Conseguiremos atingir a tolerância zero com as IRAS preveníveis? As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) continuam sendo um dos maiores desafios para hospitais e gestores em todo o mundo. Estima-se que 1 em cada 31 pacientes por dia de hospitalização desenvolva uma IRAS por dia, transformando locais de cura em potenciais fontes de agravo. Este artigo mergulha na epidemiologia moderna das IRAS, explorando desde os fundamentos conceituais até as inovações mais avançadas, como o sequenciamento genômico completo (WGS) e a vigilância eletrônica baseada em Big Data. Mais do que números, trata-se de um guia estratégico para controladores de infecção e gestores hospitalares que buscam resultados concretos: reduzir custos, salvar vidas e alcançar a tolerância zero em infecções preveníveis
Introdução
Na vanguarda da medicina contemporânea, reside um paradoxo fundamental: os mesmos avanços tecnológicos e terapêuticos que salvam vidas e prolongam a existência humana também criam novas e complexas vulnerabilidades. Em meio a este cenário, as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) emergem não como um efeito colateral inevitável, mas como um dos desafios mais críticos para a segurança do paciente. Dados recentes estimam que, em um dado momento nos estados Unidos, 1 em cada 31 pacientes hospitalizados adquire uma IRAS, transformando locais de cura em potenciais fontes de agravo (Ref. 1). Este artigo se propõe a explorar a epidemiologia das IRAS, não como uma disciplina teórica distante, mas como a ciência prática e indispensável que constitui a espinha dorsal de qualquer programa de controle de infecção (CCIH) eficaz e proativo (Ref. 2). Transcendendo os conceitos básicos, esta análise aprofundada navegará pela evolução do campo, desde seus fundamentos conceituais até as fronteiras tecnológicas da vigilância moderna, oferecendo uma perspectiva crítica e um guia prático para os profissionais que atuam na linha de frente da prevenção.
A Pedra Angular da Prevenção: Desvendando os Conceitos Epidemiológicos Essenciais
A compreensão robusta dos princípios epidemiológicos é o alicerce sobre o qual se constroem programas de prevenção e controle de infecções resilientes e eficazes. A clareza conceitual permite transformar dados brutos em inteligência acionável, orientando intervenções que protegem tanto pacientes quanto profissionais de saúde.
A Evolução do Campo: De “Hospitalar” a “IRAS”
A epidemiologia, em sua essência, é o estudo da frequência, distribuição e determinantes das doenças em populações humanas (Ref. 1, 3). Historicamente, o foco do controle de infecção estava restrito às paredes do hospital, utilizando o termo “infecção nosocomial” ou “hospitalar”. Contudo, a realidade da assistência à saúde moderna pulverizou essas fronteiras. O cuidado ao paciente hoje é um contínuo que se estende por centros cirúrgicos ambulatoriais, clínicas de diálise, unidades de longa permanência e até o domicílio do paciente. Em reconhecimento a essa complexidade, o campo adotou o termo mais abrangente e preciso de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS) (Ref. 1, 3).
Essa transição terminológica, no entanto, não é meramente semântica; ela expõe um dos maiores desafios para a vigilância epidemiológica contemporânea. Enquanto a estrutura tradicional da CCIH ainda se concentra majoritariamente na vigilância da infecção adquirida durante a internação hospitalar (Ref. 4), o conceito de IRAS exige uma visão holística que acompanhe o paciente através dos múltiplos pontos de contato com o sistema de saúde. A ausência de uma interoperabilidade de dados fluida entre diferentes instituições de saúde cria uma lacuna significativa. Uma infecção adquirida em uma clínica ambulatorial pode se manifestar apenas durante uma subsequente internação hospitalar, sendo incorretamente classificada como uma infecção hospitalar. Essa falha no rastreamento não apenas distorce as taxas de infecção de cada instituição, mas, mais criticamente, impede a identificação da verdadeira origem do problema e a implementação de medidas preventivas no local correto.
Infecção vs. Colonização: Uma Distinção Crítica para a Prática Clínica
A precisão na linguagem é fundamental para a prática clínica e para as políticas de controle de infecção. É crucial diferenciar os seguintes estados (Ref. 1, 3):
- Colonização: Implica a presença e replicação de um microrganismo em um hospedeiro sem provocar uma resposta clínica ou imune detectável no momento. É um reservatório silencioso.
- Infecção: Ocorre quando a multiplicação microbiana leva a uma resposta do hospedeiro, resultando em dano tecidual.
- Doença Infecciosa: É a manifestação clínica da infecção, com sinais e sintomas evidentes.
- Infecção Subclínica: Caracteriza-se por uma resposta imune detectável (ex: soroconversão) na ausência de sintomas clínicos.
Essa distinção é de suma importância no manejo de microrganismos multirresistentes (MDROs). Um paciente colonizado por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) ou Enterococos resistentes à vancomicina (VRE) pode não estar doente, mas representa um reservatório crucial para a transmissão a outros pacientes vulneráveis e é um precursor para uma infecção endógena futura (Ref. 1). Isso alimenta um dos debates mais intensos na epidemiologia hospitalar: a eficácia da vigilância ativa por meio de culturas de triagem para identificar e isolar pacientes colonizados (uma estratégia conhecida como “Detecção e Isolamento Ativo” ou ADI). Enquanto seus defensores argumentam que é uma medida essencial para controlar reservatórios ocultos e prevenir surtos, críticos apontam para o alto custo, a logística complexa e a necessidade de alocar recursos que poderiam ser usados em outras frentes de prevenção (Ref. 1).
A Filosofia da Prevenção: Do Aceitável ao Inaceitável
O conceito de IRAS “preveníveis” e “não preveníveis” é dinâmico e reflete o avanço do conhecimento científico e da tecnologia (Ref. 1). O que antes era considerado um risco inerente e aceitável da medicina moderna, hoje é visto como uma falha de processo inaceitável. A evolução desse paradigma é notável. No passado, estimava-se que aproximadamente 30% das IRAS eram preveníveis (Ref. 1). Contudo, a implementação de abordagens multimodais, conhecidas como “bundles” — um conjunto estruturado de intervenções baseadas em evidências —, demonstrou a capacidade de reduzir drasticamente, e em alguns casos quase eliminar, certas infecções, como as infecções primárias de corrente sanguínea associadas a cateter venoso central (IPCSL) (Ref. 1).
