrobianos em DDD, taxas de resistência, incidência de C. difficile, custos). Esses dados são cruciais para justificar o programa perante a gestão e para identificar áreas de melhoria contínua (Ref. 13).
O AMS é a infraestrutura essencial que permite que todas as outras inovações – sejam novos fármacos, sistemas de liberação avançados ou descobertas da medicina tradicional – sejam utilizadas de forma eficaz e sustentável. Sem um AMS forte e atuante, os novos e caros antibióticos discutidos neste artigo terão sua vida útil drasticamente encurtada, e o ciclo vicioso de surgimento e disseminação da resistência se repetirá. O Antimicrobial Stewardship não é uma opção; é o guardião do nosso futuro terapêutico.
Conclusões e Recomendações Finais
A era da multirresistência antimicrobiana nos colocou em uma encruzilhada crítica, desafiando os alicerces da medicina moderna. A jornada por este cenário complexo, desde a análise da dinâmica epidemiológica no Brasil até a exploração da vanguarda da inovação farmacêutica, revela que não há uma solução única ou simples. A luta contra a RAM é uma maratona que exige resiliência, inteligência e, acima de tudo, uma estratégia integrada.
As principais conclusões desta análise podem ser sintetizadas em quatro pilares estratégicos:
- Vigilância Inteligente e Adaptativa: A epidemiologia da resistência é um alvo em movimento. A recente ascensão de bactérias produtoras de NDM em detrimento da KPC no Brasil é um exemplo contundente de como o cenário pode mudar rapidamente, com implicações terapêuticas diretas. A vigilância epidemiológica local, apoiada por diagnósticos moleculares rápidos, não é mais um luxo, mas uma necessidade absoluta para guiar a terapia empírica e o uso direcionado dos novos antimicrobianos.
- Uso Estratégico e Criterioso da Inovação: Os novos antibióticos como a plazomicina, o cefiderocol e o meropenem-vaborbactam são ferramentas preciosas e, em muitos casos, salvadoras de vidas. No entanto, não são uma panaceia. Seu uso deve ser guiado por um profundo conhecimento de seus espectros de ação, das evidências de seus ensaios clínicos e de suas limitações. Eles devem ser vistos como instrumentos de precisão, a serem utilizados com base em dados microbiológicos sólidos, e não como substitutos de amplo espectro para os fármacos mais antigos.
- Investimento Contínuo no Futuro: O pipeline de antibióticos permanece perigosamente frágil. É crucial que a comunidade global de saúde continue a advogar por e a desenvolver novos modelos econômicos de “desvinculação” que tornem a P&D de antibióticos sustentável. Simultaneamente, a exploração de fronteiras inovadoras, como os sistemas de liberação de fármacos baseados em nanotecnologia e a prospecção de compostos bioativos da medicina tradicional, deve ser incentivada como fonte de terapias para a próxima geração.
- O Pilar Inegociável do Antimicrobial Stewardship (AMS): Se as estratégias acima são as táticas, o AMS é a grande estratégia. Ele é a base sobre a qual todas as outras intervenções devem ser construídas. Sem programas de AMS robustos, bem estruturados e capilarizados em todas as instituições de saúde, qualquer novo antibiótico lançado estará fadado a uma obsolescência prematura. O fortalecimento do AMS, com foco especial em educação continuada e na superação das disparidades regionais, é a ação mais impactante e sustentável que podemos tomar para preservar a eficácia dos antimicrobianos para as gerações futuras.
O chamado à ação para os profissionais de CCIH é claro e urgente. Mais do que nunca, seu papel transcende a vigilância e o controle de surtos. Vocês são os estrategistas, os educadores e os principais agentes de mudança cultural dentro de suas instituições. A tarefa é monumental, mas a missão é inadiável: liderar a implementação de práticas racionais e baseadas em evidências que garantam que continuemos a vencer a batalha contra as infecções, hoje e no futuro.
A luta contra a resistência antimicrobiana é mais que uma corrida por novas drogas — é uma batalha por inteligência, estratégia e cultura institucional.
Os dados mostram que o problema é global, mas a resposta deve ser local, baseada em vigilância epidemiológica inteligente, uso racional dos novos antibióticos, incentivo à inovação e fortalecimento do AMS.
Sem stewardship, qualquer inovação será temporária.
Com stewardship, educação e diagnóstico rápido, transformamos a crise em oportunidade — e a era da multirresistência em um marco de maturidade científica e ética para a infectologia e a saúde coletiva.
Referências Bibliográficas Comentadas
- WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global Antimicrobial Resistance and Use Surveillance System (GLASS) Report 2022. Geneva: World Health Organization, 2022. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240062702. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este relatório global da OMS apresenta os dados mais recentes sobre a resistência antimicrobiana em todo o mundo, com base no sistema de vigilância GLASS. O documento destaca as tendências alarmantes de resistência em patógenos prioritários e reforça a urgência de ações coordenadas para conter a disseminação da RAM.
- PACIOS, O. et al. Strategies to Combat Multidrug-Resistant and Persistent Infectious Diseases. Antibiotics, v. 9, n. 2, p. 65, 2020. DOI: https://doi.org/10.3390/antibiotics9020065.
- Resumo: Esta revisão aborda diversas estratégias para combater infecções por bactérias multirresistentes, incluindo o desenvolvimento de novos antibióticos, terapias alternativas e abordagens para erradicar infecções persistentes. Conclui que uma abordagem multifacetada é essencial para enfrentar a complexidade da resistência.
- MASADEH, M. M. et al. Synergistic Antibacterial Effect of ZnO Nanoparticles and Antibiotics against Multidrug-resistant Biofilm Bacteria. Current Drug Delivery, v. 22, p. 92-106, 2025. DOI: https://doi.org/10.2174/0115672018279213240110045557.
- Resumo: O estudo investiga o efeito sinérgico de nanopartículas de óxido de zinco (ZnO) com antibióticos convencionais contra bactérias formadoras de biofilme e multirresistentes. Os resultados indicam que a combinação pode potencializar a atividade antibacteriana, sugerindo uma nova estratégia para tratar infecções associadas a biofilmes.
