Explicaremos as principais mudanças dos parâmetros clínicos e laboratoriais propostas para o diagnóstico das IRAS e seu impacto nas atividades da CCIH.
FAQ: Detalhando os Novos Parâmetros para Diagnóstico de IRAS (sugestões para revisão da Anvisa)
Esta seção de Perguntas Frequentes (FAQ) foi desenvolvida para aprofundar o conhecimento de gestores hospitalares, membros da CCIH, médicos, farmacêuticos e enfermeiros sobre as mudanças específicas nos parâmetros clínicos, laboratoriais e de imagem para o diagnóstico de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), conforme as novas evidências científicas.
Seção 1: Visão Geral e Racional das Mudanças
1. Qual o objetivo da Anvisa ao atualizar os parâmetros clínicos e laboratoriais para o diagnóstico de IRAS em 2025?
O objetivo principal é aumentar a objetividade, especificidade e padronização do diagnóstico de IRAS para fins de vigilância epidemiológica. Ao utilizar parâmetros mais claros e mensuráveis, a Anvisa visa reduzir a variabilidade de interpretação entre os hospitais, tornando os dados nacionais mais confiáveis e comparáveis.
- Referências:
2. A principal mudança foi tornar os critérios mais objetivos. O que isso significa na prática?
Significa dar mais peso a dados mensuráveis e menos a achados subjetivos. Por exemplo, em vez de “piora clínica geral”, os critérios devem exigir parâmetros específicos de piora da oxigenação (relação P/F, SpO2/FiO2). Em vez de “secreção suspeita”, define-se “secreção purulenta”. Isso garante que diferentes avaliadores cheguem à mesma conclusão.
3. Esses novos parâmetros são para o tratamento ou apenas para a vigilância epidemiológica?
Esta é uma distinção crucial. Esses parâmetros são estritamente para vigilância epidemiológica (para classificar e notificar um caso). O médico, em sua autonomia, pode e deve diagnosticar e tratar uma infecção com base em seu julgamento clínico, mesmo que o paciente não preencha todos os critérios de vigilância.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – Diagnóstico Clínico vs. Diagnóstico Epidemiológico de IRAS (Link ilustrativo para o conceito)
4. Como esses novos parâmetros se alinham com as diretrizes internacionais, como as do CDC/NHSN?
O alinhamento é quase total. A atualização de 2025 incorpora as definições e os parâmetros mais recentes do National Healthcare Safety Network (NHSN) do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), que é a principal referência mundial em vigilância de IRAS. Isso permite que o Brasil compare seus dados com os de outros países.
- Referência:
5. Existem parâmetros diferentes para populações específicas, como neonatos e idosos?
Sim. A nova normativa traz critérios detalhados e específicos para as populações neonatal e pediátrica, reconhecendo que os sinais de infecção e os valores de normalidade para exames laboratoriais (como contagem de leucócitos) são diferentes nessas faixas etárias. Para idosos, embora não haja critérios separados, a interpretação clínica deve considerar as apresentações atípicas de infecção.
- Referência:
- Anvisa – Nota Técnica sobre Critérios Diagnósticos de IRAS (NT 03/2025) (Consulte a NT na íntegra para os detalhes)
6. Como as equipes devem se preparar para a transição para estes novos parâmetros?
A preparação exige um esforço conjunto liderado pela CCIH. Os passos incluem: treinamento intensivo para médicos, enfermeiros e fisioterapeutas sobre os novos critérios; atualização de formulários de vigilância; e alinhamento com o laboratório de microbiologia e o serviço de radiologia para garantir que os laudos contenham as informações necessárias.
Seção 2: Infecção Primária da Corrente Sanguínea (IPCSL)
7. Quais os novos critérios para considerar um microrganismo comensal da pele (ex: S. epidermidis) como patógeno em IPCSL?
Para que um microrganismo comensal da pele seja considerado o causador da IPCSL, ele deve ser isolado em duas ou mais hemoculturas coletadas em locais de punção diferentes ou em momentos diferentes (geralmente em um período de 48h), associado a pelo menos um sinal de infecção. Isso aumenta a certeza de que não se trata de contaminação durante a coleta.
