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Infecções por Staphylococcus aureus após cirurgias pediátricas eletivas

Este estudo observa o número de infecções por S. aureus no pós-operatório de cirurgias pediátricas e ressalta a necessidade de esforços contínuos para prevenção e vigilância das infecções pós-cirúrgicas. 

 

Qual a frequência de infecções pós-cirúrgicas na pediatria? 

 As infecções pós-cirúrgicas em crianças podem resultar em graves morbidades e em uma demanda grande de cuidados à saúde. Apesar dos esforços para aderir às diretrizes de prevenção, infecções ainda ocorrem com frequência. 

 As infecções de sítio cirúrgico (ISCs) são atualmente o terceiro tipo mais comumente relatado de infecção associada à assistência à saúde (IRAS) e ocorrem em 2 a 5% das cirurgias nos Estados Unidos. Para pacientes pediátricos pós-cirúrgicos, as infecções podem ser particularmente graves, devido a pouca idade e um sistema imunológico imaturo, bem como comorbidades e condições congênitas que são mais prevalentes entre as crianças submetidas a cirurgia.  

 

Qual a participação dos S.aureus nas infecções associadas aos cuidados de saúde em pacientes pediátricos?

 O Staphylococcus aureus é a segunda causa mais comum de IRAS entre todos os pacientes (incluindo crianças e adultos). É o principal patógeno entre as ISCs associadas à assistência à saúde, a pneumonia associada à ventilação mecânica e o segundo principal patógeno entre as infecções da corrente sanguínea associadas ao cateter venoso (IPCS) em crianças.  

 A maioria dos estudos envolvendo as infecções pediátricas pós-cirúrgicas por S. aureus se concentrou em tipos limitados de procedimentos cirúrgicos e/ou foram conduzidos em centros únicos com grande variabilidade institucional. As estimativas de nível nacional sobre as infecções pediátricas pós-operatórias por S. aureus baseadas em dados reais faltam dados microbiológicos mundiais.  

 

Como foram identificados os casos de infecções por S. aureus em crianças? 

O objetivo deste estudo foi determinar a incidência e os tipos de infecções por S. aureus confirmadas por cultura entre uma ampla variedade de cirurgias eletivas pediátricas em uma grande amostra de hospitais dos EUA. 

 Trata-se de um estudo retrospectivo, realizado na base de dados da Premier Healthcare Database (PHD), um banco de dados de vários hospitais americanos, para identificar as infecções por S. aureus entre crianças após cirurgias hospitalares e ambulatoriais no período da internação hospitalar.  

Durante o período do estudo, 665 hospitais contribuíram com dados. Os resultados da cultura incluem o tipo e o local da amostra (por exemplo, ferida, sangue, urina), patógeno(s) isolado(s) e resultado(s) de suscetibilidade, de pacientes com menos de 18 anos de idade, com cirurgias realizadas no dia ou no dia seguinte a uma admissão eletiva entre 1º de julho de 2010 e 30 de junho de 2015.  

A identificação da infecção pós-cirúrgica por S. aureus foi baseada em um algoritmo que combina resultados positivos de cultura sem vigilância, descrições hospitalares e códigos de diagnóstico CID-9-CM (CID-10 após 1º de outubro de 2015). As infecções foram classificadas em categorias, mutuamente exclusivas, na seguinte ordem: infecção de corrente sanguínea > infecção de sítio cirúrgico > todas as outras. A categoria de tipo de infecção “todos os outros” incluiu trato urinário, respiratório, incerto e todos os outros tipos. Tipos incertos de infecções por S. aureus foram aqueles com descrições de cultura inespecíficas do hospital. Todas as infecções por S. aureus foram classificadas como sensíveis à meticilina (MSSA) ou resistentes à meticilina (MRSA). 

As taxas de infecção foram avaliadas durante a hospitalização dos pacientes no período de 30, 90 e 180 dias após a cirurgia hospitalar e ambulatorial, relatados por 100 altas.  

 

É alta a taxa de infecções por S. aures nesta população?  

Características do paciente, da internação e do hospital 

 No total houve 62.572 altas pós cirúrgicas eletivas pediátricas, sendo 11.874 (19,0%) hospitalares e 50.698 (81,0%) ambulatoriais. Entre essas altas pós cirúrgicas, 5.268 pacientes (8,42%) realizaram, pelo menos, mais de 1 procedimento cirúrgico.  