- O’NEILL, J. Tackling Drug-Resistant Infections Globally: Final Report and Recommendations. London: HM Government/Wellcome Trust, 2016. Disponível em: https://amr-review.org/sites/default/files/160518_Final%20paper_with%20cover.pdf..
- Resumo: Relatório de referência que projeta o impacto humano e econômico da RAM, estimando 10 milhões de mortes anuais até 2050. O documento delineia um plano de ação global, incluindo a necessidade de inovação, uso racional de antimicrobianos e melhoria da vigilância.
- UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Bracing for Superbugs: Strengthening environmental action in the One Health response to antimicrobial resistance. Nairobi: UNEP, 2022. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/bracing-superbugs-strengthening-environmental-action-one-health-response.
- Resumo: Este relatório da UNEP destaca o papel crítico do meio ambiente na disseminação da resistência antimicrobiana, sob a ótica da Saúde Única. O documento confirma a projeção de 10 milhões de mortes anuais até 2050 e aponta para os impactos econômicos significativos, defendendo ações ambientais integradas.
- INSTITUTO CCIH+. Resistência aos carbapenêmicos: o desafio crítico da infectologia moderna. CCIH.med.br, 2 out. 2025. Disponível em: https://www.ccih.med.br/resistencia-aos-carbapenemicos-o-desafio-critico-da-infectologia-moderna/.
- Resumo: Este artigo do portal CCIH.med.br detalha os mecanismos de resistência aos carbapenêmicos, com foco nas carbapenemases (KPC, NDM, OXA), e discute as implicações clínicas e epidemiológicas no Brasil. O texto enfatiza a alta mortalidade associada e a importância de medidas de prevenção e controle.
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 24: Avaliação dos Indicadores Nacionais das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e Resistência Microbiana do ano de 2020. Brasília: Anvisa, 2021.
- Resumo: Este boletim da ANVISA apresenta dados nacionais sobre IRAS e resistência microbiana. Os dados de hemoculturas em UTIs de adultos mostram altas taxas de resistência a carbapenêmicos em Acinetobacter spp. (cerca de 80%) e Klebsiella pneumoniae (cerca de 40%), evidenciando a gravidade do problema no Brasil.
- RANGEL, R. L. P. et al. Dissemination of Carbapenemases in Gram-Negative Bacteria in Brazilian Hospitals: A Review. ACRI, 2025. Disponível em: https://journalacri.com/index.php/ACRI/article/view/1048. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Esta revisão integrativa analisa a disseminação de carbapenemases em hospitais brasileiros, confirmando a alta prevalência do gene blaKPC. O estudo também destaca tendências emergentes, como a co-ocorrência de blaNDM e blaKPC, e a diversidade genética regional, reforçando a necessidade de vigilância genômica e stewardship.
- SANTOS, W. M.; SECOLI, S. R. Economic burden of inpatients infected with Klebsiella pneumoniae carbapenemase. Einstein (São Paulo), v. 17, n. 4, eAO4723, 2019. DOI: https://doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ao4723.
- Resumo: Este estudo brasileiro prospectivo estimou os custos médicos diretos do tratamento de pacientes com infecção por KPC em hospitais públicos. A pesquisa concluiu que o custo por paciente é elevado, representando um fardo econômico significativo para o sistema de saúde.
- SANTOS, W. M.; SECOLI, S. R. Economic burden of inpatients infected with Klebsiella pneumoniae carbapenemase. ResearchGate, 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/333118161_Economic_burden_of_inpatients_infected_with_Klebsiella_pneumoniae_carbapenemase_Impacto_economico_do_tratamento_de_pacientes_infectados_com_Klebsiella_pneumoniae_carbapenemase.
- Resumo: Publicação do mesmo estudo sobre o impacto econômico da KPC, detalhando os custos. O custo direto com medicamentos por paciente foi estimado em quase US$ 4.100,00, com a maior parte dos custos concentrada durante o período da infecção, destacando o pesado ônus financeiro que essas infecções representam.
- SCHUTS, E. C. et al. Current evidence on hospital antimicrobial stewardship objectives: a systematic review and meta-analysis. The Lancet Infectious Diseases, v. 16, n. 7, p. 847-856, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(16)00065-7.
- Resumo: Esta revisão sistemática e meta-análise avalia a eficácia de diferentes objetivos e estratégias de programas de stewardship de antimicrobianos em hospitais. O estudo conclui que intervenções de AMS são eficazes para reduzir o consumo de antimicrobianos e a duração do tratamento, com evidências crescentes de impacto clínico positivo.
- BARLAM, T. F. et al. Implementing an Antibiotic Stewardship Program: Guidelines by the Infectious Diseases Society of America and the Society for Healthcare Epidemiology of America. Clinical Infectious Diseases, v. 62, n. 10, p. e51-e77, 2016. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciw118.
- Resumo: Diretriz de referência da IDSA e SHEA que fornece um guia prático e baseado em evidências para a implementação de programas de AMS em hospitais. O documento detalha os elementos essenciais, desde a estrutura da equipe até as estratégias de intervenção e monitoramento.
- INSTITUTO CCIH+. Stewardship de Antimicrobianos: da estruturação à prática. YouTube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xvRCw8flib4.
- Resumo: Este vídeo-aula do Instituto CCIH aborda os passos práticos para a implantação de um programa de stewardship, discutindo o papel dos profissionais, a interação com a gestão e o laboratório, e os indicadores de monitoramento. É um recurso educacional valioso para equipes que estão iniciando ou otimizando seus programas.
- MONTEIRO, J. et al. The KPC-producing Klebsiella pneumoniae “super-bug” has found a new niche in Brazil. Eurosurveillance, v. 14, n. 47, p. 19423, 2009.
- Resumo: Um dos primeiros relatos a documentar a disseminação da KPC no Brasil, descrevendo um surto em Recife. O artigo alertou para o potencial de disseminação nacional e a ameaça que a KPC representava para a saúde pública no país.
- PICOLI, S. U. et al. Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 48, n. 2, p. 121-125, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S1676-24442012000200008.
