Home care seguro e controle de infecções são os novos pilares da segurança do paciente.
Com o avanço da desospitalização e a expansão da assistência domiciliar — hoje com mais de um milhão de brasileiros atendidos por ano — o epicentro da prevenção de infecções está migrando dos hospitais para os lares. A infecção domiciliar (ID) emerge como um desafio silencioso, multifatorial e de alto custo humano e financeiro.
Este artigo analisa as evidências científicas mais recentes sobre prevenção e controle de infecções em home care, destacando práticas essenciais como higienização das mãos, uso racional de antimicrobianos, implementação de bundles e atuação estruturada da Comissão de Controle de Infecção Domiciliar (CCID).
Mais do que uma revisão técnica, é um chamado à ação: como gestores e profissionais podem transformar o domicílio em um ambiente seguro, científico e humano para o cuidado?
FAQ: Prevenção e Controle de Infecções em Assistência Domiciliar
Este FAQ é direcionado a gestores hospitalares, membros da CCIH, médicos, farmacêuticos e enfermeiros que atuam ou gerenciam serviços de home care.
Seção 1: Conceitos Estratégicos e Gestão (Para Gestores e CCIH)
1. O que define formalmente uma Infecção Domiciliar (ID)?
Infecção domiciliar (ID) é definida como uma infecção que se manifesta aproximadamente 48 a 72 horas após a admissão do paciente no programa de atenção domiciliar, desde que ele não estivesse apresentando sintomas ou em período de incubação no início dos cuidados. Essa distinção temporal é crucial para a vigilância epidemiológica.
- Referência (Artigo): Protocolo Anahp: Controle de infecção em home care (2022). https://www.anahp.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Protocolo-Anahp-Controle-de-infeccao-em-home-care.pdf
- Referência (YouTube CCIH): Qual é a diferença entre IRAS e Infecção Hospitalar? https://www.youtube.com/live/qgbMbk6ZJRA
2. Por que o home care é considerado a “nova fronteira” da segurança do paciente?
Com a expansão da assistência domiciliar (mais de 1 milhão de pacientes/ano no Brasil), o epicentro da prevenção de infecções está migrando dos hospitais para os lares. O desafio é que o paciente em home care é frequentemente de alta complexidade (com dispositivos invasivos, comorbidades e imunossupressão), mas está inserido em um ambiente doméstico não controlado e com recursos limitados.
3. Qual o papel da Comissão de Controle de Infecção Domiciliar (CCID)?
A CCID é a estrutura análoga à CCIH hospitalar, responsável por planejar, implementar e avaliar as ações de prevenção e controle de infecções no home care. Suas atribuições incluem vigilância epidemiológica, educação continuada de profissionais e cuidadores, monitoramento do uso de antimicrobianos e elaboração de protocolos.
- Referência (Artigo): Portaria SMS nº 501/2022 (SP) – Institui a CCID no Programa Melhor em Casa. https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/portaria-secretaria-municipal-da-saude-sms-501-de-2-de-agosto-de-2022
4. Quais são os principais fatores de risco para infecção no domicílio?
Os fatores são multifatoriais e incluem:
- Fatores Intrínsecos: Extremos de idade, desnutrição e, principalmente, o grau de dependência funcional (pacientes com dependência total têm 4x mais chance de infecção).
- Procedimentos Invasivos: A presença e o tempo de permanência são preditores robustos. Pacientes com traqueostomia (4x mais chance) e dispositivos de alimentação por mais de 6 meses (15x mais chance) têm risco aumentado.
- Fatores Ambientais: Condições inadequadas de higiene, falta de saneamento básico ou água corrente.
- Fatores Humanos: A baixa adesão dos profissionais às práticas de prevenção (ex: higiene das mãos) e a falta de capacitação adequada dos cuidadores.
- Referência (Artigo): Estudo de Sousa, J. L. et al. (2025) sobre perfis de pacientes com IRAS em home care. https://doi.org/10.1590/1516-3180.2024.0168.R1.18122024
5. Qual o impacto real de treinar o cuidador familiar na prevenção de infecções?
O impacto é imenso e comprovado, sendo uma das intervenções com maior retorno sobre o investimento. Um estudo experimental brasileiro demonstrou que no grupo de cuidadores que recebeu orientação sistemática e supervisionada, a taxa de infecção foi de 17,9%, em comparação com 48,9% no grupo que recebeu apenas orientações gerais (um risco relativo 2,7 vezes maior para o grupo não treinado).
- Referência (Artigo): Estudo de Saldanha, M. et al. (2021) sobre o impacto da orientação supervisionada. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i7.13599
Seção 2: Práticas Essenciais de Prevenção (Para Enfermagem e Equipe Assistencial)
6. Qual a real adesão à higienização das mãos (HM) em home care e como melhorá-la?
A adesão é criticamente baixa. Um estudo observacional brasileiro registrou uma adesão global à HM de apenas 14,4% entre profissionais de enfermagem, caindo para catastróficos 0,4% antes da realização de procedimentos assépticos. A melhoria exige a aplicação dos 5 Momentos da OMS, o uso preferencial de preparação alcoólica a 70% (que o profissional deve portar consigo) e o cumprimento do tempo técnico (20-30s para álcool; 40-60s para água e sabão).
- Referência (Artigo): Manual da ANVISA (2022) – Higiene das Mãos na Assistência Domiciliar. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/manual_higiene_saude.pdf
- Referência (YouTube CCIH): Estratégias Criativas para Treinamentos em Higienização das Mãos (TV CCIH). https://www.youtube.com/shorts/1uHdJ5fJM7k
7. O que são “bundles” e por que são tão importantes na assistência domiciliar?
Bundles são conjuntos de 3 a 5 intervenções baseadas em evidências que, quando implementadas de forma conjunta e consistente, resultam em desfechos significativamente melhores do que quando aplicadas isoladamente. A adesão opera no princípio do “tudo ou nada”: ou todos os componentes são executados, ou considera-se falha na adesão.
- Referência (Site CCIH): Curso “Bundles para prevenção de infecções e segurança do paciente”. https://www.ccih.med.br/cursos-mba/bundles-para-prevencao-de-infeccoes-e-seguranca-do-paciente/
- Referência (Artigo): Artigo de Busato, M. A. C. et al. (2022) sobre o impacto da implementação de bundles. https://www.scielo.br/j/tce/a/gK7c9qQpZGxQpZMMG3pp/
8. Quais são os componentes do bundle de prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação (PAV) no home care?
Os componentes essenciais de manutenção da PAV incluem:
- Higienização das mãos.
- Manutenção da cabeceira elevada (30-45 graus).
- Higiene oral (com antissépticos, como clorexidina, medida atualmente sendo questionada).
- Verificação e manutenção da pressão do balonete (cuff) entre 20-30 cm H2O.
- Aspiração de secreção traqueal apenas quando necessário (não de forma rotineira).
- Referência (Artigo): Diretriz SHEA/IDSA (2014) – Strategies to prevent VAP. https://doi.org/10.1086/677144
9. Quais são os componentes do bundle de prevenção de Infecção do Trato Urinário (ITU) associada a cateter (ITU-AC)?
Os componentes essenciais de manutenção da ITU-AC incluem:
- Higienização das mãos.
- Manutenção do sistema de drenagem fechado.
- Posicionamento da bolsa coletora sempre abaixo do nível da bexiga e sem contato com o chão.
- Higiene diária do meato uretral apenas com água e sabão (sem antissépticos rotineiros).
- Avaliação diária da necessidade do cateter e remoção precoce.
