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Superbactérias no Ar: Você Está Preparado para essa Ameaça Invisível?

Superbactérias e uma ameaça invisível. A poluição do ar não é apenas um risco respiratório: ela pode estar acelerando a resistência antimicrobiana (AMR) em todo o mundo. Pesquisas recentes revelam que partículas finas (PM2.5) funcionam como vetores de genes de resistência, transformando o ar poluído em um “supervetor” invisível de superbactérias. Este artigo explora as evidências científicas que conectam poluição atmosférica e AMR, destacando a urgência de uma resposta integrada baseada no conceito One Health. Entenda como o ar que respiramos pode comprometer a eficácia de antibióticos, ameaçar a saúde pública global e exigir novas estratégias de controle ambiental e sanitário.

OBS: devido algumas tabelas, sugerimos a leitura deste artigo em computador, tablet ou celular no formato paisagem, pelo menos durante a leitura das tabelas.

1. Introdução: A Conexão Crítica entre Poluição do Ar e Resistência Antimicrobiana

A Resistência Antimicrobiana (AMR) é amplamente reconhecida como uma das mais prementes ameaças à saúde global, com o potencial de reverter décadas de progresso médico, tornando infecções comuns novamente intratáveis e comprometendo procedimentos médicos essenciais.1 A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras autoridades de saúde pública global classificam a AMR como um problema de saúde pública e socioeconômico urgente, com um aumento significativo nas taxas de resistência observado nos últimos anos.2 A magnitude do desafio é tal que, em 2019, a AMR foi diretamente responsável por 1,27 milhão de mortes, superando fatalidades de condições como HIV/AIDS.4

Embora o uso indevido e excessivo de antibióticos em humanos e animais permaneça um dos principais impulsionadores da AMR, fatores ambientais, e em particular a poluição do ar, estão emergindo como contribuintes críticos e, até então, subestimados.1 A poluição do ar, especialmente a matéria particulada fina (PM2.5), tem sido associada a aproximadamente 7 milhões de mortes prematuras anualmente e a uma série de doenças respiratórias e cardiovasculares.1 No entanto, sua ligação com a AMR representa uma nova e alarmante dimensão de seu impacto na saúde, recontextualizando a poluição do ar não apenas como uma causa de morbidade e mortalidade direta, mas como um catalisador de uma ameaça sistêmica e insidiosa à eficácia dos tratamentos médicos.1 Essa transição na compreensão da poluição do ar, de um risco “tradicional” para um risco “emergente de AMR”, exige uma resposta de saúde pública mais abrangente, que vá além da mitigação de sintomas respiratórios para a preservação ativa da eficácia dos antibióticos. Isso implica que o verdadeiro ônus da poluição do ar é ainda maior do que se estimava, englobando os custos indiretos da AMR.

A complexa interação entre poluição do ar e AMR sublinha a necessidade imperativa de uma abordagem “One Health”, que reconhece a interconectividade intrínseca entre a saúde humana, animal e ambiental.1 Este paradigma é fundamental para desenvolver estratégias de mitigação eficazes, pois as bactérias resistentes e seus genes podem transitar livremente entre esses domínios, com a poluição do ar atuando como uma ponte crucial para essa transferência.1

Este artigo visa analisar criticamente a crescente evidência científica que liga a poluição do ar à resistência antimicrobiana, com base no artigo seminal de Xiu e Hu (2025) e em uma revisão bibliográfica abrangente. O propósito é informar, expressar opinião, provocar reflexão, ensinar, motivar e instruir profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas sobre a urgência e a complexidade deste desafio intersetorial.

A poluição do ar e a resistência antimicrobiana (AMR) representam dois dos maiores desafios de saúde global da nossa era. Embora frequentemente abordados separadamente, um crescente volume de evidências científicas, destacada pelo recente artigo de Xiu e Hu (2025), revela uma conexão alarmante e intrínseca entre esses fenômenos. Este relatório mergulha profundamente nessa relação crítica, explorando como a qualidade do ar que respiramos pode estar acelerando a disseminação de bactérias resistentes e comprometendo a eficácia dos antibióticos. Compreender essa dinâmica é fundamental para o futuro da saúde pública e para o controle de infecções hospitalares, exigindo uma abordagem integrada sob a perspectiva One Health.

2. Análise Aprofundada do Artigo Central: “Air pollution might contribute to antimicrobial resistance: a One Health perspective” (Xiu & Hu, 2025)

O artigo de Xiu e Hu (2025) é uma perspectiva que sintetiza e discute evidências de pesquisas recentes, e não um estudo de pesquisa primário com metodologia própria.1 Sua força reside na compilação do conhecimento existente e na defesa de uma abordagem integrada.

