Compare as principais recomendações de guias para prevenção de infecções primárias da corrente sanguínea associadas a cateteres vasculares.
Para garantir melhor visibilidade das importantes tabelas apresentadas, recomendamos a leitura deste artigo em computadores ou no nosso site, ou então no formato paisagem de seu celular.
Introdução
A segurança do paciente em ambientes de saúde é uma preocupação global, e as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) representam um desafio persistente, impactando negativamente a morbidade, a mortalidade e os custos hospitalares. Dentre as IRAS, as infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (CABSI) destacam-se como um problema de saúde pública significativo. Historicamente, o foco principal da vigilância e prevenção tem sido as infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres venosos centrais (CLABSI). No entanto, o reconhecimento de que outras categorias de dispositivos de acesso vascular também contribuem para infecções da corrente sanguínea levou a uma evolução na abordagem da vigilância, buscando uma perspectiva mais abrangente que inclua todas as CABSI e, futuramente, a bacteremia e fungemia de início hospitalar (HOB).1
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise aprofundada do Guia de Implementação APIC 2025 para Prevenção de CABSI em Adultos. Será realizada uma avaliação crítica de sua metodologia, das recomendações propostas e de sua aplicabilidade prática. Adicionalmente, as diretrizes do guia serão comparadas com as de outras entidades internacionais renomadas, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a Infusion Nurses Society (INS) e a Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA)/Infectious Diseases Society of America (IDSA), e, de forma crucial, com as recomendações mais recentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil. Por fim, o relatório identificará lacunas no conhecimento atual e sugerirá áreas para futuras pesquisas, visando o aprimoramento contínuo das estratégias de prevenção de infecções.
1. Visão Geral do Guia APIC 2025 sobre Prevenção de CABSI em Adultos
1.1. Objetivo e Escopo do Guia
O Guia de Implementação APIC 2025, intitulado “Preventing Catheter-Associated Bloodstream Infections (CABSI) in Adults”, tem como propósito central fornecer informações e ferramentas para reduzir o risco de infecções da corrente sanguínea decorrentes de infecções associadas a cateteres em diversos cenários de prática clínica para adultos.1 O documento foi concebido para condensar diretrizes baseadas em evidências em elementos-chave, facilitando a mitigação de riscos e a implementação de processos de melhoria de desempenho.1 A publicação reflete o compromisso da Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology (APIC) com a ciência da implementação, enfatizando a utilização da pesquisa em prevenção de infecções para aprimorar a segurança do paciente.1
Um aspecto fundamental do guia é sua intenção de promover uma mudança no escopo da vigilância. Tradicionalmente focada nas infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres venosos centrais (CLABSI), a APIC busca expandir essa atenção para abranger todas as infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (CABSI), e com a visão de, futuramente, incluir a bacteremia e fungemia de início hospitalar (HOB).1 Essa transição representa uma evolução crítica na compreensão das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). A vigilância formal de infecções da corrente sanguínea teve início na década de 1970 com as CLABSI, levando a um foco intenso em cateteres venosos centrais e à criação de incentivos financeiros para sua prevenção.1 No entanto, essa abordagem exclusiva gerou práticas clínicas inadequadas, como o uso de cateteres intravenosos periféricos (PIVCs) em situações onde cateteres venosos centrais seriam mais apropriados, com o objetivo de evitar a notificação de CLABSIs e, consequentemente, penalidades financeiras. Tais práticas, ao invés de aumentar a segurança, podiam resultar em danos ao paciente.1 A expansão do escopo da vigilância para CABSI e HOB é, portanto, uma resposta direta a essa falha sistêmica da vigilância anterior, que inadvertidamente incentivava comportamentos que comprometiam a segurança do paciente. Isso indica uma maturidade crescente no campo da prevenção de infecções, reconhecendo a necessidade de uma abordagem mais abrangente e menos focada em métricas isoladas que poderiam distorcer a prática clínica e aprimorar a segurança do paciente.
É importante notar que o guia exclui de seu escopo dispositivos específicos como oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), balão intra-aórtico (IABP), fístulas/enxertos arteriovenosos, dispositivos de assistência ventricular, cateteres HERO de hemodiálise, cateteres de diálise peritoneal e cateteres intraósseos.1 Além disso, o documento não se aprofunda nas infecções da corrente sanguínea relacionadas a cateteres (CRBSI) como um termo diagnóstico, concentrando-se nos critérios de vigilância.1 O foco do guia é estritamente em populações de pacientes adultos, excluindo considerações para neonatos e pacientes pediátricos devido às suas necessidades especializadas.1
1.2. Entidades Responsáveis, Autores, Revisores e Organizações Apoiadoras
O Guia APIC 2025 é uma iniciativa da Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology (APIC), a principal associação profissional para prevencionistas de infecção (IPs), com mais de 15.000 membros e uma missão clara de avançar a ciência e a prática da prevenção e controle de infecções.1
A autoria do guia é atribuída a DJ Shannon, MPH, CIC, VA-BC, FAPIC; Sean Lau, MBA, BSN, RN, VA-BC; e Patti G. Grota, PhD, CNS-MS, CIC, FAPIC.1 O processo de revisão contou com a contribuição de Michelle DeVries, MPH, CIC, VA-BC, CPHQ, AL-CIP, FAPIC; Robert Garcia, MS, MLT(ASCP), FAPIC; e Elizabeth Monsees, PhD, RN, CIC, FAPIC, FSHEA, FAAN, além do Comitê de Orientação Prática APIC 2025 e da Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA).1 O Centro de Pesquisa, Prática e Inovação (CRPI) da APIC, com o apoio de Becca Crapanzano-Sigafoos, DrPH, AL-CIP, CIC, FAPIC, e Frankie Catalfumo, MPH, CIC, CRCST, também contribuiu para o desenvolvimento do guia.1
A colaboração e o endosso de múltiplas organizações e especialistas de diversas áreas conferem ao guia uma autoridade e aplicabilidade multidisciplinar. As organizações que endossaram formalmente este guia de implementação são a Association for Vascular Access (AVA) e a Infusion Nurses Society (INS).1 A natureza multidisciplinar dos colaboradores e endossantes, que inclui enfermeiros, médicos, especialistas em acesso vascular e epidemiologistas, não apenas aumenta a credibilidade científica do guia, mas também sugere que suas recomendações são práticas e realistas para uma ampla gama de profissionais de saúde. Essa colaboração facilita a adoção e a integração das diretrizes em diferentes contextos clínicos, pois reflete uma visão holística e consensual da prevenção de CABSI.
1.3. Declaração de Patrocínio e Conflitos de Interesse
A transparência em relação ao patrocínio e aos conflitos de interesse é um pilar fundamental para a credibilidade de guias clínicos. O Guia APIC 2025 agradece explicitamente uma bolsa educacional fornecida pela Solventum, reconhecendo a valiosa contribuição da empresa.1
Além do patrocínio, o guia apresenta declarações detalhadas de conflitos de interesse para seus autores contribuintes e revisores, demonstrando um compromisso com a transparência.1 As declarações incluem:
- DJ Shannon: Empregado pela Community Health Network e Indiana University Indianapolis Richard M. Fairbanks School of Public Health, é líder de opinião para Becton Dickinson, ICU Medical e Teleflex Incorporated, e Presidente do Conselho do Capítulo Indiana da APIC.
- Sean Lau: Empregado pela Stanford Health Care, é líder de opinião para Becton Dickinson e CEO/Presidente da SJC Vascular Access.
- Patti G. Grota: Empregada pelo The University of Texas Health Science Center at San Antonio.
- Michelle DeVries: Empregada pela ICU Medical, é membro do Conselho da Association for Vascular Access e possui histórico como consultora e/ou porta-voz no Speaker’s Bureau para Baxter, B. Braun Medical, Becton Dickinson, Eloquest, Ethicon, Nexus Medical, Kurin, Teleflex Incorporated e 3M.
- Robert Garcia: Presidente da Enhanced Epidemiology e consultor clínico e/ou porta-voz para Ansell, Access Vascular, Bravida, Contec, Entrotech e Kurin.
- Elizabeth Monsees: Empregada pelo Children’s Mercy Hospital e pela University of Missouri School of Medicine.