- Referência (Artigo): Diretriz CDC (2009) – Prevention of CAUTI. https://doi.org/10.1086/651091
- Referência (Artigo): Diretriz SHEA/IDSA (2014) – Strategies to prevent CAUTI. https://doi.org/10.1086/675718
10. Quais são os componentes do bundle de prevenção de Infecção da Corrente Sanguínea (IPCS) associada a cateter central (IPCS-AC)?
Os componentes essenciais de manutenção da IPCS-AC incluem:
- Higienização das mãos.
- Desinfecção vigorosa dos conectores (hubs) com álcool 70% ou clorexidina alcoólica antes de CADA acesso.
- Troca de curativos com técnica asséptica (gaze a cada 2 dias, transparente a cada 7 dias).
- Avaliação diária do sítio de inserção.
- Avaliação diária da necessidade do cateter.
- Referência (Site CCIH): Bundles de prevenção de infecção da corrente sanguínea relacionada ao cateter venoso central: o que diferentes países estão fazendo? https://www.ccih.med.br/bundles-de-prevencao-de-infeccao-de-corrente-sanguinea-relacionada-ao-cateter-venoso-central-o-que-diferentes-paise-estao-fazendo/
- Referência (Artigo): Diretriz SHEA/IDSA (2022) – Strategies to prevent CLABSI. https://doi.org/10.1017/ice.2022.87
11. Como deve ser o uso de EPIs no domicílio?
O uso de EPIs faz parte das precauções padrão e sua seleção deve ser baseada na avaliação de risco do procedimento.
- Luvas: Usar sempre que houver risco de contato com sangue, fluidos, mucosas ou pele não íntegra. Higienizar as mãos antes de calçar e imediatamente após remover. Luvas não substituem a higiene das mãos.
- Máscaras e Óculos: Indicados em procedimentos com risco de respingos.
- Máscara N95/PFF2: Recomendada em procedimentos geradores de aerossóis em pacientes com transmissão aérea.
- Aventais: Em atividades como curativos extensos ou banho no leito.
- Referência (Artigo): Diretriz CDC (2007) – Guideline for Isolation Precautions. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2007.10.007
12. Como prevenir infecções de pele, especialmente Úlceras por Pressão (UPP)?
As UPPs são portas de entrada perigosas para microrganismos em pacientes acamados e desnutridos. A prevenção das UPPs é, por si só, uma medida de controle de infecção. As estratégias essenciais incluem mudança regular de decúbito, uso de superfícies de suporte adequadas e otimização nutricional e da hidratação.
- Referência (Artigo): NPUAP/EPUAP/PPPIA (2014) – Prevention and Treatment of Pressure Ulcers: Quick Reference Guide. https://www.npiap.com/page/2014QuickReferenceGuide (Link genérico para a organização, pois o link direto do PDF não está no artigo)
Seção 3: Diagnóstico e Tratamento
13. Quais as infecções mais comuns em home care e como diagnosticá-las com recursos limitados?
As infecções mais prevalentes são do trato respiratório (47,2% dos casos), urinário, da corrente sanguínea e de pele/partes moles. Como o acesso a exames de imagem e laboratoriais é limitado, o diagnóstico depende fortemente de critérios clínicos. A Tabela 1 do artigo (baseada no Protocolo ANAHP) fornece critérios clínicos adaptados para o diagnóstico de ITR, ITU, IPCS e Infecção de Pele.
- Referência (Artigo): Protocolo Anahp: Controle de infecção em home care (2022). https://www.anahp.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Protocolo-Anahp-Controle-de-infeccao-em-home-care.pdf
14. Como diferenciar ITU de bacteriúria assintomática (BA) no paciente em home care?
Esta é uma distinção crucial para o stewardship de antimicrobianos.
- Bacteriúria Assintomática: Presença de bactérias na urina sem sintomas. Não deve ser tratada com antimicrobianos na maioria dos pacientes (exceções: gestantes e cirurgia urológica).
- ITU: Exige critérios clínicos. O odor fétido isolado, comum em desidratação, não é um critério diagnóstico. A ITU exige 2 ou mais dos seguintes: febre/calafrios, dor suprapúbica, agravamento do estado mental/funcional ou mudanças na urina.
- Referência (Artigo): Diretriz IDSA (2019) – Management of Asymptomatic Bacteriuria. https://doi.org/10.1093/cid/ciy1121
15. O que é “Antimicrobial Stewardship” (Uso Racional de Antimicrobianos) no contexto do home care?
É o uso criterioso de antibióticos para conter o avanço da resistência microbiana, o que é crucial em pacientes de home care que já foram expostos a múltiplos ciclos e podem estar colonizados por bactérias multirresistentes. As estratégias incluem: diferenciar rigorosamente colonização de infecção (como no caso da BA), coletar culturas antes do início da terapia, praticar o descalonamento (troca para espectro mais estreito pós-cultura) e prescrever cursos com a menor duração eficaz possível.
- Referência (Artigo): Sousa, A. et al. (2024) – Estratégias frente à resistência microbiana. https://ojs.revistacontemporanea.com/ojs/index.php/home/article/download/8671/6020/24459
16. O que é OPAT (Terapia Antimicrobiana Parenteral Domiciliar) e quando é segura?
OPAT (Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy) é um modelo de cuidado avançado que permite a administração de antimicrobianos intravenosos (IV) no domicílio. Isso possibilita a desospitalização precoce de pacientes com infecções que exigem tratamento prolongado (ex: osteomielite). A prática é segura quando segue critérios rigorosos de seleção (estabilidade clínica, diagnóstico claro, suporte social adequado) e é gerida por uma equipe multidisciplinar com monitoramento laboratorial periódico.
- Referência (Artigo): Diretriz IDSA (2018) – Management of Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy. https://doi.org/10.1093/cid/ciy745
17. Qual antisséptico é de eleição para cuidados com dispositivos invasivos?
A clorexidina alcoólica (0,5% ou 2%) é o antisséptico de eleição para a pele antes da inserção de dispositivos vasculares. Isso se deve ao seu amplo espectro de ação e, principalmente, ao seu efeito residual prolongado. Também é recomendada para a desinfecção vigorosa dos conectores (hubs) antes de cada acesso ao cateter.
- Referência (Artigo): Revisão Cochrane (2015) – Preoperative skin antiseptics. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003949.pub4
Seção 4: Processos, Vigilância e Inovação (Para Gestores e CCIH)
18. Como deve ser feito o gerenciamento de resíduos (PGRSS) no domicílio?
O serviço de home care é o responsável legal pela elaboração e implementação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). Os resíduos devem ser segregados na fonte:
- Perfurocortantes (Grupo E): Descartados em coletores rígidos e resistentes.
- Biológicos/Infectantes (Grupo A): Acondicionados em sacos plásticos brancos leitosos, identificados com o símbolo de risco biológico.
- Referência (Artigo): ANVISA RDC nº 306/2004 – Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0306_07_12_2004.html
- Referência (Artigo): NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-32.pdf
19. Qual o papel da Vigilância Epidemiológica (VE) Ativa no home care?
A VE ativa é a ferramenta central de gestão da CCID, pois “não se pode melhorar o que não se mede”. Ela permite conhecer a realidade das infecções na instituição, identificar problemas (ex: um surto ou uma falha de processo), direcionar intervenções e avaliar o impacto das ações (ex: se a implementação de um bundle funcionou). A metodologia envolve a busca ativa de casos por revisão de prontuários, análise de exames e discussão com as equipes. Devem ser monitorados tanto indicadores de resultado (ex: densidade de incidência de IPCS) quanto de processo (ex: taxa de adesão à higiene das mãos).
