Conceito de sepse e princípios para seu manejo clínico.
Nesta semana comemoramos o Dia Mundial da Sepse, doença responsável por pelo menos 11 milhões de mortes em todo o mundo anualmente. Com o objetivo de promover a conscientização sobre esse grave problema de saúde, receberemos o infectologista Felipe Tuon para uma conversa sobre o Manejo e Diagnóstico Molecular da Sepse. A discussão incluirá uma análise detalhada sobre essa complexa condição, métodos diagnósticos e orientações para o uso adequado de antibióticos conforme a etiologia. Além disso, serão exploradas estratégias eficazes para prevenção e melhoria dos desfechos clínicos. Não perca essa chance de aprofundar seu conhecimento sobre uma das condições mais desafiadoras na área da saúde.
Minutagem (principais tópicos):
9:55 O que é sepse e choque séptico?
17:50 Como reconhecer precocemente?
23:56 Quais as maiores conquistas no manejo da sepse nos últimos 20 anos?
26:45 Importância do diagnóstico rápido para diminuir a mortalidade da sepse. Diagnóstico molecular.
30:43 Como funciona o diagnóstico molecular Biochek?
36:58 Como é liberado o laudo?
43:41 Importância do perfil microbiológico na instituição. Recomendações para construir uma planilha de antibiograma acumulativo.
48:33 Recomendações gerais para guiar a escolha do antimicrobiano na sepse e choque séptico.
54:09 Quando iniciar a primeira dose de antibiótico?
1:01:48 Qual o impacto do start de provável sepse na classificação de risco do PS?
1:03:48 Tempo de administração de antibiótico nos pacientes em hemodiálise.
1:07:34 Como fazer a análise do perfil microbiológico no setor de PS?
01:09:34 Paciente com protocolo de sepse aberto necessita ser encaminhado para UTI?
01:11:38 Etiologia
01:14:12 Exemplos: Situações que necessitam remover cateter e prótese.
01:15:31 Bundles de sepse e quais indicadores acompanhar.
01:18:13 Importância da CCIH no gerenciamento do protocolo de sepse.
01:21:33 Desafios e perspectivas no manejo da sepse.
Sepse – Definição e Princípios para o Manejo Clínico
Conceito de sepse e princípios para seu manejo clínico.
A sepse é uma síndrome clínica caracterizada por uma resposta inflamatória sistêmica a uma infecção, levando a disfunção orgânica e, frequentemente, a óbito se não tratada de forma eficaz. Este fenômeno resulta de uma complexa interação entre o agente infeccioso e a resposta imune do hospedeiro, que pode se tornar desregulada e, em muitos casos, prejudicial. Diante da sua alta mortalidade e morbidade, a identificação precoce e o manejo clínico adequado da sepse são imperativos para melhorar os desfechos dos pacientes.
Definição de Sepse
Tradicionalmente, a sepse era definida como uma infecção acompanhada por critérios clínicos de resposta inflamatória sistêmica (SIRS, do inglês Systemic Inflammatory Response Syndrome). No entanto, essa definição evoluiu com o tempo. A partir do consenso Sepsis-3, a sepse passou a ser definida como uma disfunção orgânica potencialmente fatal causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. A disfunção orgânica é identificada por um aumento agudo de dois ou mais pontos na pontuação SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), o que reflete a gravidade do comprometimento funcional dos órgãos.
Princípios para o Manejo Clínico da Sepse
O manejo clínico da sepse é um desafio que requer uma abordagem multifacetada, baseada em princípios fundamentais que buscam reduzir a mortalidade e a morbidade associadas. Entre os princípios-chave, destacam-se a identificação precoce, a administração imediata de antimicrobianos de amplo espectro, a ressuscitação hemodinâmica agressiva e a monitorização contínua.