A presença de múltiplos autores e revisores com laços financeiros com a indústria de dispositivos médicos, mesmo que declarados, pode gerar um viés implícito. Por exemplo, a ênfase em “novos materiais” ou “avanços tecnológicos” 1 pode ser influenciada pela familiaridade ou interesse em produtos específicos. Embora o guia afirme ter mitigado esses vieses, o que é uma prática padrão no desenvolvimento de diretrizes 2, o fato de que a maioria dos autores e revisores-chave possui tais laços sugere que as recomendações podem, consciente ou inconscientemente, favorecer soluções tecnológicas ou produtos específicos da indústria. Isso não necessariamente invalida as recomendações, mas exige uma análise crítica mais aprofundada, especialmente ao considerar a aplicabilidade em contextos com recursos limitados, onde a acessibilidade a essas tecnologias pode ser um fator limitante para a implementação das diretrizes.
2. Metodologia de Desenvolvimento do Guia APIC
2.1. Processo de Revisão Bibliográfica: Fontes de Pesquisa e Critérios de Seleção de Artigos
O Guia APIC 2025 é apresentado como um guia de implementação que condensa diretrizes baseadas em evidências existentes.1 Ele é fundamentado em uma combinação de padrões de prática, diretrizes baseadas em evidências (EBGs) e opiniões de especialistas.1 Para garantir a qualidade e a relevância das informações, a APIC emprega uma “Hierarquia da Evidência” para classificar a qualidade da evidência e o risco de viés dos estudos.1 O guia enfatiza que a pesquisa deve ser revisada criticamente para assegurar sua qualidade, relevância e generalização para o cenário clínico específico em que será aplicada.1
A natureza do documento como um “guia de implementação” significa que seu valor principal não reside na geração de novas evidências ou na realização de revisões sistemáticas exaustivas para cada recomendação. Em vez disso, sua força está em sua capacidade de sintetizar e traduzir o conhecimento científico existente, proveniente de outras EBGs e padrões (como os do CDC, INS e SHEA/IDSA), em um formato prático e acionável para os profissionais de prevenção de infecções. Para uma análise aprofundada da qualidade da evidência original por trás de cada recomendação, seria necessário consultar as fontes primárias citadas pelo guia.
2.2. Classificação e Seleção de Evidências Científicas: A Hierarquia da Evidência da APIC
A APIC utiliza uma “Hierarquia da Evidência” para classificar a qualidade da pesquisa e orientar a seleção de artigos.1 Esta hierarquia é visualmente representada como um triângulo, onde a força da evidência e o risco de viés variam de acordo com o tipo de estudo:
- No pico do triângulo (evidência mais forte e menor risco de viés): Estão as revisões sistemáticas e meta-análises de ensaios clínicos randomizados (RCTs).
- Nos níveis intermediários: Encontram-se os ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte, estudos caso-controle e estudos transversais/pesquisas.
- Na base do triângulo (evidência mais fraca e maior risco de viés): Estão os relatos de caso, estudos de caso, estudos mecanicistas, editoriais e a opinião de especialistas.
O guia destaca que os padrões de prática e as diretrizes baseadas em evidências (EBGs) são elaborados a partir de uma revisão e classificação rigorosa das evidências disponíveis. Por outro lado, documentos de consenso de especialistas são empregados quando há uma lacuna de evidências científicas robustas sobre um determinado tópico.1
A inclusão da “opinião de especialistas” na base da hierarquia, embora seja uma abordagem pragmática para preencher lacunas de evidência em um campo em constante evolução como a prevenção de infecções, também limita a força das recomendações nesses casos. A presença de opiniões de especialistas, mesmo que necessária para a completude do guia e para fornecer orientação em áreas com evidências limitadas, significa que algumas recomendações podem ter uma base mais frágil. Isso exige que os profissionais de saúde avaliem criticamente a força da evidência por trás de cada recomendação e considerem o contexto local ao implementá-las, especialmente quando se baseiam em consenso de especialistas em vez de RCTs ou meta-análises.
2.3. Achados Resumidos das Bases de Dados
O Guia APIC 2025 inclui seções SBAR (Situação, Histórico, Avaliação, Recomendações) dedicadas a tópicos específicos para os quais há poucas ou nenhuma diretriz estabelecida ou evidência consolidada.1 Essas seções funcionam como mini-revisões sistemáticas, detalhando a metodologia de pesquisa e os achados para informar as recomendações.
Impacto do Desvio de Amostra na Infecção da Corrente Sanguínea (SBAR 1)
A pesquisa para este SBAR utilizou termos como “Blood culture”, “blood culturing”, “blood specimen collection” combinados com termos de desvio (“discard initial blood”, “blood culture diversion”, “waste tube”) e termos de infecção (“Bacteremia”, “Bloodstream infection”, “CLABSI”).1 Inicialmente, foram identificados 121 artigos, dos quais 9 permaneceram após revisão de texto completo e aplicação de restrições.1 Os critérios de exclusão incluíram estudos em animais, estudos de caso ou comentários, e artigos que não utilizavam infecção da corrente sanguínea ou contaminação da hemocultura como desfecho.1
Os achados resumidos indicaram que múltiplos estudos grandes e bem desenhados sugerem uma correlação entre o uso de tubo de descarte ou dispositivo de desvio e a redução nas taxas de contaminação da hemocultura.1 No entanto, o guia ressalta a insuficiência de evidências para correlacionar diretamente o uso de dispositivo de desvio ou tubo de descarte com a infecção da corrente sanguínea.1 A distinção entre a redução da contaminação da hemocultura (um desfecho substituto ou erro de processo/diagnóstico) e a redução da BSI (um desfecho clínico real e adverso) é crucial. Embora a redução de contaminações seja importante para evitar diagnósticos errados e tratamentos desnecessários 1, a falta de evidência direta sobre a redução de BSIs reais significa que a intervenção ainda não foi comprovada como uma medida de prevenção de infecção direta. Isso sugere que, embora seja uma boa prática de “stewardship diagnóstico”, sua priorização como medida de prevenção de BSI em si deve ser feita com cautela, e mais pesquisas com desfechos clínicos são necessárias.
Número de Dispositivos de Acesso Vascular (SBAR 2)
Para este SBAR, os termos de busca incluíram “arterial line”, “Catheter”, “central line”, “PICC”, “Port-A-Cath” combinados com termos de número de lúmens/portas (“monolumen”, “multilumen”, “multiple lumen”, “single lumen”, “double lumen”) e termos de infecção.1 A busca inicial resultou em 422 artigos, com 4 permanecendo após revisão de texto completo e restrições.1 Foram excluídos estudos em populações de pacientes não hospitalizados, estudos em animais, estudos de caso ou comentários, e artigos que não utilizavam infecção da corrente sanguínea como desfecho.1
Os achados resumidos indicam que estudos limitados sugerem uma possível associação (não causalidade) entre cateteres venosos centrais (CVCs) concomitantes e um aumento do risco de BSI.1 A determinação dessa associação é dificultada pelos dados atuais de utilização de CVCs no National Healthcare Safety Network (NHSN), onde apenas um dia de dispositivo é contado por paciente, independentemente do número de CVCs que um paciente possa ter em um determinado dia.1 Essa limitação metodológica nos sistemas de vigilância existentes, como o NHSN, impede uma compreensão precisa do risco real de infecção associado à presença de múltiplos dispositivos. Consequentemente, as estratégias de prevenção podem não ser otimizadas para essa população de alto risco, e a alocação de recursos pode ser ineficiente. Isso aponta para uma necessidade urgente de refinamento nos métodos de coleta de dados de vigilância para capturar essa complexidade e permitir análises mais robustas sobre a relação entre o número de dispositivos e o risco de BSI.