- Resumo: Este estudo brasileiro investigou a presença fenotípica de KPC em isolados de Enterobactérias em hospitais no Rio Grande do Sul. Embora não tenha encontrado KPC nas amostras analisadas, o trabalho reforça a importância da vigilância contínua para este mecanismo de resistência emergente.
- CUNHA, V. O. BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES Klebsiella pneumoniae carbapenemase – ENZIMA KPC nas Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Monografia (Especialização em Microbiologia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstreams/aac7d3fa-7125-4349-a61c-4ad9bf030262/download.
- Resumo: Esta monografia revisa a literatura sobre a enzima KPC no contexto das IRAS. O trabalho aborda a epidemiologia, os mecanismos de resistência e as implicações clínicas da KPC, consolidando o conhecimento sobre este importante patógeno hospitalar no Brasil.
- PEREIRA, P. S. et al. Dissemination of KPC-2-producing Klebsiella pneumoniae in a Brazilian hospital. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 49, n. 4, p. 273-278, 2013.
- Resumo: O estudo descreve a disseminação clonal de K. pneumoniae produtora de KPC-2 em um hospital brasileiro, destacando a importância da vigilância molecular para entender e controlar surtos hospitalares.
- GOMES, D. et al. NDM-producing Enterobacterales prevalence and its association with COVID-19 at a Brazilian teaching hospital. The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 26, 102377, 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjid.2022.102377.
- Resumo: Este estudo retrospectivo observou um aumento progressivo de casos de Enterobactérias produtoras de NDM entre 2017 e 2021 em um hospital universitário brasileiro. A ocorrência foi significativamente associada a unidades de tratamento de COVID-19, sugerindo que a pandemia facilitou a disseminação deste mecanismo de resistência.
- RODRIGUES, A. C. S. et al. Impact of the COVID-19 Pandemic on Carbapenem-Resistant Klebsiella pneumoniae in Northern Region, Brazil: A Shift Towards NDM Producers. Antibiotics, v. 14, n. 9, p. 866, 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/antibiotics14090866.
- Resumo: Este estudo transversal analisou 775 isolados de K. pneumoniae resistente a carbapenêmicos na região Norte do Brasil e documentou uma mudança epidemiológica significativa. Durante a pandemia de COVID-19, houve um declínio na prevalência de produtores de KPC (de 68.8% para 52.2%) e um aumento expressivo de produtores de NDM (de 8.4% para 42.3%), com um p-valor < 0.001.
- RODRIGUES, A. C. S. et al. Impact of the COVID-19 Pandemic on Carbapenem-Resistant Klebsiella pneumoniae in Northern Region, Brazil: A Shift Towards NDM Producers. ResearchGate, 2024. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/395063040_Impact_of_the_COVID-19_Pandemic_on_Carbapenem-Resistant_Klebsiella_pneumoniae_in_Northern_Region_Brazil_A_Shift_Towards_NDM_Producers.
- Resumo: A mesma publicação do estudo sobre a mudança de KPC para NDM, disponível em outra plataforma, confirmando os dados de prevalência e a significância estatística da mudança epidemiológica.
- INSTITUTO CCIH+. Cefalosporinas de 1ª a 5ª Geração: O que a CCIH Precisa Saber na Era da Resistência Antimicrobiana. CCIH.med.br, 30 set. 2025. Disponível em: https://www.ccih.med.br/cefalosporinas-de-1a-a-5a-geracao-o-que-a-ccih-precisa-saber-na-era-da-resistencia-antimicrobiana/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este artigo educacional do portal CCIH.med.br faz uma análise crítica da evolução das cefalosporinas, desde a primeira geração até as novas combinações e o cefiderocol. O texto discute o espectro de ação, os mecanismos de resistência e o posicionamento clínico de cada geração, fornecendo uma perspectiva prática para o stewardship.
- ANTIMICROBIAL RESISTANCE COLLABORATORS. Global burden of bacterial antimicrobial resistance in 2019: a systematic analysis. The Lancet, v. 399, n. 10325, p. 629-655, 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02724-0.
- Resumo: Análise sistemática fundamental que estimou a carga global da RAM em 2019, associando-a a 4.95 milhões de mortes e atribuindo diretamente 1.27 milhão de mortes. O estudo quantifica o impacto devastador da resistência e identifica os patógenos e síndromes mais letais.
- SANTOS, W. M.; SECOLI, S. R. Economic burden of inpatients infected with Klebsiella pneumoniae carbapenemase. Einstein (São Paulo), [online], v. 17, n. 4, eAO4723, 2019. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6533035/.
- Resumo: Versão do estudo sobre o impacto econômico da KPC publicada no PMC, fornecendo acesso aberto aos dados. Confirma a estimativa de custo de quase US$ 4.100,00 por paciente e detalha a distribuição dos custos entre diferentes classes de medicamentos.
- BARBER, G. R. Unique Antibacterial Agents. In: MANDEL, G. L.; BENNETT, J. E.; DOLIN, R. (Eds.). Mandell, Douglas, and Bennett’s Principles and Practice of Infectious Diseases. 9th ed. Philadelphia: Elsevier, 2020. p. 36.
- Resumo: Este capítulo do livro-texto de referência em doenças infecciosas descreve novos agentes antibacterianos. Fornece informações concisas sobre o mecanismo de ação, indicações e advertências para fármacos como Plazomicina, Cefiderocol e Meropenem-Vaborbactam, destacando seu papel contra organismos multirresistentes (MDROs).
- GRAYSON, M. L. et al. (Eds.). Kucers’ The Use of Antibiotics: A Clinical Review of Antibacterial, Antifungal, Antiparasitic, and Antiviral Drugs. 7th ed. Boca Raton: CRC Press, 2018.
- Resumo: Obra de referência enciclopédica sobre agentes antimicrobianos. Os capítulos utilizados neste artigo fornecem revisões detalhadas sobre o espectro, farmacocinética, ensaios clínicos e uso terapêutico de múltiplos antibióticos, incluindo os mais novos e os mais antigos, sendo uma fonte fundamental de informação baseada em evidências.