2.1. O Principal Achado e a Importância Intrínseca do Tema

O principal achado do artigo de Xiu e Hu (2025) é a conclusão de que a poluição do ar pode ser um fator significativo que contribui para o desenvolvimento, disseminação e persistência de genes de resistência antimicrobiana (ARGs).1 A importância do tema é intrínseca à sua natureza de desafio crítico e emergente que ameaça a saúde global e a sustentabilidade. A pesquisa aponta que, embora o uso indevido e excessivo de antibióticos seja o principal impulsionador da AMR, fatores ambientais, como a poluição do ar, estão sendo cada vez mais reconhecidos como contribuintes significativos.1 Essa conexão representa desafios substanciais que exigem uma abordagem integrada de “One Health”, abrangendo os sistemas de saúde humana, animal e ambiental.1

2.2. Panorama do Conhecimento Pré-existente sobre a Relação Poluição-AMR

Antes da publicação do artigo de Xiu e Hu (2025) e dos estudos que ele sintetiza, a poluição do ar já era amplamente reconhecida como um problema de saúde global significativo. Suas consequências diretas, como a contribuição para aproximadamente 7 milhões de mortes prematuras anualmente e a exacerbação de doenças respiratórias e cardiovasculares por poluentes como PM2.5, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, eram bem estabelecidas.1 No entanto, a conexão específica entre esses poluentes atmosféricos e a facilitação do surgimento, disseminação e persistência de bactérias resistentes e genes de resistência antimicrobiana (ARGs) estava “emergindo como um fator subestimado, mas significativo”.1 Isso indica que, embora houvesse investigações iniciais, a extensão e os mecanismos dessa ligação não eram totalmente apreciados ou compreendidos em sua totalidade pela comunidade científica e de saúde pública.

2.3. Metodologias dos Estudos Referenciados: Uma Síntese Crítica

Conforme explicitado, o artigo de Xiu e Hu (2025) é uma perspectiva que sintetiza e discute evidências de pesquisas recentes, e não um estudo de pesquisa primário com metodologia própria.1 As metodologias descritas a seguir são as dos estudos que o artigo central cita para embasar seus argumentos:

  • Gao et al. (2023) : Este estudo realizou uma anotação abrangente de 392 conjuntos de dados metagenômicos do ar global para identificar a diversidade e abundância de genes de resistência antimicrobiana (ARGs). A metodologia incluiu análises de Mantel para correlacionar a abundância de bactérias patogênicas com os níveis de risco de ARGs em material particulado (PM).1
  • Zhou et al. (2023) : Este estudo conduziu uma análise global exploratória da relação entre a poluição do ar por PM2.5 e a AMR. A metodologia envolveu a análise de dados de 116 países no período de 2000 a 2018, utilizando análises uni e multivariadas para estimar as correlações e projetar tendências.1
  • Zhu et al. (2021) : Para avaliar a diversidade e abundância de ARGs em amostras de neve fresca, este estudo coletou amostras de diversas localidades, incluindo China, América do Norte e Europa. As análises foram realizadas utilizando qPCR de alto rendimento para detectar ARGs e elementos genéticos móveis (MGEs).1

2.4. Principais Resultados e sua Significância Estatística: Evidências Robustas

Os estudos referenciados por Xiu e Hu (2025) fornecem evidências robustas e estatisticamente significativas da ligação entre poluição do ar e AMR. A seguir, são detalhados os principais resultados:

Tabela 1: Principais Achados dos Estudos Referenciados sobre Poluição do Ar e AMR

Estudo (Autor, Ano) Objetivo Principal Metodologia Chave Principais Resultados (com P-valores) Conclusões Relevantes
Gao et al. (2023) Identificar e quantificar ARGs em dados metagenômicos do ar global. Anotação abrangente de 392 conjuntos de dados metagenômicos do ar; análises de Mantel. Identificou 1863 ARGs (tetraciclinas, macrolídeos, múltiplos antibióticos). Correlação positiva entre bactérias patogênicas e ARGs em PM. ARGs de Burkholderia significativamente correlacionados (P < 0.01). ARGs de Enterobacter, Haemophilus, Leclercia, Pantoea, Staphylococcus, Streptococcus, Yersinia também significativamente correlacionados (P < 0.05). Ar poluído por PM transporta mais ARGs. Poluição do ar impulsiona o resistoma atmosférico, com PM sendo um vetor chave.
Zhou et al. (2023) Explorar a relação global entre PM2.5 e AMR. Análise de dados de 116 países (2000-2018); análises uni e multivariadas. Cada 1% de aumento em PM2.5 correlacionou-se com 0,5%-1,9% de aumento na AMR. Atribuiu 11% das mudanças globais de AMR ao PM2.5 (superando gastos com saúde e saneamento). Estimou 480.000 mortes prematuras e US$ 395 bilhões em perdas em 2018 devido à AMR impulsionada por PM2.5. PM2.5 é um impulsionador significativo da AMR global, com graves impactos na saúde e economia.
Zhu et al. (2021) Avaliar diversidade e abundância de ARGs em amostras de neve fresca. Análise de amostras de neve fresca de diversas localidades; qPCR de alto rendimento. Partículas atmosféricas com ARGs retornam à superfície via precipitação, facilitando disseminação a longa distância. Fortes correlações entre ARGs e elementos genéticos móveis (MGEs). Poluição do ar pode impulsionar a disseminação global de ARGs, exacerbada por MGEs.

Os resultados desses estudos demonstram que o PM2.5 não é apenas um transportador passivo de ARGs, mas um “super-vetor” e um fator de seleção ativo da AMR. A matéria particulada fina atua como um veículo físico para o transporte de microrganismos resistentes e seus genes por vastas distâncias, e, simultaneamente, seus componentes químicos exercem pressão seletiva sobre as populações microbianas, favorecendo a resistência.1 Essa dualidade de ação eleva o PM2.5 de um poluente geral a um acelerador biológico direto da AMR, exigindo intervenções específicas na qualidade do ar que considerem seu impacto microbiológico, e não apenas sua toxicidade química.