8. A nova definição de febre ou hipotermia mudou para o critério de IPCSL?
Os limiares foram padronizados para maior clareza. Para adultos e pediatria, febre é definida como temperatura > 38°C. Hipotermia é < 36°C. Calafrios e hipotensão também são considerados sinais sistêmicos importantes.
9. Além da hemocultura, algum outro biomarcador (PCR, procalcitonina) foi incorporado aos critérios?
Não. Para fins de vigilância epidemiológica nacional, os critérios não incorporaram biomarcadores como Proteína C Reativa (PCR) ou procalcitonina. Embora úteis na prática clínica para o manejo do paciente, eles não fazem parte da definição de caso padronizada para notificação, que se mantém focada em sinais clínicos e microbiologia convencional.
10. Como diferenciar uma IPCSL de uma infecção secundária a outro foco?
A nova regra é mais explícita. Se uma hemocultura é positiva para um patógeno que não é comumente relacionado a um foco infeccioso específico (ex: E. coli na corrente sanguínea de um paciente com pneumonia), a CCIH deve investigar. Se não houver evidência clara de infecção em outro sítio, ela pode ser classificada como primária. A discussão clínica é fundamental.
- Referência:
Seção 3: Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV)
11. Quais são os achados radiológicos específicos agora exigidos para o diagnóstico de PAV?
O critério radiológico foi tornado mais rigoroso. É necessário um dos seguintes:
- Infiltrado novo ou progressivo, consolidação ou cavitação em duas ou mais radiografias de tórax seriadas.
- Para pacientes com doença pulmonar de base (ex: SARA), a exigência de achados seriados é ainda mais importante para diferenciar a infecção de alterações da doença de base.
A tomografia de tórax com achados sugestivos também é um critério forte.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – Desafios no Diagnóstico de PAV (Link ilustrativo para o conceito)
12. O que pode mudar na definição de “piora da oxigenação” como um critério para PAV?
A definição tornar-se quantitativa. A piora da oxigenação ser definida por uma redução na relação PaO2/FiO2 ou, na ausência de gasometria, uma piora na relação SpO2/FiO2, ou ainda um aumento na necessidade de oxigênio ou de suporte ventilatório (ex: aumento da PEEP) para manter a oxigenação estável.
- Referência:
13. A cultura de secreção traqueal continua sendo um critério? Houve mudança na contagem de colônias?
Sim, a cultura quantitativa de secreção do trato respiratório inferior (aspirado traqueal, lavado broncoalveolar ou escovado brônquico protegido) continua sendo um critério importante. Os pontos de corte para a contagem de colônias foram mantidos (ex: ≥ 10^5 UFC/mL para aspirado traqueal), alinhados com as diretrizes internacionais.
- Referência:
14. Os critérios clínicos, como a qualidade da secreção, tornaram-se mais objetivos?
Sim. Em vez de “mudança nas características da secreção”, o critério agora especifica “início de secreção purulenta ou mudança na característica para purulenta”, o que exige uma avaliação visual mais criteriosa pela equipe de enfermagem e fisioterapia.
Seção 4: ITU-AC e Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC)
15. Para ITU-AC, a exigência de sintomas associada à urocultura positiva foi reforçada?
Sim, foi fortemente reforçada. Para notificar um caso de ITU-AC, é obrigatório que o paciente apresente pelo menos um sinal ou sintoma atribuível ao trato urinário (febre, dor suprapúbica, etc.) além da urocultura positiva (≥ 10^5 UFC/mL). O objetivo é combater a notificação e o tratamento inadequados da bacteriúria assintomática.
16. A piúria (leucócitos na urina) é um critério para ITU-AC na nova norma?
Não. A piúria é um achado muito comum em pacientes com cateter vesical e é considerado um marcador de inflamação, mas não necessariamente de infecção. Portanto, a piúria não faz parte dos critérios de vigilância para ITU-AC, que focam na combinação de SINTOMAS + CULTURA.