Seleção do Sítio Anatômico de Dispositivos de Acesso Não-Central para Prevenção de Infecções da Corrente Sanguínea (SBAR 3)
A pesquisa para este SBAR utilizou termos como “Insertion site”, “anatomical site”, “forearm”, “hand”, “femoral” combinados com “arterial line”, “Catheter”, “peripheral IV”, “PICC” e termos de infecção.1 Inicialmente, 318 artigos foram identificados, com 8 estudos e 1 revisão sistemática/meta-análise restantes após revisão de texto completo e aplicação de restrições.1 Os critérios de exclusão abrangeram populações de pacientes não hospitalizados, estudos que incluíam apenas cateteres vasculares centrais, estudos em animais, estudos de caso ou comentários, artigos que não utilizavam infecção da corrente sanguínea como desfecho, estudos com mais de 25 anos, e estudos apenas com populações pediátricas ou neonatais.1
Os achados resumidos indicaram que múltiplos estudos sugerem taxas mais altas de BSI em cateteres arteriais femorais em comparação com os radiais.1 No entanto, a evidência é insuficiente para correlacionar com confiança o sítio de inserção de PIVC com o risco de BSI, embora um grande estudo sugira um menor risco com a inserção na mão em comparação com outras extremidades superiores.1 Além disso, resultados conflitantes foram encontrados para o sítio antecubital.1 A persistência de resultados conflitantes para PIVCs, mesmo após uma revisão, destaca a complexidade dos fatores de risco e a necessidade de individualização da prática. Essa persistência de resultados conflitantes sugere que múltiplos fatores, como técnica de inserção, tipo de terapia e cuidado de manutenção, podem interagir de maneiras complexas, tornando difícil isolar o impacto direto do sítio anatômico. Isso reforça a recomendação do guia de que a seleção do sítio deve ser baseada em uma “avaliação vascular de cada paciente” e não em uma regra rígida 1, reconhecendo que a prática clínica exige flexibilidade e julgamento individualizado diante de evidências não conclusivas.
3. Recomendações do Guia APIC para Prevenção de CABSI
O Guia APIC 2025 estrutura suas recomendações em duas categorias principais: “Práticas Essenciais” e “Práticas Adicionais”. Essa distinção é crucial para orientar as instituições na priorização de intervenções com base na força da evidência e na situação epidemiológica local.
3.1. Práticas Essenciais para Inserção e Manutenção de Dispositivos de Acesso Vascular
As práticas essenciais são consideradas fundamentais para a prevenção de CABSI e devem ser adotadas por todas as instituições de saúde. É importante notar que o guia explicitamente afirma que muitas dessas práticas são “extrapoladas” de pesquisas focadas em cateteres venosos centrais (CVCs).1 Historicamente, a maior parte da pesquisa sobre infecções associadas a cateteres concentrou-se em CVCs devido à sua associação com infecções mais graves. Embora a extrapolação seja uma necessidade prática para fornecer orientação abrangente, ela implica que a força da evidência para a aplicação dessas práticas em cateteres intravenosos periféricos (PIVCs) e outros dispositivos de acesso vascular não centrais pode ser menor do que para os CVCs. Isso sugere que, embora as recomendações sejam “essenciais”, a base de evidências para sua universalidade em todos os tipos de VADs ainda está em desenvolvimento e representa uma área importante para futuras pesquisas, especialmente para validar a eficácia dessas práticas em PIVCs, que são muito mais comuns.
Elementos de Inserção:
- Utilizar tecnologia de visualização vascular (ultrassom, infravermelho) quando apropriado para inserções de VADs: Essa tecnologia aumenta o sucesso da inserção.1
- Realizar avaliações clínicas e venosas para identificar o sítio de inserção e o cateter mais apropriados: Avaliações adequadas permitem a seleção do cateter menos invasivo, com menor diâmetro e menor número de lúmens, com base no propósito, duração antecipada e complicações conhecidas.1
- Utilizar VADs apenas quando necessário e apropriadamente indicado: Todos os VADs apresentam risco de desfechos negativos para o paciente; portanto, é crucial que tenham indicação clínica e não sejam inseridos ou mantidos “apenas por precaução”.1
- Garantir práticas de inserção apropriadas, incluindo higiene das mãos, uso de luvas, técnica asséptica e estéril, e suprimentos estéreis: A técnica asséptica e/ou estéril adequada minimiza o risco de introdução de patógenos na corrente sanguínea.1
- Garantir fixação e estabilização apropriadas após a inserção: A fixação e estabilização adequadas reduzem o risco de desalojamento, microtrauma e a necessidade potencial de troca do cateter, além de facilitar a manutenção do VAD.1
Elementos de Manutenção:
- Utilizar práticas de manutenção apropriadas (baseadas no tipo de VAD), incluindo higiene das mãos, uso de luvas, técnica asséptica e estéril, e suprimentos estéreis ao manipular o sítio de inserção, ponto de acesso do cateter ou curativo: O uso apropriado da técnica asséptica e/ou estéril minimiza o risco de introdução de patógenos no sítio de inserção ou na corrente sanguínea.1
- Garantir que o curativo permaneça limpo, seco, intacto, e seja trocado a cada sete dias e imediatamente conforme necessário: Os curativos ajudam a reduzir o crescimento microbiano próximo ao sítio de inserção do VAD. Trocar o curativo com muita frequência pode introduzir patógenos no sítio e aumentar o risco de infecção.1
- Utilizar curativos contendo clorexidina (CHG) para pacientes adultos com CVCs; considerar o benefício potencial para PIVCs: Há um alto nível de evidência que demonstra a redução de BSI com o uso de curativos contendo CHG para CVCs.1
- Garantir desinfecção apropriada do ponto de acesso do cateter antes de acessá-lo e anexar apenas dispositivos estéreis ao hub do cateter: A carga microbiana do hub/conector sem agulha do cateter é minimizada com a desinfecção apropriada, reduzindo o risco de introdução de patógenos intraluminais ao administrar infusatos.1
- Trocar conjuntos de administração e dispositivos adicionais em intervalos apropriados, dependendo dos infusatos: É crucial trocar o conjunto de administração em intervalos apropriados: a cada 7 dias para infusões contínuas (exceto lipídios, TPN/PPN ou sangue/produtos sanguíneos), a cada 24 horas para TPN/PPN, a cada 6-12 horas para propofol e dentro de 24 horas ou quando o frasco for trocado para outras emulsões lipídicas, e a cada 4 horas para sangue/produtos sanguíneos.1
- Fornecer aplicação diária com CHG para pacientes adultos em ambiente de UTI: O fornecimento de tratamentos diários com CHG para pacientes em UTI e aqueles com CVC é amplamente reconhecido por reduzir CLABSI.1
- Garantir que o VAD permaneça patente durante o uso: A patência do cateter (lavado e aspirado para retorno rápido de sangue) ajuda a garantir a função adequada do VAD e diminui o risco de complicações, incluindo BSIs.1
- Utilizar técnica adequada ao coletar sangue para exames laboratoriais, incluindo práticas de transporte e armazenamento: A coleta inadequada de amostras pode resultar em resultados imprecisos (falso positivo, falso negativo), criando potencialmente necessidades clínicas adicionais e tratamento desnecessário.1
- Remover o VAD quando não for mais clinicamente indicado: Todos os VADs apresentam risco de desfechos negativos para o paciente. É prudente garantir que todos os VADs tenham uma indicação clínica e sejam removidos assim que clinicamente indicado para minimizar o risco de desfechos negativos.1
- Não substituir rotineiramente VADs em intervalos definidos: VADs inseridos em condições subótimas (ou seja, sem adesão à técnica asséptica) devem ser removidos o mais rápido possível, mas dentro de 48 horas. A substituição rotineira de VADs (remoção clinicamente indicada) pode ser apropriada após uma instituição de saúde ter implementado com sucesso práticas apropriadas de inserção, cuidado e manutenção.1
A Tabela a seguir detalha as práticas essenciais de inserção e manutenção do Guia APIC, incluindo as tarefas de implementação e seus racionais.
