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Até quantas vezes posso reprocessar capotes e campos cirúrgicos de puro algodão?

Até quantos reprocessamentos um campo 100% algodão mantém suas propriedades de barreira? Neste estudo brasileiro, foram analisadas as propriedades físicas dos capotes e campos cirúrgicos com mais de 15 meses de uso e reuso. Saiba qual foi a metodologia empregada e as conclusões dos autores.

Por que é importante sabermos quantas vezes posso reprocessar um tecido 100% de algodão?
Capotes e campos cirúrgicos diminuem o risco de infecção de sítio cirúrgico, além de proteger os profissionais de saúde dos fluídos do paciente.
O reuso de capotes e campos cirúrgicos de tecido de algodão é algo difundido entre os países de baixa renda, contudo os métodos para monitorização do desgaste do tecido, a eficácia na barreira de microrganismos e o impacto da esterilização a vapor nestes produtos não estão disponíveis.

 

Como foi planejado o experimento para testar a manutenção de capacidade de barreira dos tecidos de algodão após o reprocessamento?
O objetivo foi testar as propriedades físicas e de barreira contra microrganismos em capotes e campos cirúrgicos de tecido de algodão, após 15 meses de uso e reuso.

Para execução deste estudo, todos os capotes e campos cirúrgicos de tecido 100% algodão em uso no hospital foram descartados e substituídos por novos da marca Santista, Solasol, São Paulo, Brasil).

No total, 156 campos cirúrgicos e 78 capotes foram substituídos. Cada item recebeu um código para que fosse possível rastrear a quantidade de utilizações. Todos os itens foram lavados 3 vezes antes de seu primeiro uso para remoção do amido.

 

Quais foram os principais resultados encontrados?
Os campos cirúrgicos tiveram um máximo de 87 vezes de uso e os capotes foram usados 72 vezes ao longo de 15 meses. Ou seja, quanto maior o tempo, maior o número de vezes que foram reutilizados. Observou-se, também, que quanto maior o tempo de uso, maior o número de fibras desalinhadas e quebradas. Além disso, quando comparado com os capotes e campos cirúrgicos que não foram reutilizados (grupo controle), o reprocessamento e o reuso induziram a uma retração difusa das fibras da superfície do tecido.

O desgaste do tecido pode estar relacionado ao estresse mecânico ocasionado durante o uso na prática clínica, pelos produtos químicos e pelo estresse físico durante o reprocessamento. Ciclos de reprocessamento repetidos podem danificar a estrutura do tecido, promovendo a degradação progressiva das propriedades físicas do tecido ao longo do tempo.

Houve, também, uma redução nas dimensões originais dos campos cirúrgicos, com redução acentuada da área após 3 meses de -7%, aos 9 meses de -7,5%, aos 12 meses de -6,9% e aos 15 meses de -11%. Semelhante a redução nas dimensões dos tecidos houve, também, redução significativa no peso dos tecidos. Nenhuma alteração na contagem de fios foi observada ao longo do tempo.

Houve um aumento significativo no número de fibras soltas. Esta degradação é uma preocupação, pois os padrões recomendam que os capotes e campos cirúrgicos sejam livres de partículas, fiapos e fragmentos de fibras, que podem causar eventos adversos.
O coeficiente de absorção de água aumentou após 3 meses de reutilização, representando uma absorção de água significativamente mais rápida. Nenhuma alteração adicional foi observada em tempos mais longos. Possivelmente, o amido não foi totalmente removido pelas 3 lavagem iniciais.
Não foram detectados penetração de células de microrganismos através do tecido em qualquer período do estudo.

Quais as limitações do estudo?
Este estudo teve algumas limitações.

Os testes realizados foram adaptados para o estudo.

Os resultados deste estudo não podem ser generalizados para outras composições de tecido.

Mais estudos são necessários para avaliar o efeito do reprocessamento de tecidos 100% algodão.

Que comentários e críticas finais?
Em conclusão, as propriedades físicas dos capotes e campos cirúrgicos feitos de tecido 100% algodão podem mudar ao longo do seu ciclo de uso.
A absorção de água aumentou significativamente e uma desconstrução das fibras de algodão produziram um significativo aumento dos fiapos. Em contraste, os dados mostram que a penetração de microrganismos e células do sangue não aconteceram no período do estudo.
Adicionalmente concluímos que este é um estudo experimental e que não pode ser avaliado seu impacto na prevenção de infecções relacionadas ao procedimento cirúrgico. Entretanto fornece dados interessantes para pesquisas futuras.

Fonte:
Bouwman, B., Tessarolo, F., Braios, A., Piccoli, F., Maniglio, D., Costa, D., & Tipple, A. (2023). Changes in the properties of pure cotton surgical gowns and drapes with clinical use and reprocessing. Infection Control & Hospital Epidemiology, 44(6), 975-978.

Link:
https://doi.org/10.1017/ice.2022.127

Sinopse por:
Thalita Gomes do Carmo
E-mail: [email protected]
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Linkedin:  https://www.linkedin.com/in/thalita-gomes-do-carmo-5957a85a/

Links relacionados:
Diretrizes globais para a prevenção de infecção de sítio cirúrgico: https://www.who.int/publications-detail-redirect/global-guidelines-for-the-prevention-of-surgical-site-infection-2nd-ed
Avaliação da barreira microbiana do campo cirúrgico simples do algodão: https://revista.sobecc.org.br/sobecc/article/view/286
Avaliação do uso e reaproveitamento de tecidos de algodão como barreiras médico e hospitalar: https://www.scielo.br/j/bjm/a/SVJqPv8h8FBddpk6FpSZy6t/?lang=en

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