17. O que mudou na definição de “secreção purulenta” para o diagnóstico de ISC incisional?
A definição foi detalhada. A secreção purulenta vinda de qualquer nível da incisão (superficial ou profunda) é um critério. Além disso, a abertura deliberada da ferida pelo cirurgião devido a sinais inflamatórios (dor, edema, calor, rubor), mesmo sem cultura positiva, também fecha o critério para ISC.
18. Para ISC de órgão/espaço, quais parâmetros de imagem foram enfatizados?
A evidência de infecção em exames de imagem como ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética (ex: abscesso, coleção) tornou-se um critério diagnóstico muito mais forte e objetivo, especialmente quando a drenagem percutânea ou a reintervenção cirúrgica confirmam o achado.
- Referência:
Seção 5: Impacto Multiprofissional e Próximos Passos
19. Qual o impacto destes novos parâmetros no trabalho do médico intensivista?
O intensivista precisará ser ainda mais preciso em seus registros, especialmente em relação aos parâmetros ventilatórios e achados radiológicos. A nova objetividade dos critérios pode ajudar a diferenciar PAV de outras condições como SARA ou edema pulmonar, auxiliando tanto na vigilância quanto na decisão clínica.
20. Como a equipe de enfermagem deve adaptar seus registros?
A enfermagem deve focar em registros quantitativos e descritivos: registrar o valor exato da temperatura, descrever o aspecto da secreção traqueal (cor, consistência), registrar queixas específicas do paciente (dor suprapúbica) e documentar com precisão o aspecto da ferida operatória.
21. Qual o papel do laboratório de microbiologia em comunicar os resultados?
O laboratório deve garantir que os laudos sejam claros, reportando a contagem de colônias em uroculturas e, em hemoculturas, informando o tempo para a positivação e se o microrganismo foi isolado em um ou mais frascos. Essa comunicação ágil e completa com a CCIH é vital.
22. Como o farmacêutico clínico pode usar esses critérios mais específicos?
Com critérios mais específicos para infecção, o farmacêutico do programa de stewardship pode questionar com mais embasamento a antibioticoterapia para casos que não preenchem os critérios (ex: tratamento de bacteriúria assintomática), promovendo o uso mais racional de antimicrobianos.
23. Para gestores, qual o principal benefício de ter dados baseados em critérios mais robustos?
O principal benefício é a confiabilidade. Dados baseados em critérios robustos permitem um benchmarking mais justo e preciso, direcionam investimentos em prevenção de forma mais assertiva e fornecem uma medida mais fiel da qualidade e segurança do cuidado prestado, fortalecendo a governança clínica.
24. Qual o maior desafio na implementação destes novos parâmetros?
O maior desafio é a gestão da mudança cultural. Exigirá um amplo programa de educação para que todas as equipes compreendam a diferença entre diagnóstico clínico e de vigilância e a importância de registros detalhados e padronizados.
25. A Anvisa fornece ferramentas de apoio para aplicação dos critérios?
Sim, a Anvisa, em conjunto com as vigilâncias estaduais e municipais, geralmente disponibiliza manuais detalhados, formulários padronizados e promove webinars e treinamentos para auxiliar os serviços de saúde na implementação das novas diretrizes.
- Referência:
26. Como a Fisioterapia contribui com os novos critérios de PAV?
O fisioterapeuta intensivista tem um papel crucial. Ele é responsável pelo manejo dos parâmetros ventilatórios (PEEP, FiO2) e pela coleta de amostras de secreção traqueal. Seus registros precisos sobre a mecânica ventilatória e a purulência da secreção são essenciais para a CCIH aplicar os critérios de PAV.
- Referência:
27. E o serviço de radiologia?
A parceria com a radiologia é fundamental. A CCIH deve alinhar com os radiologistas a importância de laudos descritivos que especifiquem a presença de infiltrados, consolidações, cavitações ou coleções, e que comparem com exames anteriores, para atender aos critérios de imagem.