- CARNEIRO, V. M. G.; DIAS, A. M. G. New Antibiotics for the Treatment of Infections Caused by Multidrug-Resistant Gram-Negative Bacteria. Antibiotics, v. 14, n. 10, p. 997, 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/antibiotics14100997.
- Resumo: Esta revisão detalha os novos antibióticos aprovados para o tratamento de infecções por bactérias Gram-negativas multirresistentes, incluindo cefiderocol e plazomicina. O artigo discute seus mecanismos de ação, espectro de atividade e indicações clínicas, posicionando-os no arsenal terapêutico atual.
- CASTANHEIRA, M. et al. Plazomicin activity against a global collection of carbapenem-resistant Enterobacteriaceae (CRE) and strains carrying carbapenemase genes. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 62, n. 6, e00384-18, 2018.
- Resumo: Estudo de vigilância in vitro que demonstrou a potente atividade da plazomicina contra um grande número de isolados de CRE, incluindo aqueles que produzem carbapenemases KPC e OXA-48. O estudo confirmou que a plazomicina contorna a maioria das enzimas modificadoras de aminoglicosídeos.
- WAGENLEHNER, F. M. et al. Plazomicin for Complicated Urinary Tract Infections: A Tale of 2 Clinical Trials. CIDRAP, 21 fev. 2019. Disponível em: https://www.cidrap.umn.edu/antimicrobial-stewardship/plazomicin-tough-infections-tale-2-clinical-trials.
- Resumo: Artigo de notícias que comenta a publicação do estudo EPIC no NEJM, destacando a não-inferioridade da plazomicina em relação ao meropenem para ITUc. O texto ressalta a importância de novos agentes para tratar infecções por Enterobactérias multirresistentes.
- CLOUTIER, R. J. et al. Plazomicin for Complicated Urinary Tract Infection and Acute Pyelonephritis. New England Journal of Medicine, v. 380, n. 8, p. 729-740, 2019. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJMoa1801467.
- Resumo: Publicação original do estudo EPIC. Demonstrou que a plazomicina foi não-inferior ao meropenem para ITUc no desfecho primário precoce, e superior no desfecho de cura composta no teste de cura, com menores taxas de recidiva, estabelecendo sua eficácia clínica nesta indicação.
- ZHANG, Y. et al. Efficacy and Safety of Plazomicin in the Treatment of Enterobacterales Infections: A Systematic Review and Meta-Analysis. Open Forum Infectious Diseases, v. 9, n. 9, ofac429, 2022. DOI: https://doi.org/10.1093/ofid/ofac429.
- Resumo: Esta meta-análise de três ensaios clínicos randomizados concluiu que a plazomicina tem eficácia e tolerabilidade semelhantes aos comparadores no tratamento de infecções por Enterobactérias. Notavelmente, a plazomicina foi associada a uma menor taxa de recorrência microbiológica.
- ACHAOGEN, INC. A Study of Plazomicin Compared With Colistin in Patients With Infection Due to Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae (CRE) (CARE). ClinicalTrials.gov, NCT01970371, 2018. Disponível em: https://clinicaltrials.gov/study/NCT01970371.
- Resumo: Registro do ensaio clínico CARE, que comparou plazomicina com colistina em infecções graves por CRE. O estudo foi desenhado para avaliar a eficácia e segurança da plazomicina nesta população de pacientes com poucas opções terapêuticas.
- ACHAOGEN, INC. ZEMDRI® (plazomicin) injection: Efficacy. Zemdri.com. Disponível em: https://zemdri.com/efficacy/epic-efficacy.
- Resumo: Página oficial do produto com dados do estudo EPIC, detalhando as taxas de erradicação microbiológica por patógeno no teste de cura. Fornece informações da bula para profissionais de saúde sobre a eficácia do fármaco.
- PORTSMOUTH, S. et al. Investigational antibiotic effective against drug-resistant bacteria in Phase 2 trial. Lab Manager, 2 nov. 2017. Disponível em: https://www.labmanager.com/investigational-antibiotic-effective-against-drug-resistant-bacteria-in-phase-2-trial-3282.
- Resumo: Divulgação dos resultados de um ensaio de fase 2, publicado no The Lancet Infectious Diseases, mostrando que o cefiderocol foi tão eficaz quanto o imipenem-cilastatina para ITUc. O artigo explica o mecanismo de “Cavalo de Troia” do fármaco.
- PATERSON, D. L. Cefiderocol (S-649266). In: GRAYSON, M. L. et al. (Eds.). Kucers’ The Use of Antibiotics. 7th ed. Boca Raton: CRC Press, 2018. p. 658.
- Resumo: Capítulo de referência que descreve o cefiderocol, detalhando sua estrutura química, mecanismo de ação sideróforo e espectro de atividade contra bactérias Gram-negativas multirresistentes, incluindo produtoras de carbapenemases.
- CHEN, W. et al. Cefiderocol: A promising powerful weapon for treating MDR recalcitrant infections. Frontiers in Pharmacology, v. 13, 896971, 2022. DOI: https://doi.org/10.3389/fphar.2022.896971.
- Resumo: Revisão sistemática que analisa a literatura disponível sobre o cefiderocol, concluindo que o fármaco tem potente atividade in vitro e in vivo contra bactérias Gram-negativas MDR, incluindo isolados resistentes a carbapenêmicos, sendo uma opção terapêutica promissora.
- ALEXANDER, J. et al. Cefiderocol: early clinical experience for multi-drug resistant gram-negative infections. Microbiology Spectrum, v. 12, n. 2, e03108-23, 2024. DOI: https://doi.org/10.1128/spectrum.03108-23.
- Resumo: Este estudo de coorte retrospectivo multicêntrico avaliou o uso de cefiderocol no “mundo real”. O estudo observou sucesso clínico em 68.8% dos pacientes com infecções por Gram-negativos resistentes a carbapenêmicos, com uma taxa de mortalidade de 16.1%, sugerindo que o fármaco é seguro e eficaz na prática clínica.