Isso revela que a proporção de infecções preveníveis é, na verdade, muito maior do que se imaginava. A pandemia de COVID-19, no entanto, serviu como um duro lembrete da fragilidade desses ganhos. A suspensão temporária da obrigatoriedade de notificação de IRAS por agências reguladoras, como o Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS) nos EUA, para aliviar a pressão sobre os hospitais, resultou em um aumento imediato e significativo nas taxas de IPCSL, infecções do trato urinário associadas a cateter (ITU-AC) e outras IRAS (Ref. 1).
Este fenômeno demonstra que a capacidade de prevenção não é uma característica biológica estática de uma infecção, mas sim uma função direta da aplicação consistente de práticas seguras, sustentada por uma vigilância rigorosa e por incentivos (ou penalidades) regulatórios. A mentalidade mudou do antigo benchmarking, onde o objetivo era estar na média ou abaixo dela, para uma nova filosofia de tolerância zero para infecções preveníveis. Essa meta não é uma utopia, mas uma declaração de que falhas de processo que levam a danos evitáveis ao paciente não são mais aceitáveis (Ref. 1).
Métodos e Métricas: As Ferramentas do Epidemiologista Hospitalar
Para transformar a filosofia de tolerância zero em realidade, o epidemiologista hospitalar dispõe de um arsenal de métodos e métricas para mapear, medir e intervir nos complexos caminhos da transmissão de infecções.
A Cadeia de Infecção: Mapeando o Caminho para a Intervenção
O modelo clássico da cadeia de infecção oferece um framework sistemático para entender e interromper a transmissão. Cada elo representa um ponto potencial de intervenção (Ref. 1, 3):
- Agente Infeccioso: Suas características, como patogenicidade, virulência e dose infecciosa, determinam o potencial de causar doença. A emergência da cepa hipervirulenta NAP1/BI/027 de Clostridioides difficile, por exemplo, aumentou drasticamente a gravidade e a mortalidade associadas a esta infecção (Ref. 1).
- Reservatório/Fonte: É o local onde o agente vive e se multiplica. Pode ser humano (ex: narinas colonizadas por S. aureus), animal ou ambiental (ex: sistemas de água contaminados com Pseudomonas aeruginosa ou superfícies com Candida auris) (Ref. 1).
- Porta de Saída: O caminho pelo qual o agente deixa o reservatório (trato respiratório, gastrointestinal, pele, etc.).
- Modo de Transmissão: O mecanismo de transferência do agente. A transmissão por contato, especialmente através das mãos dos profissionais de saúde, é a via mais comum e crítica para a disseminação da maioria das IRAS. Outros modos incluem gotículas, aerossóis, veículo comum (ex: medicamentos contaminados) e vetores (Ref. 1).
- Porta de Entrada: O local onde o agente entra no hospedeiro suscetível (mucosas, pele não íntegra, dispositivos ou procedimentos invasivos).
- Hospedeiro Suscetível: A suscetibilidade é influenciada por fatores intrínsecos (idade, comorbidades, estado imunológico) e extrínsecos (uso de cateteres, ventilação mecânica, cirurgia, antibioticoterapia prévia) (Ref. 1).
Medindo a Ocorrência: Incidência vs. Prevalência
A quantificação da frequência das IRAS é realizada por meio de duas medidas principais (Ref. 1, 3):
- Incidência: Mede o surgimento de novos casos de infecção em uma população em risco durante um período de tempo, refletindo o risco de adquirir a infecção. Para a vigilância de IRAS associadas a dispositivos, a métrica padrão-ouro é a Densidade de Incidência, expressa como o número de infecções por 1.000 dias de exposição ao dispositivo (ex: IPCSL por 1.000 dias-cateter). Essa medida é superior a outras pois se ajusta precisamente pelo tempo em que cada paciente esteve sob risco.
- Prevalência: Mede o número total de casos existentes (novos e antigos) em um ponto específico no tempo. É um “retrato” da carga de IRAS em uma instituição. Estudos de prevalência pontual, como os realizados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), são ferramentas eficientes para avaliar a magnitude geral do problema e para comparações entre hospitais, embora sejam menos sensíveis para detectar surtos específicos (Ref. 5, 6, 7).
A escolha entre essas métricas é estratégica. A vigilância de incidência é ideal para monitorar a eficácia de intervenções específicas ao longo do tempo (ex: o impacto de um novo protocolo de inserção de cateteres). A vigilância de prevalência, por sua vez, oferece uma avaliação mais ampla e rápida da carga de doenças, sendo útil para alocação de recursos e identificação de áreas prioritárias.
Investigando as Causas: Epidemiologia Descritiva e Analítica
Quando um aumento no número de casos é detectado, a investigação epidemiológica é acionada, seguindo duas fases principais:
- Epidemiologia Descritiva: É o primeiro passo, caracterizando o surto em termos de Tempo, Lugar e Pessoa. A construção de uma curva epidêmica — um gráfico do número de casos ao longo do tempo — é uma ferramenta visual poderosa. O formato da curva pode sugerir o modo de transmissão: um pico único e agudo sugere uma fonte pontual (ex: todos os pacientes expostos a um lote de medicação contaminada); uma curva mais achatada e prolongada sugere uma fonte comum contínua (ex: um equipamento contaminado em uso constante); e picos sucessivos sugerem uma transmissão propagada ou pessoa a pessoa (Ref. 1, 3).
- Epidemiologia Analítica: Utiliza estudos comparativos para testar as hipóteses geradas na fase descritiva (Ref. 1, 3).
- Estudo de Caso-Controle: Compara um grupo de pacientes com a infecção (casos) com um grupo semelhante sem a infecção (controles), buscando retrospectivamente por diferenças nas exposições a fatores de risco. A medida de associação é o Odds Ratio (OR). É um desenho rápido e eficiente, ideal para investigações de surtos.
- Estudo de Coorte: Acompanha um grupo de indivíduos (coorte) ao longo do tempo, comparando a incidência da infecção entre aqueles expostos e não expostos a um determinado fator de risco. A medida de associação é o Risco Relativo (RR).
É fundamental que, ao interpretar os resultados desses estudos, se considere a possibilidade de viés (erros sistemáticos no desenho ou condução do estudo) e fatores de confusão (uma terceira variável associada tanto à exposição quanto ao desfecho, que pode distorcer a associação real) (Ref. 1).
O Panorama Atual das IRAS: Desafios Globais e a Realidade Brasileira
A carga das IRAS é um problema de saúde pública global, mas sua magnitude e características variam drasticamente entre diferentes regiões e sistemas de saúde, refletindo desigualdades em recursos, infraestrutura e maturidade dos programas de vigilância.
