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Atraso na administração de antibióticos entre bebês prematuros com infecção da corrente sanguínea

Qual impacto e quais fatores estão relacionados ao atraso na administração de antibióticos em prematuros com infecção primária da corrente sanguínea? Esta coorte retrospectiva busca respostas à estas questões e propões medidas para aprimoramento terapêutico.

Neste artigo abordaremos:

  • Por que foi realizado o estudo
  • Que respostas o estudo buscou
  • Como se procurou obter respostas à questão
  • Principais resultados obtidos
  • Limitações, conclusões e recomendações do estudo 

Atraso na administração de antibióticos: por que foi realizado o estudo?

A literatura cientifica sugere que a administração de antibióticos sistêmicos já na primeira hora a partir do reconhecimento da infecção da corrente sanguínea seja um importante fator modificável associado a redução da mortalidade em tal cenário. Sendo assim, a administração oportuna de antibióticos foi incorporada nas diretrizes internacionais de manejo de sepse, formando muitas vezes a base de iniciativas de melhoria da qualidade de atendimento. Contudo, os fatores específicos relacionados à prática que evitam o atraso na administração destes medicamentos permanecem ainda uma incógnita, principalmente quando o contexto é o das unidades de terapia intensiva neonatal (NICU).

Que respostas este estudo buscou?

O estudo teve dois principais objetivos. O primeiro foi identificar, no contexto da NICU, as práticas relacionadas a infecção que estavam associadas a um maior tempo de administração de antibióticos intravenosos. O segundo objetivo foi explorar, dentro da coorte de estudo, a associação entre o tempo entre diagnostico e administração de antibióticos com os desfechos clínicos.

Como se procurou obter respostas sobre este atraso na administração de antibióticos?

O estudo foi realizado em duas NICUs terciarias afiliadas à universidade de Toronto (Monte Sinai Hospital e Sunnybrook Health Sciences Center) de janeiro de 2011 a dezembro de 2016. Durante esses seis anos, os autores coletaram dados sobre as práticas das NICUs relacionadas a infecção da corrente sanguínea e foi realizado um estudo de coorte retrospectivo para identificar fatores associados à mortalidade em recém-nascidos prematuros com infecção de corrente sanguínea de início tardio.

Foram incluídos recém-nascidos com menos de 35 semanas de idade gestacional (GA) com infecções nosocomiais de corrente sanguínea. O critério diagnostico utilizado na seleção de casos foi cultura de sangue e/ou líquido cefalorraquidiano (CRL) coletada pós 72 horas de idade e positiva para organismos que não fossem estafilococos coagulase-negativos (CNS).

Os dados foram extraídos de um banco de dados eletrônico mantido prospectivamente nas instituições. O início da infecção sanguínea foi considerado como o primeiro evento registrado; para pacientes com vários episódios, apenas o primeiro foi incluído.

A coorte foi dividida em dois grupos, com base no desfecho primário, para comparar a frequência e momento de ocorrência das diferentes intervenções clínicas. Além disso, os resultados clínicos foram comparados entre os pacientes que receberam antibióticos dentro e fora do tempo médio. Foi realizada análise estatística comparativa entre os grupos e, por fim, os resultados clínicos dos pacientes que receberam antibióticos dentro de 1 hora do diagnostico foram comparados com o restante da coorte.

Quais foram os principais resultados obtidos?

A coorte de estudo inclui 142 bebês prematuros com GA media de 26 semanas e peso ao nascer de 833g. A média de incidência de infecções da corrente sanguínea foi de 16 dias, com idade média pós-menstrual de 29,2 semanas.

Os isolados bacterianos mais comuns foram Escherichia coli, Streptococcus do grupo B e Staphylococcus aureus. A mortalidade geral relacionada a infecção de corrente sanguínea identificada foi de 14%, sendo que a maior parte ocorreu em <48 horas do início da infecção sanguínea; já a taxa de mortalidade antes da alta hospitalar foi de 21%.

Os dados revelaram um tempo médio de 1,9 horas entre o diagnóstico e o início da administração de antibióticos. Os autores identificaram fatores relacionados a prática associados a um maior tempo entre diagnostico e administração de antibióticos, sendo os principais a coleta de CRL ou amostra de urina antes da administração, maior tempo necessário para instalação de cateter intravenoso periférico e necessidade de administração de bolus de fluidos.

O tempo para aquisição de hemocultura foi semelhante em todos os grupos, assim como os resultados clínicos entre aqueles que receberam antibióticos dentro ou fora do tempo mediano. Fatores associados com administração de antibióticos dentro da primeira hora após diagnostico foram menor idade e peso no início da infecção da corrente sanguínea e cateter intravenoso pré-existente.

Quais as limitações desse estudo?

Os autores ressaltam que estafilococos coagulase negativos não foram considerados porque a prática padrão nas instituições de estudos era a obtenção de apenas uma hemocultura para a identificação de infecção da corrente sanguínea, o que torna a identificação retrospectiva de uma infecção verdadeira por esse tipo de organismo desafiadora.

Quais foram as principais conclusões e recomendações do estudo?

Os autores refletem que, embora os recentes esforços de melhoria de qualidade tenham sido muito concentrados na administração precoce de antibióticos, é importante lembrar que a enfatização exagerada na administração de antibióticos pode distrair os médicos de fornecer outras intervenções diagnosticas ou terapêuticas que potencialmente salvam vidas em pacientes com comprometimento fisiológico grave.

Sendo assim, concluem que é fundamental para os clínicos encontrar um equilíbrio que permita a administração rápida de antibióticos e a garantia da estabilidade fisiológica geral; para tal, defendem que é necessário um foco simultâneo, com as estratégias corretas e com um esforço consciente.

Além disso, eles enfatizam que os neonatologistas devem continuar a examinar métodos para o uso criterioso de antibióticos em UTINs, dado o dano potencial da prescrição excessiva.

Como este estudo impacta em nossa prática profissional?

O ponto mais interessante do artigo, para além dos dados em si, é a reflexão final dos autores, que destacam a importância de encontrar o equilíbrio apropriado entre as práticas padrão-ouro e a prática clínica no contexto das NICUs. Este estudo é um bom lembrete da importância de refletir ativamente sobre as práticas cotidianas, a fim de melhorar ainda mais os resultados das práticas de prevenção e controle de infecções, que são fundamentais para reduzir cada vez mais as taxas de mortalidade.

Entretanto, este estudo carece de uma melhor comparação entre os dois grupos de pacientes afetados, para podermos excluir possíveis confundidores e com isto perde pontos em seu grau de evidência científica das recomendações finais.

Fonte: Baczynski M, Kharrat A, Zhu F, Ye XY, Shah PS, Weisz DE, Jain A. Factors associated with antibiotic administration delay among preterm infants with late-onset bloodstream infection. J Hosp Infect. 2022 Feb;120:31-35

Sinopse por: Maria Julia Ricci

E-mail: [email protected]

Linkedin: www.linkedin.com/in/mariajuliaricci

Instagram: @sonojuju

Twitter: @sonojuju

Palavras chave / TAGs: prematuridade, Infecção da corrente sanguínea, administração de antibióticos, fatores de risco, estabilidade fisiológica

Link relacionados:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0195670121004059

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22893550/

https://journals.lww.com/pidj/Fulltext/2014/02000/Clinical_and_Laboratory_Factors_That_Predict_Death.8.aspx

https://www.ccih.med.br/intervencao-de-stewardship-antimicrobiano-para-reduzir-doses-desnecessarias-de-antibioticos-em-neonatos/

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