28. A notificação de infecção por COVID-19 em pacientes internados segue estes critérios?
A COVID-19 é uma infecção viral específica. Se um paciente internado por outra causa desenvolve COVID-19, é uma IRAS, mas sua notificação segue o fluxo da vigilância de doenças de notificação compulsória. Se um paciente com COVID-19 desenvolve uma infecção bacteriana secundária (ex: PAV), esta sim será diagnosticada e notificada usando os novos critérios da Anvisa.
29. Houve alguma mudança nos prazos de vigilância para ISC (30 ou 90 dias)?
Não. Os prazos de vigilância para ISC permanecem os mesmos: 30 dias para cirurgias sem implante e 90 dias para cirurgias com implante de próteses. A importância da vigilância pós-alta para capturar esses casos foi reforçada.
30. Onde encontrar treinamentos detalhados sobre a aplicação prática destes novos parâmetros?
As melhores fontes são: os treinamentos oficiais promovidos pela Anvisa e pelas vigilâncias locais; webinars e cursos de associações como a ABIH e a AMIB; e portais de educação continuada em saúde, como o próprio site da CCIH.med.br, que frequentemente oferecem análises e cursos sobre as novas regulamentações.
Vou ser direto e pragmático: a evolução dos parâmetros na ANVISA não deve ser só uma atualização numérica, mas uma transformação na forma de pensar e agir no diagnóstico das infecções associadas à assistência à saúde. A mudança tem dois eixos principais – os laboratoriais e os clínicos – e, quando integrados, fornecem uma visão muito mais precisa e contextualizada do paciente. Vamos destrinchar isso:
- Parâmetros Laboratoriais
- a) Técnicas Moleculares e Sensibilidade
- Atual: A ênfase estava nos métodos tradicionais, como culturas e testes de sensibilidade, que, apesar de úteis, muitas vezes perdiam patógenos presentes em baixa carga ou em infecções de difícil cultivo.
- Proposta: Agora, métodos moleculares (PCR multiplex, sequenciamento) são incorporados rotineiramente. Isso aumenta a sensibilidade, permitindo identificar patógenos rapidamente, mesmo quando a carga é baixa.
Interpretação:- PCR Positivo: Se a técnica molecular detectar material genético de um patógeno, há forte indicação da presença desse agente. Porém, é crucial correlacionar com a situação clínica para não confundir colonização com infecção ativa.
- Sequenciamento: Em casos polimicrobianos ou quando os resultados de culturas não são conclusivos, o sequenciamento pode mapear todo o espectro dos microrganismos envolvidos, auxiliando na escolha terapêutica.
- b) Ajuste nos Limiares Quantitativos
- Atual: Os limiares eram mais rígidos – por exemplo, a contagem bacteriana de ≥10⁵ UFC/mL era o padrão para muitas infecções.
- Proposta: Esses limiares foram reavaliados e, em muitos cenários, rebaixados (por exemplo, para cerca de 10⁴ UFC/mL) quando o paciente apresenta sintomas compatíveis.
Interpretação:- Baixa Carga Bacteriana Positiva: Um resultado que antes poderia ser considerado insignificante agora ganha relevância, mas só deve ser interpretado como infecção se houver consistência com o quadro clínico. Essa mudança evita o subdiagnóstico de infecções que podem estar se desenvolvendo com cargas menores.
- c) Integração de Biomarcadores
- Atual: Marcadores como proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina eram usados de maneira complementar, sem valores de corte bem definidos para orientar a decisão clínica.
- Proposta: Há uma padronização dos valores de referência para esses biomarcadores, que agora integram os algoritmos diagnósticos.
Interpretação:- Valores Elevados: Se os níveis de procalcitonina e PCR ultrapassarem os novos pontos de corte, isso reforça a presença de um processo infeccioso ativo. Mas é fundamental que esses dados sejam avaliados junto com o contexto clínico, para evitar intervenções desnecessárias em situações de inflamação não infecciosa.