- Referência (Artigo): Programa Nacional de Prevenção e Controle de Infecções (ANVISA, 2021-2025). https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/pnpciras_2021_2025.pdf
20. Como a telemedicina pode auxiliar na prevenção de infecções em home care?
A telemedicina é uma ferramenta poderosa para a prevenção. Uma revisão sistemática recente associou intervenções de telemedicina a uma redução nas taxas de infecção e melhor adesão aos protocolos. No home care, ela permite o monitoramento remoto de sinais vitais (alertando precocemente sobre uma infecção), facilita a consultoria com especialistas (infectologia), viabiliza a educação à distância de cuidadores e reduz a necessidade de deslocamentos do paciente, minimizando sua exposição a outros patógenos.
- Referência (Artigo): Ahmed, A. E. et al. (2025) – Effectiveness of Telemedicine Interventions for Infection Prevention and Control: A Systematic Review. https://doi.org/10.7759/cureus.82075
Prevenção e Controle de Infecções em Assistência Domiciliar: A Nova Fronteira da Segurança do Paciente
O cuidado seguro em domicílio, ou home care, representa o novo e silencioso desafio para a prevenção de infecções. Com o crescimento exponencial da atenção domiciliar no Brasil — que já ultrapassa 1 milhão de pacientes por ano — o epicentro da segurança do paciente está migrando dos corredores hospitalares para o interior dos lares. Infecções respiratórias, urinárias e da corrente sanguínea, velhas conhecidas dos ambientes hospitalares, persistem como causas primárias de complicações e reinternações, mas sua prevenção agora exige estratégias inovadoras, adaptadas à complexidade e à singularidade do ambiente doméstico. Este artigo oferece uma revisão científica abrangente e atualizada sobre a prevenção e o controle de infecções na assistência domiciliar, dissecando desde os pilares fundamentais da prevenção até estratégias programáticas avançadas, com o propósito de instruir, motivar e provocar reflexão em profissionais e gestores da saúde.
A Nova Realidade do Cuidado: A Expansão da Assistência Domiciliar e Seus Desafios Infecciosos
A transição do cuidado do hospital para o domicílio é uma das mais significativas transformações da saúde contemporânea. Impulsionada pelo envelhecimento populacional, pelo aumento da prevalência de doenças crônicas e pela necessidade de otimizar recursos, a assistência domiciliar consolidou-se como uma modalidade de atenção à saúde essencial, capaz de garantir a continuidade do cuidado de forma integrada e humanizada (Ref. 1).
A Desospitalização como Estratégia de Saúde
A desospitalização planejada é uma prática que oferece múltiplos benefícios, incluindo a otimização de leitos hospitalares, a redução de custos assistenciais e, de forma crucial, a humanização do cuidado ao permitir que o paciente se recupere em seu ambiente familiar (Ref. 2). Do ponto de vista do controle de infecções, seu principal trunfo é a redução do risco de exposição a patógenos multirresistentes, que são mais prevalentes no ambiente hospitalar (Ref. 3). Contudo, essa estratégia revela uma natureza dual. Ao mesmo tempo que protege o paciente do ecossistema hospitalar, ela o insere, com toda a sua complexidade e vulnerabilidade, em um ambiente doméstico não controlado. O paciente que recebe alta para o home care não é um paciente de baixa complexidade; ele carrega consigo seus fatores de risco — dispositivos invasivos, comorbidades múltiplas e imunossupressão. Assim, a solução para um problema (o risco de infecção hospitalar) gera um novo paradigma de desafios: o risco de infecção domiciliar. A prevenção, nesse contexto, deixa de ser uma questão de alta tecnologia e ambientes controlados para se tornar um exercício de educação, adaptação e implementação de processos robustos em um cenário com recursos e supervisão limitados (Ref. 4, 5).
Definição e Caracterização da Infecção Domiciliar (ID)
A infecção domiciliar (ID) é formalmente definida como uma infecção que se manifesta aproximadamente 48 a 72 horas após a admissão do paciente no programa de atenção domiciliar, desde que ele não apresentasse sintomas ou estivesse em período de incubação no início dos cuidados (Ref. 4). Essa distinção temporal é fundamental para a vigilância epidemiológica, permitindo diferenciar uma infecção adquirida no domicílio daquela originada na internação hospitalar prévia.
O perfil do paciente em home care eleva intrinsecamente o risco. Trata-se, frequentemente, de indivíduos idosos, com múltiplas comorbidades, em uso de polifarmácia e portadores de dispositivos invasivos de longa permanência, como traqueostomias, gastrostomias e cateteres venosos centrais (Ref. 4). Um estudo transversal brasileiro recente revelou um cenário preocupante: 46,2% dos pacientes em atenção domiciliar desenvolveram infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), evidenciando a magnitude do problema (Ref. 6).
O Panorama das Infecções Domiciliares: Identificação e Diagnóstico
As infecções mais prevalentes no ambiente domiciliar são as do trato respiratório, urinário, da corrente sanguínea e de pele e partes moles. O diagnóstico preciso nesse cenário é desafiador, pois depende fortemente de critérios clínicos, uma vez que o acesso a exames de imagem e laboratoriais complexos é limitado. O protocolo desenvolvido pela Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) oferece critérios adaptados para o home care, que são ferramentas valiosas para a prática clínica (Ref. 4).
Infecções do Trato Respiratório
Constituindo a topografia mais comum, com 47,2% dos casos de ID (Ref. 6), as infecções do trato respiratório (ITR) são multifatoriais. Fatores como colonização da cavidade oral, presença de traqueostomia com ou sem ventilação mecânica, higiene oral inadequada e posicionamento incorreto do paciente são determinantes (Ref. 7). A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) é uma preocupação particular. Notavelmente, um estudo brasileiro demonstrou que a densidade de incidência de PAV em home care é significativamente inferior à reportada em ambientes hospitalares pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) — 1,7 casos por 1000 ventilações-dia em adultos no domicílio, em comparação com taxas hospitalares frequentemente superiores (Ref. 5). Este dado reforça o benefício da desospitalização para pacientes dependentes de ventilação mecânica.
Infecções do Trato Urinário (ITU)
As ITUs em home care geralmente ocorrem por ascensão de bactérias pela uretra ou pela colonização de uma sonda vesical de demora (Ref. 4). O diagnóstico clínico requer atenção a nuances importantes. O odor fétido na urina, por exemplo, é uma queixa comum que pode ser causada por desidratação e não deve ser considerado um critério diagnóstico isolado (Ref. 4). Além disso, a bacteriúria assintomática — a presença de bactérias na urina sem sintomas — não deve ser tratada com antimicrobianos na maioria dos pacientes, com exceção de gestantes e indivíduos que passarão por cirurgia urológica (Ref. 8). Essa abordagem criteriosa é um pilar para o uso racional de antimicrobianos.
Infecções Primárias da Corrente Sanguínea (IPCS)
Associadas a cateteres vasculares, as IPCS são eventos de elevada gravidade devido à sua alta morbimortalidade (Ref. 9). As vias de contaminação são diversas e incluem a manipulação do dispositivo com mãos contaminadas, falhas na técnica asséptica durante a inserção, contaminação da pele sob o curativo e, crucialmente, a falta de desinfecção dos conectores (“hubs”) antes da administração de medicamentos (Ref. 4). O diagnóstico diferencia a IPCS confirmada por laboratório (hemocultura positiva sem outro foco infeccioso) da sepse clínica (sinais clínicos de sepse na ausência de confirmação laboratorial) (Ref. 4).
