Nota da ANISA define obrigatoriedade e dá normas para vigilência ds endoftalmites pós cirurgia de catarata
FAQ: Vigilância de Endoftalmites Pós-Procedimentos Oftalmológicos (NT 05/2025 Anvisa)
Esta seção de Perguntas Frequentes (FAQ) foi desenvolvida para orientar gestores hospitalares, membros da CCIH, médicos (oftalmologistas), farmacêuticos e enfermeiros sobre as novas diretrizes da Anvisa para a vigilância, prevenção e controle de endoftalmites relacionadas a procedimentos oftalmológicos.
Conceitos e Definições Fundamentais
1. O que é endoftalmite e por que ela é uma preocupação em serviços de saúde?
A endoftalmite é uma inflamação grave das estruturas internas do olho (intraoculares), geralmente causada por uma infecção bacteriana ou fúngica. É uma complicação rara, porém devastadora, de procedimentos oftalmológicos invasivos, podendo levar à perda permanente da visão.
- Referências:
2. Qual o objetivo principal da Nota Técnica (NT) nº 05/2025 da Anvisa?
O objetivo é padronizar e fortalecer a vigilância epidemiológica das endoftalmites pós-procedimentos oftalmológicos invasivos no Brasil. A NT estabelece critérios claros para definição de caso, detecção de surtos e orienta sobre as medidas de prevenção e controle, visando a segurança do paciente.
- Referência:
- Anvisa – Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 05/2025 (Link para a seção de Notas Técnicas da Anvisa)
3. Quais procedimentos oftalmológicos estão mais associados ao risco de endoftalmite?
Os procedimentos mais associados são as cirurgias de catarata (facoemulsificação), devido ao alto volume realizado, e as injeções intravítreas, utilizadas para tratar doenças da retina como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
4. A endoftalmite pós-procedimento é considerada uma Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS)?
Sim. Toda endoftalmite que ocorre após um procedimento invasivo (cirurgia, injeção) é considerada uma IRAS e, como tal, deve ser ativamente monitorada pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do serviço de saúde.
Para a CCIH: Vigilância, Investigação e Notificação
5. Como a nova NT define um “caso suspeito” e um “caso confirmado” de endoftalmite?
- Caso Suspeito: Paciente com inflamação intraocular (uveíte) de início agudo e dor ocular, associado a um procedimento oftalmológico invasivo realizado nos últimos 42 dias (6 semanas).
- Caso Confirmado: Um caso suspeito que apresenta cultura positiva de amostra intraocular (humor aquoso ou vítreo) OU um caso suspeito com forte evidência clínica, mesmo com cultura negativa.
- Referência:
6. O que a Anvisa define como um “surto” de endoftalmite e qual a conduta imediata?
Um surto é definido pela ocorrência de 2 ou mais casos confirmados de endoftalmite com vínculo epidemiológico (ex: operados no mesmo dia, pelo mesmo cirurgião, ou que receberam o mesmo lote de medicamento). A conduta imediata é a notificação à vigilância sanitária e o início da investigação do surto.
7. Quais são os principais agentes etiológicos causadores de endoftalmites pós-procedimento?
Os agentes mais comuns são bactérias da microbiota do próprio paciente, como Staphylococcus coagulase-negativo (principalmente S. epidermidis), Staphylococcus aureus, Streptococcus spp. e bactérias Gram-negativas como Pseudomonas aeruginosa.
8. Como a CCIH deve proceder na investigação de um surto de endoftalmite?
A CCIH deve formar um comitê de crise, realizar a busca ativa de outros possíveis casos, revisar todos os processos assistenciais envolvidos (higiene das mãos, técnica cirúrgica, processamento de materiais, preparo e administração de medicamentos) e coletar amostras clínicas e ambientais para análise microbiológica.
9. Qual a importância da coleta de amostras microbiológicas durante a investigação de um surto?
É fundamental. A cultura de amostras intraoculares (humor aquoso/vítreo) dos pacientes afetados é crucial para identificar o agente causador. Além disso, a cultura de insumos (medicamentos, soluções) e do ambiente pode ajudar a identificar a fonte da contaminação.
10. Como e quando a notificação de surtos de endoftalmite deve ser feita no Notivisa?
A notificação de surtos de IRAS, incluindo endoftalmites, é obrigatória e deve ser realizada no sistema Notivisa em até 72 horas após a detecção do surto. A comunicação imediata à vigilância sanitária local por telefone também é recomendada.