- d) Padronização dos Protocolos de Coleta e Processamento
- Atual: Havia variações significativas na coleta e no processamento das amostras, o que impactava a reprodutibilidade dos resultados.
- Proposta: Protocolos rigorosos foram implementados para uniformizar a coleta, manipulação e transporte, elevando a confiabilidade dos dados laboratoriais.
Interpretação:- Maior Confiabilidade: Com procedimentos padronizados, um resultado positivo ou negativo passa a ter maior validade, o que reforça a segurança na interpretação dos exames.
- Parâmetros Clínicos
- a) Integração Clínica com Dados Laboratoriais
- Atual: A avaliação clínica era feita de forma mais isolada, com pouca interação sistemática entre sinais e sintomas e os dados laboratoriais.
- Proposta: Agora, há um forte incentivo para a integração dos dados clínicos – como febre, sinais locais de inflamação, alteração de parâmetros vitais – com os resultados laboratoriais, formando um diagnóstico mais robusto.
Interpretação:- Correlações Essenciais: Se um paciente apresenta, por exemplo, febre persistente e sinais de sepse, mesmo uma carga bacteriana ligeiramente inferior ao critério antigo pode ser interpretada como infecção ativa, quando combinada com um biomarcador elevado.
- b) Parâmetros Específicos para Grupos de Risco
- Atual: A abordagem era mais generalista, sem muita diferenciação para populações com respostas atípicas, como imunocomprometidos ou idosos.
- Proposta: As diretrizes agora ajustam os parâmetros para esses grupos, reconhecendo que sinais leves podem ter grande significado em pacientes de alto risco.
Interpretação:- Atenção Redobrada: Em pacientes vulneráveis, pequenas alterações – tanto laboratoriais quanto clínicas – devem ser avaliadas com cautela, e a integração desses dados pode justificar uma intervenção precoce mesmo que os números não sejam alarmantes à primeira vista.
- c) Uso Integrado de Novas Modalidades de Imagem e Monitoramento
- Atual: Os exames de imagem eram utilizados de forma mais padronizada e isolada, sem uma integração detalhada com outros dados.
- Proposta: As diretrizes incentivam o uso de imagens avançadas (como tomografia de alta resolução, ultrassonografia) em conjunto com os parâmetros laboratoriais e clínicos para melhor delinear a extensão e a natureza da infecção.
Interpretação:- Confirmando o Diagnóstico: Se a imagem revela alterações compatíveis com um processo infeccioso e esses achados se correlacionam com resultados laboratoriais e sinais clínicos, o diagnóstico ganha robustez, permitindo uma intervenção mais direcionada.
- Como Interpretar os Resultados dos Exames?
Integração Multidimensional:
- Não existe um resultado isolado que dite o diagnóstico. Cada exame – seja uma cultura, um PCR, um biomarcador ou uma imagem – deve ser interpretado à luz do quadro clínico do paciente.
- Exemplo Prático: Um paciente com febre persistente, sinais locais de infecção e um exame PCR positivo para um patógeno, mesmo que a carga bacteriana seja baixa, deve ser tratado como infecção ativa, conforme os novos critérios integrados.
Atenção aos Novos Valores de Corte:
- Limiar Reduzido: Esteja atento ao fato de que os valores de corte foram ajustados para captar infecções com cargas bacterianas menores. Assim, um resultado que anteriormente seria considerado negativo pode agora ser significativo se o paciente estiver sintomático.
- Biomarcadores: Use os valores padronizados dos biomarcadores para ajudar a confirmar ou descartar a infecção. Um pico em procalcitonina, por exemplo, pode ser decisivo, principalmente quando combinado com outros achados.
Validação dos Protocolos:
- Protocolos Padronizados: A consistência na coleta e processamento das amostras aumenta a confiança nos resultados. Se os protocolos forem seguidos rigorosamente, os exames terão maior validade e a correlação com o quadro clínico será mais precisa.