 O total de infecções por S. aureus, em até 180 dias após a cirurgia, foi identificado em 393 (0,63%) altas pós-cirúrgicas. Infecções por S. aureus durante a internação ocorreram em 213 (1,79%) altas cirúrgicas. E, infecções por S. aureus em cirugias ambulatoriais ocorreram em 180 (0,36%) altas cirúrgicas. 

 

Quais foram os principais fatores de risco para ocorrência de infecção por S.aureus em pacientes pediátricos?

 As crianças com infecções pós-cirúrgicas por S. aureus tendiam a ser mais jovens e foram mais atendidas e operadas em hospitais universitários.  

 Na comparação entre as crianças com ou sem infecção por S. aureus após cirurgia hospitalar observou-se naquelas que tinham a infecção: menos alta para casa, mais alta para outra instituição e receberam mais códigos de tratamento para condições crônicas complexas, indicando um nível mais alto de atendimento e tratamento médico. Com relação a cirurgia ambulatorial, observou-se mais crianças do sexo masculino e mais frequentemente tratadas em hospitais rurais. 

 A incidência de Staphylococcus aureus foi 5 vezes maior após cirurgias hospitalares (1,79%) versus ambulatoriais (0,36%). As taxas de infecção pós-cirúrgica por S. aureus aumentou progressivamente desde a internação inicial até 180 dias para todas as faixas etárias tanto nas cirurgias ambulatoriais quanto nas hospitalares. Mais da metade das infecções foram identificadas entre o 30o e 180o dias após a cirurgia em ambos os cenários. A topografia mais comum de infecção por S. aureus foi o do sítio cirúrgico, seguido da corrente sanguínea e, finalmente, “outros”. A MRSA representou 38% (81 de 213) dos pacientes pós cirúrgicos hospitalares e 39% (70 de 180) dos ambulatoriais. A incidência geral de MRSA foi significativamente maior nas cirurgias hospitalares (0,68%) em comparação com as cirurgias ambulatoriais (0,14%) (P < 0,0001). Entre os procedimentos cirúrgicos que tiveram, pelo menos 100 altas cirúrgicas, as maiores incidências de MRSA foram encontradas nas seguintes cirurgias: cólon (1,55%), crânio (1,26%) e vascular (1,17%).  

Os pacientes que desenvolveram MRSA tinham características semelhantes aos que desenvolveram uma infecção por MSSA, exceto que uma proporção maior com MSSA tinha comorbidade neurológica ou neuromuscular ou era dependente de tecnologia após cirurgia ambulatorial.  

 O número médio de dias para detecção da infecção por S. aureus foi maior após cirurgia ambulatorial em comparação com a hospitalar (39 vs. 31 dias; P = 0,0116). 

 

Qaul a incidência por tipos de cirurgia e por faixas etárias? 

 Entre as cirurgias hospitalares, aquelas que envolviam múltiplos tipos de procedimentos cirúrgicos durante a mesma internação apresentaram as maiores taxas de infecção.  As cirurgias com maior incidência de infecção, em 180 dias após a cirurgia ambulatorial, foram as cirurgias gástricas (4 de 160, 2,50%), cirurgias vasculares (4 de 173, 2,31%) e laparotomias exploratórias (5 de 267, 1,87%). 

 A incidência geral de infecção em 180 dias após a cirurgia hospitalar foi maior em crianças menores de 2 anos (2,76%), seguidas por crianças de 2 a 9 anos (1,74%) e de 10 a 17 anos (1,49%).  

 Para aqueles pacientes com idades entre 2 a 9 anos, as maiores incidências de S. aureus foram observadas nas cirurgias plásticas, em cirurgias de múltiplos sistemas corporais (1,48%) e cirurgias ortopédicas (1,42%). As cirurgias com maior incidência de S. aureus entre 10 a 17 anos foram artrodese da coluna vertebral (2,41%), cirurgias torácicas (1,90%) e cirurgias de múltiplos sistemas corporais (1,75%). 