A Carga Global de IRAS: Uma Análise Comparativa
Relatórios internacionais fornecem um panorama da magnitude do problema. Dados do ECDC indicam que, em qualquer dia, cerca de 6.5% dos pacientes em hospitais de cuidados agudos na Europa têm pelo menos uma IRAS, totalizando aproximadamente 4.3 milhões de casos por ano (Ref. 6, 8, 9, 10). Os tipos mais comuns incluem infecções do trato respiratório (29.3%), infecções do trato urinário (19.2%) e infecções de sítio cirúrgico (16.1%) (Ref. 10).
Este cenário contrasta fortemente com a realidade de países de baixa e média renda (LMICs), onde a prevalência de IRAS pode ser significativamente maior, com estimativas variando de 5.7% a 19.1% (Ref. 11, 12, 13). A análise dessa disparidade, no entanto, requer cautela. As diferenças nas taxas não refletem apenas a disponibilidade de recursos para prevenção, mas também a robustez dos sistemas de vigilância. Hospitais e países com programas de vigilância mais sensíveis e transparentes podem, paradoxalmente, reportar taxas mais elevadas simplesmente porque são mais eficientes em detectar e notificar os casos. Por outro lado, uma taxa aparentemente baixa pode mascarar uma vigilância deficiente e uma subnotificação crônica. Portanto, embora as comparações internacionais sejam úteis para contextualização, a medida mais valiosa do sucesso de um programa de controle de infecção é a demonstração de uma redução sustentada de suas próprias taxas ao longo do tempo.
A Realidade Brasileira: Desafios e Estratégias Nacionais
No Brasil, a estrutura de prevenção e controle de IRAS é descentralizada e obtida nas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada serviço de saúde (Ref. 2). Em nível nacional, o governo brasileiro, por meio da ANVISA, estabeleceu o Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência aos Antimicrobianos nos Serviços de Saúde (PAN-SERVIÇOS DE SAÚDE) 2023-2027 (Ref. 14). Este plano estratégico define objetivos e ações claras, organizadas em quatro eixos principais:
- Conscientização e Educação: Promover a formação contínua de profissionais e a sensibilização de pacientes e gestores.
- Vigilância e Pesquisa: Fortalecer a base de conhecimento através da qualificação de laboratórios, monitoramento do consumo de antimicrobianos e qualificação dos dados de notificação de IRAS e resistência microbiana (AMR).
- Prevenção e Controle: Reduzir a incidência de infecções através de medidas eficazes de higiene, saneamento e implementação de estratégias multimodais.
- Uso Racional de Antimicrobianos: Fomentar programas de antimicrobial stewardship para otimizar o uso desses medicamentos.
Para a CCIH local, o PAN-SERVIÇOS DE SAÚDE representa mais do que uma diretriz regulatória; é um roteiro estratégico que pode ser utilizado para alinhar as prioridades institucionais com as metas nacionais, justificar a alocação de recursos e fortalecer o programa de controle de infecção.
Fatores de Risco em Foco: O Caso das Enterobactérias Produtoras de KPC
As enterobactérias produtoras de carbapenemase do tipo Klebsiella pneumoniae (KPC) representam um dos maiores desafios de resistência antimicrobiana no Brasil e no mundo (Ref. 15). Compreender os fatores de risco associados a estas infecções é crucial para direcionar as medidas de prevenção. Um estudo de caso-controle brasileiro, conduzido por Alvim et al. (2020), identificou preditores independentes e estatisticamente significativos para o desenvolvimento de infecções por estes agentes (Ref. 16, 17). Os resultados da análise multivariada, que ajusta para múltiplos fatores simultaneamente, estão resumidos na Tabela 1.
Tabela 1: Fatores de Risco para Infecções por Enterobactérias Produtoras de KPC (Análise Multivariada)
Fator de Risco | Odds Ratio (OR) | Intervalo de Confiança (IC 95%) | Valor de p | Fonte |
Colonização prévia por Gram-negativos | 10,7 | 2 – 60 | 0,007 | (Ref. 16, 17) |
Câncer (doença ativa) | 20,8 | 4 – 120 | <0,001 | (Ref. 16, 17) |
Uso de cateter de duplo lúmen | 30,5 | 2 – 382 | 0,008 | (Ref. 16, 17) |
Lesão por pressão | 136,2 | 11 – 1623 | <0,001 | (Ref. 16, 17) |
Internação em Unidade de Terapia Intensiva | 1,4 | 1,2 – 1,6 | <0,001 | (Ref. 16, 17) |
A magnitude desses achados é alarmante e clinicamente relevante. Um paciente com lesão por pressão, por exemplo, teve uma razão de chances 136 vezes maior de desenvolver uma infecção por KPC em comparação com um paciente sem essa condição. Da mesma forma, o uso de cateter de duplo lúmen aumentou a razão de chances em mais de 30 vezes. Estes dados fornecem evidências robustas para a estratificação de risco, indicando que pacientes com estas características devem ser alvo de medidas de prevenção e vigilância intensificadas.
A Vanguarda da Vigilância: Inovações Tecnológicas no Controle de Infecções
A epidemiologia hospitalar está em meio a uma transformação impulsionada por avanços tecnológicos que prometem revolucionar a forma como surtos são investigados e a vigilância é conduzida, tornando-a mais precisa, rápida e eficiente.
A Revolução Genômica: Whole Genome Sequencing (WGS) na Investigação de Surtos
O Sequenciamento de Genoma Completo (WGS) emergiu como a ferramenta definitiva para a tipagem molecular de patógenos, oferecendo uma resolução sem precedentes que supera largamente as técnicas mais antigas, como a eletroforese em campo pulsado (PFGE) (Ref. 18, 19). Ao comparar os genomas completos de isolados bacterianos ou fúngicos, o WGS pode determinar com precisão quase absoluta se eles pertencem a uma mesma cadeia de transmissão. Esta tecnologia transformou a investigação de surtos de um exercício de inferência estatística para uma ciência forense de alta precisão (Ref. 20).
Exemplos concretos ilustram seu poder transformador (Ref. 20):
- Reescrevendo a epidemiologia do C. difficile: Estudos com WGS revelaram que a transmissão direta de paciente para paciente dentro do hospital, embora ocorra, é responsável por uma minoria dos casos. A maioria das infecções parece originar-se de fontes diversas, incluindo portadores assintomáticos, a comunidade e até mesmo a cadeia alimentar, forçando uma reavaliação completa das estratégias de prevenção.