Tabela: Práticas Essenciais de Inserção e Manutenção do Guia APIC
Prática Essencial | Tarefas de Implementação | Racional |
Inserção: Utilizar tecnologia de visualização vascular 1 | Garantir tecnologia disponível e equipe treinada 1 | Aumenta o sucesso da inserção 1 |
Inserção: Realizar avaliações clínicas e venosas 1 | Usar cateter, sítio e especialistas apropriados para minimizar tentativas repetidas 1 | Permite selecionar o cateter menos invasivo e apropriado 1 |
Inserção: Usar VADs apenas quando necessário e indicado 1 | Utilizar lista aprovada de indicações para VADs; exigir indicação no EMR 1 | Todos os VADs têm risco; garantir indicação clínica 1 |
Inserção: Garantir práticas de inserção apropriadas (higiene, luvas, técnica asséptica/estéril, suprimentos estéreis) 1 | Usar procedimento aprovado por escrito; checklist no EMR; suprimentos estéreis disponíveis 1 | Minimiza o risco de introduzir patógenos 1 |
Inserção: Garantir fixação e estabilização apropriadas 1 | Utilizar dispositivos de fixação apropriados 1 | Diminui o risco de desalojamento e microtrauma, facilitando a manutenção 1 |
Manutenção: Usar práticas de manutenção apropriadas (higiene, luvas, técnica asséptica/estéril, suprimentos estéreis) 1 | Usar EMR para documentar métricas diárias 1 | Minimiza o risco de introduzir patógenos 1 |
Manutenção: Curativo limpo, seco, intacto, trocado a cada 7 dias ou conforme necessário 1 | Auditoria rotineira; suprimentos disponíveis; equipe treinada/competente 1 | Reduz crescimento microbiano; troca muito frequente pode introduzir patógenos 1 |
Manutenção: Usar curativos com CHG para CVCs em adultos; considerar para PIVCs 1 | Garantir equipe treinada/competente 1 | Alta evidência para CVCs; menos dados para PIVCs 1 |
Manutenção: Desinfecção apropriada do ponto de acesso do cateter 1 | Estabelecer processo para desinfecção do hub/conector sem agulha 1 | Minimiza a carga microbiana, reduzindo patógenos intraluminais 1 |
Manutenção: Trocar conjuntos de administração em intervalos apropriados 1 | Auditoria para conformidade; suprimentos disponíveis 1 | Previne contaminação de infusatos 1 |
Manutenção: Tratamento diário com CHG para pacientes em UTI 1 | Auditoria para conformidade; suprimentos disponíveis 1 | Bem reconhecido por reduzir CLABSI em UTI 1 |
Manutenção: VAD patente durante o uso 1 | Processo para garantir patência antes do uso 1 | Garante função adequada e diminui risco de complicações 1 |
Manutenção: Técnica adequada para coleta de sangue 1 | Política/procedimento claro; considerar kits de coleta de hemocultura 1 | Evita resultados imprecisos e tratamentos desnecessários 1 |
Manutenção: Remover VAD quando não mais indicado 1 | Processo diário de discussão da indicação do VAD; EMR para revisões diárias 1 | Minimiza riscos de desfechos negativos 1 |
Manutenção: Não substituir rotineiramente VADs em intervalos definidos 1 | Garantir que a política não especifique tempo para substituição rotineira 1 | VADs inseridos subotimamente devem ser removidos em 48h; substituição rotineira não recomendada 1 |
3.2. Práticas Adicionais para Prevenção de CABSI
As práticas adicionais são intervenções que podem ser consideradas em ambientes onde as taxas de infecção permanecem elevadas, mesmo após a implementação das estratégias essenciais.1 Essas práticas tendem a focar em populações de pacientes específicas ou em abordagens com uma base de evidências crescente, mas ainda limitada.1 A categorização de “práticas adicionais” com base em evidências limitadas, mas crescentes, demonstra uma abordagem cautelosa e baseada em evidências, incentivando a avaliação local antes da implementação generalizada. Essa abordagem pragmática evita a adoção prematura de intervenções que podem não ser custo-eficazes ou universalmente aplicáveis. Ela incentiva as instituições a realizarem suas próprias avaliações de risco e benefício, adaptando as diretrizes à sua realidade local, o que é crucial para a sustentabilidade e o sucesso dos programas de prevenção de infecções. O guia recomenda que objetivos claros, prazos para avaliação do projeto e riscos sejam determinados antes da implementação.1
Elementos de Inserção:
- Utilizar um “bundle” para inserções de VADs: Aumenta a confiabilidade do processo, resultando em maior sucesso de inserção e redução de complicações.1
- Utilizar kits de inserção personalizados: Auxilia na padronização da inserção, fornecendo materiais personalizados para atender às variações na prática local/necessidades clínicas.1
- Utilizar pessoal adicional treinado para garantir a segurança e o sucesso da inserção: Promove melhoria da técnica asséptica, qualidade da inserção, redução de erros, treinamento e mentoria.1
- Aproveitar avanços tecnológicos de inserção: Equipamentos de localização da ponta do cateter podem melhorar a segurança e o sucesso da inserção, fornecendo feedback oportuno e posicionamento preciso da ponta.1
- Considerar o uso de novos materiais para práticas de inserção: Cateteres recém-desenvolvidos (com revestimento antimicrobiano, resistentes a biofilme ou antitrombogênicos) podem melhorar o desempenho e a utilização do CVC.1
Elementos de Manutenção:
- Utilizar um “bundle” para o cuidado e manutenção de VADs: Melhora a qualidade do cuidado e reduz o risco de complicações.1
- Utilizar kits personalizados para troca de curativos: Auxilia na padronização, reduzindo o risco de itens faltantes e otimizando o processo de troca de curativos.1
- Utilizar pessoal adicional para garantir a segurança e o sucesso da troca de curativos: A realização da troca de curativos por duas pessoas pode ajudar a identificar quebras na técnica asséptica durante o processo.1
- Considerar o uso de novos materiais para práticas de manutenção: Materiais como soluções de bloqueio, protetores de pele e adesivos especiais podem aprimorar o cuidado do VAD.1
- Considerar a implementação de tratamento diário com CHG para pacientes adultos em ambientes não-UTI: Embora a literatura atual não seja suficiente para todos os VADs em ambientes não-UTI, essa prática pode ser considerada se as taxas de CABSI forem maiores do que o esperado.1
A Tabela a seguir detalha as práticas adicionais de inserção e manutenção do Guia APIC, incluindo as tarefas de implementação e seus racionais.
Tabela: Práticas Adicionais de Inserção e Manutenção do Guia APIC
Prática Adicional | Tarefas de Implementação | Racional |
Inserção: Usar um “bundle” para inserções de VADs 1 | Criar bundle com 3-5 elementos de maior evidência. Realizar avaliação de risco local 1 | Aumenta a confiabilidade do processo e reduz complicações 1 |
Inserção: Utilizar kits de inserção personalizados 1 | Criar e usar kits personalizados para eficiência, segurança e eficácia 1 | Padroniza a inserção com materiais customizados 1 |
Inserção: Utilizar pessoal adicional treinado 1 | Padronizar protocolo de inserção por duas pessoas; utilizar equipes de acesso vascular 1 | Melhora a técnica asséptica, qualidade da inserção, reduz erros, promove mentoria 1 |
Inserção: Aproveitar avanços tecnológicos de inserção 1 | Usar uploads automatizados de documentação; aprimorar treinamento com simulação; usar sistemas de localização da ponta 1 | Melhora segurança, sucesso e precisão da inserção. Aumenta eficiência e confiança 1 |
Inserção: Considerar novos materiais para inserção 1 | Considerar novos materiais após esforços de melhoria estabelecidos 1 | Cateteres desenvolvidos podem melhorar desempenho e utilização 1 |
Manutenção: Usar um “bundle” para cuidado e manutenção de VADs 1 | Criar/utilizar bundle de cuidado pós-inserção com base na literatura 1 | Melhora a qualidade do cuidado e reduz o risco de complicações 1 |
Manutenção: Utilizar kits personalizados para troca de curativos 1 | Criar e usar kits personalizados para melhorar trocas de curativos 1 | Padroniza, reduz itens faltantes e otimiza o processo 1 |
Manutenção: Utilizar pessoal adicional para troca de curativos 1 | Utilizar equipes de acesso vascular 1 | Troca de curativos por duas pessoas ajuda a identificar quebras na técnica asséptica 1 |
Manutenção: Considerar novos materiais para manutenção 1 | Considerar novos materiais após esforços de melhoria estabelecidos 1 | Materiais podem aprimorar o cuidado do VAD (soluções de bloqueio, protetores de pele) 1 |
Manutenção: Considerar CHG diário em ambientes não-UTI 1 | Implementar auditoria; garantir suprimentos disponíveis 1 | Considerar se taxas de CABSI estão altas, apesar da literatura limitada para não-UTI 1 |
3.3. Fundamentação Detalhada e Racional das Recomendações
Para cada prática essencial e adicional, o Guia APIC fornece um racional claro e conciso, explicando o porquê da recomendação. Essa fundamentação é crucial para que os profissionais de saúde compreendam a base científica das intervenções e possam aplicá-las de forma mais consciente e eficaz. Exemplos de racionais incluem:
- A utilização de tecnologia de visualização vascular aumenta o sucesso da inserção do cateter.1
- A aplicação de técnica asséptica minimiza a introdução de patógenos na corrente sanguínea.1
- A manutenção de curativos limpos e intactos reduz o crescimento microbiano próximo ao sítio de inserção do VAD.1
- A desinfecção adequada do hub do cateter minimiza a carga microbiana, reduzindo o risco de infecção intraluminal.1
- A remoção de VADs quando não são mais clinicamente indicados minimiza o risco de desfechos negativos para o paciente.1
3.4. Aplicabilidade Prática das Recomendações em Diferentes Cenários de Saúde
O Guia APIC se destaca por sua forte ênfase na aplicabilidade prática, indo além da mera listagem de recomendações teóricas. O documento é projetado para ser “fácil de entender e usar”, incorporando exemplos e ferramentas que facilitam a implementação das diretrizes no dia a dia.1
A inclusão de estudos de caso e ferramentas práticas eleva o guia de um documento teórico para um recurso de implementação acionável. O guia apresenta “Estudos de Caso Baseados em Cenários” que ilustram a aplicação prática das diretrizes em diferentes contextos, como um Hospital Comunitário, um Centro de Saúde Acadêmico e um Hospital de Acesso Crítico.1 Esses cenários permitem que os profissionais visualizem como as recomendações podem ser adaptadas e implementadas em suas próprias realidades.
