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Cinco anos de COVID-19: Cicatrizes que não se veem

O que o infectologista e nosso professor Felipe Prohaska avalia os 5 anos de COVID-19 e quais cicatrizes deixou nos profissionais de saúde e em nossa sociedade.

 

Cinco anos. Cinco longos anos desde que o mundo parou. Parece que foi ontem — mas, ao mesmo tempo, parece que foi há uma vida inteira. Os corredores dos hospitais, antes cheios de vida, se transformaram em campos de batalha silenciosos, onde a respiração pesada de um ventilador era o som mais temido. Cinco anos desde que o cansaço deixou de ser apenas físico e se alojou em algum lugar entre o peito e a alma.

Eu estava lá, na linha de frente. Como médico infectologista, sabia que algo devastador estava por vir quando os primeiros casos começaram a aparecer. Mas saber não ameniza a dor. Saber não prepara para a visão de um paciente que entrou andando e, dias depois, deixou o hospital num saco plástico. Saber não ajuda a suportar a impotência de olhar nos olhos de alguém que luta para respirar, sabendo que você está de mãos atadas.

Vi colegas desmoronarem. Vi médicos chorarem sozinhos nos vestiários, porque chorar em público era luxo. Vi enfermeiros com as mãos machucadas pelas luvas, com os rostos marcados pelas máscaras, mas ainda assim aparecendo para o próximo plantão — porque não havia escolha. A morte virou rotina, e o luto ficou suspenso, engolido pelo ritmo implacável dos plantões.

O peso das decisões também ficou. Aquele paciente vai para o respirador? Quem terá prioridade? Como dizer para a família que não há mais o que fazer? Como continuar respirando depois de dizer isso?

E quando a primeira vacina chegou, nos permitimos sonhar. Nos permitimos acreditar que o pior tinha passado. Que teríamos uma chance de reconstruir, de sermos valorizados, de finalmente respirarmos sem o peso constante do medo e da exaustão. Mas essa esperança foi curta.

Porque depois que a poeira baixou, veio a ingratidão. A mesma sociedade que nos chamava de heróis virou as costas para nós. Os aplausos cessaram, as promessas foram esquecidas, e o sistema de saúde voltou a ser negligenciado. Cortes de verbas, falta de estrutura, sobrecarga. E nós seguimos, agora mais cansados, mais desconfiados, mais feridos. Fomos aplaudidos no auge da crise, apenas para sermos descartados no silêncio do pós-pandemia.

O pior não foi enfrentar o vírus. O pior foi perceber que o sacrifício ficou na memória apenas de quem lutou. O mundo seguiu em frente. Nós ficamos para trás — com as mãos calejadas, os olhos cansados e as cicatrizes invisíveis que ninguém se importa em ver.

Heróis salvam o mundo…

O nosso não tem salvação!

FAQ: Cinco Anos de COVID-19 – As Cicatrizes nos Profissionais de Saúde

 

 

Parte I: As Cicatrizes Invisíveis – Saúde Mental e Emocional

1. Qual é a principal “cicatriz que não se vê” deixada pela pandemia nos profissionais de saúde cinco anos depois?

A principal cicatriz é o profundo impacto na saúde mental. Cinco anos após o auge da crise, altas taxas de Síndrome de Burnout, Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), ansiedade e depressão persistem entre médicos, enfermeiros e farmacêuticos que atuaram na linha de frente.

2. Como diferenciar o cansaço do trabalho da Síndrome de Burnout?

O cansaço é geralmente aliviado com descanso. O Burnout é um esgotamento crônico com três dimensões: 1) Exaustão emocional (sentir-se drenado); 2) Despersonalização (tratar pacientes e colegas com distanciamento e cinismo); 3) Baixa realização profissional (sentir-se ineficaz).

3. Quais sintomas de Estresse Pós-Traumático (TEPT) podem afetar os profissionais que atuaram na linha de frente?

Os sintomas podem incluir flashbacks de eventos traumáticos (mortes, falta de recursos), pesadelos, evitação de situações que lembrem o hospital, hipervigilância (estar sempre em alerta) e reações exageradas a estímulos. Muitos profissionais revivem a angústia vivida durante os picos da pandemia.

4. O que é “dano moral” (moral injury) e como ele afetou os profissionais de saúde?

Dano moral é o sofrimento que ocorre quando um profissional é forçado a agir de uma forma que viola seu código moral ou ético. Durante a pandemia, isso aconteceu ao ter que alocar recursos escassos (como leitos de UTI ou respiradores), ao ver pacientes morrendo sozinhos ou ao sentir que não podiam oferecer o cuidado ideal, deixando cicatrizes éticas profundas.

5. A pandemia mudou a percepção pública e a relação com os profissionais de saúde?

Sim. A relação passou de uma fase inicial de “heroísmo” para uma de exaustão, muitas vezes acompanhada por desinformação e agressividade por parte de alguns setores da sociedade. Essa mudança impactou a confiança e aumentou o estresse, sendo uma cicatriz social que afeta a prática diária.

  • Referência: [link suspeito removido]

 

Parte II: As Cicatrizes Físicas e no Sistema de Saúde

6. Além da saúde mental, os profissionais de saúde também sofrem com a “COVID Longa”?

Sim. Profissionais de saúde que se infectaram, muitos deles no ambiente de trabalho, também podem desenvolver COVID Longa. Os sintomas persistentes como fadiga crônica, névoa mental (“brain fog”) e dispneia impactam sua capacidade de trabalho e qualidade de vida.