Para Médicos, Enfermeiros e Farmacêuticos
11. Quais são os principais sinais e sintomas da endoftalmite aguda pós-operatória?
Os principais são: dor ocular intensa, baixa acuidade visual súbita e progressiva, hiperemia conjuntival (olho vermelho), edema de pálpebra e presença de hipópio (nível de pus na câmara anterior do olho).
- Referência:
12. Quais são as principais medidas de prevenção de endoftalmite no bloco cirúrgico?
Incluem a antissepsia da pele periorbital e da superfície ocular com iodopovidona, técnica cirúrgica asséptica rigorosa, uso de campos cirúrgicos adequados, e a correta manutenção e esterilização dos instrumentais cirúrgicos.
13. Qual o papel da equipe de enfermagem na orientação do paciente no pós-operatório?
A enfermagem é crucial na orientação sobre os cuidados com o olho operado, a correta instilação de colírios, a importância de não coçar ou apertar o olho e, principalmente, em instruir sobre os sinais de alerta (dor, vermelhidão, piora da visão) que indicam a necessidade de procurar o serviço de saúde imediatamente.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – O Papel da Enfermagem no Bloco Cirúrgico e Segurança do Paciente (Link ilustrativo para o conceito)
14. Quais as orientações da NT para a farmácia hospitalar quanto ao preparo de injeções intravítreas?
A manipulação e o fracionamento de medicamentos para uso intravítreo devem seguir as Boas Práticas de Manipulação em área limpa classificada (sala limpa ou cabine de segurança biológica), com técnica asséptica rigorosa para garantir a esterilidade do produto final, conforme a RDC nº 67/2007 da Anvisa.
- Referência:
15. O fracionamento de colírios para uso em múltiplos pacientes é permitido?
Não. A NT reforça que frascos de colírios e pomadas oftálmicas são de uso individual e exclusivo para cada paciente. O compartilhamento ou fracionamento desses produtos é proibido, pois representa um alto risco de contaminação e transmissão de infecções.
Para Gestores Hospitalares e Lideranças
16. Quais as responsabilidades da administração do hospital na prevenção e vigilância das endoftalmites?
A gestão deve garantir a infraestrutura adequada para os procedimentos, prover os insumos necessários (EPIs, antissépticos, instrumentais), apoiar a CCIH com recursos para a vigilância e investigação, e promover uma forte cultura de segurança que envolva todas as equipes.
17. A ocorrência de um surto de endoftalmite pode acarretar sanções para a instituição?
Sim. A ocorrência de um surto, especialmente se associado a falhas de processo comprovadas, pode levar a sanções administrativas pela vigilância sanitária, incluindo multas e até a interdição do centro cirúrgico ou do serviço, além de possíveis implicações cíveis e éticas.
- Referência:
18. Como a gestão pode apoiar a implementação desta Nota Técnica?
Apoiando financeiramente a adequação de processos (ex: melhorias na farmácia para manipulação de estéreis), promovendo a educação continuada das equipes sobre as novas diretrizes, e estabelecendo a vigilância de endoftalmites como um indicador de qualidade institucional a ser monitorado pela alta liderança.
19. A notificação de casos isolados de endoftalmite também é importante?
Sim. Embora a notificação de surtos seja compulsória, a notificação de casos isolados no Notivisa, mesmo que não seja obrigatória, é fortemente encorajada pela Anvisa. Esses dados são valiosos para o monitoramento nacional, podendo revelar problemas com produtos ou técnicas específicas.
20. A quem se destina esta Nota Técnica da Anvisa?
Destina-se a todos os serviços de saúde que realizam procedimentos oftalmológicos invasivos (hospitais, clínicas), às Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), aos profissionais de saúde envolvidos e ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) como um todo.
- Referência:
- Anvisa – Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 05/2025 (Link para a seção de Notas Técnicas da Anvisa)
Objetivos da Nota Técnica
A Nota Técnica tem como principal objetivo padronizar e tornar obrigatória a notificação nacional das endoftalmites associadas a procedimentos oftalmológicos invasivos. A intenção é:
- Melhorar a vigilância epidemiológica dessas infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS).
- Coletar dados sistematicamente para calcular taxas de incidência e monitorar tendências.
- Identificar precocemente surtos e fatores de risco associados às endoftalmites.
- Orientar ações de prevenção e controle nos serviços de saúde.
- Subsidiar a tomada de decisão e priorizar medidas de segurança do paciente em nível nacional.
A Nota Técnica se aplica a todos os serviços oftalmológicos, públicos ou privados, que realizam cirurgias de catarata (facectomias) e injeções intravítreas de medicamentos.