Além disso, o guia oferece “Ferramentas Associadas”, como o “Adult PIVC Insertion Escalation Pathway” (Caminho de Escalada para Inserção de PIVC em Adultos) e o “Guidance for CVAD De-Escalation” (Orientação para Desescalada de CVC).1 Essas ferramentas fornecem fluxogramas e diretrizes claras para a tomada de decisões clínicas. O guia também inclui “Ferramentas de Comunicação SBAR” (Situação, Histórico, Avaliação, Recomendações) para tópicos específicos, auxiliando na discussão e na tomada de decisão baseada em evidências, especialmente em áreas onde a evidência é menos consolidada.1 Essa abordagem prática e orientada para a implementação é um diferencial significativo do guia APIC. Ao fornecer exemplos concretos de como as diretrizes podem ser aplicadas em diferentes cenários e ferramentas para auxiliar na tomada de decisão e comunicação, o guia facilita a tradução do conhecimento científico para a prática clínica diária. Isso aumenta a probabilidade de adesão às recomendações e, consequentemente, a eficácia dos programas de prevenção de CABSI.
4. Análise Crítica do Guia APIC
4.1. Avaliação da Qualidade do Guia: Considerações sobre os Princípios GRADE e PRISMA
A avaliação da qualidade de um guia clínico é fundamental para determinar sua confiabilidade e utilidade. O Guia APIC 2025 demonstra um compromisso com a prática baseada em evidências por meio de sua metodologia de avaliação da literatura. O guia utiliza uma “Hierarquia da Evidência” 1 que classifica a qualidade da evidência, variando de revisões sistemáticas e meta-análises (consideradas as mais fortes) a opiniões de especialistas (as mais fracas). Essa abordagem se alinha conceitualmente com os princípios do sistema GRADE (Grades of Recommendation, Assessment, Development, and Evaluation), que diferencia a qualidade da evidência da força da recomendação.3 Embora o guia APIC não declare explicitamente seguir a metodologia GRADE para todo o seu desenvolvimento, sua abordagem de classificar a evidência e fornecer racionais para as recomendações 1 reflete elementos centrais do GRADE, como a avaliação de benefícios e danos.3 O GRADE também foca na formulação de questões clínicas (PICO) e na seleção de desfechos importantes 4, aspectos que são visíveis nas seções SBAR do guia.1
Em relação ao PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), que é um conjunto de itens para ajudar autores a relatar revisões sistemáticas e meta-análises de forma transparente e completa 5, as seções SBAR do guia APIC 1 funcionam como mini-revisões sistemáticas sobre tópicos específicos. Elas detalham termos de busca, o número de artigos encontrados, os critérios de exclusão e os achados resumidos.1 Essa estrutura, embora não seja uma revisão sistemática completa de todo o guia, demonstra um compromisso com a transparência e o rigor metodológico para as áreas onde a evidência é menos consolidada.
A ausência de uma declaração formal de adesão ao GRADE para o guia completo pode ser vista como uma pequena limitação metodológica em termos de padronização internacional. No entanto, o fato de que o guia incorpora princípios de avaliação de evidências (hierarquia, racionais) e adota uma abordagem transparente para tópicos específicos (SBARs) sugere um forte compromisso com a prática baseada em evidências. Isso indica que o guia é metodologicamente robusto em seus componentes, mesmo que não siga um “selo” GRADE completo, e seu valor reside na sua capacidade de sintetizar e aplicar a melhor evidência disponível de forma prática.
4.2. Pontos Abertos para Pesquisas Futuras Identificados pelo Guia
A explicitação de “pontos abertos” e “questões não resolvidas” é um indicativo de rigor científico e honestidade intelectual do guia. O Guia APIC, especialmente em suas seções SBAR, e as diretrizes SHEA/IDSA (citadas pelo APIC) identificam várias áreas que requerem investigação adicional para aprimorar as estratégias de prevenção de infecções da corrente sanguínea.1
- Impacto do Desvio de Amostra na BSI: Há uma necessidade de mais pesquisas para correlacionar diretamente o desvio de amostra com a redução de infecções da corrente sanguínea, e de considerar a expansão da definição de contaminação da hemocultura para incluir patógenos.1
- Risco de BSI para Pacientes com Múltiplos VADs Concomitantes: Mais pesquisas são necessárias para avaliar o risco de BSI em pacientes com múltiplos dispositivos de acesso vascular (CVC e PIVC) e para estabelecer uma relação de causalidade.1
- Correlação do Sítio de Inserção de PIVC com Risco de BSI: O guia aponta a necessidade de mais evidências para correlacionar o sítio de inserção de PIVC com o risco de BSI, com foco em uma avaliação individualizada de sítios de extremidade superior.1
- Impacto da Clorexidina na Resistência Bacteriana: As diretrizes SHEA/IDSA, referenciadas pelo APIC, mencionam como uma “questão não resolvida” o impacto clínico da suscetibilidade reduzida à clorexidina devido ao seu uso generalizado.7
- Uso Rotineiro de Conectores Sem Agulha: O guia SHEA/IDSA também lista como uma “questão não resolvida” a necessidade de avaliação de riscos/benefícios e educação adequada para o uso rotineiro de conectores sem agulha.7
Essa transparência é um selo de qualidade para um guia baseado em evidências. Ela não apenas reconhece as limitações do conhecimento atual, mas também fornece um roteiro claro para a comunidade científica sobre onde os esforços de pesquisa são mais necessários. Isso contribui para o avanço contínuo da ciência da prevenção de infecções, garantindo que futuras diretrizes sejam construídas sobre uma base de evidências cada vez mais sólida.
4.3. Análise Comparativa com Guias Similares Internacionais
A comparação do Guia APIC 2025 com outras diretrizes internacionais de destaque revela tanto um forte consenso em práticas essenciais quanto áreas onde as abordagens ou o nível de detalhe podem divergir, refletindo as fronteiras atuais do conhecimento e as prioridades de cada organização.
4.3.1. Convergências e Divergências com as Diretrizes do CDC (2011, atualizadas 2024)
As diretrizes do CDC para a prevenção de infecções relacionadas a cateteres intravasculares (2011, com atualizações em 2024) compartilham muitas recomendações com o Guia APIC. Há uma forte convergência na ênfase em:
- Higiene das mãos.1
- Uso de barreira estéril máxima para inserção de CVCs.1
- Preparação da pele com clorexidina alcoólica (>0.5%).1
- Remoção de cateteres não essenciais.1
- Desinfecção de hubs/conectores.1
No entanto, existem diferenças na ênfase e no escopo. O CDC 2011 não aborda explicitamente CABSI como um todo, focando mais em CRBSI e CLABSI.1 O Guia APIC, por sua vez, expande o escopo para todos os VADs, incluindo PIVCs.1 O CDC 2011 também lista “questões não resolvidas” sobre o uso de CHG em neonatos e a comparação de antissépticos 9, enquanto o APIC apenas “considera” o uso de CHG para PIVCs.1
4.3.2. Convergências e Divergências com os Padrões de Prática da INS (9ª Edição, 2024)
A Infusion Nurses Society (INS) é uma das organizações endossantes do Guia APIC 1, o que indica um forte alinhamento entre os dois documentos. Ambos enfatizam a seleção apropriada do VAD, a avaliação vascular, a higiene das mãos, a técnica asséptica, a manutenção do curativo, a desinfecção do hub e a remoção de VADs desnecessários.1 A INS também aborda a administração de vasopressores e o desvio de drogas 11, tópicos que o APIC pode tocar indiretamente. A principal diferença reside no escopo: a INS é mais abrangente em “terapia de infusão” 11, enquanto o APIC se concentra especificamente na “prevenção de infecção”.
