fbpx
Instituto CCIH+ : Parceria permanente entre você e os melhores professores na sua área de atuação
CCIH-LOGO-NOVA

Infecção hospitalar em neonatos por Gram negativos – um risco crescente

Entenda as causas para prevenir infecção hospitalar em neonatos por Gram negativos multirresistentes.

FAQ: Infecção Hospitalar em Neonatos por Gram-Negativos

Parte I: O Risco Crescente e os Patógenos

1. Por que as infecções por bactérias Gram-negativas são um “risco crescente” em UTIs Neonatais?

O risco é crescente devido a uma “tempestade perfeita”: a maior sobrevida de neonatos cada vez mais prematuros e de baixo peso, o uso intensivo de procedimentos invasivos e, principalmente, o aumento alarmante da resistência antimicrobiana nesses patógenos, o que limita drasticamente as opções de tratamento.

2. Quais são as bactérias Gram-negativas mais perigosas e comuns neste cenário?

As mais comuns e preocupantes são as enterobactérias, como Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, e os bacilos não fermentadores, como Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii. A grande ameaça é a emergência de cepas produtoras de enzimas de resistência, como KPC e ESBL.

3. Qual a principal diferença e gravidade das infecções por Gram-negativos em comparação com as por Gram-positivos em neonatos?

Infecções por Gram-negativos em neonatos, especialmente as multirresistentes, estão associadas a uma evolução clínica mais fulminante e a uma mortalidade significativamente maior do que as causadas por Gram-positivos. Elas frequentemente levam ao choque séptico devido à liberação de endotoxinas (LPS) da parede celular bacteriana.

4. O que significa uma bactéria ser produtora de ESBL ou KPC?

  • ESBL (Betalactamase de Espectro Estendido): É uma enzima que confere resistência a penicilinas e cefalosporinas. O tratamento geralmente requer o uso de carbapenêmicos.
  • KPC (Klebsiella pneumoniae Carbapenemase): É uma enzima que confere resistência aos carbapenêmicos, os antibióticos mais potentes contra Gram-negativos. Infecções por bactérias KPC são extremamente difíceis de tratar.
  • Referência: Infecção Hospitalar em Neonatos por Gram-negativos: Um Risco Crescente – ccih.med.br

 

Parte II: Fontes, Transmissão e Prevenção

5. De onde vêm essas bactérias Gram-negativas? Elas são da própria microbiota do neonato?

Podem vir de duas fontes principais: 1) Fonte endógena: Da translocação a partir do trato gastrointestinal do próprio neonato, que é rapidamente colonizado após o nascimento. 2) Fonte exógena: Através da transmissão cruzada a partir de outros pacientes, das mãos dos profissionais de saúde ou do ambiente contaminado.

6. Qual o papel do ambiente da UTI Neonatal (pias, ralos) como reservatório de Gram-negativos?

O ambiente úmido da UTI Neonatal é um reservatório crucial para Gram-negativos, especialmente Pseudomonas e Acinetobacter. Pias e ralos são frequentemente colonizados e podem gerar aerossóis contaminados durante o uso, dispersando as bactérias para superfícies próximas e para as mãos dos profissionais.

7. As medidas de prevenção para Gram-negativos são diferentes das medidas gerais? O que deve ser enfatizado?

As medidas básicas são as mesmas (higiene das mãos, precauções, etc.), mas a prevenção de Gram-negativos exige uma ênfase redobrada no controle ambiental e no uso racional de antibióticos. A vigilância de pias e áreas úmidas e um programa de Antimicrobial Stewardship robusto são diferenciais.

8. Qual a importância do programa de Antimicrobial Stewardship para controlar Gram-negativos resistentes?

É fundamental. O uso excessivo de antibióticos de amplo espectro (especialmente cefalosporinas e carbapenêmicos) é o principal fator que seleciona cepas de Gram-negativos multirresistentes na UTI. Um programa de Stewardship que promove o uso de espectro mais estreito e cursos mais curtos é a principal estratégia para frear essa seleção.