2.5. Conclusões dos Autores: Implicações e Perspectivas

As conclusões dos autores de “Air pollution might contribute to antimicrobial resistance: a One Health perspective” enfatizam a urgência e a natureza multifacetada do problema. Eles concluem que a contribuição da poluição do ar para a Resistência Antimicrobiana (AMR) é uma preocupação emergente que exige atenção imediata de pesquisadores, formuladores de políticas e autoridades de saúde pública.1

Os autores reiteram que a intersecção desses desafios globais representa um problema quintessencial de “One Health”, onde a saúde humana, a saúde animal e a sustentabilidade ambiental estão intrinsecamente ligadas.1 Para enfrentar essas duplas ameaças, são necessárias estratégias integradas que alavancam a expertise interdisciplinar e tecnologias inovadoras.1 A preservação da eficácia dos antibióticos e a garantia de um futuro mais saudável para todos dependem do reconhecimento e enfrentamento dessas questões interconectadas.1

2.6. Fatores Limitantes e Possíveis Confundidores na Compreensão do Fenômeno

O artigo de Xiu e Hu (2025) não lista explicitamente “fatores limitantes” ou “possíveis confundidores” em sua própria estrutura.1 Contudo, a natureza da discussão e as recomendações implícitas apontam para desafios inerentes à pesquisa e compreensão dessa complexa relação.

Primeiramente, a multifatorialidade da AMR é um desafio inerente. O artigo reconhece que “o uso indevido e o uso excessivo de antibióticos em humanos e animais continuam sendo os principais impulsionadores” da AMR.1 Isso sugere que isolar o impacto exclusivo da poluição do ar de outros fatores dominantes é um desafio metodológico e interpretativo. A presença de múltiplos impulsionadores pode confundir a atribuição causal e a quantificação precisa do impacto da poluição do ar.

Em segundo lugar, a complexidade dos mecanismos subjacentes à ligação entre poluição do ar e AMR representa um desafio. Embora o artigo detalhe vários mecanismos, como o papel da matéria particulada como vetor físico, a co-seleção de traços de resistência por poluentes e a alteração de ecossistemas microbianos, a interação exata e a magnitude relativa de cada um desses fatores podem ser difíceis de quantificar e desvincular em estudos de campo.1

Por fim, a ênfase contínua na necessidade de “pesquisa interdisciplinar” e “investimento em pesquisa” 1 indica que ainda existem

lacunas de conhecimento significativas na compreensão completa do nexo poluição-AMR. Isso inclui a quantificação precisa de riscos, a identificação de todos os vetores e condições que favorecem a resistência, e a variação da relação em diferentes contextos geográficos e ambientais, onde a diversidade de poluentes, tipos de PM, condições climáticas e ecossistemas microbianos pode introduzir variabilidade nos achados, tornando generalizações desafiadoras.

3. Mecanismos da Interligação: Como a Poluição do Ar Impulsiona a AMR

A poluição do ar é um fenômeno complexo, composto por matéria particulada, gases e uma vasta gama de poluentes orgânicos e inorgânicos. A sua contribuição para a disseminação da AMR não se limita a um único mecanismo, mas a uma sinergia de fatores que amplificam o problema.1

3.1. O Papel da Matéria Particulada (PM2.5, PM10) como Vetor Físico

Poluentes atmosféricos, especialmente a matéria particulada fina (PM2.5) e a matéria particulada inalável (PM10), atuam como uma “matriz física” essencial para que bactérias e genes de resistência antimicrobiana (ARGs) adiram e sejam dispersos por vastas distâncias.1 Essas partículas microscópicas, uma vez carregadas com microrganismos e seus elementos genéticos, podem viajar milhares de quilômetros, alcançando ambientes urbanos densamente povoados, áreas rurais e até mesmo ecossistemas prístinos, longe de suas fontes originais.1 Estudos como o de Li et al. (2018) demonstraram a presença e abundância de diversos subtipos de ARGs em material particulado atmosférico em 19 cidades globais, confirmando o ar urbano como um reservatório e vetor ativo de ARGs e destacando a ameaça da transmissão aérea de ARGs urbanos.10 A capacidade do ar de ultrapassar fronteiras significa que a poluição local em uma região pode contribuir para problemas de AMR em locais distantes, transformando a AMR de um problema clínico ou agrícola localizado em uma ameaça de segurança ambiental verdadeiramente global.

3.2. Análise da Co-seleção de Resistência por Poluentes (Metais Pesados, HAPs)

Além de servirem como vetores físicos, certos poluentes atmosféricos exercem uma “pressão de co-seleção” sobre as populações microbianas.1 Metais pesados, como cádmio, chumbo e mercúrio, e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), frequentemente liberados por processos industriais e queima de biomassa, atuam como estressores ambientais.1 Essa pressão seletiva favorece o desenvolvimento e a proliferação de traços de resistência. Um aspecto crítico é que metais pesados, por exemplo, muitas vezes co-ocorrem com ARGs em elementos genéticos móveis (MGEs), como plasmídeos, que podem ser facilmente transferidos entre bactérias. Essa ligação genética amplifica a resistência, pois a exposição a esses poluentes pode indiretamente selecionar bactérias que são também resistentes a antibióticos, mesmo sem a presença direta de antibióticos.1