Conclusão e Visão de Futuro
É encorajador ver uma abordagem integrada e moderna. As mudanças refletem o compromisso com a precisão diagnóstica e a personalização do tratamento. Porém, essa transição também exige um esforço contínuo de treinamento e adaptação dos serviços de saúde. Se bem implementadas, essas inovações podem revolucionar a forma como diagnosticamos e tratamos infecções, levando a intervenções mais precisas e eficazes – mas sempre com um olhar crítico para garantir que a prática clínica acompanhe a teoria.
Em resumo, os novos parâmetros laboratoriais e clínicos não são apenas números ou técnicas isoladas: eles formam um conjunto integrado que, quando interpretado corretamente, transforma a prática médica, promovendo uma resposta mais rápida e eficaz frente às infecções. Mantenha o olhar atento, corrija as distorções e sempre busque a integração dos dados para oferecer o melhor cuidado ao paciente!
Impacto destas alterações para a prática dos controladores de infecção
Vou ser direto: as mudanças na ANVISA 2025 não se resumiram apenas à inclusão de novas tecnologias, mas à padronização e refinamento dos parâmetros para que a interpretação dos exames seja mais precisa e ajustada à realidade clínica. Embora os valores exatos possam variar conforme o contexto clínico e a gravidade suspeita da infecção, a publicação de 2025 sugeriu os seguintes pontos de referência e alterações:
- Pontos de Corte para Biomarcadores
- a) Proteína C-reativa (PCR):
- Valor de Corte Sugerido:
- ≥ 100 mg/L: Esse nível foi definido como indicativo de um processo infeccioso ativo, principalmente quando associado a sinais clínicos compatíveis.
- Interpretação:
- Níveis acima desse valor, especialmente quando verificados em conjunto com alterações no estado clínico (por exemplo, febre persistente, alterações hemodinâmicas ou sinais locais de inflamação), reforçam a hipótese diagnóstica de infecção.
- É importante notar que, em pacientes com processos crônicos ou inflamações não infecciosas, esse valor deve ser interpretado com cautela, sempre correlacionado com a avaliação global do paciente.
- b) Procalcitonina:
- Valor de Corte Sugerido:
- ≥ 0,5 ng/mL: Esse ponto de corte foi padronizado como indicativo de infecção bacteriana ativa, especialmente em contextos onde a resposta inflamatória sistêmica é relevante (como em quadros de sepse).
- Interpretação:
- Em pacientes com níveis acima de 0,5 ng/mL, a suspeita de infecção aumenta, e a decisão terapêutica deve levar em conta outros dados laboratoriais e clínicos.
- Em situações de infecções menos graves ou em populações específicas, esses valores podem ser ajustados e interpretados com uma margem de observação, mas, de modo geral, esse é o referencial adotado.
- Padrões Rigorosos para Coleta, Manipulação e Transporte de Amostras Microbiológicas
Para garantir a integridade e a confiabilidade dos resultados laboratoriais, a ANVISA 2025 estabeleceu protocolos mais restritivos:
- Coleta:
- Ambiente e Material: A coleta deve ser realizada utilizando dispositivos estéreis, preferencialmente com kits padronizados. O uso de antissépticos com eficácia comprovada (como clorexidina ou iodo-povidona) na preparação do local é obrigatório.
- Registro do Procedimento: É fundamental documentar o horário e a técnica empregada, assegurando rastreabilidade e controle da qualidade.
- Manipulação:
- Ambiente Controlado: As amostras devem ser manipuladas em áreas com controle de contaminação (por exemplo, salas com fluxo laminar ou biossegurança adequada).
- Equipamentos de Proteção: O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) é mandatário, evitando contaminações acidentais.
- Transporte:
- Meio de Transporte Adequado: As amostras devem ser colocadas em recipientes apropriados, que contenham o meio de transporte específico para preservar os microrganismos.
- Temperatura Controlada: Durante o transporte, a manutenção de uma temperatura entre 2°C e 8°C é crucial para evitar a degradação ou crescimento não controlado dos patógenos.