Infecções de Pele e Partes Moles
Este grupo abrange infecções em feridas não cirúrgicas, úlceras por pressão (UPP) e ao redor de dispositivos como gastrostomias e traqueostomias (Ref. 4). As UPPs são particularmente perigosas, funcionando como uma porta de entrada para microrganismos em pacientes acamados, desnutridos e com múltiplas comorbidades. Sua prevenção, que envolve mudança regular de decúbito, uso de superfícies de suporte adequadas e otimização nutricional e da hidratação, é uma medida de controle de infecção por si só (Ref. 10).
Tabela 1: Critérios Diagnósticos para Infecções em Assistência Domiciliar (Adaptado de ANAHP, 2022 (Ref. 4))
| Topografia da Infecção | Critérios Clínicos para Diagnóstico | Observações e Diagnósticos Diferenciais |
| Infecção do Trato Respiratório (ITR) | O paciente deve apresentar três dos seguintes sinais/sintomas: febre, nova ou piora da tosse, nova ou aumento da expectoração, nova ou aumento da purulência do escarro, dor pleurítica, novos achados no exame torácico, ou piora do estado mental/funcional com dificuldade respiratória. | A patogênese frequentemente envolve microaspirações de secreções da orofaringe, tornando a higiene oral uma medida preventiva chave. |
| Infecção do Trato Urinário (ITU) | O paciente deve apresentar dois dos seguintes: febre ou calafrios sem outro foco, dor no flanco ou suprapúbica, agravamento do estado mental/funcional, ou mudanças nas características da urina. Se houver urocultura positiva, basta um dos dois primeiros critérios. | Odor fétido isolado não confirma ITU. A bacteriúria assintomática não deve ser tratada na maioria dos casos para evitar o uso desnecessário de antibióticos. |
| Infecção Primária da Corrente Sanguínea (IPCS) | Confirmada por laboratório: Hemocultura positiva sem infecção associada a outro sítio, acompanhada de febre, calafrios ou hipotensão. Sepse clínica: Sinais clínicos de sepse (febre, hipotensão, oligúria, etc.) sem outro foco definido e com hemocultura negativa ou não coletada, mas com tratamento para sepse instituído. | A diferenciação é crucial para a vigilância epidemiológica e para a gestão clínica, especialmente quando a coleta de hemocultura não é viável no domicílio. |
| Infecção de Pele e Partes Moles | Drenagem purulenta no local da ferida OU quatro ou mais dos seguintes: febre ou agravamento do estado mental/funcional, dor/sensibilidade local, edema, hiperemia, calor e corrimento seroso. | As úlceras por pressão são um fator de risco maior e sua prevenção é uma estratégia primária de controle de infecção. |
Fatores de Risco: Uma Análise Multifatorial da Vulnerabilidade no Domicílio
A ocorrência de uma infecção domiciliar raramente é fruto de um único fator. Ela resulta de uma complexa interação entre a vulnerabilidade do paciente, os procedimentos a que ele é submetido, as condições do ambiente e as práticas dos seus cuidadores e profissionais de saúde. A análise desses fatores revela que, embora a condição clínica do paciente defina sua suscetibilidade, são as fragilidades no sistema de cuidado ao seu redor que frequentemente determinam a ocorrência da infecção.
Fatores Intrínsecos ao Paciente: Extremos de idade, desnutrição, doenças de base graves (como neoplasias e doenças neurológicas), imunossupressão e, de forma marcante, o grau de dependência funcional. Um estudo demonstrou que pacientes com dependência total têm uma probabilidade quase quatro vezes maior de desenvolver infecções em comparação com pacientes independentes (Ref. 6).
Fatores Relacionados a Procedimentos Invasivos: A presença e o tempo de permanência de dispositivos são preditores robustos de infecção. Pacientes com traqueostomia apresentaram uma chance quatro vezes maior de adquirir uma infecção, enquanto aqueles com dispositivos de alimentação invasiva por mais de seis meses tiveram um risco quinze vezes maior (Ref. 6).
Fatores Ambientais: O domicílio é, por definição, um “ambiente não controlado”. Estudos qualitativos e revisões sistemáticas apontam barreiras significativas à prevenção de infecções, como condições inadequadas de higiene, falta de saneamento básico, presença de animais domésticos sem os devidos cuidados, desordem que dificulta a limpeza e até a ausência de água corrente (Ref. 11, 12, 13).
Fatores Humanos e Organizacionais: Este é, talvez, o domínio mais crítico e modificável. A falta de capacitação adequada de cuidadores familiares e formais, a sobrecarga de trabalho e a ausência de supervisão contínua são barreiras importantes (Ref. 14). Do lado profissional, a adesão às práticas básicas de prevenção pode ser alarmantemente baixa. Um estudo observacional brasileiro registrou uma adesão global à higienização das mãos de apenas 14,4% entre profissionais de enfermagem na atenção domiciliar, caindo para catastróficos 0,4% antes da realização de procedimentos assépticos (Ref. 7).
Esses dados demonstram que o elo mais fraco no controle de infecções domiciliares não é necessariamente a condição clínica do paciente, mas a resiliência do sistema de suporte que o envolve. A prevenção eficaz, portanto, deve transcender a abordagem puramente clínica e focar em fortalecer esse “exoesqueleto” de cuidado por meio de educação, padronização e supervisão.
Pilares da Prevenção: Medidas Essenciais e Práticas Baseadas em Evidências
A prevenção de infecções em home care se apoia em um conjunto de práticas fundamentais que, embora simples na sua concepção, exigem rigor e consistência na sua execução.
Higienização das Mãos
Continua sendo a medida individual mais simples, barata e eficaz para prevenir a propagação de infecções (Ref. 8). A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza sua realização nos “5 Momentos”: 1) antes do contato com o paciente; 2) antes da realização de procedimento asséptico; 3) após risco de exposição a fluidos corporais; 4) após contato com o paciente; e 5) após contato com áreas próximas ao paciente. No domicílio, a higienização pode ser feita com água e sabonete (quando as mãos estiverem visivelmente sujas) ou, preferencialmente, com preparação alcoólica a 70%, que oferece praticidade e não depende da infraestrutura local. É mandatório que o profissional de saúde porte sua própria preparação alcoólica (Ref. 15). A técnica correta é crucial: a fricção com álcool deve durar de 20 a 30 segundos, e a lavagem com água e sabão, de 40 a 60 segundos (Ref. 15).
Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
O uso de EPIs faz parte das precauções padrão e sua seleção deve ser baseada em uma avaliação de risco do procedimento a ser realizado (Ref. 16).
- Luvas: Devem ser usadas sempre que houver risco de contato com sangue, fluidos corporais, mucosas ou pele não íntegra. É fundamental higienizar as mãos antes de calçá-las e imediatamente após removê-las. O uso de luvas não substitui a higienização das mãos (Ref. 16).
- Máscaras, Óculos e Aventais: Máscaras cirúrgicas e protetores oculares são indicados em procedimentos com risco de respingos. Máscaras N95 ou PFF2 são recomendadas em procedimentos geradores de aerossóis em pacientes com doenças de transmissão aérea. Aventais impermeáveis protegem a roupa e a pele do profissional em atividades como curativos extensos ou banho no leito (Ref. 16).
Antissepsia e Cuidados com Dispositivos Invasivos
A manutenção adequada de dispositivos invasivos é um ponto crítico para a prevenção de infecções graves.
- Antissepsia da Pele: A clorexidina alcoólica (0,5% ou 2%) é o antisséptico de eleição para a pele antes da inserção de dispositivos vasculares, devido ao seu amplo espectro de ação e efeito residual prolongado (Ref. 17).