Identificação Precoce e Rápida Instituição do Tratamento: A identificação precoce é crucial para a sobrevivência do paciente. Estudos demonstram que atrasos na administração de antibióticos aumentam significativamente a mortalidade. O reconhecimento rápido, utilizando ferramentas como o qSOFA (Quick SOFA), e a implementação imediata de intervenções, são essenciais para interromper a progressão da sepse para choque séptico.
Administração de Antimicrobianos: A administração imediata de antibióticos de amplo espectro, idealmente nas primeiras horas após o diagnóstico, é uma das intervenções mais críticas. O espectro deve ser amplo o suficiente para cobrir os patógenos mais prováveis até que se obtenha o resultado da cultura e se ajuste o tratamento com base no perfil de suscetibilidade.
Ressuscitação Hemodinâmica: O manejo da ressuscitação hemodinâmica envolve a administração de fluidos intravenosos, normalmente cristaloides, e o uso de vasopressores para manter a pressão arterial média (PAM) em níveis adequados, geralmente acima de 65 mmHg. O objetivo é restaurar a perfusão tecidual adequada, prevenindo a disfunção orgânica progressiva.
Monitorização e Suporte de Órgãos: Monitorização contínua e intensiva do paciente é necessária para avaliar a resposta ao tratamento e ajustar as intervenções. Medidas de suporte de órgãos, como ventilação mecânica para insuficiência respiratória e terapia renal substitutiva para insuficiência renal, podem ser necessárias para manter a homeostase e promover a recuperação.
Controle de Fonte da Infecção: Além do tratamento antimicrobiano, é fundamental o controle da fonte da infecção, como drenagem de abscessos, remoção de dispositivos infectados, ou desbridamento cirúrgico. O controle adequado da fonte está associado a melhores desfechos clínicos e é uma parte integrante do manejo da sepse.
Argumento em Favor de um Manejo Integrado e Individualizado
Embora os princípios mencionados sejam amplamente reconhecidos, há um argumento crescente em favor de uma abordagem integrada e individualizada para o manejo da sepse. O manejo deve ser adaptado às características clínicas e fisiológicas de cada paciente, levando em consideração fatores como idade, comorbidades, perfil microbiológico local e resposta ao tratamento inicial. Protocolos rígidos e padronizados, embora úteis, podem ser insuficientes em capturar a complexidade inerente de cada caso de sepse, e o julgamento clínico deve sempre orientar as decisões terapêuticas.
Ademais, a crescente preocupação com a resistência antimicrobiana exige um uso racional de antibióticos, equilibrando a necessidade de cobertura inicial adequada com a descalonamento baseado em dados de cultura e sensibilidade. Isso requer uma estreita colaboração entre intensivistas, infectologistas e microbiologistas, ressaltando a importância de um enfoque multidisciplinar.
Saiba mais:
Guia Prático de Terapia Antimicrobiana na Sepse: https://www.ccih.med.br/guia-pratico-de-terapia-antimicrobiana-na-sepse/
UpDate-se – SEPSE: conhecimento, agilidade e cooperação – chaves para a sobrevivência: https://www.ccih.med.br/blog-da-farmacia/update-se-sepse-conhecimento-agilidade-e-cooperacao-chaves-para-a-sobrevivencia/
Novos critérios de Sepse Pediátrica – 2024: https://www.ccih.med.br/blog-da-farmacia/novos-criterios-de-sepse-pediatrica-2024/
Como aplicar Stewardship de antimicrobianos no contexto de sepse: https://www.ccih.med.br/como-aplicar-stewardship-de-antimicrobianos-no-contexto-de-sepse/
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
Stewardship de antibióticos e resistência antimicrobiana: https://www.ccih.med.br/stewardship-de-antimicrobianos-gerenciando-o-uso-dos-antimicrobianos-para-salvar-vidas/
E-book Resistência microbiana: https://cursos.ccih.med.br/ebook-resistencia-bacteriana
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/
Elaborado por:
Antonio Tadeu Fernandes:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
Beatriz Grion
https://www.linkedin.com/in/beatriz-alessandra-rudi-grion-57213315b/