- Identificando fontes ambientais ocultas: Em um surto de Candida auris em uma UTI, o WGS ligou inequivocamente os casos a termômetros axilares reutilizáveis contaminados. A remoção destes dispositivos foi a chave para o controle do surto.
- Rastreando a contaminação na origem: O WGS foi fundamental para confirmar que infecções por Mycobacterium chimaera em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca em vários países estavam ligadas a unidades de aquecimento-resfriamento contaminadas na própria fábrica, demonstrando uma cadeia de transmissão global.
Contudo, essa precisão traz consigo novos desafios. A capacidade de identificar um profissional de saúde como a fonte de um surto (Ref. 20) exige a existência de políticas institucionais claras e, fundamentalmente, uma cultura de segurança não punitiva, que foque na melhoria dos processos e não na culpabilização individual. Além disso, a dependência de laboratórios de referência para a realização do WGS cria um gargalo de tempo que muitas vezes impede sua aplicação em tempo real para o controle imediato de surtos na maioria das instituições (Ref. 19, 21).
A Era Digital: Vigilância Eletrônica de IRAS (ESS) e o Big Data
A vigilância tradicional de IRAS é um processo manual, trabalhoso e demorado, consumindo uma parcela significativa do tempo dos profissionais de CCIH que poderia ser dedicada a atividades de prevenção (Ref. 22). A proliferação dos Prontuários Eletrônicos do Paciente (PEP) abriu caminho para os Sistemas de Vigilância Eletrônica (ESS), que prometem automatizar a coleta e análise de dados, tornando o processo mais eficiente e consistente (Ref. 23, 24, 25).
A análise crítica da literatura revela um quadro de luz e sombra sobre a implementação desses sistemas, conforme detalhado na Tabela 2.
Tabela 2: Comparativo entre Vigilância Manual e Eletrônica de IRAS: Eficiência e Acurácia
Parâmetro | Vigilância Manual (Tradicional) | Vigilância Eletrônica (Automatizada/ESS) | Comentários Críticos |
Eficiência (Tempo do Profissional de CCI) | Alta intensidade de trabalho; até 45% do tempo do profissional (Ref. 22) | Redução significativa do tempo (média de 74%) (Ref. 26); libera o profissional para atividades de prevenção. | |
Acurácia (Sensibilidade) | Variável, depende da experiência do profissional (Ref. 1). Risco de viés do observador. | Alta para eventos baseados em dados estruturados (ex: LabID). Menor para eventos com critérios clínicos subjetivos (ex: ISC superficial) (Ref. 23). | A sensibilidade do ESS depende criticamente da qualidade e estruturação dos dados no PEP. |
Acurácia (Especificidade) | Geralmente alta, pois a confirmação humana filtra falsos positivos. | Menor, especialmente com algoritmos mais sensíveis. Gera mais “alertas” que precisam de confirmação manual (vigilância semiautomatizada) (Ref. 27). | O excesso de falsos positivos pode levar à “fadiga de alerta” e minar a confiança no sistema. |
Reprodutibilidade/Consistência | Baixa; alta variabilidade interobservador (Ref. 24). | Alta; o algoritmo aplica as definições de forma consistente, eliminando a subjetividade humana (Ref. 23). | Essencial para benchmarking e comparações longitudinais justas. |
Custo de Implementação/Manutenção | Custo contínuo de pessoal. | Alto custo inicial de software e integração de TI. Custo contínuo de manutenção e atualização (Ref. 23). | O retorno sobre o investimento (ROI) deve considerar não apenas a economia de tempo, mas também a potencial melhoria na qualidade dos dados e nos resultados clínicos. |
A automação, portanto, não deve ser vista como um substituto para o epidemiologista hospitalar, mas como uma ferramenta que potencializa sua atuação. Ela desloca o foco do profissional da tarefa repetitiva de “coletor de dados” para a função estratégica de “analista de dados e agente de mudança”. O modelo mais promissor para o futuro da vigilância é o híbrido, ou semiautomatizado, no qual algoritmos inteligentes identificam casos suspeitos em tempo real, e o especialista humano aplica seu julgamento clínico para a confirmação final. Este modelo combina a eficiência e a consistência da máquina com a acurácia e a nuance da expertise humana (Ref. 28, 29).
Conclusões, Recomendações e o Caminho a Seguir
A epidemiologia das IRAS é um campo em constante evolução, impulsionado por desafios persistentes e inovações disruptivas. A jornada da prevenção de infecções é contínua e exige uma combinação de princípios atemporais e adaptação às novas realidades tecnológicas e microbianas.
Síntese dos Achados: A Epidemiologia em Transição
A análise apresentada demonstra que a epidemiologia de IRAS transcendeu seu foco tradicionalmente hospitalar para abranger todo o contínuo do cuidado. A meta evoluiu da simples comparação com benchmarks para a busca incessante pela tolerância zero com infecções preveníveis. Simultaneamente, tecnologias como o WGS e a vigilância eletrônica estão redefinindo as capacidades de investigação e monitoramento, embora sua implementação plena ainda enfrente barreiras significativas.
Fatores Limitantes e Desafios Futuros
A interpretação de dados em epidemiologia hospitalar é complexa e suscetível a fatores de confusão. A gravidade da doença do paciente é, talvez, o principal confundidor; pacientes mais graves estão intrinsecamente em maior risco de infecção e são mais propensos a serem submetidos a procedimentos invasivos (Ref. 1). A falha em ajustar adequadamente para a gravidade da doença pode levar a conclusões equivocadas sobre a eficácia de uma intervenção ou a comparações injustas entre hospitais. Outro desafio é o viés de detecção, onde um aumento na intensidade da vigilância pode levar a um aumento aparente nas taxas de infecção, simplesmente porque mais casos estão sendo encontrados.
Olhando para o futuro, os desafios são formidáveis. A ascensão contínua da resistência antimicrobiana e a ameaça constante de patógenos emergentes exigem que os programas de controle de infecção sejam extremamente ágeis, baseados em dados e capazes de se adaptar rapidamente a novas ameaças (Ref. 30, 31, 32, 33, 34, 35).
Recomendações para a Prática no Brasil
Com base na evidência analisada, algumas recomendações práticas podem ser delineadas para fortalecer os programas de controle de infecção no contexto brasileiro:
Para a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH):
- Adotar uma Abordagem Multimodal: A prevenção eficaz raramente depende de uma única intervenção. É crucial implementar “bundles” de prevenção baseados em evidências, que combinem múltiplos elementos, como educação contínua, vigilância de processos e resultados, e feedback sistemático para as equipes assistenciais.
