A limpeza inadequada de equipamentos compartilhados pode contribuir para a transmissão de microrganismos patogênicos, elevando o risco de infecções em ambientes hospitalares. No entanto, pouco se sabe sobre o tempo necessário para realizar essa tarefa de forma eficaz. Um estudo recente, publicado no Journal of Hospital Infection, buscou preencher essa lacuna, medindo o tempo necessário para limpar 12 tipos de equipamentos médicos comumente usados em hospitais.
FAQ: O Tempo de Contato na Limpeza e Desinfecção de Equipamentos Médicos
Esta seção de Perguntas Frequentes (FAQ) foi desenvolvida para orientar gestores hospitalares, membros da CCIH, médicos, farmacêuticos e enfermeiros sobre um dos aspectos mais críticos e frequentemente negligenciados no controle de infecções: o tempo de contato dos desinfetantes.
Seção 1: Conceitos Fundamentais sobre Tempo e Eficácia
1. Qual é a resposta para a pergunta “Quanto tempo leva para limpar um equipamento de forma eficaz?”
A resposta mais correta é: depende do produto utilizado. Não existe um tempo único ou mágico. A eficácia está diretamente ligada ao cumprimento do tempo de contato especificado nas instruções de uso (IFU) do fabricante do desinfetante. O processo envolve a limpeza prévia (remoção de sujidade) seguida pela desinfecção, respeitando esse tempo.
- Referências:
2. O que é “tempo de contato” (ou “tempo de umectação”) e por que é tão crucial?
Tempo de contato é o período que uma superfície ou equipamento deve permanecer visivelmente molhado com o desinfetante para que a ação microbicida (eliminação de bactérias, vírus, etc.) ocorra conforme a eficácia declarada no rótulo. Se a superfície secar antes desse tempo, a desinfecção é interrompida e se torna ineficaz.
- Referência:
3. Qual a diferença entre “limpeza” e “desinfecção” e por que a limpeza deve sempre vir primeiro?
- Limpeza: É a remoção mecânica da sujidade (matéria orgânica, poeira). Ela é fundamental porque a matéria orgânica pode inativar o desinfetante e servir de barreira, protegendo os microrganismos.
- Desinfecção: É o processo que elimina ou destrói microrganismos, mas não necessariamente seus esporos.
A limpeza deve sempre preceder a desinfecção, pois não se pode desinfetar uma superfície suja.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – Limpeza e Desinfecção: Qual a Diferença? (Link ilustrativo para o conceito)
4. O que acontece se o tempo de contato recomendado não for respeitado?
Ocorre uma falha na desinfecção. Os microrganismos não são eliminados, permanecendo viáveis na superfície ou no equipamento. Isso cria um reservatório para patógenos e aumenta drasticamente o risco de contaminação cruzada entre pacientes e profissionais, contribuindo para a ocorrência de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
5. O tempo de contato é o mesmo para todos os desinfetantes e microrganismos?
Não. O tempo de contato varia significativamente dependendo:
- Do princípio ativo do desinfetante (ex: quaternários de amônio, peróxido de hidrogênio, álcool).
- Da concentração do produto.
- Do microrganismo-alvo (ex: o tempo para eliminar uma bactéria pode ser menor do que para eliminar um micovírus ou o bacilo da tuberculose).
Sempre consulte o rótulo para saber o tempo específico para a finalidade desejada.
- Referência:
Seção 2: Para a CCIH e Gestores Hospitalares – Estratégia e Padronização
6. Qual o papel da CCIH na definição e validação dos tempos de limpeza e desinfecção?
A CCIH é responsável por selecionar e padronizar os produtos saneantes, e deve garantir que os tempos de contato sejam realistas para a prática hospitalar. Além disso, deve desenvolver protocolos claros, treinar as equipes e validar os processos para assegurar que os tempos definidos sejam de fato cumpridos e eficazes.
7. Ao padronizar um desinfetante, o tempo de contato deve ser um critério de seleção?
Sim, absolutamente. Para áreas de alta rotatividade, como um consultório, um pronto-socorro ou salas de exames, um produto com tempo de contato de 10 minutos pode ser inviável na prática. Nesses casos, a CCIH deve priorizar a escolha de produtos eficazes com tempos de contato mais curtos (ex: 1 a 3 minutos) para aumentar a chance de adesão correta ao protocolo.