Principais Recomendações
- Vigilância e Notificação Obrigatória
- Todos os serviços oftalmológicos devem monitorar os casos de endoftalmite e notificá-los mensalmente até o dia 15 do mês subsequente.
- O monitoramento deve ocorrer até 90 dias após facectomias e 30 dias após injeções intravítreas.
- Casos identificados após a notificação inicial devem ser atualizados no formulário eletrônico.
Critérios de Inclusão e Exclusão
-
- Inclusão: Pacientes submetidos a facectomia ou injeção intravítrea (exceto aplicação de antimicrobianos para tratar endoftalmite).
- Exclusão: Pacientes que já apresentavam infecção ocular ou realizaram reoperações no mesmo olho.
Indicadores de Monitoramento
-
- Taxa de endoftalmite relacionada a facectomia = Número de casos / Total de facectomias no período.
- Taxa de endoftalmite relacionada a injeção intravítrea = Número de casos / Total de injeções no período.
- Os serviços devem calcular suas próprias taxas para implementar medidas preventivas.
Critérios Diagnósticos
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- Identificação de microrganismos em amostra de humor vítreo.
- Diagnóstico clínico de endoftalmite.
- Uso de antimicrobianos intravítreos.
Sistemas de Notificação
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- Os dados devem ser inseridos no formulário eletrônico disponibilizado pela ANVISA.
- Estados como São Paulo e Amazonas possuem sistemas próprios e devem repassar os dados à ANVISA anualmente.
Mudanças em Relação à Nota Técnica do Ano Anterior
- Notificação Passa a Ser Obrigatória para Todo o País
- Anteriormente, a notificação era recomendada, mas não obrigatória. Agora, todos os serviços devem reportar casos.
- Ampliação do Período de Vigilância
- O monitoramento pós-operatório agora abrange 90 dias para facectomias e 30 dias para injeções intravítreas (antes, o período de acompanhamento era menor e menos padronizado).
- Critérios Diagnósticos Mais Rigorosos
- A nova diretriz exige confirmação laboratorial, além de critérios clínicos mais bem definidos para minimizar notificações equivocadas.
- Padronização do Método de Notificação
- Agora há uso obrigatório de formulários eletrônicos, reduzindo subnotificações e inconsistências nos dados nacionais.
Impactos das Mudanças
Para as Comissões de Controle de Infecção (CCIH)
- Maior carga de trabalho para a vigilância epidemiológica, exigindo notificação mensal obrigatória.
- Necessidade de capacitação das equipes para coleta de dados e uso dos formulários eletrônicos.
- Melhor rastreamento de surtos e implementação de ações preventivas mais eficazes.
Para a Segurança do Paciente
- Redução do risco de complicações graves, como perda de visão, ao melhorar a detecção precoce das endoftalmites.
- Maior transparência e rastreamento das taxas de infecção nos serviços oftalmológicos.
- Ações corretivas e preventivas mais bem direcionadas com base nos dados nacionais.
Para os Serviços de Saúde
- Necessidade de adequação dos processos para cumprir a exigência de notificação obrigatória.
- Maior controle de qualidade nos procedimentos oftalmológicos, reduzindo complicações e possíveis ações judiciais por falhas na assistência.
- Incentivo ao uso de medidas mais rigorosas de controle de infecção, como esterilização mais rigorosa e adoção de melhores práticas cirúrgicas.
Conclusão
A nova Nota Técnica torna a notificação de endoftalmites obrigatória, estabelece critérios diagnósticos mais rígidos e amplia o período de vigilância, impactando diretamente os serviços de oftalmologia, as CCIHs e as políticas de segurança do paciente. A expectativa é que essas mudanças resultem em maior transparência, melhor controle das IRAS oftalmológicas e redução dos riscos para os pacientes.
Link:
Links relacionados:
Surto de endoftalmite em mutirões: o que corrigir?: https://www.ccih.med.br/surto-de-endoftalmite-em-mutiroes-o-que-corrigir/
Particularidades no processamento de instrumental oftalmológico: https://www.ccih.med.br/particularidades-no-processamento-de-instrumental-oftalmologico/
Infecções oculares. O que precisamos saber?: https://www.ccih.med.br/infeccoes-oculares-o-que-precisamos-saber/
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
Stewardship de antibióticos e resistência antimicrobiana: https://www.ccih.med.br/stewardship-de-antimicrobianos-gerenciando-o-uso-dos-antimicrobianos-para-salvar-vidas/
Segurança do paciente por que implantar: https://www.ccih.med.br/seguranca-do-paciente-por-que-implantar/
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/
Autor:
Antonio Tadeu Fernandes:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
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