- SHIONOGI INC. Cefiderocol (Fetroja) Prescribing Information. 2020.
- Resumo: Bula oficial do medicamento, que contém a advertência da FDA sobre o aumento da mortalidade por todas as causas em pacientes tratados com cefiderocol no estudo CREDIBLE-CR, em comparação com a melhor terapia disponível.
- BASS, G. et al. Efficacy and safety of cefiderocol or best available therapy for the treatment of serious infections caused by carbapenem-resistant Gram-negative bacteria (CREDIBLE-CR): a randomised, open-label, multicentre, pathogen-focused, descriptive, phase 3 trial. The Lancet Infectious Diseases, v. 21, n. 2, p. 226-240, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30796-9.
- Resumo: Publicação do ensaio clínico CREDIBLE-CR, que comparou cefiderocol com a melhor terapia disponível para infecções graves por CRE. O estudo encontrou eficácia semelhante, mas um desequilíbrio numérico na mortalidade, maior no grupo cefiderocol, especialmente em infecções por Acinetobacter.
- BASS, G. et al. Efficacy and safety of cefiderocol or best available therapy for the treatment of serious infections caused by carbapenem-resistant Gram-negative bacteria (CREDIBLE-CR). PubMed, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33058795/.
- Resumo: Abstract da publicação do estudo CREDIBLE-CR no PubMed, resumindo a metodologia, os resultados de eficácia e o sinal de segurança relacionado à mortalidade, que apoia o cefiderocol como uma opção para pacientes com opções de tratamento limitadas.
- BASS, G. et al. Efficacy and safety of cefiderocol or best available therapy for the treatment of serious infections caused by carbapenem-resistant Gram-negative bacteria (CREDIBLE-CR). PubMed, 2020.
- Resumo: O resumo do estudo CREDIBLE-CR não fornece um p-valor para a comparação de mortalidade. Ele relata as contagens e porcentagens brutas: 34 de 101 (34%) no grupo cefiderocol e 9 de 49 (18%) no grupo BAT morreram, observando que o desequilíbrio foi numérico.
- LOMBARDI, G. et al. Characterization of Mutants with Reduced Sensitivity to Meropenem-Vaborbactam Selected from KPC-Producing Klebsiella pneumoniae. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 62, n. 3, e01694-17, 2018. DOI: https://doi.org/10.1128/aac.01694-17.
- Resumo: Este estudo investigou os mecanismos de resistência ao meropenem-vaborbactam em K. pneumoniae produtora de KPC. Os autores descobriram que a resistência está associada a mutações em porinas (OmpK36) e ao aumento do número de cópias do gene blaKPC, e não a alterações na enzima KPC em si.
- SHIELDS, R. K. et al. Clinical Outcomes, Drug Toxicity, and Emergence of Resistance During Successful Meropenem-Vaborbactam Treatment of Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae Infections. Clinical Infectious Diseases, v. 71, n. 11, p. 2829-2836, 2020. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciaa1622.
- Resumo: Este estudo observacional prospectivo relatou a experiência clínica com meropenem-vaborbactam para infecções por CRE. As taxas de sucesso clínico e sobrevida em 30 dias foram de 65% e 90%, respectivamente, embora um paciente tenha desenvolvido resistência durante o tratamento devido a uma mutação na porina OmpK36.
- PELEG, A. Y.; HARRIS, P. N. A. Meropenem and Meropenem-Vaborbactam. In: GRAYSON, M. L. et al. (Eds.). Kucers’ The Use of Antibiotics. 7th ed. Boca Raton: CRC Press, 2018. p. 697.
- Resumo: Este capítulo do livro Kucers’ fornece uma revisão abrangente sobre meropenem e a combinação meropenem-vaborbactam. Detalha o espectro de atividade, farmacologia e dados clínicos que suportam seu uso, especialmente contra Enterobactérias produtoras de KPC.
- WUNDERINK, R. G. et al. Meropenem-Vaborbactam versus Best Available Therapy for Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae Infections (TANGO II): a Randomised, Open-label, Phase 3 Trial. The Lancet Infectious Diseases, v. 18, n. 12, p. 1317-1328, 2018.
- Resumo: Publicação completa do ensaio TANGO II, detalhando a superioridade do meropenem-vaborbactam sobre a melhor terapia disponível em termos de cura clínica e sobrevida, com um perfil de segurança significativamente melhor, especialmente em relação à nefrotoxicidade.
- SHIELDS, R. K. et al. Clinical Outcomes, Drug Toxicity, and Emergence of Resistance During Successful Meropenem-Vaborbactam Treatment of Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae Infections. Clinical Infectious Diseases, [online], 2020. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7768741/.
- Resumo: Versão do estudo observacional sobre meropenem-vaborbactam disponível no PMC. O artigo reitera os dados do TANGO II, mostrando taxas de cura clínica significativamente mais altas para meropenem-vaborbactam (65.6%) em comparação com BAT (33.3%) no final do tratamento (p=0.03).
- SHARMA, S. et al. Role of modern drug delivery in antibiotic therapy. ResearchGate, jul. 2023. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/372564557_Role_of_modern_drug_delivery_in_antibiotic_therapy.
- Resumo: Esta revisão discute como os sistemas modernos de liberação de fármacos, incluindo nanopartículas, podem melhorar a terapia com antibióticos. Aborda estratégias como a entrega direcionada, liberação controlada e o uso de sistemas responsivos a estímulos para superar a resistência e reduzir a toxicidade.
- GARCÍA-ÁLVAREZ, R. et al. Pulmonary drug delivery: A review on nanocarriers for antibacterial chemotherapy. ResearchGate, 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/280328161_Pulmonary_drug_delivery_A_review_on_nanocarriers_for_antibacterial_chemotherapy.
- Resumo: Esta revisão foca em nanocarreadores para a terapia inalatória de antibióticos em infecções pulmonares. Discute como lipossomas e outras nanopartículas podem melhorar a deposição pulmonar do fármaco, aumentar a eficácia local e combater mecanismos de resistência.