- Referência:
8. Como a alta rotatividade de pacientes impacta a viabilidade de se cumprir o tempo de contato?
A pressão por “girar o leito” rapidamente é um dos maiores desafios. Se o tempo de contato do desinfetante padrão for de 10 minutos, mas o leito precisar ser liberado em 5, o protocolo falhará. Isso exige que a gestão, junto à CCIH, ou adeque o produto à realidade do setor ou reorganize o fluxo de trabalho para permitir que o tempo seja cumprido.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – Desafios da Limpeza Terminal em Alta Hospitalar (Link ilustrativo para o conceito)
9. Quais as implicações regulatórias (Anvisa) de não seguir as instruções do fabricante?
Seguir as instruções do fabricante, incluindo o tempo de contato, é uma exigência regulatória para garantir a eficácia do produto, conforme seu registro na Anvisa. Em uma auditoria sanitária, a não conformidade pode ser apontada como uma falha no processo de limpeza e desinfecção, passível de notificação.
- Referência:
10. Como a gestão pode justificar a escolha de produtos com tempo de contato menor, que podem ser mais caros?
A justificativa se baseia na análise de custo-benefício e na gestão de risco. Um produto com tempo de contato menor e mais realista, embora possa ter um custo de aquisição maior, pode gerar economia ao:
- Reduzir o risco de IRAS e os custos associados ao seu tratamento.
- Otimizar o tempo da equipe de limpeza e enfermagem.
- Aumentar a segurança e a eficiência do giro de leitos.
- Referência:
11. Que estratégias podem ser usadas para auditar a conformidade com o tempo de contato?
A auditoria pode ser feita através de:
- Observação direta: Um membro da CCIH ou um líder de equipe observa o processo de limpeza em tempo real.
- Checklists: Com itens específicos sobre o tempo de contato.
- Tecnologia: Uso de marcadores fluorescentes para verificar se a superfície foi coberta adequadamente pelo produto.
- Feedback: Conversar com a equipe para entender as barreiras que impedem o cumprimento do tempo.
- Referência:
Seção 3: Para Enfermagem e Equipe de Limpeza – Execução na Prática
12. Onde o profissional encontra a informação sobre o tempo de contato correto?
A informação deve estar sempre no rótulo do produto que está sendo utilizado. Além disso, os protocolos institucionais (POPs) devem conter essa informação de forma clara e visível. Na dúvida, o profissional deve consultar a CCIH ou seu supervisor.
- Referência:
13. Se o desinfetante secar na superfície antes de atingir o tempo de contato, o que devo fazer?
A superfície deve ser reaplicada com o produto para garantir que ela permaneça visivelmente molhada durante todo o período recomendado. A secagem precoce interrompe a ação do desinfetante.
- Referência:
14. A técnica de aplicação (ex: “fricção” vs. “borrifar”) interfere no tempo de contato?
Sim. A aplicação por fricção com um pano ou wipe umedecido, além de ajudar na remoção de biofilmes, garante uma cobertura mais uniforme da superfície, o que ajuda a manter a umectação pelo tempo necessário. Apenas borrifar pode criar uma cobertura irregular e levar à secagem rápida.
15. Como a Classificação de Spaulding se relaciona com o tempo e o nível de processamento?
A Classificação de Spaulding define o nível de processamento necessário com base no risco de infecção:
- Itens não críticos (ex: estetoscópio, monitores): Entram em contato com pele íntegra. Exigem desinfecção de baixo ou médio nível.
- Itens semicríticos (ex: endoscópios): Entram em contato com mucosas. Exigem desinfecção de alto nível.
- Itens críticos (ex: instrumental cirúrgico): Penetram tecidos estéreis. Exigem esterilização.
O tempo de contato específico para cada nível de desinfecção será determinado pelo produto escolhido.
- Referência:
16. Qual a importância do treinamento prático sobre tempo de contato?
É fundamental. O profissional precisa entender o “porquê” (o risco da falha) e treinar o “como” (a técnica correta). Treinamentos práticos, com simulação e feedback imediato, são muito mais eficazes do que apenas aulas teóricas para garantir que o conceito seja realmente aplicado no dia a dia.
Seção 4: Para Médicos e Farmacêuticos – Papéis de Suporte
17. Como o médico pode apoiar a equipe para garantir o tempo de limpeza adequado?
O médico pode apoiar respeitando e valorizando o tempo necessário para a limpeza e desinfecção de um leito ou consultório entre pacientes. Ao entender que a pressa pode comprometer a segurança, ele se torna um aliado da CCIH e da equipe de enfermagem, ajudando a garantir que os protocolos sejam seguidos sem interrupções indevidas.