- Priorizar a Vigilância de Processos: Além de medir o desfecho (contar infecções), é fundamental medir ativamente a adesão às práticas preventivas (o processo). Monitorar a taxa de higiene de mãos, a conformidade com os cuidados de cateteres e a adesão aos protocolos cirúrgicos permite identificar falhas antes que elas resultem em dano ao paciente.
- Investir na compreensão de Dados: Capacitar a equipe para não apenas coletar, mas também interpretar criticamente os dados de vigilância. Isso inclui a compreensão de conceitos como risco ajustado, o Standardized Infection Ratio (SIR), e as armadilhas de comparações diretas entre instituições com perfis de pacientes distintos.
- Planejar a Transição Digital: Iniciar a jornada para a vigilância eletrônica, mesmo que de forma gradual. O primeiro passo é trabalhar com a equipe de TI para padronizar a coleta de dados essenciais no PEP. Projetos-piloto focados em eventos mais facilmente automatizáveis, como as infecções por C. difficile (LabID), podem demonstrar o valor e a viabilidade da automação.
Para a Gestão Hospitalar:
- Posicionar a CCIH como um Pilar Estratégico: O controle de infecções não é um centro de custo, mas um componente central da segurança do paciente, da qualidade assistencial e da sustentabilidade financeira. O apoio da alta gestão é indispensável para o sucesso do programa.
- Fomentar uma Cultura de Segurança Não Punitiva: Para que a vigilância seja eficaz e para que tecnologias como o WGS possam ser utilizadas em seu pleno potencial, é essencial que os profissionais se sintam seguros para relatar eventos adversos e participar de investigações de surtos sem medo de retaliação. O foco deve ser sempre na melhoria dos sistemas e processos.
Visão Inspiradora: Rumo à Tolerância Zero
O desafio de prevenir as IRAS é complexo, mas não intransponível. A epidemiologia nos fornece o mapa e a bússola. A combinação de seus princípios sólidos, a adesão rigorosa a práticas baseadas em evidências e a adoção inteligente de novas tecnologias pode e deve nos mover continuamente na direção do objetivo final: zerar as infecções preveníveis. Cada infecção evitada é uma vida protegida, reafirmando o compromisso mais fundamental da assistência à saúde (Ref. 1).
Conclusão
A epidemiologia hospitalar está em plena transformação. O foco deixou de ser a simples vigilância reativa para se tornar um sistema proativo, baseado em dados e inovação tecnológica. Ferramentas como o WGS e os sistemas de vigilância eletrônica oferecem precisão inédita, mas exigem capacitação, investimento e uma cultura de segurança não punitiva.
No Brasil, iniciativas como o Plano Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos (PAN-SERVIÇOS DE SAÚDE 2023-2027) alinham-se a esse movimento global e reforçam a necessidade de integração entre CCIHs, gestores e políticas públicas.
O recado é claro: cada infecção evitada é uma vida protegida. A ciência epidemiológica, quando aliada à prática clínica e à gestão eficiente, pavimenta o caminho para a tolerância zero em IRAS preveníveis.
Referências Bibliográficas
(Ref. 1) OSTROWSKY, B.; NORI, P. Epidemiology of Healthcare-Associated Infections. In: JARVIS, W. R. (ed.). Bennett & Brachman’s Hospital Infections. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2023. p. 35-78.
- Resumo: Este capítulo fundamental revisa os princípios básicos da epidemiologia com ênfase nas Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Aborda a evolução da terminologia, a distinção entre infecção e colonização, as medidas de frequência de doença (incidência e prevalência), os desenhos de estudo (descritivo e analítico) e o modelo da cadeia de infecção. O texto serve como base conceitual para todo o campo da epidemiologia hospitalar.
(Ref. 2) CCIH.MED.BR. O que faz o infectologista hospitalar, o controlador de infecção e o epidemiologista hospitalar? Disponível em: https://www.ccih.med.br/o-que-faz-o-infectologista-hospitalar-o-controlador-de-infeccao-e-o-epidemiologista-hospitalar/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: O artigo do site www.ccih.med.br diferencia as funções dos profissionais envolvidos no controle de infecção. Destaca que o epidemiologista hospitalar, atuando dentro da CCIH, tem como foco a gestão e a vigilância epidemiológica das IRAS, realizando a busca ativa de casos, coleta e análise de dados para orientar as práticas de prevenção.
(Ref. 3) OSTROWSKY, B.; NORI, P. Epidemiology of Healthcare-Associated Infections. In: JARVIS, W. R. (ed.). Bennett & Brachman’s Hospital Infections. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2023. p. 35-78.
- Resumo: Este resumo sintetiza os conceitos-chave do capítulo 1 do livro “Bennett & Brachman’s Hospital Infections”. Ele define epidemiologia, diferencia infecção de colonização, explica a transição do termo “nosocomial” para “IRAS”, distingue entre eventos endêmicos e epidêmicos, e descreve os principais métodos epidemiológicos e medidas de frequência utilizados no campo.
(Ref. 4) CCIH.MED.BR. Qual é a diferença entre IRAS e Infecção Hospitalar? Disponível em: https://www.ccih.med.br/qual-e-a-diferenca-entre-iras-e-infeccao-hospitalar/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este artigo esclarece que, embora o conceito de IRAS seja amplo e inclua infecções adquiridas em qualquer cenário de assistência, a vigilância prática realizada pelas CCIHs geralmente se concentra nas infecções adquiridas durante a hospitalização (infecções hospitalares), devido à dificuldade de rastrear eventos em outros cenários.
(Ref. 5) ZARFES, C. et al. The European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) pilot point prevalence survey of healthcare-associated infections and antimicrobial use. Eurosurveillance, v. 18, n. 46, p. 20621, 2013. DOI: 10.2807/1560-7917.es2013.18.46.20621.
- Resumo: Este estudo piloto testou a metodologia padronizada do ECDC para pesquisas de prevalência pontual de IRAS e uso de antimicrobianos. Os resultados indicaram uma prevalência geral de 7.1% de IRAS em hospitais de cuidados agudos na Europa, com as taxas mais altas em UTIs (28.1%). O estudo validou a metodologia como viável para vigilância em larga escala.
(Ref. 6) SUETENS, C. et al. Prevalence of healthcare-associated infections, estimated number of cases and patients affected in European Union and European Economic Area countries, 2016 to 2017. Eurosurveillance, v. 23, n. 46, p. 1800516, 2018. DOI:(https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2018.23.46.1800516).