- Cateteres Vasculares: A inserção de cateteres venosos centrais (CVC) deve seguir a técnica de barreira máxima estéril (gorro, máscara, avental e campos estéreis) (Ref. 18). Na manutenção, a desinfecção vigorosa dos conectores (hubs) com álcool 70% ou clorexidina alcoólica antes de cada acesso é uma medida de altíssimo impacto para prevenir a contaminação da via endoluminal (Ref. 19).
- Sondas Vesicais: As recomendações incluem a manutenção de um sistema de drenagem fechado, o posicionamento da bolsa coletora sempre abaixo do nível da bexiga e a higiene do meato uretral apenas com água e sabão durante o banho, sem o uso rotineiro de antissépticos (Ref. 20). A sonda só deve ser trocada em caso de obstrução ou quebra do sistema, e não de forma programada (Ref. 21).
- Traqueostomias: Os cuidados envolvem a higiene oral rigorosa com antissépticos, a aspiração de secreções apenas quando necessário (e não de forma rotineira), a manutenção da cabeceira elevada entre 30 e 45 graus e a verificação diária da pressão do balonete (cuff), que deve ser mantida entre 20 e 30 cm H2O para prevenir microaspirações (Ref. 22).
Limpeza, Desinfecção e Gerenciamento de Resíduos
O ambiente e os equipamentos devem ser gerenciados com o mesmo rigor de um serviço de saúde.
- Limpeza e Desinfecção: A limpeza com água e detergente deve sempre preceder qualquer processo de desinfecção, pois a matéria orgânica inativa os desinfetantes (Ref. 23). Equipamentos são classificados segundo o risco de infecção (críticos, semicríticos e não críticos – Classificação de Spaulding), o que determina o nível de processamento necessário.
- Gerenciamento de Resíduos: Os resíduos de serviços de saúde gerados no domicílio devem ser segregados na fonte. Materiais perfurocortantes (grupo E) devem ser descartados em coletores rígidos e resistentes. Resíduos biológicos potencialmente infectantes (grupo A) devem ser acondicionados em sacos plásticos brancos leitosos, identificados com o símbolo de risco biológico (Ref. 24, 25). Os serviços de home care são responsáveis por elaborar e implementar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) (Ref. 26).
Estratégias do Programa de Controle de Infecção: Da Vigilância à Cultura de Segurança
Para que as práticas de prevenção sejam eficazes e sustentáveis, elas precisam ser incorporadas a um programa estruturado, com liderança, metas, monitoramento e uma cultura organizacional que valorize a segurança.
O Poder dos Bundles (Pacotes de Medidas)
Os bundles são conjuntos de 3 a 5 intervenções baseadas em evidências que, quando implementadas de forma conjunta e consistente, resultam em desfechos significativamente melhores do que quando aplicadas isoladamente (Ref. 27). A adesão a um bundle opera sob o princípio do “tudo ou nada”: ou todos os componentes são executados, ou considera-se que não houve adesão. Essa estratégia tem se mostrado altamente eficaz na redução de IRAS (Ref. 28).
Tabela 2: Componentes dos Bundles de Prevenção em Assistência Domiciliar
| Bundle | Componentes Essenciais de Manutenção |
| Prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação (PAV) | 1. Higienização das mãos antes e após manipulação.
2. Manutenção da cabeceira elevada (30-45 graus). 3. Higiene oral. 4. Verificação e manutenção da pressão do balonete (cuff) entre 20-30 cm H2O 5. Aspiração de secreção subglótica (quando aplicável) e traqueal apenas quando necessário. |
| Prevenção de Infecção do Trato Urinário Associada a Cateter (ITU-AC) | 1. Higienização das mãos antes e após manipulação.
2. Manutenção do sistema de drenagem fechado. 3. Posicionamento da bolsa coletora sempre abaixo do nível da bexiga e sem contato com o chão. 4. Higiene diária do meato uretral com água e sabão. 5. Avaliação diária da necessidade do cateter e remoção precoce. |
| Prevenção de Infecção da Corrente Sanguínea Associada a Cateter Central (IPCS-AC) | 1. Higienização das mãos antes e após manipulação.
2. Desinfecção dos conectores (hubs) com álcool 70% ou clorexidina alcoólica antes de cada acesso. 3. Troca de curativos com técnica asséptica e conforme protocolo (gaze a cada 2 dias, transparente a cada 7 dias). 4. Avaliação diária do sítio de inserção. 5. Avaliação diária da necessidade do cateter e remoção precoce. |
Fonte: Compilado de recomendações da ANVISA, CDC e estudos sobre bundles (Ref. 7, 20, 29, 30, 31, 32, 33, 34).
A Comissão de Controle de Infecção Domiciliar (CCID): O Cérebro do Programa
Análoga à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), a CCID é a estrutura organizacional responsável por planejar, implementar e avaliar as ações de prevenção e controle de infecções no home care (Ref. 12, 35). Suas atribuições incluem a elaboração de protocolos, a realização da vigilância epidemiológica, a promoção de educação continuada para profissionais e cuidadores, o monitoramento do uso de antimicrobianos e a prestação de consultoria técnica para as equipes assistenciais. A CCID deve ser composta por uma equipe multiprofissional, incluindo, no mínimo, um enfermeiro com especialização em controle de infecção, um médico e um farmacêutico (Ref. 36).
Vigilância Epidemiológica Ativa e Indicadores
Não se pode melhorar o que não se mede. A vigilância epidemiológica sistemática e ativa é a ferramenta que permite conhecer a realidade das infecções, identificar problemas, direcionar intervenções e avaliar o impacto das ações implementadas (Ref. 15). A metodologia envolve a busca ativa de casos por meio da revisão de prontuários, análise de exames laboratoriais e discussão com as equipes. Devem ser monitorados tanto indicadores de resultado (ex: densidade de incidência de IPCS por 1.000 cateteres-dia) quanto indicadores de processo (ex: taxa de adesão à higiene das mãos). A retroalimentação periódica desses dados para as equipes assistenciais é fundamental para promover a reflexão e o engajamento na melhoria contínua (Ref. 4, 15).
Uso Racional de Antimicrobianos (Antimicrobial Stewardship)
O uso criterioso de antimicrobianos é uma estratégia global para conter o avanço da resistência microbiana (Ref. 16). No home care, onde os pacientes frequentemente já foram expostos a múltiplos ciclos de antibióticos e estão colonizados por bactérias multirresistentes, essa prática é ainda mais crucial. As estratégias de stewardship incluem a diferenciação rigorosa entre colonização e infecção, a coleta de culturas antes do início da antibioticoterapia, o uso de protocolos para guiar o tratamento empírico, a prática do descalonamento (troca para um antibiótico de espectro mais estreito após resultado de cultura) e a prescrição de cursos de tratamento com a menor duração eficaz possível (Ref. 37).
Educação como Ferramenta de Transformação
A educação continuada de profissionais, cuidadores formais e, especialmente, cuidadores familiares é o pilar que sustenta todo o programa de prevenção. Um estudo experimental brasileiro demonstrou o poder dessa abordagem: no grupo de cuidadores que recebeu orientações sistemáticas e supervisionadas, a taxa de infecção foi de 17,9%, em comparação com 48,9% no grupo que recebeu apenas orientações gerais não padronizadas (Ref. 38). Esse resultado expressivo, com um risco relativo de 2,7 para infecção no grupo sem treinamento estruturado, comprova que investir na capacitação do cuidador é uma das intervenções com maior retorno sobre o investimento para a segurança do paciente.
