Este artigo aborda um estudo observacional retrospectivo que investiga os fatores que afetam as taxas de contaminação no reprocessamento de duodenoscópios após procedimentos de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).
Qual o contexto do estudo?
Duodenoscópios são instrumentos médicos usados durante procedimentos de CPRE, que envolvem exposição significativa a bactérias gastrointestinais. Dado seu papel no diagnóstico e tratamento de condições biliares e pancreáticas, a limpeza e desinfecção eficazes dos duodenoscópios são cruciais para prevenir infecções cruzadas entre os pacientes. Apesar da adesão aos protocolos de limpeza existentes, taxas de contaminação de aproximadamente 15% a 20% foram relatadas em estudo recentes, indicando que as práticas atuais podem exigir mais refinamento e padronização. Esse estudo é fruto de preocupações contínuas com a segurança do paciente, destacando a necessidade de protocolos de reprocessamento aprimorados para mitigar os riscos associados a duodenoscópios contaminados.
Qual a metodologia adotada?
O estudo analisou culturas coletadas de oito duodenoscópios Pentax ED34-i10T2 equipados com tampas descartáveis entre fevereiro de 2022 e dezembro de 2023. A pesquisa incluiu uma análise abrangente de amostras de cultura, com foco na detecção de microrganismos de origem intestinal ou oral (MGO). Dados sobre o uso do duodenoscópio, tempos de reprocessamento e pessoal envolvido em procedimentos de limpeza foram coletados de registros médicos eletrônicos. Os fatores de risco foram identificados a partir de diretrizes de reprocessamento existentes e literatura relevante, com foco particular em atrasos no início da limpeza manual, duração da limpeza, tempos de secagem, frequência de realização de ciclos de reprocessamento do pessoal e duração de armazenamento superior a sete dias.
Um modelo logístico de efeitos mistos foi implementado para avaliar o impacto desses fatores de risco nas taxas de contaminação do duodenoscópio. Esse método permitiu que os pesquisadores avaliassem múltiplos fatores simultaneamente e determinassem suas respectivas contribuições para os resultados da contaminação.
Quais os principais resultados?
A análise avaliou 307 culturas de duodenoscópios, revelando que 58 delas (18,9%) estavam contaminadas com MGO. Durante o período do estudo, os duodenoscópios passaram por 1.296 ciclos de reprocessamento. Uma descoberta crucial foi que tempos de limpeza manual inferiores 5 minutos aumentaram significativamente as chances de contaminação, com uma razão de chances ajustada (aOR) de 1,61 e um intervalo de confiança (IC) variando de 1,10 a 2,34, indicando uma associação estatisticamente significativa (P = 0,01).
Além disso, os dados também revelaram que o aumento do uso dos equipamentos foi inversamente associado às chances de contaminação, com uma aOR de 0,80 e um IC de 0,64 a 0,995 (P = 0,045). Sugerindo que a frequência do uso do duodenoscópio pode desempenhar um papel na redução da contaminação, potencialmente devido a práticas de manuseio e reprocessamento mais consistentes. No entanto, outros fatores de risco examinados não demonstraram um impacto significativo nas taxas de contaminação.
Quais as principais considerações e conclusões dos autores?
As descobertas deste estudo destacam que a duração da limpeza manual serve como um indicador crítico de desempenho no reprocessamento de duodenoscópios. Especificamente, a associação entre durações mais curtas de limpeza manual (≤5 minutos) e maior risco de contaminação ressalta a necessidade de práticas de limpeza diligentes e completas. Muitos profissionais de saúde enfrentam pressões de tempo e desafios para entender instruções detalhadas de reprocessamento, potencialmente levando a procedimentos de limpeza apressados ou incompletos.
Além disso, os dados do estudo sugerem que indivíduos com experiência infrequente em reprocessamento podem inadvertidamente contribuir para maiores taxas de contaminação devido a atrasos no início dos processos de limpeza e uma tendência a apressar a limpeza manual. Dada a carga cognitiva imposta pelos protocolos de reprocessamento existentes, o treinamento adequado e a prática regular para o pessoal de reprocessamento são essenciais para garantir que os procedimentos de limpeza sejam realizados de forma correta e eficiente.
Sendo assim, os autores defendem o estabelecimento de padrões mínimos para duração da limpeza e frequência de reprocessamento para aumentar a eficácia das práticas de limpeza. Eles também enfatizam a necessidade de mecanismos de monitoramento aprimorados, incluindo tecnologias digitais que podem rastrear os tempos de reprocessamento e alertar o pessoal sobre possíveis deficiências nos protocolos de limpeza.
Em conclusão, o estudo indica a necessidade de uma reavaliação dos protocolos atuais de reprocessamento de duodenoscópios, defendendo maior conscientização sobre práticas ideais de limpeza manual. As evidências coletadas indicam que melhorar o treinamento e a proficiência do pessoal de reprocessamento, juntamente com melhores tecnologias de monitoramento, pode reduzir significativamente as taxas de contaminação e melhorar a segurança do paciente. Pesquisas futuras devem explorar os benefícios potenciais de tais intervenções, incluindo o uso de sistemas automatizados que garantam a conformidade com os protocolos de limpeza.
Fonte:
van der Ploeg, K et al. “Impact of duodenoscope reprocessing factors on duodenoscope contamination: a retrospective observational study.” The Journal of hospital infection vol. 154 (2024): 88-94. https://doi.org/10.1016/j.jhin.2024.09.018
Sinopse por:
Maria Julia Ricci
E-mail: mariaricci.j@gmail.com
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