9. A busca ativa (screening) é útil no controle de surtos por Gram-negativos multirresistentes?

Sim, em situações de surto, a busca ativa por colonização (geralmente com swab retal para enterobactérias) em outros neonatos da unidade é uma ferramenta importante para identificar o “iceberg” de portadores, permitindo a coorte de pacientes e a implementação de medidas de bloqueio mais eficazes.

10. Quais estratégias podem ser usadas para o controle de fontes ambientais, como as pias?

Estratégias incluem a desinfecção regular de pias e ralos, a instalação de torneiras e dispensadores que minimizem respingos, a orientação para não descartar fluidos corporais ou leite nas pias de lavagem das mãos, e a manutenção de uma “zona segura” ao redor da pia, livre de materiais limpos.

 

Parte III: O Papel da Equipe Multiprofissional

11. Qual é a abordagem terapêutica para um neonato com sepse por Gram-negativo multirresistente (ex: KPC)?

O tratamento é um enorme desafio e quase sempre exige terapia combinada, com a associação de múltiplos antibióticos (ex: polimixinas, aminoglicosídeos, fosfomicina, tigeciclina), cujas doses precisam ser cuidadosamente ajustadas para o peso e a função renal do neonato. A consulta com um infectologista é fundamental.

12. Qual o papel do médico neonatologista na prevenção e no manejo?

O médico lidera pelo exemplo no uso racional de antibióticos, evitando cursos prolongados de terapia empírica. Ele é responsável por indicar o uso de dispositivos invasivos pelo menor tempo possível e por participar ativamente da análise dos dados de resistência locais para guiar as escolhas terapêuticas.

13. Qual a responsabilidade da enfermagem na barreira contra a disseminação de Gram-negativos?

A enfermagem é a principal barreira. Garante a adesão rigorosa às precauções de contato, realiza a higiene das mãos de forma impecável, executa os cuidados com cateteres e outros dispositivos com técnica asséptica e está atenta à integridade do ambiente, comunicando falhas na limpeza ou na estrutura.

14. Como o farmacêutico clínico é essencial no tratamento de infecções por KPC ou ESBL?

O farmacêutico é essencial no ajuste fino da terapia. Ele calcula as doses complexas para a população neonatal, monitora os níveis séricos de drogas (quando aplicável), prepara as medicações em ambiente estéril, e é o principal consultor da equipe sobre as melhores opções de terapia combinada.

15. Como o laboratório de microbiologia pode ajudar na detecção rápida e no controle de surtos?

O laboratório é o “radar” da CCIH. A utilização de métodos rápidos de identificação e de testes de sensibilidade, a realização de testes para detectar mecanismos de resistência (como KPC) e a comunicação ágil de resultados críticos para a equipe clínica são essenciais para o manejo do paciente e o controle do surto.

16. O uso de colostro/leite materno também ajuda a proteger contra Gram-negativos?

Sim. O leite materno, especialmente o colostro, é rico em IgA secretora, lactoferrina e oligossacarídeos que têm ação protetora contra patógenos entéricos, incluindo bactérias Gram-negativas. A promoção do aleitamento materno e da colostroterapia é uma estratégia importante de prevenção.

17. O que é considerado um surto de Gram-negativos multirresistentes em uma UTI Neonatal?

Devido à gravidade e ao potencial de disseminação, a identificação de um único caso de infecção ou colonização por um patógeno de especial importância, como uma enterobactéria produtora de KPC, em uma UTI Neonatal já deve disparar o alerta e as ações de investigação e controle de surto.

18. O que fazer ao transferir um neonato colonizado por bactéria multirresistente?

É mandatório comunicar de forma clara e explícita, no resumo de transferência, o status de colonização do paciente. A comunicação eficaz entre instituições é uma medida de segurança essencial para prevenir a disseminação de superbactérias entre hospitais.