18. Qual o papel do farmacêutico na gestão do tempo de contato dos saneantes?
O farmacêutico, na comissão de padronização, tem o papel técnico de avaliar os produtos saneantes disponíveis no mercado, analisando não apenas o custo e o espectro de ação, mas também a praticidade (tempo de contato, toxicidade, compatibilidade). Ele ajuda a garantir que a informação técnica correta chegue ao usuário final.
- Referência:
19. Resíduos de desinfetantes podem ser prejudiciais aos pacientes ou equipamentos?
Sim. Se o produto exigir enxágue após o tempo de contato e isso não for feito, os resíduos químicos podem causar irritação na pele de pacientes e profissionais. Em equipamentos, especialmente os mais sensíveis, esses resíduos podem causar corrosão e danos a longo prazo.
- Referência:
- ABNT – NBR 14725 – Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente (Norma da Ficha de Segurança de Produtos Químicos – FISPQ)
20. Onde os profissionais podem encontrar mais informações sobre as melhores práticas de limpeza e desinfecção?
As principais fontes de informação confiável incluem:
- As Notas Técnicas e Manuais da Anvisa.
- As diretrizes de órgãos internacionais como o CDC.
- Portais de educação continuada, como o site da CCIH.med.br e o canal CCIH Brasil no YouTube.
- As instruções de uso (IFU) fornecidas pelos fabricantes dos produtos.
Como o estudo foi realizado?
O estudo foi conduzido em um laboratório de simulação de enfermagem na Austrália, com a participação de seis estudantes de enfermagem. Eles foram treinados em técnicas de limpeza e desinfecção e utilizaram toalhetes desinfetantes para higienizar 12 tipos de equipamentos médicos amplamente utilizados em hospitais, incluindo:
- Scanner de bexiga
- Kit de teste de glicose no sangue
- Monitor de pressão arterial
- Comadre portátil
- Computador sobre rodas
- Bomba de infusão
- Suporte de infusão intravenosa
- Carrinho de medicamentos
- Carrinho de metal
- Prancha de transferência de paciente (Patslide)
- Carrinho de emergência
- Cadeira de rodas
Para avaliar a eficácia da limpeza, foram aplicados pontos fluorescentes ultravioleta nos equipamentos, e a limpeza era considerada eficiente quando pelo menos 80% dos pontos eram removidos.
Quanto tempo leva para limpar cada equipamento?
Os resultados mostraram que todos os equipamentos foram higienizados em menos de quatro minutos. O kit de teste de glicose foi o mais rápido de limpar (cerca de 50 segundos), enquanto o carrinho de medicamentos exigiu quase quatro minutos. O scanner de bexiga, por outro lado, foi o mais difícil de higienizar, necessitando de 12 tentativas para atingir o critério de limpeza eficaz.
Por que isso importa?
A limpeza eficaz de equipamentos médicos compartilhados é essencial para reduzir a transmissão de patógenos para os pacientes em ambientes hospitalares, mas muitas vezes é negligenciada devido à falta de tempo e recursos. O estudo revelou que limpar 120 equipamentos (12 tipos diferentes, cada um limpo 10 vezes) levou 4 horas, 41 minutos e 58 segundos. Isso destaca a necessidade de planejamento adequado de pessoal e treinamento para garantir que a limpeza seja realizada de forma consistente e eficaz.
Recomendações do estudo
- Treinamento regular: A equipe clínica precisa de treinamento contínuo para garantir que a limpeza seja feita corretamente.
- Equipes dedicadas: Hospitais podem considerar a criação de equipes especializadas em limpeza de equipamentos, especialmente em alas com alta demanda. Essa alternativa poderia otimizar o processo e garantir maior segurança para pacientes e profissionais de saúde.
- Auditoria e feedback: Monitorar a eficácia da limpeza e fornecer feedback pode ajudar a manter altos padrões de higiene.
Conclusão
A limpeza de equipamentos médicos compartilhados é uma tarefa que exige tempo e atenção. Este estudo fornece dados valiosos para ajudar hospitais a planejar melhor seus recursos e garantir que a limpeza seja realizada de forma eficaz, contribuindo para a segurança dos pacientes e a redução de infecções associadas à assistência à saúde (IRAS).
Para mais detalhes, confira o estudo completo no Journal of Hospital Infection:
SMITH, J.; BROWN, L.; TAYLOR, M. Tempo e movimento na limpeza: um estudo observacional sobre o tempo necessário para limpar eficazmente equipamentos médicos compartilhados em hospitais. Journal of Hospital Infection, [S. l.], v. 157, p. 1–5, 2024. Disponível em: https://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(24)00268-8/fulltext.
Links associados:
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/
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