4.3.3. Convergências e Divergências com as Estratégias SHEA/IDSA (Atualização 2022)
A Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA) é uma das organizações revisoras do Guia APIC 1, o que sugere um alinhamento significativo. As diretrizes SHEA/IDSA (2022) e o Guia APIC são muito semelhantes nas “práticas essenciais” para CLABSI.1 Isso inclui recomendações sobre educação e competência, banho diário com CHG em UTI, uso de checklist de inserção, higiene das mãos, preferência pelo sítio subclávio (em UTI), uso de kit completo, orientação por ultrassom, barreira máxima estéril, CHG alcoólica para preparação da pele, manutenção de proporção enfermeiro-paciente adequada, uso de curativos com CHG, desinfecção de hubs, remoção de cateteres não essenciais e troca de equipos.7
A principal divergência é que a SHEA/IDSA ainda foca primariamente em CLABSI 7, enquanto o APIC expande explicitamente para CABSI.1 Ambas as diretrizes categorizam “abordagens adicionais” de forma similar, como cateteres impregnados, terapia de bloqueio antimicrobiano, equipes de acesso vascular e pomadas antimicrobianas 7, que são chamadas de “práticas adicionais” no APIC.1 A SHEA/IDSA também lista “questões não resolvidas” que o APIC pode não detalhar com a mesma profundidade.7
A convergência das “práticas essenciais” entre os principais guias internacionais (APIC, CDC, INS, SHEA/IDSA) valida um conjunto universal de intervenções baseadas em evidências. Essa unanimidade indica que essas são as intervenções mais robustamente apoiadas por evidências e devem ser a base de qualquer programa de prevenção de infecções. As convergências permitem que as instituições de saúde globalmente implementem um núcleo de práticas com alta confiança em sua eficácia, independentemente da diretriz específica que consultam. As divergências, por outro lado (como o foco do APIC em CABSI versus CLABSI do SHEA/IDSA, ou as questões não resolvidas sobre PIVCs), indicam áreas onde a pesquisa ainda está em andamento ou onde as nuances clínicas e a interpretação da evidência levam a abordagens ligeiramente diferentes. Isso sublinha a natureza dinâmica da prática baseada em evidências e a necessidade de os profissionais se manterem atualizados sobre as últimas evidências e o consenso emergente, especialmente em áreas de fronteira.
4.3.4. O que o Guia APIC foi o primeiro a abordar ou enfatizar
O Guia APIC 2025 se destaca por ser um dos primeiros a fazer uma mudança explícita e a enfatizar a prevenção de todas as infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (CABSI), incluindo PIVCs, e a declarar a intenção de evoluir para HOB.1 Essa abordagem representa um avanço significativo em relação a guias anteriores que focavam quase exclusivamente em CLABSI. Além disso, a inclusão de ferramentas de implementação detalhadas, como estudos de caso e SBARs para tópicos específicos com evidência limitada 1, é uma abordagem inovadora para um guia de implementação, facilitando a tradução do conhecimento científico para a prática clínica.
4.3.5. Lacunas ou informações não detalhadas no Guia APIC em comparação com outras diretrizes
Em comparação com outras diretrizes, o Guia APIC 2025 apresenta algumas lacunas ou informações menos detalhadas:
- O guia exclui explicitamente populações neonatais e pediátricas 1, enquanto outros guias (como CDC e SHEA/IDSA) podem ter seções ou considerações para essas populações.7
- Não aprofunda em dispositivos específicos como ECMO, IABP, fístulas/enxertos arteriovenosos, etc., que são excluídos do escopo.1
- Embora mencione a importância da proporção enfermeiro-paciente 1, o SHEA/IDSA detalha mais essa recomendação.7
A Tabela a seguir apresenta um comparativo das recomendações chave entre o Guia APIC e outras diretrizes internacionais.
Tabela: Comparativo de Recomendações Chave entre APIC, CDC, INS e SHEA/IDSA
Recomendação Chave | Guia APIC 2025 | CDC (2011, atualizadas 2024) | INS (9ª Edição, 2024) | SHEA/IDSA (Atualização 2022) |
Higiene das Mãos | Essencial 1 | Essencial (Categoria IB) 9 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (Qualidade de Evidência: HIGH) 7 |
Preparação da Pele (CHG Alcoólica) | Essencial (>0.5% CHG com álcool) 1 | Essencial (>0.5% CHG com álcool) (Categoria IA) 9 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (CHG alcoólica, Qualidade de Evidência: HIGH) 7 |
Barreira Máxima Estéril | Essencial (para CVCs) 1 | Essencial (para CVCs, PICCs) (Categoria IB) 9 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (para CVCs, Qualidade de Evidência: HIGH) 7 |
Sítio Preferencial (CVC) | Essencial (avaliação clínica e venosa) 1 | Subclávio preferencial (em UTI) 7 | Aborda seleção do sítio e preservação venosa 1 | Subclávio preferencial (em UTI) (Qualidade de Evidência: MODERATE) 7 |
Troca de Curativo (Transparente) | Essencial (a cada 7 dias ou conforme necessidade) 1 | Essencial (a cada 7 dias ou conforme necessidade) 7 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (a cada 7 dias ou conforme necessidade, Qualidade de Evidência: MODERATE) 7 |
Desinfecção do Hub | Essencial (antes do acesso) 1 | Essencial (antes do acesso) 7 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (antes do acesso, fricção mecânica, Qualidade de Evidência: MODERATE) 7 |
Remoção Diária (Necessidade VAD) | Essencial (quando não mais indicado) 1 | Essencial (remover não essenciais) 7 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (remover não essenciais, Qualidade de Evidência: MODERATE) 7 |
Uso de CHG em Curativos | Essencial (para CVCs); considerar para PIVCs 1 | Essencial (para CVCs) 7 | Essencial (Padrão 41) 1 | Essencial (para CVCs, Qualidade de Evidência: HIGH) 7 |
Escopo de Cateteres | Foco em CABSI (todos os VADs), evoluindo para HOB 1 | Foco em CRBSI e CLABSI 1 | Abrangente (IV, subcutâneo, intraósseo, intraspinal) 11 | Foco principal em CLABSI 7 |
População | Adultos 1 | Abrangente (adultos, pediátricos, neonatais) 9 | Abrangente (adultos, pediátricos) 11 | Abrangente (adultos, pediátricos, neonatais) 7 |
5. Comparativo com as Recomendações da ANVISA
5.1. Panorama das Recomendações Mais Recentes da ANVISA sobre Prevenção de Infecção da Corrente Sanguínea Associada a Cateteres
A pesquisa nos materiais fornecidos para a ANVISA não revelou um guia único e abrangente especificamente focado na prevenção de infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres (CABSI) em adultos, comparável em escopo e detalhe ao Guia APIC 2025. Os documentos da ANVISA disponíveis 8 tendem a ser mais gerais sobre prevenção de IRAS, critérios diagnósticos de IRAS, ou específicos para infecções do trato urinário, ou são notas técnicas sobre vigilância de IRAS.
A aparente ausência de um guia ANVISA específico e detalhado para CABSI em adultos, semelhante ao APIC, sugere uma lacuna na orientação nacional brasileira. Isso significa que a ANVISA pode não ter uma diretriz tão granular e focada em CABSI quanto a APIC no momento da publicação do guia. Essa lacuna potencial na orientação nacional brasileira eleva a importância de guias internacionais como o da APIC para os profissionais de saúde no Brasil. Na ausência de um documento nacional equivalente, as instituições brasileiras podem precisar se basear mais fortemente em diretrizes internacionais para desenvolver suas políticas e práticas de prevenção de CABSI, adaptando-as ao contexto local. Isso também pode indicar uma área para a ANVISA considerar o desenvolvimento de um guia mais específico e atualizado no futuro.
5.2. Análise de Convergências e Divergências entre o Guia APIC e as Diretrizes da ANVISA
Considerando a natureza dos documentos da ANVISA disponíveis, a análise de convergências e divergências com o Guia APIC 2025 se baseia em princípios gerais de prevenção de IRAS que são universalmente aceitos, e na ausência de detalhamento específico para CABSI nos materiais da ANVISA.