- Resumo: Este relatório apresenta os resultados da pesquisa de prevalência pontual do ECDC de 2016-2017. Estima-se que 6.5% dos pacientes em hospitais de cuidados agudos e 3.9% dos residentes em instituições de longa permanência na Europa tinham pelo menos uma IRAS. O estudo confirma a alta carga de IRAS e destaca que a resistência antimicrobiana em IRAS em instituições de longa permanência atingiu níveis semelhantes aos dos hospitais.
(Ref. 7) EUREKALERT!. High prevalence of healthcare-associated infections and low testing rates found in European hospitals and long-term care facilities. 2019. Disponível em: https://www.eurekalert.org/news-releases/672044. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este comunicado de imprensa resume os achados da pesquisa do ECDC de 2016-2017, destacando a prevalência de 1 em 15 pacientes em hospitais e 1 em 24 em instituições de longa permanência com uma IRAS. Aponta para baixas taxas de testes microbiológicos, o que dificulta o tratamento direcionado e o controle de surtos.
(Ref. 8) CIDRAP. ECDC estimates 4.3 million patients get healthcare-associated infections in European hospitals. 2024. Disponível em: https://www.cidrap.umn.edu/antimicrobial-stewardship/ecdc-estimates-43-million-patients-get-healthcare-associated-infections. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Divulgando dados da terceira pesquisa de prevalência do ECDC (2022-2023), este artigo informa que cerca de 4.3 milhões de pacientes adquirem uma IRAS anualmente em hospitais europeus. As infecções do trato respiratório foram as mais comuns (29.3%), e 32% dos microrganismos isolados eram resistentes a antimicrobianos.
(Ref. 9) EUROPEAN ACADEMIES SCIENCE ADVISORY COUNCIL. Healthcare-associated infections (HAIs): a threat to patient safety in Europe. 2009. Disponível em:(https://easac.eu/fileadmin/PDF_s/reports_statements/Healthcare-associated.pdf). Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este relatório mais antigo do EASAC já destacava as IRAS como um grande problema de saúde pública na Europa, afetando cerca de 7% dos pacientes em hospitais de cuidados agudos e causando aproximadamente 37.000 mortes diretamente atribuíveis por ano. O documento enfatiza a carga econômica e a necessidade de melhores políticas de prevenção.
(Ref. 10) EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL. Point prevalence survey of healthcare-associated infections and antimicrobial use in European long-term care facilities 2023-2024. 2025. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/point-prevalence-survey-healthcare-associated-infections-and-antimicrobial-use-6. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Este documento descreve o protocolo para a quarta pesquisa de prevalência pontual do ECDC em instituições de longa permanência (2023-2024). O objetivo é estimar a prevalência de IRAS e uso de antimicrobianos, além de medir indicadores de estrutura e processo de prevenção e controle de infecções, para informar políticas e intervenções.
(Ref. 11) AL-OMARI, A. et al. Prevalence, types, and distribution of healthcare-associated infections in a tertiary care hospital in Saudi Arabia: A retrospective 1-year study. Journal of Nature and Science of Medicine, v. 6, n. 1, p. 69, 2023. DOI: 10.4103/jnsm.jnsm_146_22.
- Resumo: Este estudo retrospectivo em um hospital terciário saudita encontrou uma prevalência geral de IRAS de 8.2%. As infecções de sítio cirúrgico (32.6%) foram as mais comuns, seguidas por infecções de corrente sanguínea (19.5%) e urinárias (18.5%). E. coli foi o patógeno mais frequente. O estudo destaca a carga de IRAS e a necessidade de vigilância contínua.
(Ref. 12) ALSHARIF, F. et al. Epidemiology of Healthcare-Associated Infections: A Systematic Review. Healthcare, v. 10, n. 12, p. 2573, 2022. DOI: 10.3390/healthcare10122573.
- Resumo: Esta revisão sistemática discute a epidemiologia global das IRAS, destacando a maior vulnerabilidade de pacientes em UTIs. Reitera que a prevalência em países de baixa e média renda é substancialmente maior do que em países desenvolvidos e discute os principais fatores de risco, como hospitalização prolongada, uso de dispositivos médicos e comorbidades.
(Ref. 13) POURABBAS, A. et al. The rate of healthcare-associated infections (HAIs) in Iran: a systematic review and meta-analysis. International Journal of Quality in Health Care, v. 32, n. 8, p. 505-514, 2020. DOI: 10.1093/intqhc/mzaa084.
- Resumo: Esta revisão sistemática e meta-análise avaliou a taxa de IRAS no Irã, encontrando uma taxa geral de 26.57 por 1.000 pacientes. As infecções do trato urinário foram as mais comuns, e as taxas mais altas foram observadas em UTIs. O estudo enfatiza a necessidade de políticas de prevenção e controle mais robustas.
(Ref. 14) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência aos Antimicrobianos nos Serviços de Saúde (PAN-SERVIÇOS DE SAÚDE) 2023-2027. Brasília, DF: Anvisa, 2023. Disponível em: https://www.ccih.med.br/wp-content/uploads/2023/12/pan-servicos-de-saude-2023-2027-final-15-12-2023.pdf.
- Resumo: Este documento oficial da ANVISA detalha o plano estratégico do Brasil para combater a resistência antimicrobiana em serviços de saúde. Ele estabelece quatro eixos principais: conscientização/educação, vigilância/pesquisa, prevenção/controle de infecções, e uso racional de antimicrobianos, com metas e atividades específicas para cada um.
(Ref. 15) SILVA, A. C. S. et al. Infecção por Klebsiella pneumoniae: aspectos microbiológicos, clínicos e preventivos. 2021. Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/infeccao-por-klebsiella-pneumoniae-aspectos-microbiologicos-clinicos-e-preventivos. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: Esta revisão de literatura aborda a Klebsiella pneumoniae, com foco na cepa produtora de carbapenemase (KPC), como um patógeno oportunista de grande preocupação em ambientes hospitalares, especialmente em UTIs. Discute a alta resistência a múltiplas classes de antibióticos e a necessidade de políticas de saúde pública para prevenção e controle.
(Ref. 16) ALVIM, A. L. S.; COUTO, B. R. G. M.; GAZZINELLI, A. Fatores de risco para Infecções relacionadas à Assistência à Saúde causadas por Enterobacteriaceae produtoras de Klebsiella pneumoniae carbapenemase: um estudo de caso controle. Enfermería Global, v. 19, n. 58, p. 257-285, 2020. DOI: 10.6018/eglobal.380951.
