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O antibiograma quantitativo pode avaliar a transmissão hospitalar de enterobactérias produtoras de ESBL?

Capacidade do antibiograma detectar beta-lacmases e sua transmissão intra-hospitlar

O antibiograma quantitativo pode avaliar a transmissão hospitalar de enterobactérias produtoras de ESBL?

Esse estudo traz uma comparação entre o padrão ouro de tipificação de enterobactérias produtoras de beta-lactamase e o antibiograma quantitativo, um método existente há mais de 35 anos; além disso, avalia se a adoção de precauções padrão e de contato são adequadas para prevenir a transmissão cruzada desses patógenos no âmbito hospitalar.

Monitoramento da resistência a antimicrobianos

A resistência a antimicrobianos (AMR) é uma ameaça de saúde pública preocupante, principalmente devido aos altos níveis de morbidade e mortalidade relacionados. Entre a lista de patógenos prioritários da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão os Enterobacterales produtores de beta lactamase de espectro estendido (ESBL-E), sendo as principais espécies Escherichia coli (ESBL-Ec) e Klebsiella pneumoniae (ESBL-Kp).

Os métodos de tipagem (determinação do perfil clonal das cepas) são úteis para monitorar a disseminação de bactérias multirresistentes e mudanças nas tendências epidemiológicas, particularmente em ambientes hospitalares. Sendo assim, a tipagem das espécies é um componente fundamental para guiar a adoção das precauções adequadas e para prevenir e monitorar eventos de transmissão cruzada.

A eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE) o padrão-ouro por décadas, foi substituída progressivamente por outros métodos de tipagem molecular, como tipagem de sequência multilocus (MLST) e sequenciamento de genoma inteiro (WGS), que agora são a referência. Ao lado desses métodos sofisticados, abordagens mais simples foram descritas, como o método de antibiograma quantitativo (AQ). Esta técnica permite a discriminação de clusters epidemiológicos com base na determinação da distância euclidiana (ED) usando diâmetros de zona de inibição para vários antibióticos. Esta técnica tem sido usada com sucesso para discriminar entre isolados de Staphylococcus aureus e Proteus mirabilis produtores de ESBL, enfatizando a concordância geral entre tipagem QA e ribotipagem (tipagem PFGE e RAPD, respectivamente).

Eles avaliaram a possibilidade do antibiograma detectar possibilidade de transmissão e a eficácia das medidas de precaução?

O objetivo desse estudo foi validar o uso do antibiograma quantitativo juntamente com dados epidemiológicos (método AQ combinado) como método de detecção de eventos de transmissão cruzada (ETCs). Além disso foi avaliada a eficácia das precauções – padrão ou de contato – para as duas principais espécies produtoras de ESBL.

Como eles procuraram responder essas questões?

Utilizando um conjunto de validação coletado no hospital de estudo, os pesquisadores realizaram uma comparação entre o método AQ combinado (antibiograma quantitativo associado a dados epidemiológicos) com o método PFGE combinado (eletroforese em gel de campo pulsado associado a dados epidemiológicos) que atualmente é o padrão ouro. Foram utilizados 48 isolados de ESBL-Ec e 66 de ESBL-Kp, todos identificados por espectrometria de massa e testados para susceptibilidade a antibióticos por meio de disco-difusão; além disso, foi realizada a caracterização molecular e fenotípica de cada isolado com o método PFGE.

Os antibióticos utilizados para a tipagem por AQ foram cefotaxima, ceftazidima, gentamicina, ácido nalidíxico, ciprofloxacina e trimetoprima; para cada agente os diâmetros das zonas de inibição foram coletados e a distância euclidiana calculada – o limite para considerar relação entre duas amostras foi determinado como ≤ 4mm.  Os resultados foram então combinados com critérios epidemiológicos que permitiram estimar a probabilidade de transmissão cruzada entre pacientes.

Os autores realizaram também uma análise retrospectiva dos 4 anos precedentes para identificar eventos de transmissão cruzada de eESBL em pacientes hospitalizados. Foram rastreadas as espécies ESBL E. coli (ESBL-Ec) e ESBL K. pneumoniae (ESBL-Kp) para as quais no hospital de estudo se aplicavam, respectivamente, precauções padrão e precauções de contato. Foram coletados dados demográficos, ala e informações de internação, e o diâmetro da zona de inibição dos antibióticos já mencionados. Os isolados foram classificados como importado, nosocomial ou indefinido com base em critérios temporais e todos os isolados produtores de eESBL foram avaliados com o método AQ combinado.

O antibiograma quantitativo é um método adequado para detectar eventos de transmissão cruzada?

Os métodos testados – AQ combinado e PFGE combinado – geraram resultados idênticos para as amostras de E. coli e resultados semelhantes para mais de 75% das amostras de K. pneumoniae. O AQ combinado apresentou 75% de sensibilidade e 98% de especificidade, sendo as discrepâncias de identificação atribuídas a variabilidades relacionadas a susceptibilidade a fluoroquinolonas (prováveis mutações no gene gyrA que levaram a uma modificação significante na distância euclidiana).

A análise retrospectiva incluiu 1002 pacientes, sendo 722 casos de ESBL-Ec e 280 de ESBL-Kp. A investigação das rotas de transmissão revelou maior risco de aquisição nosocomial de ESBL-Kp (40%) do que de ESBL-Ec (24%).  Os casos de transmissão cruzada efetiva identificados de ESBL-Ec foram 9, envolvendo 2.7% (20) dos pacientes, enquanto os de ESBL-Kp foram 23, envolvendo 12.8% (36) dos pacientes. A distribuição dos eventos de transmissão cruzada variou consideravelmente de acordo com a ala hospitalar, sendo os casos de ESBL-Kp mais comuns em unidades de terapia intensiva e os de ESBL-Ec em alas de médico-cirúrgicas.

Os autores concluem que o método AQ combinado é uma ferramenta valida e rápida para a vigilância epidemiológica de eventos de transmissão cruzada. Eles sugerem que esse método – apesar de poder ser considerado menos sofisticado que o PFGE ou o sequenciamento completo de genoma – pode ser usado prospectivamente pelos times de controle de infecção e laboratórios de microbiologia.

Os pesquisadores ressaltam ainda que no hospital de estudo a adoção de precauções padrão mostrou-se suficiente para evitar a aquisição nosocomial de ESBL-Ec, enquanto as precauções de contato seguem sendo necessárias para evitar a transmissão de ESBL-Kp. Enfatizam também que, além das precauções, a higiene ambiental periódica incluindo a descontaminação de fontes de água e o descarte de líquidos contaminados é importante para o controle e prevenção de infecções por K. pneumoniae.

Quais as limitações do estudo?

Os autores não explicitam nenhuma limitação. É importante considerar, contudo, que este foi um estudo monocêntrico e que os resultados podem não ser generalizáveis, principalmente levando em consideração a variabilidade epidemiológica das espécies de organismos resistentes e suas susceptibilidades.

Fonte:

Morin-Le Bihan, A., Le Neindre, K., Dejoies, L., Piau, C., Donnio, P. Y., & Ménard, G. (2023). Use of the quantitative antibiogram method for assessing nosocomial transmission of ESBL-producing Enterobacterales in a French hospital. The Journal of hospital infection, 135, 132–138.

Link:

https://doi.org/10.1016/j.jhin.2023.01.023

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Sinopse por:

Maria Julia Ricci

E-mail: [email protected]

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TAGs/palavras-chave:

resistência, antibióticos, Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, enterobactérias, antibiograma, precauções padrão, precauções de contato, transmissão cruzada, beta-lactamases, ESBL

 

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