3.3. Impacto da Poluição na Alteração dos Ecossistemas Microbianos e Favorecimento de Cepas Resistentes

A exposição crônica a poluentes do ar pode alterar a diversidade e a composição dos ecossistemas microbianos, incluindo aqueles encontrados no trato respiratório humano e animal.1 Essa disbiose, ou desequilíbrio microbiano, pode criar um ambiente que favorece o crescimento e a predominância de cepas bacterianas resistentes. Quando a microbiota natural é comprometida, os indivíduos podem se tornar mais suscetíveis a infecções por patógenos que já possuem resistência a antibióticos, dificultando o tratamento e aumentando a gravidade das doenças.1

3.4. O Papel da Precipitação na Deposição e Integração de ARGs no Ambiente

Os fenômenos de precipitação, como chuva e neve, desempenham um papel crucial no ciclo de disseminação dos ARGs transportados pelo ar. Essas formas de precipitação facilitam a deposição de partículas atmosféricas carregadas de ARGs de volta à superfície da Terra.1 Uma vez depositados, esses ARGs são integrados às comunidades microbianas ambientais em corpos d’água, solo e outras superfícies, estabelecendo e reforçando reservatórios ambientais de resistência.1 Esse processo de deposição contribui para a propagação contínua da resistência através dos domínios da “One Health”, fechando o ciclo de interconexão entre a poluição do ar e a AMR ambiental. A sinergia entre esses múltiplos mecanismos – o transporte físico, a co-seleção química, a alteração ecológica e a deposição ambiental – amplifica o impacto geral da poluição do ar na aceleração da AMR.

4. Revisão Bibliográfica Abrangente: Ampliando a Perspectiva Científica

A compreensão da complexa relação entre poluição do ar e resistência antimicrobiana é enriquecida por uma revisão abrangente da literatura científica. Esta seção apresenta achados relevantes de diversas fontes, incluindo o site do CCIH e as principais bases de dados científicas.

4.1. Artigos Relevantes do Site www.ccih.med.br

O site do CCIH, um importante repositório de informações sobre controle de infecções hospitalares, oferece artigos que, embora nem sempre diretamente focados na poluição do ar como vetor de AMR, contextualizam a discussão e demonstram a preocupação com a resistência antimicrobiana e fatores ambientais de saúde.

  • “Quando o infectologista erra: menos pode ser mais” 11
    • Link: https://www.ccih.med.br/quando-o-infectologista-erra-menos-pode-ser-mais/
    • Resumo e Comentários: Este artigo discute o manejo da terapia empírica para infecções por Gram-negativos, desafiando a crença de que antibióticos de amplo espectro são sempre a melhor abordagem. Propõe uma reflexão sobre a segurança e eficácia de uma abordagem mais ponderada, priorizando a especificidade em detrimento da amplitude inicial. Embora não foque diretamente na poluição do ar como um impulsionador da AMR, o artigo menciona a “poluição do ar causada por essas partículas finas” como um indicador crítico da qualidade do ar e de seus potenciais impactos na saúde e no meio ambiente. Este texto destaca a importância do stewardship de antimicrobianos, um pilar fundamental no combate à AMR, e tangencialmente reconhece a poluição do ar como um fator ambiental de saúde.
  • Capítulo “O Desafio da Infecção Hospitalar: a Tecnologia Invade um Sistema em Desequilíbrio” de Antonio Tadeu Fernandes 12
    • Link:(https://www.ccih.med.br/wp-content/uploads/2023/04/capitulo8-O-Desafio-da-Infeccao-Hospitalar.a-Tecnologia-Invade-um-Sistema-em-Desequilibrio.pdf)
    • Resumo e Comentários: O capítulo aborda a complexidade da saúde no século XX, marcada por avanços tecnológicos e crises globais. O autor discute como a humanidade, apesar de conquistas, enfrenta problemas como a poluição do ar, que “envenena diariamente” a população. O texto detalha a evolução da resistência microbiana desde as primeiras descobertas de antibióticos e a importância das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Embora este documento do CCIH não estabeleça uma ligação direta e mecânica entre poluição do ar e AMR, ele reconhece a poluição do ar como um problema ambiental significativo e a resistência microbiana como um “pesadelo” e um desafio permanente, contextualizando a discussão dentro da missão da CCIH.

4.2. Achados de BIREME, PubMed, BVSALUD, ScienceDirect, American Journal of Infection Control, Journal of Hospital Infection e Infection Control and Hospital Epidemiology

A pesquisa em diversas bases de dados científicas revela uma série de estudos que aprofundam a compreensão da relação entre poluição e AMR, expandindo a perspectiva do artigo central.