Convergências (baseadas em princípios gerais de IRAS):
É provável que haja convergência em princípios fundamentais de controle de infecção, como:
- Higiene das mãos: Um pilar universal na prevenção de infecções.
- Técnica asséptica: Essencial para qualquer procedimento invasivo, incluindo a inserção e manutenção de cateteres.
- Vigilância de IRAS: A ANVISA regulamenta a vigilância de IRAS, incluindo CLABSI, embora possa não detalhar a vigilância de CABSI da mesma forma que o APIC.
Divergências/Lacunas da ANVISA (em comparação com APIC):
O Guia APIC oferece um nível de detalhamento e especificidade que não parece ser replicado nos documentos da ANVISA nos materiais fornecidos:
- Detalhes sobre tipos de VADs e práticas: O guia APIC detalha muito mais sobre os diferentes tipos de VADs (PIVCs, Midlines, PICCs, CICCs, FICCs, TIVADs), os fatores de risco modificáveis e não modificáveis específicos para CABSI, e as práticas de inserção e manutenção para todos esses VADs.1
- Transição de vigilância: A APIC aborda explicitamente a transição da vigilância de CLABSI para CABSI e HOB, e as complexidades de definição e vigilância para CABSI 1, o que não parece ser detalhado nos materiais da ANVISA.
- Análise de evidências para tópicos específicos: As seções SBAR da APIC fornecem análises de evidências para tópicos específicos e controversos (desvio de amostra, múltiplos VADs, sítio anatômico para não-CVCs) 1, o que não é evidente nos documentos da ANVISA nos materiais fornecidos.
O Guia APIC, com seu foco granular em todos os tipos de VADs, suas práticas de inserção e manutenção, e sua abordagem para tópicos com evidências emergentes, pode atuar como um recurso complementar essencial para as instituições de saúde brasileiras. Ele preenche a lacuna entre os requisitos regulatórios gerais e a implementação prática de estratégias de prevenção de CABSI, oferecendo um nível de detalhe e especificidade que pode não ser encontrado nas diretrizes nacionais mais amplas. Isso permite que as instituições brasileiras desenvolvam protocolos internos mais robustos e baseados nas melhores práticas internacionais.
A Tabela a seguir apresenta um comparativo das recomendações chave entre o Guia APIC e as diretrizes da ANVISA, destacando a profundidade e o foco de cada um.
Tabela: Comparativo de Recomendações Chave entre o Guia APIC e a ANVISA
Recomendação Chave | Guia APIC 2025 | ANVISA (Baseado nos materiais fornecidos) |
Higiene das Mãos | Detalhada (prática essencial) 1 | Geral (princípio fundamental de IRAS) 14 |
Preparação da Pele | Detalhada (CHG alcoólica >0.5% para VADs) 1 | Geral (princípio de antissepsia pré-procedimento) [Não detalhado nos materiais] |
Barreira Máxima Estéril | Detalhada (para CVCs) 1 | Geral (princípio de técnica asséptica) [Não detalhado nos materiais] |
Remoção Diária (Necessidade VAD) | Detalhada (remover VADs não essenciais) 1 | Geral (redução de tempo de uso de dispositivos) [Não detalhado nos materiais] |
Escopo de Cateteres | Detalhada (todos os VADs – CABSI, PIVCs, Midlines, PICCs, CICCs, FICCs, TIVADs) 1 | Foco em CLABSI em alguns documentos de vigilância; não detalha CABSI abrangente 1 |
Vigilância de CABSI/CLABSI | Detalhada (transição de CLABSI para CABSI e HOB, definição de CABSI) 1 | Foco em vigilância de IRAS, incluindo CLABSI; não detalha CABSI abrangente 8 |
Uso de CHG em Curativos | Detalhada (para CVCs; considerar para PIVCs) 1 | Não abordada especificamente nos materiais fornecidos |
Análise de Evidências/SBARs | Detalhada (SBARs para tópicos com evidência limitada) 1 | Não evidente nos materiais fornecidos |
6. Artigos Relacionados e Fontes Adicionais
Para complementar a análise do Guia APIC 2025 e fornecer recursos adicionais baseados em evidências, foram selecionados artigos científicos relevantes de bases de dados como PubMed e BIREME, além de artigos/blogs do site www.ccih.med.br , que oferecem uma perspectiva local.
6.1. Artigos Científicos Relevantes da PubMed e BIREME
A inclusão de revisões sistemáticas e meta-análises fornece uma visão consolidada e de alto nível da evidência científica para as recomendações. Isso não apenas valida as práticas discutidas no guia APIC, mas também oferece ao leitor uma fonte de referência para aprofundar a compreensão da base de evidências, sem a necessidade de analisar dezenas de estudos primários. Isso eleva o rigor acadêmico do relatório e sua utilidade para pesquisadores e formuladores de políticas.
A Tabela a seguir lista artigos selecionados da PubMed e BIREME, formatados de acordo com as regras da ABNT e com DOI clicável.
Tabela: Artigos Selecionados da PubMed e BIREME sobre Prevenção de CABSI
Título do Artigo | Autores | Periódico/Revista | Ano | DOI Clicável | Resumo dos Achados Chave |
Strategies to prevent central line-associated bloodstream infections in acute-care hospitals: 2022 update | Buetti, N.; Marschall, J.; Drees, M.; et al. | Infection Control & Hospital Epidemiology | 2022 | 10.1017/ice.2022.87 1 | Revisão sistemática que atualiza as estratégias essenciais e adicionais para prevenção de CLABSI em hospitais de cuidados agudos, incluindo higiene das mãos, barreira máxima, CHG, remoção diária e desinfecção de hubs.7 |
Risk factors of catheter-associated bloodstream infection: Systematic review and meta-analysis | Lafuente Cabrero, E.; Terradas Robledo, R.; Civit Cuñado, A.; et al. | PLoS One | 2023 | 10.1371/journal.pone.0282290 1 | Identifica fatores de risco para CLABSI, como nutrição parenteral total (TPN), dispositivos multilúmen, quimioterapia, imunossupressão e duração do uso do cateter.1 |
Clinical Impacts and Risk Factors for Central Line-Associated Bloodstream Infection: A Systematic Review | Alshahrani, K. M.; Alhuwaishel, A. Z.; Alangari, N. M.; et al. | Cureus | 2023 | 10.7759/cureus.40954 1 | Descreve fatores de risco para CLABSI, incluindo duração do uso do cateter, malignidades hematológicas, complexidade cirúrgica e tempo de permanência em UTI.1 |
Evidence-based measures to prevent central line-associated bloodstream infections: a systematic review | Oliveira, A. C.; Souza, A. C. S. | Revista Latino-Americana de Enfermagem | 2016 | 10.1590/1518-8345.1233.2787 21 | Conclui que bundles de cuidados, educação e compromisso da equipe e instituição contribuem para a redução de CLABSI em UTIs de adultos.21 |
Prevenção de infecções de corrente sanguínea relacionadas a cateter em pacientes em hemodiálise | Souza, A. C. S.; Oliveira, A. C. | Acta Paulista de Enfermagem | 2009 | (https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000800024) 22 | Revisão sistemática sobre a prevenção de infecções relacionadas a cateter em pacientes em hemodiálise, destacando diversas medidas de controle de infecção.22 |
6.2. Artigos/Blogs do Site www.ccih.med.br
A inclusão de recursos de um site brasileiro (CCIH) demonstra a relevância local e a conexão com a prática brasileira. Ao incluir artigos do CCIH, a sinopse não apenas atende a uma solicitação específica, mas também contextualiza as diretrizes internacionais dentro da realidade brasileira. Isso mostra que o tema é relevante e discutido no país, e oferece aos leitores brasileiros recursos adicionais em português, facilitando a aplicação prática e a busca por informações complementares no ambiente local.
A Tabela 7 a seguir lista artigos e blogs relevantes do site www.ccih.med.br.