- YANG, S. et al. Bacteria-Targeting Nanoparticles with Microenvironment-Responsive Antibiotic Release To Eliminate Intracellular Staphylococcus aureus and Associated Infection. ACS Applied Materials & Interfaces, v. 10, n. 3, p. 2357-2369, 2018. DOI: https://doi.org/10.1021/acsami.7b15678.
- Resumo: O estudo descreve nanopartículas “inteligentes” que liberam gentamicina em resposta a toxinas de S. aureus. Essas nanopartículas foram eficazes na eliminação de bactérias intracelulares, um reservatório comum para infecções recorrentes.
- GABRIEL, M. et al. Advances in Liposomal Drug Delivery: Multidirectional Perspectives on Overcoming Biological Barriers. Pharmaceutics, v. 17, n. 7, p. 1656, 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/pharmaceutics17071656.
- Resumo: Esta revisão abrangente discute os avanços na engenharia de lipossomas para superar barreiras biológicas, como a barreira hematoencefálica. Aborda técnicas como a PEGuilação e o direcionamento por ligantes para melhorar a farmacocinética e a especificidade tecidual.
- PINTO-ALPHANDARY, H. et al. Targeted delivery of antibiotics using liposomes and nanoparticles: Research and applications. ResearchGate, 2000. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/12591950_Targeted_delivery_of_antibiotics_using_liposomes_and_nanoparticles_Research_and_applications.
- Resumo: Uma revisão clássica que examina o uso de lipossomas e nanopartículas para a entrega direcionada de antibióticos. O artigo conclui que esses carreadores permitem uma maior concentração do fármaco no sítio da infecção, ao mesmo tempo que reduzem a toxicidade sistêmica.
- ALAVI, M. et al. Advanced Nanoparticles in Combating Antibiotic Resistance: Current Innovations and Future Directions. Nanomaterials, v. 16, n. 2, p. 9, 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/nano16020009.
- Resumo: Esta revisão discute o uso de nanopartículas avançadas para combater a resistência a antibióticos. Destaca como os nanocarreadores lipídicos, como os lipossomas, podem encapsular fármacos hidrofílicos e hidrofóbicos, protegê-los da degradação e facilitar a penetração em biofilmes.
- FERNANDES, R. S. et al. Liposomes as Antibiotic Delivery Systems: A Promising Nanotechnological Strategy against Antimicrobial Resistance. Molecules, v. 26, n. 7, p. 2047, 2021. DOI: https://doi.org/10.3390/molecules26072047.
- Resumo: Esta revisão foca na aplicabilidade de lipossomas para a entrega de antibióticos como uma estratégia contra a RAM. O artigo detalha como a encapsulação lipossomal pode melhorar perfis farmacocinéticos, permitir o direcionamento ao sítio da infecção e ajudar a contornar mecanismos de resistência bacteriana.
- THAMPHIWATANA, S. et al. Nanoparticle-Stabilized Liposomes for pH-Responsive Gastric Drug Delivery. Langmuir, v. 29, n. 41, p. 12736-12743, 2013. DOI: https://doi.org/10.1021/la402695c.
- Resumo: Este estudo relata um sistema de lipossomas estabilizados por nanopartículas que é responsivo ao pH para a entrega de antibióticos no estômago. O sistema é estável em pH gástrico, mas se torna ativo e se funde com a membrana de H. pylori em pH neutro, liberando o fármaco de forma direcionada.
- GUPTA, A. et al. Topical Delivery Systems for Plant-Derived Antimicrobial Agents: A Review of Current Advances. Pharmaceutics, v. 17, n. 8, p. 1899, 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/pharmaceutics17081899.
- Resumo: A revisão avalia estratégias de entrega local para agentes antimicrobianos derivados de plantas. Discute sistemas sofisticados como nanopartículas lipídicas, lipossomas e hidrogéis, que podem melhorar a estabilidade e permitir a entrega direcionada com liberação controlada.
- LI, Y. et al. Lipid-Based Nanoparticles for Drug/Gene Delivery: An Overview of the Production Techniques and Difficulties Encountered in Their Industrial Development. ACS Materials Au, v. 4, n. 1, p. 35-58, 2024. DOI: https://doi.org/10.1021/acsmaterialsau.3c00032.
- Resumo: Esta visão geral aborda as técnicas de produção e os desafios industriais no desenvolvimento de nanopartículas lipídicas (LNPs). O artigo destaca os benefícios das LNPs, como a proteção do fármaco, o aumento da solubilidade e a capacidade de entrega direcionada.
- GHOSH, J.; PALIT, P. Traditional medicine in the management of microbial infections as antimicrobials: Pros and cons. ResearchGate, jul. 2023. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/372555835_Traditional_medicine_in_the_management_of_microbial_infections_as_antimicrobials_Pros_and_cons
- Resumo: Este capítulo de livro, conforme indicado pelo título, revisa os prós e contras do uso da medicina tradicional no manejo de infecções. A pesquisa destaca o conhecimento atual sobre o tema.
- GHOSH, J.; PALIT, P. Traditional medicine in the management of microbial infections as antimicrobials: Pros and cons. ResearchGate, jul. 2023. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/372555835_Traditional_medicine_in_the_management_of_microbial_infections_as_antimicrobials_Pros_and_cons.
- Resumo: O resumo do capítulo discute o crescente uso da medicina tradicional contra infecções resistentes. Detalha como os metabólitos secundários de plantas (“fito-antimicrobianos”) podem inibir uma vasta gama de micróbios através de múltiplos mecanismos, representando uma alternativa ideal que pode prevenir o desenvolvimento de resistência.
- ABDELGWAD, A. H. et al. Antibacterial Activity of Traditional Medicinal Plants: Combating Antibiotics Resistance in Animal Wound Infections. Journal of Animal and Plant Sciences, v. 35, n. 3, 2025. DOI: https://doi.org/10.36899/JAPS.2025.3.0847.
- Resumo: Este estudo avaliou a atividade antibacteriana de plantas medicinais contra patógenos multirresistentes isolados de feridas em animais. Extratos etanólicos de Loranthus acaciae e Cymbopogon proximus mostraram forte atividade, com zonas de inibição comparáveis às de antibióticos padrão, destacando seu potencial como alternativa terapêutica.