Construindo uma Cultura de Segurança do Paciente
Além de protocolos e treinamentos, a prevenção de infecções depende de uma cultura de segurança robusta, na qual todos os envolvidos — da alta gestão ao cuidador familiar — compartilham valores, atitudes e comportamentos que priorizam a segurança (Ref. 39). Isso envolve criar um ambiente de aprendizado, onde as falhas são vistas como oportunidades de melhoria, e não como motivo para punição. A comunicação aberta, o trabalho em equipe e a liderança engajada são fundamentais. Um estudo brasileiro que avaliou a cultura de segurança em um serviço de atenção domiciliar identificou que a percepção sobre o comprometimento da gerência era a principal fragilidade, indicando que o exemplo e o suporte da liderança são cruciais para fortalecer essa cultura (Ref. 39).
Horizontes da Assistência Domiciliar: Inovação e Perspectivas
O futuro da segurança no home care está sendo moldado pela integração de estratégias programáticas consolidadas com inovações tecnológicas e novos modelos de cuidado.
O Impacto da Telemedicina e do Monitoramento Remoto
A telemedicina emergiu como uma ferramenta poderosa para a prevenção de infecções. Uma revisão sistemática recente associou intervenções de telemedicina — como consultorias virtuais, aplicativos de monitoramento e avaliações remotas — a uma redução nas taxas de infecção e a uma melhor adesão aos protocolos preventivos (Ref. 19). No contexto do home care, a telemedicina permite o monitoramento remoto de sinais vitais que podem indicar precocemente uma infecção, facilita a consultoria com especialistas em infectologia, viabiliza a educação à distância de cuidadores e reduz a necessidade de deslocamentos do paciente a serviços de saúde, minimizando sua exposição a outros patógenos (Ref. 40, 41).
Terapia Antimicrobiana Parenteral Domiciliar (OPAT)
A Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy (OPAT) é um modelo de cuidado avançado que permite a administração de antimicrobianos intravenosos no domicílio, possibilitando a desospitalização precoce de pacientes com infecções que requerem tratamento prolongado (Ref. 42). A diretriz de 2018 da Infectious Diseases Society of America (IDSA) estabelece recomendações rigorosas para a prática segura da OPAT, que incluem critérios estritos de seleção de pacientes (estabilidade clínica, diagnóstico claro, suporte social adequado), a necessidade de uma equipe multidisciplinar para o acompanhamento e o monitoramento laboratorial periódico (Ref. 43). A OPAT, quando bem indicada e gerenciada, é uma estratégia segura e eficaz que reduz custos e melhora a satisfação do paciente.
Essas tendências não são isoladas; elas convergem. O futuro do home care seguro reside na sinergia entre programas robustos, como uma CCID atuante que implementa bundles de prevenção, e tecnologias como a telemedicina, que pode servir como plataforma para o monitoramento da adesão a esses bundles e para o acompanhamento seguro de um paciente em OPAT. Essa integração entre gestão, prática clínica e tecnologia é o que permitirá escalar o cuidado domiciliar seguro e de alta qualidade.
Considerações Finais: Integrando Ciência, Cuidado e Gestão para um Home Care Seguro
A prevenção e o controle de infecções na assistência domiciliar são um desafio complexo e multifacetado, que exige uma abordagem que transcende a aplicação de técnicas isoladas. As infecções domiciliares são eventos adversos em grande parte evitáveis, com profundo impacto na morbidade, mortalidade, qualidade de vida dos pacientes e nos custos para o sistema de saúde.
A garantia da segurança nesse cenário depende da integração sinérgica entre ciência, por meio da implementação de práticas baseadas nas melhores evidências disponíveis, como os bundles de prevenção; capacitação, por meio da educação continuada e sistemática de profissionais e cuidadores; e gestão, por meio de estruturas organizacionais como a CCID e de processos robustos como a vigilância epidemiológica ativa e os programas de stewardship de antimicrobianos.
A higienização das mãos, o uso racional de antimicrobianos, a vigilância ativa e a educação permanente de todos os envolvidos são os pilares que sustentam um programa eficaz. A cultura de segurança do paciente deve ser o alicerce, promovendo um ambiente de responsabilidade compartilhada, comunicação transparente e aprendizado contínuo.
Garantir a segurança na atenção domiciliar é, sem dúvida, um dos maiores desafios contemporâneos da saúde. Mais do que simplesmente evitar infecções, trata-se de humanizar o cuidado, promover a autonomia e garantir a qualidade de vida, transformando cada residência em um verdadeiro ambiente de recuperação, amparo e ciência aplicada.
Garantir a segurança do paciente em home care é um dos maiores desafios da saúde contemporânea.
As infecções domiciliares são, em grande parte, eventos adversos evitáveis, e sua prevenção exige integração entre ciência, educação e gestão.
A consolidação de protocolos baseados em evidências (como os bundles de prevenção), o fortalecimento das CCIDs, a vigilância epidemiológica ativa e o uso racional de antimicrobianos são pilares indissociáveis de um programa eficaz.
Contudo, nada substitui o fator humano: educar cuidadores e profissionais é o investimento de maior retorno em segurança e qualidade assistencial.
O futuro do cuidado domiciliar seguro passa pela sinergia entre tecnologia, telemedicina e cultura de segurança — um modelo onde ciência e empatia caminham lado a lado, transformando cada casa em um espaço de recuperação, dignidade e aprendizado.
Referências Bibliográficas comentadas
- BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 963, de 27 de maio de 2013. Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 mai. 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0963_27_05_2013.html.
- Resumo: Esta portaria estabelece as diretrizes, a organização e o funcionamento da Atenção Domiciliar no SUS, caracterizando-a como uma modalidade de cuidado substitutiva ou complementar que promove a continuidade da assistência no domicílio, integrada às redes de saúde.
- CUIDAR SAÚDE. A importância da desospitalização e do home care para a eficiência no sistema de saúde. Blog Cuidar Saúde, 28 fev. 2025. Disponível em: https://cuidarsaude.com/a-importancia-da-desospitalizacao-e-do-home-care-para-a-eficiencia-no-sistema-de-saude/.
- Resumo: O artigo discute os benefícios da desospitalização e do home care, incluindo a redução de custos, a melhoria na qualidade de vida, a liberação de leitos hospitalares e, crucialmente, a diminuição do risco de infecções hospitalares.
- SOUSA, A.; LIMA, M.; AQUINO, K. Estratégias frente à resistência microbiana. Revista Contemporânea, v. 12, n. 3, p. 8671, 2024. Disponível em: https://ojs.revistacontemporanea.com/ojs/index.php/home/article/download/8671/6020/24459.
- Resumo: Esta revisão aborda estratégias para prevenção e enfrentamento da resistência microbiana, destacando o uso racional de antimicrobianos e a importância de medidas educacionais para reduzir a pressão seletiva em ambientes de saúde.
- ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HOSPITAIS PRIVADOS (ANAHP). Protocolo Anahp: Controle de infecção em home care. São Paulo: ANAHP, 2022. Disponível em: http://www.anahp.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Protocolo-Anahp-Controle-de-infeccao-em-home-care.pdf.
- Resumo: Protocolo desenvolvido pelo Grupo de Trabalho de Home Care da ANAHP que estabelece critérios diagnósticos específicos e adaptados para infecções domiciliares (respiratórias, urinárias, de corrente sanguínea e de pele/partes moles), além de detalhar medidas de prevenção e indicadores de vigilância.