Tabela 2: Artigos Relevantes da Revisão Bibliográfica sobre Poluição do Ar e AMR

Autor(es), Ano Título Fonte DOI Breve Resumo das Conclusões
Zhou, Z. et al., 2023 Association between particulate matter (PM)(2.5) air pollution and clinical antibiotic resistance: a global analysis The Lancet. Planetary Health, v. 7, n. 8, p. e649-e659 (https://doi.org/10.1016/S2542-5196(23)00135-3) Forte correlação entre aumento de PM2.5 e AMR (0,5%-1,9% de aumento na AMR para cada 1% de PM2.5). Atribuiu 11% das mudanças globais de AMR ao PM2.5, com impactos substanciais em mortes prematuras e perdas econômicas.
Gao, M. et al., 2023 Atmospheric antibiotic resistome driven by air pollutants Science of The Total Environment, v. 902, p. 165942 https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2023.165942 Identificou 1863 ARGs em dados metagenômicos do ar, correlacionando sua abundância com bactérias patogênicas em PM. Ar poluído por PM transporta mais ARGs.
Zhu, G. et al., 2021 Air pollution could drive global dissemination of antibiotic resistance genes The ISME Journal, v. 15, n. 1, p. 270-281 https://doi.org/10.1038/s41396-020-00780-2 Partículas atmosféricas com ARGs podem ser transportadas a longas distâncias e retornar à superfície via precipitação (neve), facilitando sua disseminação global. Fortes correlações entre ARGs e elementos genéticos móveis (MGEs).
Li, J. et al., 2018 10 Global Survey of Antibiotic Resistance Genes in Air Environmental Science & Technology, v. 52, n. 19, p. 10975–10984 https://doi.org/10.1021/acs.est.8b02204 Levantamento pioneiro de 30 subtipos de ARGs em material particulado atmosférico em 19 cidades. Encontrou ARGs abundantes no ar urbano e um aumento longitudinal de certos ARGs, destacando a ameaça da transmissão aérea e a necessidade de redefinir padrões de qualidade do ar.
Oyelayo at als. The global impact of industrialisation and climate change on antimicrobial resistance: assessing the role of Eco-AMR Zones Environmental Monitoring and Assessment, v. 197, n. 6, p. 625 https://doi.org/10.1007/s10661-025-14086-3 Examina a relação entre industrialização, mudanças climáticas e prevalência de genes de AMR. Atividades industriais contribuem para o aquecimento global, que influencia a distribuição e evolução dos genes de AMR. Propõe “Zonas Eco-AMR” para mitigar impactos.
Almeida, A. C. P., 2022 13 Degradação ambiental: resistência antimicrobiana e pesquisa da origem da poluição Técnico Lisboa Foca na resistência antimicrobiana em amostras de águas residuais e de rio, identificando abundância de ARGs na fração viral e correlacionando-os com marcadores de poluição fecal. Conclui que fagos são veículos de transmissão de ARG e que contaminação humana e animal são as principais fontes em ambientes aquáticos.
Nakatani, Y.; Neira, M., 2023 14 WHO Guidelines on Antibiotic Pollution from Industrial Production World Health Organization Diretrizes da OMS para mitigar a poluição por antibióticos da produção industrial (resíduos líquidos e sólidos), visando reduzir o risco global de AMR, pois resíduos farmacêuticos podem facilitar o surgimento de novas bactérias resistentes.

Esta revisão bibliográfica demonstra que a AMR não é impulsionada por um único fator ambiental, mas por uma complexa rede de fontes de poluição interconectadas. Embora o artigo central de Xiu e Hu se concentre na poluição do ar, outros estudos revelam vias críticas de disseminação da AMR, como a poluição da água por águas residuais 13 e resíduos industriais da fabricação de antibióticos.14 O conceito de “Zonas Eco-AMR” 4 amplia ainda mais essa perspectiva, ligando a industrialização e as mudanças climáticas à AMR. Essa visão abrangente reforça o princípio “One Health”, indicando que uma mitigação eficaz requer uma abordagem holística que aborde vários compartimentos ambientais (ar, água, solo) e práticas industriais, destacando a natureza difusa do problema e a necessidade de gestão ambiental integrada.

É importante notar que, embora estudos como o de Zhou et al. 1 mostrem fortes correlações e atribuam mudanças significativas na AMR ao PM2.5, algumas fontes de divulgação científica 15 ainda alertam que “não existem ainda pesquisas que apresentem uma relação definitiva entre a qualidade do ar e o aumento da resistência a antibióticos.” Essa nuance na relação causa-efeito sublinha a necessidade de pesquisa contínua. Embora a evidência seja robusta e convincente, o campo ainda está em evolução, exigindo estudos mais aprofundados para elucidar completamente os caminhos causais, identificar limiares específicos e desenvolver intervenções direcionadas.

5. A Perspectiva “One Health” em Ação: Implicações para a Saúde Global

A abordagem “One Health” é fundamental para o enfrentamento da AMR, pois reconhece que a saúde de humanos, animais e o meio ambiente estão intrinsecamente ligadas e que os desafios de saúde não podem ser resolvidos isoladamente.1 No contexto da poluição do ar e da AMR, essa interconexão se manifesta de forma particularmente crítica, pois as bactérias resistentes e seus genes podem transitar livremente entre esses domínios, com a poluição do ar atuando como uma ponte crucial para essa transferência.1

A capacidade do ar de transportar partículas e microrganismos através de fronteiras nacionais e continentais significa que a poluição em uma região pode contribuir para problemas de AMR em locais distantes. O conceito de “disseminação global” é explicitamente mencionado em estudos como o de Zhu et al. 1, que demonstra como as partículas atmosféricas carregadas de ARGs podem viajar longas distâncias e serem depositadas via precipitação. Essa característica transforma a AMR de um problema clínico ou agrícola localizado em uma ameaça de segurança ambiental verdadeiramente global. Isso, por sua vez, sublinha a inadequação de intervenções apenas em nível nacional e a necessidade imperativa de cooperação internacional e políticas harmonizadas para o controle da qualidade do ar como um componente crítico da mitigação global da AMR.