 A incidência de infecção por S. aureus, em 180 dias após a cirurgia ambulatorial, também foi maior para crianças menores de 2 anos de idade (0,57%), seguidas por crianças de 2 a 9 anos (0,36%) e de 10 a 17 anos (0,30%). Para cirurgias ambulatoriais, com pelo menos 100 altas cirúrgicas, as cirurgias com maior incidência de S. aureus em crianças menores de 2 anos foram as cirurgias gástricas (7,14%), cirurgias vasculares (5,00%) e laparotomias exploratórias (3,13%). Para crianças de 2 a 9 anos, as cirurgias com maior incidência de S. aureus foram cirurgias de nervos periféricos ou cranianos (6,67%), cirurgias vasculares (3,03%) e outras cirurgias não classificadas (2,54%). Para aqueles com idade entre 10 a 17 anos, as cirurgias com maior incidência de S. aureus foram as cirurgias de linfonodos (1,99%), laparotomias exploradoras (1,69%) e cirurgias vasculares (1,15%). 

 

Quais as limitações do estudo?  

 Este estudo teve várias limitações. As infecções podem ter passado despercebidas, caso os pacientes fossem a hospitais diferentes daqueles onde a cirurgia foi realizada.  

Os dados do subconjunto de hospitais, que relataram os dados laboratoriais de microbiologia foram assumidos como representando a carga de infecções por S. aureus entre as cirurgias hospitalares selecionadas em todo o país. Este estudo incluiu apenas casos de cultura positiva por S. aureus e não observou as infecções que não tiveram amostra com crescimento de microorganismos ou que foram negativas.  O estudo não foi desenhado para avaliar as razões subjacentes a variação na incidência de infecção. Os pontos fortes do estudo incluem o grande tamanho da amostra, que permitiu a captura de infecções pós-cirúrgicas infrequentes entre a população pediátrica e o uso de dados microbiológicos para confirmar infecções por S. aureus 

 

O que podemos concluir a partir das informações obtidas neste estudo? 

 Neste estudo, foi feito uma avaliação abrangente da incidência de S. aureus a partir de dados microbiológicos de um grande número de hospitais dos Estados Unidos. A incidência de infecção por S. aureus após cirurgias eletivas hospitalares foi maior em crianças mais jovens e em certos tipos de cirurgia hospitalar e ambulatorial, que atualmente não fazem parte da vigilância de rotina das infecções de sítio cirúrgico.  

As cirurgias e as características dos pacientes com maior incidência de infecções representam áreas prioritárias para os métodos existentes e novos de prevenção, como a vacinação. Esses resultados podem ajudar a orientar os esforços direcionados para prevenção de infecção pós-cirúrgica entre crianças. 

 

Fonte:  

Munjal IM, Dreyfus J, Yu H, Begier E, Gurtman A, Gayle JA, Olsen MA. Staphylococcus aureus infections after elective pediatric surgeries. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Nov;43(11):1625-1633. PMID: 35272728. DOI: 10.1017/ice.2021.462 

 Link: https://www.cambridge.org/core/journals/infection-control-and-hospital-epidemiology/article/abs/staphylococcus-aureus-infections-after-elective-pediatric-surgeries/64BF57C5381283A79FFA4D39FB2A409F 

 

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Sinopse por:  

Thalita Gomes do Carmo 

 

Instagram: https://www.instagram.com/profa.thalita_carmo/  

Linkedin: www.linkedin.com/in/thalitagomesdocarmo/ 

 

Links relacionados: 

Base de dados da Premier Healthcare Database (PHD): Premier Applied Sciences. Premier Healthcare database white paper: data that informs and performs. Premier Inc website.  

https://products.premierinc.com/downloads/PremierHealthcareDatabaseWhitepaper.pdf 

 

NIS: HCUPnet: free healthcare statistics. Agency for Healthcare Research and Quality website.  

https://hcupnet.ahrq.gov/#setup Published 2019. 

 

Condições crônicas complexas pediátricas de Feudtner: Feudtner C, Feinstein JA, Zhong W, Hall M, Dai D. Pediatric complex chronic conditions classification system version 2: updated for ICD-10 and complex medical technology dependence and transplantation. BMC. DOI: https://doi.org/10.1186/1471-2431-14-199 Pediatr 2014;14:199. 

 

Infecções institucionais em pacientes pediátricos 

https://www.ccih.med.br/infeccoes-institucionais-em-pacientes-pediatricos/ 

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