- SILVA, A. R. M.; SOUSA, A. N. S.; BESSA, C. C.; VIANA, G. K. B.; OLIVEIRA, U. B. Profile of patients in private home care who developed ventilator-associated pneumonia. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 77, n. 3, e20230298, 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2023-0298.
- Resumo: Estudo retrospectivo que analisou 101 episódios de pneumonia em pacientes sob ventilação mecânica domiciliar, demonstrando uma densidade de incidência de 1,7 casos/1000 ventilações-dia em adultos, significativamente inferior aos dados hospitalares da ANVISA, reforçando a segurança da desospitalização para este perfil de paciente.
- SOUSA, J. L.; SILVA, A. F.; SANTOS, M. S.; et al. Sociodemographic and clinical profiles of patients with healthcare-associated infections in home care: a cross-sectional study. São Paulo Medical Journal, v. 143, n. 2, e2024168, 2025. DOI:(https://doi.org/10.1590/1516-3180.2024.0168.R1.18122024).
- Resumo: Estudo transversal com 130 pacientes em home care que encontrou uma prevalência de 46,2% de infecções, sendo as respiratórias as mais comuns (47,2%). Identificou como fatores de risco a traqueostomia e o uso prolongado de dispositivos invasivos.
- CORDEIRO, J. F. C.; BESSA, M. E. P.; PEREIRA, M. L. D.; MELO, R. H. V. Higienização das mãos pela equipe de enfermagem na atenção domiciliar: um estudo transversal. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, e20210104, 2021. DOI:(https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0104).
- Resumo: Estudo observacional que avaliou 940 oportunidades de higienização das mãos em visitas domiciliares, revelando uma adesão global de apenas 14,4%, e de 0,4% antes de procedimentos assépticos, evidenciando uma falha crítica na prática de prevenção.
- NICOLLE, L. E.; GUPTA, K.; BRADLEY, S. F.; et al. Clinical Practice Guideline for the Management of Asymptomatic Bacteriuria: 2019 Update by the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, v. 68, n. 10, p. e83–e110, 2019. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciy1121.
- Resumo: Diretriz da IDSA que recomenda fortemente não realizar triagem ou tratamento para bacteriúria assintomática na maioria das populações, uma prática essencial para o uso racional de antimicrobianos e prevenção de resistência.
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- Resumo: Guia de referência internacional que estabelece recomendações baseadas em evidências para a prevenção e tratamento de úlceras por pressão, abordando avaliação de risco, manejo da carga mecânica, nutrição e cuidados com a pele.
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- Resumo: Revisão de escopo que mapeou os estudos sobre barreiras e facilitadores para a prevenção de infecções no home care. Os achados destacam desafios como o ambiente doméstico não controlado, a falta de treinamento e a necessidade de adaptação das diretrizes hospitalares à realidade domiciliar.
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- Resumo: Revisão sistemática da Cochrane que avaliou a eficácia de diferentes antissépticos, identificando evidências favoráveis à clorexidina alcoólica em comparação com a povidona-iodo na redução de infecções de sítio cirúrgico, o que fundamenta sua escolha para antissepsia da pele.
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- Resumo: Atualização das diretrizes da SHEA para prevenção de IPCS-AC, que detalha as práticas essenciais, incluindo o uso de barreiras máximas estéreis, antissepsia com clorexidina e cuidados com o sítio de inserção e conectores.
- FLYNN, J. M.; KEOGH, S. J.; GAVIN, N. C. Sterile v aseptic non-touch technique for needleless connector care on central venous access devices in a bone marrow transplant population: a comparative study. European Journal of Oncology Nursing, v. 19, n. 6, p. 694–700, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ejon.2015.04.003.
- Resumo: Estudo que demonstra a importância da desinfecção adequada dos conectores de cateteres centrais antes do acesso para prevenir a contaminação endoluminal, uma das principais vias de infecção.
- GOULD, C. V.; UMSCHEID, C. A.; AGARWAL, R. K.; et al. Guideline for prevention of catheter-associated urinary tract infections 2009. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 31, n. 4, p. 319–326, 2010. DOI: https://doi.org/10.1086/651091.
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- Resumo: Atualização da diretriz da SHEA que, entre outras recomendações, contraindica a troca programada e periódica de sondas vesicais, orientando a troca apenas quando clinicamente indicada.
- KLOMPAS, M.; BRANSON, R.; EICHENWALD, E. C.; et al. Strategies to prevent ventilator-associated pneumonia in acute care hospitals: 2014 update. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 35, n. 8, p. 915–936, 2014. DOI: https://doi.org/10.1086/677144.
- Resumo: Atualização da diretriz da SHEA para prevenção de PAV, que recomenda a manutenção da pressão do balonete (cuff) entre 20-30 $cmH_2O$ e a elevação da cabeceira para prevenir microaspirações.
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- Resumo: Diretriz abrangente do CDC sobre desinfecção e esterilização, que enfatiza o princípio fundamental de que a limpeza completa deve sempre preceder qualquer processo de desinfecção ou esterilização.
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- Resumo: Norma Regulamentadora que estabelece diretrizes para a segurança dos trabalhadores da saúde, incluindo a proibição do reencape de agulhas e o descarte imediato de perfurocortantes em recipientes rígidos.
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- Resumo: Resolução da ANVISA que estabelece a classificação dos resíduos de serviços de saúde e as diretrizes para seu correto gerenciamento, desde a segregação até a destinação final.
- SILVA, P. L.; CORDEIRO, M. R.; KITAGAWA, B. Y. Resíduos de serviços de saúde gerados em domicílio: proposta de plano de gerenciamento. Revista Ambiente & Educação, v. 28, n. 1, e1513, 2023. DOI: https://doi.org/10.14295/ambeduc.v28i1.15132.
- Resumo: Estudo que propõe um plano de gerenciamento para resíduos de saúde gerados no domicílio, detalhando as etapas de segregação, acondicionamento, armazenamento temporário e destinação, adaptadas à realidade domiciliar.
- ÂNCORA SOLUÇÕES. Bundles de Prevenção de Infecção. São Paulo, 2023. Disponível em: https://solucoesancora.com.br/produtos/pacote-bundles-de-prevencao-de-infeccao.
- Resumo: Artigo didático que explica o conceito de bundles (pacotes) de prevenção, sua metodologia de implementação baseada no princípio “tudo ou nada” e seu impacto positivo na redução de infecções.
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- Resumo: Artigo que avaliou o impacto da implementação de bundles de prevenção, demonstrando resultados significativos na redução das taxas de IRAS em serviços de saúde.
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- Resumo: Publicação da ANVISA que apresenta um conjunto de medidas baseadas em evidências para a prevenção das principais IRAS, incluindo os componentes recomendados para os bundles de prevenção.
- LAZZARI, T. K.; JUNG, W.; HOFFMANN, M.; ALBUQUERQUE, G. L.; MORAES, R. B. Construção de um bundle para prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica. Texto & Contexto Enfermagem, v. 22, n. 4, p. 1044-1052, 2013. DOI:(https://doi.org/10.1590/S0104-07072013000400021).
- Resumo: Pesquisa que descreve o processo de construção coletiva de um bundle para prevenção de PAV, composto por quatro cuidados essenciais: higiene oral com clorexidina, cabeceira elevada, controle da pressão do cuff e cuidados na aspiração.
- INÁCIO, D.; FITAS, A.; DORES, J.; et al. Impacto de bundles na prevenção da infeção do trato urinário associada ao cateter vesical: Revisão sistemática. Revista Ibero-Americana de Saúde e Envelhecimento, v. 7, n. 1, p. 99-115, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.26/49986.