As consequências da AMR impulsionada pela poluição reverberam em diferentes domínios da saúde:

  • Saúde Humana: Populações em áreas poluídas enfrentam riscos elevados de exposição a ARGs e bactérias resistentes. Essa exposição pode minar a eficácia dos tratamentos antibióticos, aumentar a morbidade e mortalidade, e sobrecarregar os sistemas de saúde.1 A AMR já é responsável por milhões de mortes anualmente e impõe custos econômicos bilionários aos sistemas de saúde e sociedades.5
  • Saúde Animal: Animais, especialmente em sistemas de criação industrial próximos a zonas poluídas, são expostos a ar carregado de ARGs. Essa exposição facilita a transmissão de resistência através de vias zoonóticas, impactando a segurança alimentar e a saúde animal.1 O uso indiscriminado de antimicrobianos na agropecuária, somado à poluição por resíduos, cria um ciclo vicioso de resistência que afeta diretamente a cadeia alimentar.
  • Saúde Ambiental: A disseminação aérea de ARGs contribui para a formação e reforço de reservatórios ambientais de resistência no solo e na água, criando um ciclo vicioso de propagação que retroalimenta a resistência em todos os domínios.1 A precipitação desempenha um papel chave na deposição desses ARGs no ambiente, integrando-os às comunidades microbianas ambientais.1 Além disso, a poluição por resíduos da fabricação de antibióticos também contribui significativamente para esses reservatórios ambientais, reforçando a visão de que a AMR é um problema que se estende por toda a cadeia de “vida” dos antibióticos, desde sua fabricação até seu descarte e disseminação ambiental.14

6. Resistência Antimicrobiana na Pediatria: Um Olhar Específico e Comparativo

A resistência antimicrobiana (AMR) na pediatria representa um desafio particularmente complexo, dada a vulnerabilidade única das crianças e o uso frequente de antibióticos nessa população. A análise das diretrizes e recomendações existentes para crianças em relação à AMR e poluição do ar revela tanto convergências quanto lacunas importantes.

6.1. Análise das Diretrizes e Recomendações Existentes em pediatria

  • American Academy of Pediatrics (AAP): As diretrizes da AAP focam na vulnerabilidade única das crianças à poluição do ar. Elas destacam que crianças passam mais tempo ao ar livre e respiram mais rapidamente do que adultos, inalando mais poluentes por peso corporal, e que seus corpos ainda estão em desenvolvimento.18 Os impactos diretos na saúde infantil incluem aumento da incidência e prevalência de asma, desfechos adversos ao nascimento, desenvolvimento comportamental e cognitivo, e cânceres pediátricos.18 As recomendações da AAP giram em torno de reduzir a exposição a poluentes do ar (externos e internos), como fumaça de tabaco, fogões a gás e a lenha, e mofo, mas não estabelecem uma ligação direta e explícita com a AMR.18
  • UNICEF: Em seu documento “The Urgent Threat of Drug-Resistant Infections”, a UNICEF destaca que crianças são desproporcionalmente afetadas pela AMR, com uma parcela significativa das mortes atribuíveis à AMR ocorrendo em menores de 5 anos. A UNICEF aborda fatores ambientais como o uso incorreto de antimicrobianos fora do setor humano (em animais e plantas), a liberação de subprodutos farmacêuticos no ambiente e, notavelmente, as mudanças climáticas. O documento liga temperaturas mais quentes diretamente ao aumento das ameaças de resistência a medicamentos e discute como eventos climáticos extremos (secas, inundações) podem exacerbar a AMR indiretamente, ao afetar o saneamento e a segurança alimentar. Suas recomendações incluem melhorar o acesso a Água, Saneamento e Higiene (WASH), vacinação e promover o uso ideal de antimicrobianos.
  • Centers for Disease Control and Prevention (CDC): O CDC reconhece a AMR como um problema que se espalha entre pessoas, animais e o ambiente, adotando uma abordagem “One Health”.8 Menciona que traços de antibióticos e ARGs estão presentes em águas e solos, mas ressalta que os cientistas ainda não compreendem totalmente o risco da resistência no ambiente para a saúde humana. As diretrizes do CDC focam na prevenção de infecções, uso apropriado de antibióticos/antifúngicos e ações para retardar a disseminação, com ênfase em ambientes de saúde.8 No entanto, não há menção explícita à poluição do ar como um vetor de AMR em suas diretrizes pediátricas ou gerais nos materiais fornecidos.
  • Artigo sobre AMR na Pediatria (ResearchGate): O artigo “Resistência antimicrobiana na pediatria: um desafio emergente no uso de antibióticos” 22 foca no uso excessivo e inadequado de antibióticos em crianças como o principal fator para a AMR pediátrica. Este estudo explicitamente afirma que não aborda a poluição do ar como um fator contribuinte para a resistência antimicrobiana em crianças.22

6.2. Comparação com as Conclusões do Artigo Central e da Revisão Bibliográfica

Tabela 3: Comparativo de Diretrizes sobre AMR e Fatores Ambientais: Geral vs. Pediátrica