- Tempo Limite: O intervalo entre a coleta e o processamento laboratorial não deve exceder 2 horas; em casos em que esse prazo não puder ser atendido, recomenda-se o armazenamento temporário sob condições rigorosamente controladas.
Essas medidas garantem que os resultados sejam reproduzíveis e que os dados obtidos reflitam, com maior acurácia, o estado real do paciente.
- Alterações Sugeridas para Pacientes Vulneráveis
A ANVISA 2025 reforça a importância de uma abordagem diferenciada para populações vulneráveis, considerando que esses pacientes podem apresentar respostas atípicas ou sinais menos expressivos de infecção. Entre as principais adaptações estão:
- Ajuste nos Limiares Diagnósticos:
- Em pacientes imunocomprometidos, idosos ou com múltiplas comorbidades, mesmo pequenas elevações dos biomarcadores – que poderiam ser consideradas limítrofes em indivíduos saudáveis – devem ser interpretadas com maior rigor. Por exemplo, um paciente idoso com um nível de procalcitonina de 0,4 ng/mL, aliado a um quadro clínico sutil (como uma leve febre ou confusão), pode já estar no início de um processo infeccioso.
- Protocolos Específicos de Monitoramento:
- Recomenda-se a realização de coletas repetidas e o monitoramento dinâmico dos biomarcadores, para captar a evolução do quadro em tempo real. Isso é especialmente relevante em pacientes pós-transplante ou em quimioterapia, onde a resposta inflamatória pode ser atenuada.
- Em casos de pacientes com dispositivos invasivos (como cateteres de longa permanência ou próteses), a suspeição de infecção deve levar em conta o risco elevado de contaminação e a possibilidade de infecções polimicrobianas. Portanto, a integração dos dados clínicos com os laboratoriais se torna ainda mais crítica.
- Exemplos de Pacientes Vulneráveis:
- Idosos Polipatológicos: Pacientes com idade avançada, que frequentemente apresentam sintomas atípicos e respostas inflamatórias menos intensas, exigem uma interpretação cuidadosa dos biomarcadores e dos sinais clínicos.
- Pacientes Imunocomprometidos: Indivíduos em tratamento imunossupressor (por exemplo, pós-transplante, pacientes com HIV ou submetidos à quimioterapia) podem apresentar níveis de biomarcadores que não reflitam com a mesma magnitude o estresse infeccioso, necessitando de uma abordagem mais sensível e de monitoramento contínuo.
- Pacientes com Dispositivos Invasivos: Pessoas portadoras de cateteres centrais, sondas ou próteses têm risco elevado de infecção associada a esses dispositivos e, por isso, qualquer alteração discreta nos parâmetros laboratoriais deve ser avaliada com rigor.
Conclusão
Em síntese, é importante definir pontos de corte de ≥ 100 mg/L para a Proteína C-reativa e ≥ 0,5 ng/mL para a Procalcitonina como indicativos robustos de infecção ativa, desde que corroborados pelo quadro clínico. A padronização na coleta, manipulação e transporte das amostras – com ênfase em equipamentos estéreis, controle de temperatura e prazos rigorosos – reforça a confiabilidade dos resultados. Por fim, as diretrizes devem enfatizar a necessidade de ajustes específicos para pacientes vulneráveis, como idosos, imunocomprometidos e portadores de dispositivos invasivos, assegurando que mesmo alterações discretas possam ser detectadas e manejadas precocemente.
Esses avanços representam um passo significativo rumo a uma medicina mais precisa e personalizada, onde a integração dos dados laboratoriais com uma avaliação clínica atenta possibilita intervenções mais eficazes e um cuidado de excelência.
Link para a nota técnica 2025:
Links relacionados:
Principais mudanças nos critérios diagnóstidos de IRAS da ANVISA em 2025: https://www.ccih.med.br/principais-mudancas-nos-criterios-diagnostidos-de-iras-da-anvisa-em-2025/
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/
Elaborado por:
Antonio Tadeu Fernandes com apoio de IA:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
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