19. A superlotação da UTI Neonatal impacta no risco de infecções por Gram-negativos?

Sim, drasticamente. A superlotação leva à proximidade excessiva entre os leitos, dificulta a higiene do ambiente e sobrecarrega a equipe de enfermagem, resultando em menor adesão à higiene das mãos e às precauções. É um dos principais fatores de risco para surtos de Gram-negativos.

20. Onde os profissionais podem encontrar as diretrizes mais atualizadas da Anvisa para o controle de bactérias multirresistentes?

As diretrizes e notas técnicas oficiais da Anvisa, que são a principal referência para as políticas de controle no Brasil, podem ser encontradas em seu portal oficial, na seção de publicações sobre serviços de saúde e segurança do paciente.

1. Principal achado

O estudo revelou que a incidência de infecções da corrente sanguínea por bactérias Gram-negativas (GNB-BSI) em neonatos críticos é significativamente influenciada pelo uso prévio de antimicrobianos de amplo espectro, principalmente carbapenêmicos e cefalosporinas de quarta geração, aumentando a presença de isolados multirresistentes e as taxas de mortalidade. A taxa de letalidade chegou a 29,9%, evidenciando o impacto dessas infecções na unidade neonatal.

2. Importância do tema

Infecções hospitalares são uma das principais causas de mortalidade neonatal, especialmente em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs). A crescente resistência bacteriana limita as opções terapêuticas e aumenta o tempo de internação, custos hospitalares e risco de óbito. Compreender os fatores de risco e padrões epidemiológicos dessas infecções é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle, melhorando os desfechos clínicos dos neonatos.

3. O que se sabia sobre o tema

  • Infecções por GNB em neonatos são associadas a altas taxas de mortalidade e longos períodos de hospitalização.
  • Multirresistência bacteriana (MDR-GNB) tem aumentado globalmente, dificultando o tratamento.
  • Estudos anteriores já indicavam o uso excessivo de antibióticos como fator de risco, mas havia pouca documentação sobre sua influência em neonatos em UTINs no Brasil.

4. Metodologia do estudo

  • Tipo de estudo: Coorte retrospectivo.
  • Local: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, Brasil.
  • Período: Janeiro de 2015 a junho de 2022.
  • População: 1.495 neonatos internados por mais de 24 horas.
  • Critérios de exclusão: Neonatos com infecções por bactérias Gram-positivas, fungos ou GNB em locais diferentes da corrente sanguínea.
  • Métodos:
    • Vigilância diária baseada no National Healthcare Safety Network (NHSN).
    • Identificação microbiológica e perfil de resistência feitos pelo sistema BACT/Alert e Vitek2.
    • Análises estatísticas por regressão logística univariada e multivariada, além do método de Kaplan-Meier para estimativa de sobrevivência.

5. Principais resultados (com significância estatística)

  • Incidência geral: 5,2% dos neonatos desenvolveram GNB-BSI.
  • Taxa média de infecção: 2,9 por 1.000 pacientes-dia.
  • Principais fatores de risco:
    • Uso prévio de carbapenêmicos aumentou em 514,4 vezes o risco de infecção (p < 0,01).
    • Uso de cefalosporinas de quarta geração aumentou em 66 vezes o risco de infecção (p < 0,01).
    • Uso prévio de cateter venoso umbilical (UVC) aumentou em 3,17 vezes o risco de infecção (p < 0,01).
    • Intubação prévia aumentou em 2,2 vezes o risco (p = 0,02).
  • Mortalidade e tempo de internação:
    • Neonatos infectados permaneceram 39 dias internados, contra 10 dias dos não infectados (p < 0,01).
    • 95,6% dos óbitos ocorreram em até 30 dias após a infecção.
    • Risco de morte aumentou em 4,2 vezes nos neonatos infectados (p < 0,01).
    • Infecção por bactérias MDR aumentou a mortalidade em 4,6 vezes (p = 0,01).
    • Infecção por produtores de ESBL aumentou o risco de morte em 4,6 vezes (p = 0,02).