Organização/Fonte Foco Principal da Diretriz Menção à Poluição do Ar (direta/indireta) Menção à AMR Recomendações Chave Relacionadas a Fatores Ambientais
Xiu & Hu (2025) (Artigo Central) 1 Conexão crítica entre poluição do ar e AMR; perspectiva One Health. Direta e central, como vetor e impulsionador de ARGs. Sim, foco principal. Monitoramento de ARGs no ar, regulamentação de emissões industriais, integração AMR em padrões de qualidade do ar.
Zhou et al. (2023) 3 Análise global da associação entre PM2.5 e AMR clínica. Direta e quantificada como principal contribuição para AMR. Sim, foco principal. Melhoria da qualidade do ar como estratégia para mitigar AMR.
AAP (Pediatria) 18 Impactos da poluição do ar na saúde infantil (respiratórios, desenvolvimento). Direta, como risco à saúde infantil. Não Redução da exposição a poluentes (diesel, fumaça, mofo), ventilação adequada, uso de purificadores de ar.
UNICEF (Pediatria) Ameaça da AMR em crianças; fatores ambientais. Indireta, via mudanças climáticas (temperaturas, eventos extremos) e resíduos farmacêuticos. Sim, foco principal no impacto pediátrico. Melhorar WASH, vacinação, uso ideal de antimicrobianos, descarte responsável de resíduos farmacêuticos.
CDC (Geral) 8 Combate à AMR via One Health; infecção hospitalar. Indireta, via presença de antibióticos/ARGs em água e solo. Sim, foco principal. Prevenção de infecções, uso apropriado de antibióticos/antifúngicos, pesquisa sobre disseminação ambiental.
Artigo Pediatria (ResearchGate) 22 AMR na pediatria; uso de antibióticos. Não aborda explicitamente. Sim, foco principal no uso inadequado de antibióticos. Políticas de controle e uso racional de antibióticos na pediatria.

Convergências:

Todas as fontes concordam que a AMR é uma ameaça urgente e multifacetada. A UNICEF e o CDC endossam a abordagem “One Health”, que é central para o artigo de Xiu e Hu.7 A importância do uso prudente de antibióticos e da prevenção de infecções é um tema transversal em todas as diretrizes e artigos.

Divergências/Lacunas:

A principal divergência e lacuna identificada é a falta de ênfase explícita ou detalhada sobre a poluição do ar como um vetor ou impulsionador direto da AMR em diretrizes pediátricas específicas. Enquanto Xiu e Hu (2025) e os estudos que eles citam (Zhou et al., Gao et al., Zhu et al., Li et al.) fornecem evidências robustas da ligação direta entre poluição do ar e ARGs, as diretrizes pediátricas e artigos sobre AMR em crianças 18 tendem a focar em:

  • Impactos gerais da poluição do ar na saúde infantil (respiratórios, etc.), sem mencionar a AMR.
  • O uso inadequado de antibióticos como a principal causa da AMR pediátrica.
  • Outros fatores ambientais (como mudanças climáticas ou poluição da água/resíduos) que afetam a AMR, mas não especificamente a poluição do ar como vetor de ARGs.

O que acrescentam:

As diretrizes pediátricas acrescentam uma perspectiva crucial sobre a vulnerabilidade específica das crianças e a necessidade de estratégias de prevenção e manejo de infecções adaptadas a essa população. A UNICEF, em particular, expande a discussão sobre fatores ambientais para incluir as mudanças climáticas e a poluição por resíduos farmacêuticos, que são relevantes para a AMR em crianças. A ausência de uma discussão explícita sobre a poluição do ar como vetor de AMR em diretrizes pediátricas atuais aponta para uma lacuna crítica na translação do conhecimento científico para a prática clínica e as políticas de saúde infantil.

7. Conclusões Finais e Recomendações Estratégicas para o Futuro

7.1. Síntese Integrada dos Achados e Conclusões Chave

A análise aprofundada da literatura revela que a poluição do ar, em particular a matéria particulada (PM2.5), é um fator emergente e significativo na aceleração da resistência antimicrobiana (AMR) globalmente.1 Essa conexão é impulsionada por múltiplos mecanismos, incluindo o transporte de genes de resistência (ARGs) em partículas de PM, a co-seleção de resistência por poluentes como metais pesados, e a alteração de microbiomas ambientais e humanos, que favorecem cepas resistentes.1 A AMR impulsionada pela poluição do ar acarreta custos substanciais em termos de morbidade, mortalidade e impacto econômico global.1

A questão é intrinsecamente um problema de “One Health”, exigindo uma abordagem integrada que transcenda as fronteiras tradicionais entre saúde humana, animal e ambiental.1 A capacidade da poluição do ar de transportar ARGs através de longas distâncias eleva a AMR a uma ameaça de segurança ambiental global, exigindo cooperação internacional.

