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Estudo qualitativo para medir resultados de prevenção de infecções em UTI Neonatal

Barreiras e facilitadores para a prevenção e controle de infecção em uma unidade neonatal no Zimbabue – um estudo qualitativo baseado em teoria para criar o projeto/design de uma intervenção de mudança de comportamento.

Qual a justificativa do estudo?

A Organização Mundial da Saúde estima que 25% das 2.8 milhões de mortes neonatais anuais são atribuíveis a infecção. A infecção hospitalar (Hospital Acquired Infection – HAI) é uma causa crescente de morbidade/mortalidade neonatal principalmente em ambientes de baixa renda. Os comportamentos da equipe hospitalar, como por exemplo a higiene das mãos, são os principais contribuintes para prevenir HAI. Compreender as causas desses comportamentos, ou da ausência deles, pode auxiliar nas intervenções para melhoria da prevenção e controle de infecção (Infection Prevention and Control – IPC).

Qual o objetivo do estudo?

O objetivo do estudo foi explorar sistemicamente quais são as possíveis barreiras e facilitadores aos comportamentos de IPC entre profissionais de saúde em uma unidade neonatal/maternidade. Visou identificar áreas prioritárias de intervenção para a unidade neonatal em questão, localizada em Harare (Zimbabue).

Qual metodologia foi empregada?

Foi realizado um estudo qualitativo de métodos mistos, combinando entrevistas semiestruturadas com observações etnográficas imersivas em primeira pessoa e não-participativas. Os dados foram coletados entre 2018 e 2019.

Foram realizadas entrevistas com 15 funcionários de unidades neonatais e maternidades, juntamente com as observações etnográficas. O guia para entrevista e a análise dos dados coletados seguiram o modelo COM-B (Capacity, Opportunity, Motivation-Behaviour; Capacidade, Oportunidade, Motivação-Comportamento) e exploraram as barreiras/facilitadores de IPC a níveis individuais, socioculturais e organizacionais. Intervenções em potencial foram identificadas usando a Roda de Mudança de Comportamento (Behaviour-Change Wheel).

Quais os principais resultados?

Os 15 funcionários entrevistados foram: 4 médicos, 4 enfermeiras generalistas, 6 enfermeiras parteiras, 1 profissional de limpeza. 50% destes ocupavam posições de liderança.

Tratando-se da área de Capacidade o principal facilitador foi a consciência demonstrada sobre a importância das ações de IPC. Já as principais barreiras encontradas foram o conhecimento limitado das diretrizes somado a ausência de feedback formal sobre o desempenho/performance das práticas de IPC.

Os dados relacionados a Motivação, por sua vez, revelaram como principal facilitador a crença dos profissionais no papel crucial de IPC para seu trabalho e a preocupação com as consequências de IPC deficiente.

Por fim, as informações obtidas relacionadas a Oportunidade mostrou como facilitador o otimismo dos funcionários no potencial de melhoria do programa de IPC. Contudo, esse otimismo foi relacionado diretamente a disponibilidade de recursos. E foi exatamente a falta de recursos a principal barreira descoberta nessa área.

Foi relatado e observado que, tanto o conhecimento limitado quanto a escassez de recursos levaram muitas vezes a improvisação e a formação de hábitos inadequados.

Ainda tratando-se de Oportunidade, uma outra importante barreira identificada foi a hierarquia extremamente verticalizada e pouco comunicativa da unidade, com baixo envolvimento da equipe de limpeza e das mães/familiares no IPC. Tal estrutura causou situações em que funcionários testemunham a implementação de práticas inadequadas por outros membros sem possibilidade real de interferência.

Quais as limitações do estudo?

Como ressaltado pelos autores, o estudo foi realizado em uma única unidade e com pequena coorte de participante (n=15). Além disso, a grande participação (50%) de profissionais em posição de liderança pode ter levado a uma percepção da Motivação e Capacidade maior do que a realidade da unidade.

Quais as conclusões e recomendações finais?

O estudo ressaltou o potencial inexplorado do capital humano presente na unidade e foi desenhado para ser um primeiro passo para o desenvolvimento de intervenções e melhores práticas para limitar as infecções hospitalares na unidade em questão.

Como reportado acima, a maioria das barreiras se enquadra na categoria de Oportunidade; enquanto, a categoria com a maioria dos facilitadores foi Motivação. Potenciais intervenções identificadas pelos autores incluem, mas não se limitam, a valorização de role models (modelos de comportamento) dentro da unidade, engajamento de mães e de funcionários de todos os níveis hierárquicos, auditoria dos comportamentos com feedbacks, e criação de protocolos flexíveis de forma que sejam adaptáveis a (in)disponibilidade de agua/recursos para higiene das mãos.

Quais críticas e comentários?

O panorama de escassez em que o hospital em questão está inserido é consideravelmente distante da realidade da maioria dos hospitais em áreas metropolitanas e em regiões com acesso a fontes de água e outros recursos para higiene das mãos e outras práticas de IPC. Isso, contudo, não o distancia da realidade de muitas unidades de saúde brasileiras e traz importantes reflexões aplicáveis em ambos os contextos.

A primeira reflexão importante está relacionada ao lugar de privilégio do qual normalmente são definidas as diretrizes de comportamento a serem adotadas e que podem consequentemente tornar impraticáveis algumas, ou várias, das medidas de prevenção e controle de infecção. Esse artigo serve como um lembrete da importância da representatividade dos diversos panoramas de condição de acesso e saúde existentes nas diversas esferas da academia e dos órgãos reguladores existentes.

A segunda, e acredito eu mais importante, reflexão trata-se do papel negativo de uma hierarquia verticalizada e pouco comunicativa. Nos mais diversos setores da sociedade é cotidiano que nos depararemos com esse tipo de estrutura organizativa, porem quando se trata de saúde ela torna-se ainda mais prejudicial. O entendimento de que as práticas de IPC atingem a todos dentro da unidade de saúde é imprescindível e, portanto, deve-se pensar e reformular hierarquias de modo a possibilitar o desenvolvimento e implementação de estratégias de maneira alinhada e equitativa em todos os níveis organizacionais.

Fonte: Barriers and facilitators to infection prevention and control in a neonatal unit in Zimbabwe – a theory-driven qualitative study to inform design of a behaviour change intervention. Herbeć, A. et al. Journal of Hospital Infection, Volume 106, Issue 4, 804 – 811

Sinopse por: Maria Julia Ricci

E-mail: [email protected]

Instagram: @mariajuliaricci_

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