6. Conclusões dos autores

  • O estudo confirma o impacto negativo do uso excessivo de antimicrobianos de amplo espectro na emergência de patógenos resistentes e aumento da mortalidade neonatal.
  • É essencial a implementação de protocolos rigorosos de controle de infecção e uso racional de antibióticos.
  • Estratégias como higienização das mãos, redução do uso indiscriminado de cateteres e controle ambiental podem reduzir a incidência de GNB-BSI.
  • Os achados reforçam a necessidade de vigilância ativa e intervenções precoces para prevenir infecções em UTINs.

7. Fatores limitantes e possíveis confundidores

  • Estudo realizado em um único hospital, o que pode limitar a generalização dos achados.
  • Dados retrospectivos podem ter vieses de coleta e registro.
  • Ausência de análises moleculares para identificar os mecanismos específicos de resistência.
  • Possíveis fatores ambientais e mudanças nas práticas hospitalares ao longo dos anos podem ter influenciado os resultados.

8. Fonte:

FERREIRA, Isadora Caixeta da Silveira et al. Challenges and trends in Gram-negative bacterial infections in critically neonates: A seven-and-a-half-year observational study. American Journal of Infection Control, v. 53, p. 13-21, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2024.08.004. Acesso em: 26/02/25.

9. Comentários adicionais

  1. Destaque para o impacto do uso de antibióticos: A relação entre o uso prévio de carbapenêmicos e o aumento exponencial no risco de infecção levanta uma discussão crítica sobre a prescrição indiscriminada em neonatos. Protocolos de antimicrobial stewardship são fundamentais para reverter essa tendência.
  2. A importância da vigilância epidemiológica: O estudo reforça a necessidade de um monitoramento constante das UTINs, incluindo rastreamento de colonização por MDR-GNB e rápida implementação de medidas preventivas.
  3. Necessidade de estudos multicêntricos: Para validar esses achados, seria interessante expandir a análise para outras unidades neonatais no Brasil e em países com realidades semelhantes.
  4. Lições da pandemia: A redução da incidência de GNB-BSI em 2019 e 2020 sugere que as medidas de controle adotadas na pandemia tiveram um impacto positivo e poderiam ser incorporadas à rotina hospitalar.
  5. Parabenizar: Parabéns aos colegas da Universidade Federal de Uberlândia pela publicação num dos mais influentes periódicos em controle de infecção.

10. Links relacionados:

Prevenção e controle de infecções em UTI neonatal: https://www.ccih.med.br/prevencao-e-controle-de-infeccoes-em-uti-neonatal/

 

Estudo qualitativo para medir resultados de prevenção de infecções em UTI Neonatal: https://www.ccih.med.br/estudo-qualitativo-para-medir-resultados-de-prevencao-de-infeccoes-em-uti-neonatal/

 

Abordagens práticas para a prevenção de infecções da corrente sanguínea associadas à linha central em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: https://www.ccih.med.br/abordagens-praticas-para-a-prevencao-de-infeccoes-da-corrente-sanguinea-associadas-a-linha-central-em-unidade-de-terapia-intensiva-neonatal/

 

11: Sinopse por:

Antonio Tadeu Fernandes:

https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/

https://www.instagram.com/tadeuccih/

 

Instituto CCIH+  Parceria permanente entre você e os melhores professores na sua área de atuação

Conheça nossos cursos de especialização ou MBA:

MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção

MBA Gestão em Centro de Material e Esterilização

MBA EQS – Gestão da Segurança do Paciente e governança clínica 

Especialização em Farmácia Clínica e Hospitalar 

Pós-graduação em Farmácia Oncológica

#UTIneonatal #sepse #bactériasGramnegativas #multirresistência

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
plugins premium WordPress
×