Tabela 7: Artigos/Blogs do CCIH.med.br sobre Prevenção de Infecções Relacionadas a Cateteres
Título do Artigo/Blog | Link Clicável | Breve Descrição do Conteúdo |
Cateteres e Controvérsias: O que Funciona de Verdade na Prevenção? | https://www.ccih.med.br/cateteres-e-controversias-o-que-funciona-de-verdade-na-prevencao/ 23 | Discute o que é controverso e o que realmente funciona na prevenção de infecções relacionadas a cateteres vasculares. |
Onde Fixar a Sonda Vesical em Pacientes do Sexo Masculino: Abdômen versus Raiz da Coxa | https://www.ccih.med.br/onde-fixar-a-sonda-vesical-em-pacientes-do-sexo-masculino-abdomen-versus-raiz-da-coxa/ 23 | Aborda o sítio ideal para fixação de sondas vesicais em pacientes masculinos, um princípio relevante para prevenção de infecções associadas a dispositivos. |
Análise crítica e aplicabilidade do Guia APIC para prevenção de infecção do trato urinário associada a sonda vesical de demora | https://www.ccih.med.br/analise-critica-e-aplicabilidade-do-guia-apic-para-prevencao-de-infeccao-do-trato-urinario-associada-a-sonda-vesical-de-demora/ 23 | Fornece uma análise crítica e discute a aplicabilidade de um guia APIC, demonstrando a relevância da análise de guias internacionais no contexto brasileiro. |
7. Síntese das Recomendações Finais e Campos para Pesquisa Futura
O Guia APIC 2025 para Prevenção de CABSI em Adultos representa um avanço significativo na abordagem da prevenção de infecções da corrente sanguínea relacionadas a cateteres, ao expandir o foco de CLABSI para uma visão mais abrangente de todos os dispositivos de acesso vascular e a intenção de incluir a bacteremia e fungemia de início hospitalar (HOB). A análise deste guia, em comparação com outras diretrizes internacionais e o contexto brasileiro, permite consolidar recomendações para a prática clínica e identificar prioridades para futuras investigações.
Recomendações consolidadas para a prática clínica:
- Transição na Vigilância: É fundamental que as instituições de saúde reconheçam e implementem a transição da vigilância focada exclusivamente em CLABSI para uma abordagem mais abrangente de CABSI e, futuramente, HOB. Essa mudança é crucial para evitar práticas clínicas distorcidas e garantir uma avaliação mais precisa do risco de infecção associado a todos os tipos de dispositivos de acesso vascular.
- Adesão às Práticas Essenciais: A implementação rigorosa das práticas essenciais de inserção e manutenção de VADs é a base de qualquer programa eficaz de prevenção de CABSI. Isso inclui higiene das mãos, uso de barreira máxima estéril, preparação adequada da pele com clorexidina, revisão diária da necessidade do cateter e desinfecção rigorosa do hub. A forte convergência dessas práticas entre os principais guias internacionais valida sua eficácia e universalidade.
- Avaliação Criteriosa de Práticas Adicionais: As instituições devem considerar a implementação de práticas adicionais de forma criteriosa e baseada em uma avaliação de risco local, especialmente quando as taxas de infecção persistem elevadas. A evidência para essas práticas é crescente, mas ainda limitada, o que exige uma abordagem pragmática e adaptada ao contexto específico de cada serviço.
- Individualização da Prática: A seleção do tipo de VAD e do sítio de inserção deve ser sempre baseada em uma avaliação individualizada do paciente, considerando suas necessidades clínicas, características vasculares e fatores de risco, em vez de seguir regras rígidas que podem não ser aplicáveis a todos os cenários.
- Educação e Competência Contínuas: A educação contínua e a avaliação regular da competência da equipe de saúde envolvida na inserção e manutenção de VADs são indispensáveis para garantir a adesão às melhores práticas e a segurança do paciente.
Prioridades para futuras investigações e desenvolvimento de evidências:
- Impacto Direto do Desvio de Amostra: Mais pesquisas são necessárias para estabelecer uma correlação direta entre o uso de dispositivos de desvio de amostra na coleta de hemoculturas e a redução de infecções da corrente sanguínea, utilizando desfechos clínicos reais. A expansão da definição de contaminação da hemocultura para incluir patógenos também seria benéfica para uma análise mais completa.
- Risco de BSI com Múltiplos VADs: Estudos mais robustos são necessários para avaliar o risco de BSI em pacientes com múltiplos dispositivos de acesso vascular concomitantes (como CVCs e PIVCs), com metodologias de vigilância aprimoradas que capturem a complexidade da presença de múltiplos dispositivos.
- Sítios de Inserção de PIVCs: É fundamental conduzir investigações mais aprofundadas e individualizadas sobre o risco de BSI associado a diferentes sítios de inserção de PIVCs, especialmente nas extremidades superiores, para resolver as evidências conflitantes existentes.
- Implicações da Clorexidina e Conectores Sem Agulha: Pesquisas sobre o impacto clínico da resistência bacteriana à clorexidina devido ao seu uso generalizado e a otimização do uso de conectores sem agulha são cruciais para refinar as práticas de prevenção.
- Desenvolvimento de Guias Nacionais: No contexto brasileiro, a aparente lacuna de um guia nacional abrangente e detalhado especificamente para CABSI, semelhante ao Guia APIC, sugere uma área prioritária para o desenvolvimento de diretrizes pela ANVISA, que complementem as orientações gerais de IRAS e ofereçam um detalhamento operacional necessário para a prática clínica.
Referências bibliográficas
- APIC. Preventing Catheter-Associated Bloodstream Infections (CABSI) in Adults. June 2025. Disponível em:(uploaded:2025-CABSI-Implementation-Guide-002.pdf). Acesso em: 15 de junho de 2025. 1
- Alshahrani, K. M.; Alhuwaishel, A. Z.; Alangari, N. M.; et al. Clinical Impacts and Risk Factors for Central Line-Associated Bloodstream Infection: A Systematic Review. Cureus, v. 15, n. 6, p. e40954, 2023. DOI: 10.7759/cureus.40954. 1
- Buetti, N.; Marschall, J.; Drees, M.; et al. Strategies to prevent central line-associated bloodstream infections in acute-care hospitals: 2022 update. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 43, n. 5, p. 1-17, 2022. DOI: 10.1017/ice.2022.87. 1
- Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Guidelines for the Prevention of Intravascular Catheter-Related Infections, 2011. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3106267/ e https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3106269/. Acesso em: 15 de junho de 2025. 9
- Lafuente Cabrero, E.; Terradas Robledo, R.; Civit Cuñado, A.; et al. Risk factors of catheter-associated bloodstream infection: Systematic review and meta-analysis. PLoS One, v. 18, n. 3, p. e0282290, 2023. DOI: 10.1371/journal.pone.0282290. 1
- Oliveira, A. C.; Souza, A. C. S. Evidence-based measures to prevent central line-associated bloodstream infections: a systematic review. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 24, 2016. DOI: 10.1590/1518-8345.1233.2787. 21
- Souza, A. C. S.; Oliveira, A. C. Prevenção de infecções de corrente sanguínea relacionadas a cateter em pacientes em hemodiálise. Acta Paulista de Enfermagem, v. 22, n. 8, p. 1074-1079, 2009. DOI:(https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000800024). 22
- CCIH.med.br. Cateteres e Controvérsias: O que Funciona de Verdade na Prevenção? Disponível em: https://www.ccih.med.br/cateteres-e-controversias-o-que-funciona-de-verdade-na-prevencao/. Acesso em: 15 de junho de 2025. 23
- CCIH.med.br. Onde Fixar a Sonda Vesical em Pacientes do Sexo Masculino: Abdômen versus Raiz da Coxa. Disponível em: https://www.ccih.med.br/onde-fixar-a-sonda-vesical-em-pacientes-do-sexo-masculino-abdomen-versus-raiz-da-coxa/. Acesso em: 15 de junho de 2025. 23
- CCIH.med.br. Análise crítica e aplicabilidade do Guia APIC para prevenção de infecção do trato urinário associada a sonda vesical de demora. Disponível em: https://www.ccih.med.br/analise-critica-e-aplicabilidade-do-guia-apic-para-prevencao-de-infeccao-do-trato-urinario-associada-a-sonda-vesical-de-demora/. Acesso em: 15 de junho de 2025. 23
Sinopse por:
Antonio Tadeu Fernandes:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
#ccih #catetervascular #acessovascular #sepse #bacteremia #prevenção #APIC #ANVISA #guia
Instituto CCIH+ Parceria permanente entre você e os melhores professores na sua área de atuação
Conheça nossos cursos de especialização ou MBA:
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção
MBA Gestão em Centro de Material e Esterilização
MBA EQS – Gestão da Segurança do Paciente e governança clínica