- SALEHI, B. et al. Medicinal plants: bioactive compounds, biological activities, combating multidrug-resistant microorganisms, and human health benefits – a comprehensive review. Frontiers in Pharmacology, v. 15, 1391111, 2024. DOI: https://doi.org/10.3389/fphar.2024.1391111.
- Resumo: Esta revisão abrangente explora o potencial das plantas medicinais como fonte de agentes antimicrobianos. O artigo analisa os fatores que contribuem para a resistência e avalia o uso de plantas como antibióticos alternativos, destacando seus compostos bioativos e mecanismos de ação.
- QUAVE, C. L. et al. A Systematic Review of Plants With Antibacterial Activities: A Taxonomic and Phylogenetic Perspective. Frontiers in Pharmacology, v. 11, 586548, 2021. DOI: https://doi.org/10.3389/fphar.2020.586548.
- Resumo: Esta revisão sistemática analisa 483 publicações sobre extratos de plantas com atividade antibacteriana, destacando que a maioria dos estudos é guiada pelo uso etnomedicinal. O estudo identifica as espécies de plantas e os patógenos bacterianos mais comumente estudados, como S. aureus e E. coli.
- COWAN, M. M. Plant Products as Antimicrobial Agents. Clinical Microbiology Reviews, v. 12, n. 4, p. 564-582, 1999. DOI: https://doi.org/10.1128/CMR.12.4.564.
- Resumo: Uma revisão clássica que descreve o estado da arte dos antimicrobianos de origem vegetal. O artigo discute os principais grupos de compostos (fenóis, terpenoides, alcaloides), a necessidade de estudos clínicos rigorosos e a crescente receptividade da medicina ocidental a essas terapias alternativas.
- CORNARA, L. et al. A review of the antimicrobial potential of herbal drugs used in popular Italian medicine (1850s-1950s) to treat bacterial skin diseases. Journal of Ethnopharmacology, v. 251, 112524, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jep.2019.112524.
- Resumo: Esta revisão investiga remédios à base de plantas da medicina popular italiana para doenças de pele. Das 52 espécies de plantas identificadas, extratos de 43 mostraram atividade in vitro moderada, sugerindo que esses remédios podem ter potencial como terapias complementares e inspirar a busca por novas estratégias antibacterianas.
- NAYAK, D. et al. An Overview on Antiviral Potential of Traditional Medicines. ResearchGate, jun. 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/352378919_An_Overview_on_Antiviral_Potential_of_Traditional_Medicines. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Esta revisão foca no potencial antiviral de medicamentos tradicionais, especialmente plantas medicinais e seus metabólitos secundários. O artigo destaca que esses compostos podem servir como fontes valiosas de novos candidatos a fármacos antivirais.
- SARI, D. P. et al. Antibacterial Activity of Kecombrang Stem (Etlingera elatior) Against Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, and Propionibacterium acnes. Etlingera: Journal of Biological Research, 2023. Disponível em: https://etflin.com/article/322.
- Resumo: O estudo avaliou a atividade antibacteriana do extrato metanólico do caule de kecombrang contra bactérias causadoras de infecções de pele. Os resultados mostraram atividade inibitória significativa, com a análise de TLC-Bioautografia indicando que os flavonoides são os compostos responsáveis pela atividade.
- MANDAL, S.; MANDAL, M. Tackling Antibiotic Resistance with Compounds of Natural Origin: A Comprehensive Review. Molecules, v. 25, n. 21, p. 5180, 2020. DOI: https://doi.org/10.3390/molecules25215180.
- Resumo: Esta revisão abrangente explora compostos de origem natural como uma estratégia para combater a resistência a antibióticos. O artigo destaca que as plantas são uma das principais fontes de nanopartículas antimicrobianas, tendo evoluído para sobreviver em diversos ecossistemas.
- DOMADIA, P. N. et al. Berberine targets assembly of Escherichia coli cell division protein FtsZ. Biochemistry, v. 47, n. 10, p. 3225-3234, 2008. DOI: https://doi.org/10.1021/bi7018546.
- Resumo: Este estudo demonstra que a berberina, um alcaloide natural de plantas, atua sobre a proteína FtsZ, que é essencial para a divisão celular em E. coli. A berberina inibe a montagem do anel Z e a atividade GTPase da FtsZ, representando um novo mecanismo de ação antimicrobiano.
- WRIGHT, G. D. The antibiotic resistome: the nexus of chemical and genetic diversity. Nature Reviews Microbiology, v. 5, n. 3, p. 175-186, 2007. DOI: https://doi.org/10.1038/nrmicro1614.
- Resumo: O artigo discute o conceito de “resistoma” e como a resistência a antibióticos é um fenômeno natural antigo. A análise destaca que o desenvolvimento de novos fármacos é uma corrida armamentista contra a evolução bacteriana, e o GAIN Act é mencionado como uma tentativa de estimular essa corrida.
- U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION (FDA). Report to Congress on Generating Antibiotic Incentives Now (GAIN). Silver Spring, MD: FDA, 2018. Disponível em: https://www.fda.gov/files/about%20fda/published/Report-to-Congress-on-Generating-Antibiotic-Incentives-Now-%28GAIN%29.pdf.
- Resumo: Este relatório ao Congresso dos EUA detalha a implementação e os resultados iniciais do GAIN Act. Entre 2012 e 2017, a FDA concedeu 147 designações de QIDP, sendo 74 para fármacos novos, e revisou diretrizes para acelerar o desenvolvimento de antibióticos, embora reconheça que desafios científicos e econômicos persistem.
- THE PEW CHARITABLE TRUSTS. GAIN: How a New Law Is Stimulating the Development of Antibiotics. Washington, D.C.: The Pew Charitable Trusts, 2013. Disponível em: https://www.pew.org/en/research-and-analysis/issue-briefs/2013/11/07/gain-how-a-new-law-is-stimulating-the-development-of-antibiotics.