- Resumo: Este estudo de caso-controle retrospectivo realizado no Brasil investigou os fatores de risco para infecções por enterobactérias produtoras de KPC. A análise multivariada identificou como preditores independentes significativos: colonização prévia por Gram-negativos, câncer ativo, uso de cateter de duplo lúmen, lesão por pressão e internação em UTI.
(Ref. 17) ALVIM, A. L. S.; COUTO, B. R. G. M.; GAZZINELLI, A. Quais foram os fatores de risco para infecções por Enterobactérias produtoras de KPC que tiveram significância estatística (apresentar Odds Ratio, Intervalo de Confiança e valor de p) neste estudo de caso-controle? 2020. DOI: 10.6018/eglobal.380951.
- Resumo: Este resumo focado extrai os resultados estatisticamente significativos da análise multivariada do estudo de Alvim et al. (2020). Ele lista os cinco principais fatores de risco para infecção por KPC, juntamente com seus respectivos Odds Ratios, intervalos de confiança de 95% e valores de p, fornecendo uma medida quantitativa da força de cada associação.
(Ref. 18) EYRE, D. W. et al. The ongoing challenge of healthcare-associated FACILITIES outbreaks: a systematic review of pathogen whole-genome sequencing informing infection control. Journal of Hospital Infection, v. 119, p. 1-12, 2022. DOI: 10.1016/j.jhin.2021.09.018.
- Resumo: Esta revisão sistemática detalha como o WGS revolucionou a investigação de surtos de IRAS. O estudo conclui que o WGS fornece uma lente de alta resolução para entender a epidemiologia das IRAS, identificando fontes de infecção, rotas de transmissão e indivíduos envolvidos, o que permite um controle e prevenção mais eficazes.
(Ref. 19) HIS.ORG.UK. From lab to frontline: the promise and challenges of whole genome sequencing in infection control. 2024. Disponível em: https://www.his.org.uk/news/from-lab-to-frontline-the-promise-and-challenges-of-whole-genome-sequencing-in-infection-control/. Acesso em: 15 out. 2023.
- Resumo: O artigo discute os avanços e os desafios da implementação do WGS na prática clínica de controle de infecções. Embora a tecnologia tenha se tornado mais rápida e acessível (incluindo dispositivos portáteis), barreiras como custo, necessidade de expertise em bioinformática e a dependência de laboratórios de referência ainda limitam seu uso rotineiro e em tempo real.
(Ref. 20) EYRE, D. W. et al. According to this review, what is the demonstrated impact of using whole-genome sequencing (WGS) in healthcare-associated outbreak investigations? Provide specific examples of how WGS has clarified transmission pathways or identified unexpected sources. 2022. DOI: 10.1016/j.jhin.2021.09.018.
- Resumo: Este resumo detalhado dos achados da revisão de Eyre et al. (2022) fornece exemplos específicos de como o WGS mudou o entendimento da transmissão de patógenos como C. difficile (mostrando menor transmissão hospitalar do que o esperado) e S. aureus, e como identificou fontes inesperadas em surtos de Listeria, C. auris e M. chimera.
(Ref. 21) SHARMA, H. et al. Real-time whole genome sequencing to control a Streptococcus pyogenes outbreak at a national orthopaedic hospital. Journal of Hospital Infection, v. 103, n. 1, p. 21-26, 2019. DOI: 10.1016/j.jhin.2019.07.003.
- Resumo: Este estudo de caso demonstra a utilidade clínica do WGS em tempo real para gerenciar um surto de Streptococcus pyogenes em um hospital ortopédico. O WGS confirmou o agrupamento de casos, identificou profissionais de saúde portadores e permitiu a contenção rápida do surto, apoiando sua implementação como um serviço clínico de rotina.
(Ref. 22) HEBDEN, J. N. The impact of electronic healthcare-associated infection surveillance software on infection prevention resources: a systematic review of the literature. American Journal of Infection Control, v. 46, n. 9, p. S10-S14, 2018. DOI: 10.1016/j.ajic.2018.04.209.
- Resumo: Este artigo discute a estimativa de que 45% do tempo do profissional de controle de infecção é consumido por atividades de vigilância. Argumenta que a maioria dos programas de IP ainda não adotou soluções eletrônicas (sistemas de mineração de dados) para lidar com essa demanda de tempo insustentável.
(Ref. 23) SHENOY, E. S.; BRANCH-ELLIMAN, W. Automating surveillance for healthcare-associated infections: Rationale and current realities (Part I/III). Antimicrobial Stewardship & Healthcare Epidemiology, v. 3, n. 1, e24, 2023. DOI: 10.1017/ash.2023.43.
- Resumo: Esta revisão discute a lógica e a realidade da vigilância automatizada de IRAS. Conclui que, embora a automação ofereça grandes oportunidades para melhorar a eficiência e a precisão, desafios significativos permanecem, especialmente com dados não estruturados no PEP. A automação total é viável apenas para eventos definidos por laboratório (LabID), enquanto a maioria das outras IRAS ainda requer uma abordagem híbrida com revisão manual.
(Ref. 24) WRIGHT, M. O. et al. Use of electronic health records for healthcare-associated infection surveillance. American Journal of Infection Control, v. 43, n. 11, p. 1226-1234, 2015. DOI: 10.1016/j.ajic.2015.06.012.
- Resumo: Esta revisão sistemática descreve as fontes de dados e métodos de validação usados em sistemas de vigilância eletrônica (ESS) para IRAS. Conclui que, embora a maioria dos sistemas use definições padronizadas, a falta de validação interna e externa generalizada reduz a confiabilidade de seus achados, destacando uma área crítica para melhoria.
(Ref. 25) KRAMER, T. S. et al. Electronic surveillance of healthcare-associated infections: a systematic review. Journal of the American Medical Informatics Association, v. 21, n. 5, p. 942-951, 2014. DOI: 10.1136/jamia.2013.002985.
- Resumo: Esta revisão sistemática analisou 26 publicações sobre sistemas de vigilância eletrônica de IRAS. Observou-se uma tendência de uso crescente de múltiplas fontes de dados (microbiologia, farmácia, bioquímica), o que aumenta a sensibilidade dos sistemas, mas muitas vezes à custa da especificidade, gerando mais falsos positivos que requerem confirmação manual.