7. Como a pandemia impactou a força de trabalho na saúde a longo prazo?

A pandemia acelerou um êxodo de profissionais, com muitos pedindo demissão, aposentando-se precocemente ou mudando de área de atuação devido ao esgotamento. Isso gerou uma escassez de profissionais experientes, especialmente na enfermagem e em áreas críticas, sobrecarregando ainda mais os que permaneceram.

8. Quais mudanças nos processos hospitalares se tornaram permanentes após a pandemia?

Muitas mudanças foram incorporadas, como a manutenção de fluxos separados para pacientes com síndromes respiratórias, a expansão da telemedicina, a maior valorização das equipes de Prevenção e Controle de Infecção (PCI) e uma maior flexibilidade na conversão de leitos de enfermaria para leitos de terapia intensiva.

 

Parte III: Lições Aprendidas em Prevenção e Controle de Infecções

9. Qual foi a maior lição aprendida em Prevenção e Controle de Infecção (PCI) durante a pandemia?

A maior lição foi que os princípios básicos de PCI são a base para a resposta a qualquer emergência sanitária. A importância da higiene das mãos, do uso correto de EPIs, das precauções baseadas na transmissão e da vigilância epidemiológica foi demonstrada em escala global.

10. A prática da higiene das mãos se consolidou universalmente após a COVID-19?

Houve uma melhora inicial significativa na adesão, tanto por profissionais quanto pelo público. No entanto, a tendência pós-pico pandêmico tem sido de relaxamento. A cicatriz aqui é a constatação de que a adesão sustentada à higiene das mãos requer esforço cultural contínuo, não apenas uma resposta a uma crise.

11. Como a pandemia mudou nossa abordagem sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)?

A pandemia ensinou lições duras sobre a importância de ter estoques estratégicos de EPIs, de treinar massivamente as equipes para o uso correto (paramentação e desparamentação) e da necessidade de adaptar as recomendações com base na evolução da ciência sobre as vias de transmissão de um novo patógeno.

12. Qual a importância da ventilação dos ambientes de saúde, uma lição reforçada pela pandemia?

A pandemia destacou a transmissão por aerossóis e provou que a ventilação é uma medida de controle de infecção tão importante quanto a limpeza de superfícies. A melhoria dos sistemas de ventilação e a valorização de ambientes arejados tornaram-se um pilar na prevenção de infecções respiratórias.

13. A pandemia piorou o cenário da Resistência Antimicrobiana (RAM)?

Sim. O uso massivo e muitas vezes inadequado de antibióticos de amplo espectro em pacientes com COVID-19, na tentativa de tratar coinfecções bacterianas, acelerou a pressão seletiva. A longo prazo, isso resultou em um aumento na prevalência de bactérias multirresistentes nos hospitais, uma “pandemia silenciosa” que se agravou.

 

Parte IV: O Caminho à Frente – Resiliência e Preparação

14. O que significa construir um “sistema de saúde mais resiliente”?

Significa criar um sistema com capacidade de “absorver” o choque de uma crise, se adaptar e se recuperar rapidamente. Isso envolve ter uma força de trabalho valorizada e com bem-estar, estoques estratégicos, infraestrutura flexível, sistemas de vigilância robustos e uma liderança forte e comunicativa.

15. Quais estratégias as instituições podem adotar para apoiar a saúde mental de suas equipes?

As instituições devem oferecer acesso facilitado a serviços de saúde mental, criar espaços seguros para diálogo e descompressão, promover uma cultura que combata o estigma, e, o mais importante, atuar nas causas-raiz do estresse, como a sobrecarga de trabalho e a falta de recursos.

16. Qual o papel do médico líder na cura dessas cicatrizes?

O médico líder deve advogar por melhores condições de trabalho, promover uma Cultura Justa que não culpe os indivíduos por falhas sistêmicas, e criar um ambiente de segurança psicológica onde a equipe se sinta à vontade para expressar suas dificuldades sem medo de julgamento.

17. Como o enfermeiro pode atuar na promoção da saúde mental de sua equipe?

O enfermeiro líder pode implementar práticas como “pausas para descompressão” (huddles), estar atento aos sinais de esgotamento em seus colegas, incentivar o apoio mútuo na equipe e levar as preocupações da linha de frente para a gestão, defendendo um ambiente de trabalho mais saudável.

18. Qual o papel do farmacêutico na preparação para futuras emergências sanitárias?

O farmacêutico é essencial na gestão da cadeia de suprimentos de medicamentos e vacinas, no desenvolvimento de protocolos para uso de novos fármacos, no combate à desinformação sobre tratamentos e na participação ativa dos programas de Antimicrobial Stewardship para evitar o agravamento da RAM durante crises.

19. Como a Governança Clínica se tornou ainda mais importante no cenário pós-pandemia?

A pandemia expôs as fragilidades dos sistemas de saúde. A Governança Clínica emergiu como o sistema essencial para reconstruir a confiança, garantindo que as decisões sejam baseadas em dados, que os processos sejam seguros e que haja uma responsabilização clara pela qualidade e segurança do cuidado prestado.

20. Onde profissionais de saúde podem buscar apoio para cuidar da própria saúde mental?

É fundamental buscar ajuda profissional. Recursos incluem os serviços de psicologia e psiquiatria oferecidos pelos planos de saúde ou pela própria instituição, o Centro de Valorização da Vida (CVV – Disque 188) e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, através das Unidades Básicas de Saúde e dos CAPS.

Autor:

Filipe Prohaska

https://www.linkedin.com/in/filipeprohaska/

 

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