Apesar da crescente evidência que liga a poluição do ar à AMR na população geral, há uma lacuna notável na integração explícita da poluição do ar como um vetor de AMR nas diretrizes pediátricas. Estas tendem a focar em outros aspectos da poluição ou no uso inadequado de antibióticos como os principais impulsionadores da AMR em crianças.18

7.2. Recomendações Abrangentes para Pesquisadores, Formuladores de Políticas e Profissionais de Saúde

Para enfrentar o desafio interligado da poluição do ar e da AMR, são essenciais estratégias integradas e multifacetadas:

  • Desenvolvimento de protocolos padronizados de monitoramento de ARGs no ar: É crucial implementar e padronizar a vigilância de ARGs no ar utilizando ferramentas avançadas como sequenciamento metagenômico e detecção baseada em CRISPR para monitoramento em tempo real e de baixo custo.1 A falta de dados padronizados dificulta a comparação global e a identificação de hotspots de risco, tornando o monitoramento contínuo essencial para rastrear a disseminação e avaliar a eficácia das intervenções.
  • Regulamentação e controle de emissões industriais: É imperativo fortalecer a regulamentação das emissões de indústrias, especialmente farmacêuticas e de metais pesados, que liberam poluentes e resíduos de antibióticos no ambiente.1 A redução na fonte de poluentes e antibióticos é uma estratégia preventiva primária para diminuir a pressão seletiva e a carga de ARGs no ambiente.
  • Integração da AMR em programas de gestão da qualidade do ar e ODS: As considerações sobre a AMR devem ser explicitamente incorporadas nos padrões de qualidade do ar e nos programas de gestão ambiental, alinhando-os com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.1 Elevar a AMR ao status de prioridade nos programas de qualidade do ar garante que as políticas ambientais considerem seus impactos biológicos e de saúde pública, promovendo uma abordagem mais holística.
  • Campanhas educacionais e empoderamento da população: É fundamental desenvolver campanhas de conscientização sobre os riscos da AMR associados à poluição do ar, capacitando as populações em áreas de alto risco com informações sobre medidas preventivas, como filtragem do ar e equipamentos de proteção individual.1 O engajamento público é vital; informar a população sobre os riscos e as medidas de proteção individual e coletiva pode fomentar mudanças comportamentais e apoiar políticas de controle da poluição.
  • Investimento em pesquisa interdisciplinar e tecnologias inovadoras: A priorização do financiamento para pesquisas que investiguem a interseção da poluição do ar, microbiomas ambientais e AMR sob uma perspectiva “One Health” é crucial, promovendo colaborações entre microbiologia, ciência ambiental, epidemiologia e políticas públicas.1 Ainda existem lacunas de conhecimento, e a pesquisa contínua é necessária para desvendar mecanismos complexos, quantificar riscos precisos e desenvolver soluções tecnológicas, como filtros de ar avançados e ferramentas de diagnóstico portáteis para monitoramento em tempo real.
  • Recomendações Específicas para Pediatria: É essencial desenvolver diretrizes pediátricas que abordem explicitamente a poluição do ar como um fator de risco para a AMR em crianças, incluindo estratégias de prevenção e manejo adaptadas à vulnerabilidade infantil. A lacuna identificada nas diretrizes atuais 18 aponta para a urgência de integrar o conhecimento emergente sobre a relação poluição-AMR na saúde pediátrica.

7.3. Campos Prioritários para Pesquisa Futura

A complexidade e a urgência da relação entre poluição do ar e AMR destacam vários campos prioritários para pesquisa futura:

  • Mecanismos Detalhados: Investigar a fundo os mecanismos moleculares e ecológicos pelos quais os poluentes do ar co-selecionam a resistência e influenciam a transferência horizontal de genes em diferentes ambientes.
  • Impacto Pediátrico Específico: Realizar estudos epidemiológicos focados na exposição de crianças à poluição do ar e seu impacto direto na prevalência e gravidade de infecções resistentes.
  • Modelagem de Risco: Desenvolver modelos preditivos mais sofisticados para estimar a carga de AMR atribuível à poluição do ar em diferentes cenários e regiões.
  • Intervenções e Eficácia: Avaliar a eficácia de intervenções de controle da poluição do ar (e.g., redução de emissões, tecnologias de purificação) na mitigação da disseminação de ARGs e na redução da incidência de infecções resistentes.
  • Biomarcadores: Identificar biomarcadores de exposição à poluição do ar que possam ser correlacionados com a presença de ARGs ou com a suscetibilidade à infecção por patógenos resistentes.
  • Dimensão Socioeconômica: Aprofundar a pesquisa sobre as disparidades socioeconômicas na exposição à poluição do ar e suas consequências para a AMR, especialmente em países de baixa e média renda.

8. Fonte e Referências Bibliográficas

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  3. GAO, M.; ZHANG, Q.; LEI, C.; LU, T.; QIAN, H. Atmospheric antibiotic resistome driven by air pollutants. Science of The Total Environment, v. 902, p. 165942, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2023.165942.
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  5. LI, J.; CAO, J.; ZHU, Y. G.; CHEN, Q. L.; SHEN, F. X.; WU, Y.; XU, S. Y.; FAN, H.; DA, G.; HUANG, R. J.; DE JESUS, A. L.; MORAWSKA, L.; CHAN, C. K.; PECCIA, J.; YAO, M. Global Survey of Antibiotic Resistance Genes in Air. Environmental Science & Technology, v. 52, n. 19, p. 10975–10984, 2018. DOI: https://doi.org/10.1021/acs.est.8b02204.
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  7. ALMEIDA, A. C. P. Degradação ambiental: resistência antimicrobiana e pesquisa da origem da poluição. Técnico Lisboa, 2022. Disponível em:(https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/1970719973969377/Resumo%20alargado.pdf
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9. Sinopse e pesquisa adicional:

Antonio Tadeu Fernandes:

https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/

https://www.instagram.com/tadeuccih/

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