(Ref. 26) CONWAY, L. et al. The impact of electronic healthcare-associated infection surveillance software on infection prevention resources: a systematic review of the literature. Journal of Hospital Infection, v. 97, n. 4, p. 331-337, 2017. DOI: 10.1016/j.jhin.2017.08.016.
- Resumo: Esta revisão sistemática de 16 estudos encontrou evidências consistentes de que a adoção de software de vigilância eletrônica (ESS) resulta em uma redução considerável do tempo gasto pelos profissionais de IP em atividades de vigilância (média de 73.9%), sem comprometer a sensibilidade e especificidade, permitindo o reinvestimento desse tempo em outras atividades de prevenção.
(Ref. 27) KLOMPAS, M. et al. Automated surveillance for healthcare-associated infections. Clinical Infectious Diseases, v. 66, n. 6, p. 970-976, 2018. DOI: 10.1093/cid/cix845.
- Resumo: O artigo discute a lógica e as abordagens para a vigilância automatizada de IRAS. Argumenta que, embora a automação possa superar as limitações da vigilância manual, a escolha da abordagem (semi ou totalmente automatizada) deve ser guiada pelo objetivo da vigilância (melhoria da qualidade local, vigilância nacional, etc.), pois isso dita as características de desempenho necessárias.
(Ref. 28) VAN MOURIK, M. S. M. et al. The efficiency and accuracy of electronically assisted healthcare-associated infection surveillance: a systematic review. Journal of Hospital Infection, v. 104, n. 3, p. 268-279, 2020. DOI: 10.1016/j.jhin.2019.12.010.
- Resumo: Esta revisão sistemática avalia a eficiência e a acurácia dos sistemas de vigilância eletrônica assistida (EASS). Conclui que os EASS podem aumentar significativamente a eficiência da vigilância, mas sua acurácia (sensibilidade e especificidade) varia amplamente dependendo do tipo de infecção e dos algoritmos utilizados, destacando a necessidade de validação local.
(Ref. 29) SHENOY, E. S.; BRANCH-ELLIMAN, W. What are the main findings of this systematic review regarding the accuracy and efficiency of automated or electronic surveillance systems for HAIs compared to traditional manual surveillance? 2023. DOI: 10.1017/ash.2023.43.
- Resumo: Este resumo dos achados da revisão de Shenoy e Branch-Elliman (2023) enfatiza que, embora a automação melhore a eficiência e a reprodutibilidade, a estrutura atual dos PEPs e a natureza subjetiva de muitas definições de IRAS limitam a automação total. A maioria das IRAS requer uma abordagem híbrida, combinando extração de dados automatizada com revisão manual por especialistas.
(Ref. 30) BANACH, D. B. et al. Outbreak response and incident management: SHEA guidance and resources for healthcare epidemiologists in United States acute-care hospitals. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 38, n. 12, p. 1393-1419, 2017. DOI: 10.1017/ice.2017.212.
- Resumo: Este documento de orientação da SHEA fornece um guia para epidemiologistas hospitalares sobre gerenciamento de incidentes e resposta a surtos, incluindo aqueles causados por patógenos emergentes. Ele destaca a necessidade de preparação, resposta rápida e colaboração dentro de uma estrutura de gerenciamento de emergências.
(Ref. 31) WEBER, D. J. et al. The evolving epidemiology of healthcare-associated infections: challenges and opportunities for infection control. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 44, n. S1, s1-s6, 2023. DOI: 10.1017/ice.2023.136.
- Resumo: Este artigo discute os desafios atuais no controle de infecções, incluindo o impacto da pandemia de COVID-19, o aumento da resistência antimicrobiana e a ameaça de patógenos emergentes. Enfatiza a necessidade de sistemas de saúde resilientes e da cooperação entre saúde pública e controle de infecção hospitalar para se preparar para futuras pandemias.
(Ref. 32) HOTA, B. et al. The emerging threat of multidrug-resistant Gram-negative bacteria: a challenge for infection control. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 25, n. 11, p. 966-971, 2004. DOI: 10.1086/502339.
- Resumo: Este artigo de revisão mais antigo já destacava a crescente ameaça de bactérias Gram-negativas multirresistentes. Discute a epidemiologia, os mecanismos de resistência e as estratégias de controle de infecção necessárias para conter a disseminação desses patógenos desafiadores no ambiente de saúde.
(Ref. 33) ANDERSON, D. J.; SEXTON, D. J. Epidemiology and prevention of healthcare-associated infections. In: UpToDate, 2023. Disponível em: https://www.uptodate.com/.
- Resumo: Este tópico de revisão abrangente discute a epidemiologia das IRAS, incluindo os patógenos mais comuns, os principais tipos de infecção e os fatores de risco. Ele enfatiza as estratégias de prevenção baseadas em evidências, como higiene das mãos, precauções de isolamento e bundles de cuidados, como a base para programas eficazes de controle de infecções.
(Ref. 34) WEINER, L. M. et al. The role of the hospital epidemiologist in the control of emerging and reemerging pathogens. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 31, n. S1, S1-S5, 2010. DOI: 10.1086/658093.
- Resumo: Este artigo descreve o papel crucial do epidemiologista hospitalar no gerenciamento de patógenos emergentes. Discute a necessidade de vigilância robusta, planejamento de preparação para pandemias, comunicação eficaz e implementação rápida de medidas de controle para proteger pacientes e profissionais de saúde.
(Ref. 35) GASKELL, K. M. et al. The changing epidemiology of healthcare-associated outbreaks. Journal of Hospital Infection, v. 94, n. 3, p. 207-212, 2016. DOI: 10.1016/j.jhin.2016.07.016.
- Resumo: Esta revisão analisa as tendências em surtos de IRAS, observando uma mudança nos patógenos e cenários. Destaca o aumento de surtos causados por bactérias Gram-negativas resistentes e patógenos virais, bem como a importância crescente de ambientes de cuidados não agudos como locais de transmissão.
Autoria:
Antonio Tadeu Fernandes:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
#ControleDeInfecção #Epidemiologia #IRAS #SegurançaDoPaciente #CCIH #Medicina #Enfermagem #Saúde #Prevenção
Instituto CCIH+ Parceria permanente entre você e os melhores professores na sua área de atuação
Conheça nossos cursos de especialização ou MBA:
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção
MBA Gestão em Centro de Material e Esterilização
MBA EQS – Gestão da Segurança do Paciente e governança clínica
Especialização em Farmácia Clínica e Hospitalar
Pós-graduação em Farmácia Oncológica