- Resumo: Revisão sistemática que analisou sete estudos sobre a aplicação de bundles para prevenção de ITU-AC, concluindo que, em todos os estudos, houve uma redução na taxa de incidência da infecção após a implementação do pacote de medidas.
- BRACHINE, J. D. P.; PETERLINI, M. A. S.; PEDREIRA, M. L. G. Método Bundle na redução de infecção de corrente sanguínea relacionada a cateteres centrais: revisão integrativa. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 33, n. 4, p. 200-210, 2012. DOI:(https://doi.org/10.1590/S1983-14472012000400026).
- Resumo: Revisão integrativa que identificou as cinco intervenções mais frequentemente empregadas nos bundles de prevenção de IPCS-AC: higienização das mãos, antissepsia com clorexidina, uso de barreira máxima, evitar o acesso femoral e revisão diária da necessidade do cateter.
- CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Checklist for Prevention of Central Line Associated Blood Stream Infections. Atlanta: CDC. Disponível em:(https://www.cdc.gov/healthcare-associated-infections/media/pdfs/checklist-for-CLABSI-P.pdf).
- Resumo: Checklist do CDC que detalha os componentes essenciais do bundle de prevenção de IPCS-AC, divididos em práticas de inserção (higiene das mãos, barreira máxima, clorexidina) e de manutenção (higiene das mãos, desinfecção de conectores, cuidados com curativo).
- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Programa Nacional de Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (2021-2025). Brasília: ANVISA, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/pnpciras_2021_2025.pdf.
- Resumo: Documento estratégico da ANVISA que estabelece as diretrizes nacionais para a prevenção e controle de IRAS, incluindo metas e indicadores para todos os serviços de saúde, inclusive a atenção domiciliar.
- BRASIL. Prefeitura de São Paulo. Portaria SMS nº 501/2022. Institui a Comissão de Controle de Infecção Domiciliar (CCID) no Programa Melhor em Casa. Diário Oficial da Cidade de São Paulo, 02 ago. 2022. Disponível em: https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/portaria-secretaria-municipal-da-saude-sms-501-de-2-de-agosto-de-2022.
- Resumo: Portaria que institui a CCID no âmbito do programa de atenção domiciliar da cidade de São Paulo, estabelecendo sua finalidade, composição mínima e funcionamento, servindo como um modelo de estruturação.
- CARVALHO, M. L. C.; SANTOS, L. A. P.; COSTA, C.; et al. Comissão de Controle de Infecção Domiciliar (CCID): modelo de atuação. Revista Acadêmica Online, v. 15, n. 3, p. 1623, 2025.
- Resumo: Artigo que propõe um modelo de atuação para a CCID em serviços de home care, definindo atribuições como vigilância, educação, elaboração de protocolos e consultoria técnica, essenciais para a operacionalização do programa.
- ARAÚJO, B. C.; SOUZA, E. A.; MELO, M. C.; et al. Prevenção e controle de resistência aos antimicrobianos na Atenção Primária à Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 2, p. 621–633, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232022272.38282020.
- Resumo: Síntese de evidências que demonstra que intervenções focadas em educação, sistemas de apoio à decisão e uso de biomarcadores são eficazes para reduzir o consumo e a prescrição inadequada de antimicrobianos.
- SALDANHA, M.; SOUZA, J. G.; LIMA, K. Q.; et al. Impacto da orientação supervisionada aos cuidadores de pacientes em assistência domiciliar na prevenção de infecções. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, e24510713599, 2021. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i7.13599.
- Resumo: Estudo experimental que comparou um grupo de cuidadores que recebeu orientação sistemática sobre prevenção de infecções com um grupo controle. O estudo concluiu que a orientação supervisionada reduziu significativamente a ocorrência de infecções (17,9% vs. 48,9%), comprovando a eficácia da estratégia.
- SALDANHA, M.; SOUZA, J. G.; LIMA, K. Q.; et al. Avaliação da cultura de segurança do paciente em um serviço de assistência domiciliar. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, e24510724537, 2021. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i7.24537.
- Resumo: Estudo que avaliou a percepção da cultura de segurança em um serviço de home care, identificando a percepção da gerência como a principal fragilidade e a sobrecarga de trabalho como um fator que prejudica o trabalho em equipe.
- AHMED, A. E.; ALSUNUSI, O. A.; ALAMER, H. A.; et al. Effectiveness of Telemedicine Interventions for Infection Prevention and Control: A Systematic Review. Cureus, v. 17, n. 4, e82075, 2025. DOI: https://doi.org/10.7759/cureus.82075.
- Resumo: Revisão sistemática que avaliou a eficácia de intervenções de telemedicina para o controle de infecções. Os resultados indicam que a telemedicina está associada à redução das taxas de infecção, melhor adesão a protocolos e identificação oportuna de falhas processuais.
- BARTON, L. Telehealth and Home Care: Reducing Infection Risks for High-Risk Patients. Infection Control Today, 17 abr. 2025. Disponível em: https://www.infectioncontroltoday.com/view/telehealth-home-care-reducing-infection-risks-high-risk-patients.
- Resumo: Artigo que discute como a telessaúde e o cuidado domiciliar são vitais para proteger pacientes de alto risco, minimizando a exposição a infecções, melhorando a segurança e apoiando a prevenção por meio de soluções tecnológicas.
- GOLD, H. S.; LASALVIA, M. T. Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy. In: MANDELL, G. L.; BENNETT, J. E.; DOLIN, R. (Eds.). Mandell, Douglas, and Bennett’s Principles and Practice of Infectious Diseases. 9. ed. Philadelphia: Elsevier, 2020. cap. 53.
- Resumo: Capítulo de referência que descreve a Terapia Antimicrobiana Parenteral Domiciliar (OPAT), abordando seus objetivos, benefícios, critérios rigorosos para seleção de pacientes (fatores médicos e do paciente), requisitos do programa e monitoramento.
- NORRIS, A. H.; SHRESTHA, N. K.; ALLISON, G. M.; et al. 2018 Infectious Diseases Society of America Clinical Practice Guideline for the Management of Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy. Clinical Infectious Diseases, v. 68, n. 1, p. e1–e35, 2019. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciy745.
- Resumo: Diretriz da IDSA que fornece recomendações baseadas em evidências para a gestão da OPAT. Aborda a seleção de pacientes, auto-administração, monitoramento laboratorial, manejo de acesso vascular e considerações para populações especiais.
- HOOTON, T. M.; BRADLEY, S. F.; CARDENAS, D. D.; et al. Diagnosis, prevention, and treatment of catheter-associated urinary tract infection in adults: 2009 International Clinical Practice Guidelines from the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, v. 50, n. 5, p. 625–663, 2010. DOI: https://doi.org/10.1086/650482.
- Resumo: Diretriz da IDSA que estabelece critérios diagnósticos para ITU-AC, diferenciando-a da bacteriúria assintomática e fornecendo recomendações sobre indicações para coleta de urocultura e princípios de tratamento.
- O’GRADY, N. P.; ALEXANDER, M.; BURNS, L. A.; et al. Guidelines for the prevention of intravascular catheter-related infections. Clinical Infectious Diseases, v. 52, n. 9, p. e162–e193, 2011. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/cir257.
- Resumo: Diretriz do CDC/HICPAC com recomendações abrangentes para a prevenção de infecções relacionadas a cateteres intravasculares, categorizadas por nível de evidência, incluindo educação, seleção de cateter, técnica de inserção e cuidados de manutenção.
Autor:
Antonio Tadeu Fernandes:
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