- Resumo: Este resumo informativo explica os principais componentes do GAIN Act, incluindo a extensão de 5 anos na exclusividade de mercado e a designação de “fast track” e revisão prioritária pela FDA. O documento destaca o objetivo da lei de tornar o desenvolvimento de antibióticos mais atraente economicamente.
- KNOX, J. et al. The Generating Antibiotic Incentives Now (GAIN) Act has not been a legislative success. PLoS ONE, v. 15, n. 1, e0227374, 2020. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0227374.
- Resumo: Este artigo de perspectiva argumenta que o GAIN Act tem sido decepcionante, pois seus critérios de elegibilidade não foram suficientemente direcionados para necessidades não atendidas. Os autores apontam que o incentivo de exclusividade beneficia desproporcionalmente modificações de fármacos existentes em vez de compostos verdadeiramente novos.
- ALJOHANI, S. M. GAIN Act legislation to combat antimicrobial resistance: Where do we stand? Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 39, n. 12, p. 1488-1489, 2018. DOI: https://doi.org/10.1017/ice.2018.256.
- Resumo: Esta análise avalia o impacto do GAIN Act, observando que, embora o número de aprovações de antimicrobianos tenha aumentado após a lei, a diferença não foi estatisticamente significativa. O autor argumenta que o ato carece de incentivos de “puxar” mais robustos, como precificação baseada em valor e recompensas de entrada no mercado.
- SIMPKIN, V. L. et al. Incentivising new antibiotics for the UK: an evidence-based policy analysis. The Lancet Infectious Diseases, v. 17, n. 12, p. e400-e406, 2017.
- Resumo: Este artigo analisa políticas de incentivo para o desenvolvimento de antibióticos no Reino Unido, defendendo um pacote de incentivos “push” (para as fases iniciais de P&D) e “pull” (recompensas pós-aprovação) para revitalizar o mercado.
- OUTTERSON, K. The drug-resistance crisis and the end of the golden age of antibiotics. Health Affairs Blog, 11 mar. 2019.
- Resumo: Este post de blog discute a crise da RAM e o fracasso do modelo de negócios de antibióticos, usando a falência da Achaogen como um exemplo chave. O autor argumenta que novos modelos de reembolso, como os de “desvinculação”, são necessários para garantir um pipeline sustentável.
- SHARMA, P. et al. Challenges and innovations in antibacterial drug discovery and development: A comprehensive review. Exploratory Drug Science, 2025. DOI: https://doi.org/10.37349/eds.2025.00199.
- Resumo: Esta revisão explora os desafios e as inovações no desenvolvimento de fármacos antibacterianos. Discute abordagens inovadoras como terapia fágica, CRISPR-Cas9 e terapias combinadas como estratégias promissoras para superar a resistência e reabastecer o pipeline de desenvolvimento.
- SARKAR, A. et al. History and challenges in the development of antibiotics and the future of marine microorganisms to stem the tide of antibiotic resistance. Journal of Applied Microbiology, v. 135, n. 4, lxad073, 2024. DOI: https://doi.org/10.1093/jambio/lxad073.
- Resumo: O artigo revisa a história do desenvolvimento de antibióticos e os desafios impostos pela resistência. Aponta os microrganismos marinhos como uma fonte promissora e subexplorada de novos compostos antimicrobianos para o futuro.
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde. Brasília: Anvisa, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/DiretrizGerenciamentoAntimicrobianosANVISA2023FINAL.pdf. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Documento oficial da ANVISA que estabelece as diretrizes para a implementação de programas de AMS em serviços de saúde no Brasil. Detalha os elementos essenciais, a composição da equipe multidisciplinar e as estratégias de intervenção recomendadas.
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 01/2025. Brasília: Anvisa, 2024. Disponível em: https://www.ccih.med.br/impactos-da-nota-tecnica-gvims-ggtes-dire3-anvisa-no-01-2025-sobre-a-vigilancia-das-infeccoes-relacionadas-a-assistencia-a-saude-iras/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Esta nota técnica atualiza as orientações para a vigilância e notificação de IRAS e RAM no Brasil para o ano de 2025. O documento expande os serviços obrigados à notificação e reforça a necessidade de vigilância ativa e uso de ferramentas eletrônicas da ANVISA.
- MENEZES, H. H. F. et al. Antimicrobial Stewardship Program actions and education in Brazilian pediatric intensive care units. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 32, e4085, 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/1518-8345.6922.4085.
- Resumo: Publicação do estudo multicêntrico sobre AMS em UTIPs brasileiras. Revela disparidades regionais e estruturais, com fragilidades no componente educacional dos programas, mas com ações de melhoria da prescrição mais consolidadas.
- MENEZES, H. H. F. et al. Antimicrobial Stewardship Program actions and education in Brazilian pediatric intensive care units. ResearchGate, 2024. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/394554714_Antimicrobial_Stewardship_Program_actions_and_education_in_Brazilian_pediatric_intensive_care_units.
- Resumo: Versão do estudo sobre AMS em UTIPs brasileiras, destacando que hospitais maiores e privados apresentam maior adesão às práticas de stewardship. O estudo aponta a necessidade de fortalecer a educação contínua para aumentar a adesão e reduzir a resistência.
- MENEZES, H. H. F. et al. Antimicrobial Stewardship Program actions and education in Brazilian pediatric intensive care units. PubMed, 2024. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40834132/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Abstract do estudo sobre AMS em UTIPs brasileiras no PubMed, sintetizando a metodologia prospectiva e os principais achados sobre as lacunas educacionais e as disparidades na implementação dos programas no Brasil.
- VICENTINI, H. C. et al. Implementation and evaluation of an antimicrobial stewardship program in a Brazilian teaching hospital. Frontiers in Pharmacology, v. 14, 1074389, 2023. DOI: https://doi.org/10.3389/fphar.2023.1074389.
- Resumo: Este estudo de caso descreve a implementação e avaliação de um programa de AMS em um hospital universitário brasileiro. Demonstra que, mesmo com recursos limitados, a implementação gradual de ações de stewardship é viável e segue as diretrizes regulatórias brasileiras.
Autor:
Antonio Tadeu Fernandes:
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