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Alergia à clorexidina: o que devemos fazer?

A clorexidina vem sendo largamente empregada como antisséptico, mas ocorrem reações de hipersensibilidade. Em quais situações este fato é mais frequente e que precauções devem ser tomadas. Neste artigo discutimos:

  • Alergia a clorexidina
  • Fatores de risco
  • Conduta

A clorexidina pode ser um alérgeno?

A clorexidina é um agente amplamente utilizado no âmbito dos cuidados em saúde desde a sua descoberta em 1954. Sendo um agente com atividade bacteriostática, bactericida, antiviral e até antifúngica, tornou-se um dos pilares de estratégias de prevenção de infecção em muitos lugares do mundo.

Mesmo com os amplamente estudados benefícios significativos para a prevenção de infecções é importante considerar que a clorexidina é um alérgeno potencial. Sendo que essa substância tem o potencial de desencadear reações de hipersensibilidade mediadas por IgE em indivíduos sensibilizados, é necessário analisar os riscos envolvidos e elaborar estratégias de mitigação.

Qual o objetivo do estudo?

O objetivo do estudo foi avaliar a extensão do risco de reação alérgica associada ao uso de produtos médicos contendo clorexidina, bem como identificar medidas que possam tornar o uso mais seguro.

Como os autores realizaram a pesquisa?

Os autores utilizaram 4 bancos de dados eletrônicos para buscar artigos publicados entre 1946 e 2019 sobre alergia devido ao uso de dispositivos, produtos médicos ou cosméticos contendo clorexidina. Foram encontradas 468 publicações que foram submetidas a um screening inicial realizado por 2 revisores independentes. Foram excluídas as publicações não disponíveis em inglês, que não avaliassem os dispositivos em questão ou que não relatavam reação alérgica.

Uma vez selecionados, os resultados incluídos foram estratificados por via de exposição a clorexidina e pais da publicação. Os autores então aprofundaram as análises sobre os casos identificados como reações alérgicas a clorexidina associadas a uso de cateter vascular.

Em quais situações foram relatados casos de reação alérgica á clorexidina?

Após a seleção, foram incluídos 124 relatos de casos de alergia relacionada a clorexidina, que resultaram em reações que variaram desde dermatites alérgicas até anafilaxia grave. Não houve registros de casos fatais. Os casos de sintomatologia leve foram tratados com hidrocortisona local ou tratamento da ferida localizada, enquanto os casos mais severos foram tratados com fluidos intravenosos, esteroides e adrenalina.

Dentre os 124 relatos, 30 casos foram associados ao uso de cateteres vasculares revestidos com clorexidina. Dentre estes, 17 pacientes (56,7%) haviam sido pré-sensibilizados com substâncias contendo clorexidina antes da inserção do cateter, que haviam sido utilizadas para lavagem da pele ou como desinfetante feridas. O intervalo de entre a pré-sensibilização e a reação alérgica variou consideravelmente, sendo o mais breve de 6 minutos e o mais longo de 3 anos.

Quais foram as principais conclusões dos autores?

Os autores concluem que, considerando o uso extensivo de produtos contendo clorexidina nos serviços de saúde e o potencial de sensibilização alérgica dos pacientes, quando não houve ou não se há registro sobre reações de sensibilidade é necessário que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar com essas reações que podem ocorrer e progredir rapidamente.

Mesmo não encontrando registro de reações fatais, os pesquisadores ressaltam que existem diversas medidas que podem ser adotadas para mitigar os riscos relacionados. As precauções recomendadas são: revisar cuidadosamente o histórico de reações e exposições anteriores; para pacientes de alto risco ou de histórico desconhecido, realizar analise de anticorpos IgE sensíveis para clorexidina por meio de kits de detecção; destacar as notificações de risco de alergia e criar lista de perguntas sobre esse risco nos kits de inserção de cateter vascular; por fim, garantir fácil acesso a epinefrina no local de realização de inserção do cateter para permitir pronta resposta em caso de choque anafilático.

Quais foram as limitações do estudo descritas pelos autores?

Os autores ressaltam algumas limitações do estudo. Primeiramente, o número real de casos ocorridos no período pesquisado é potencialmente maior pois nem todos os casos são publicados como relato de caso. Além disso ressaltam que muitas reações adversas são subnotificadas ou não completamente investigadas quanto a causa, particularmente os casos de rápida resolução ou sintomatologia leve.

Quais críticas e comentários finais?

A revisão de processos e práticas é uma atitude fundamental no âmbito da saúde, seja para produtos recém introduzidos que para ferramentas já amplamente consolidadas. A clorexidina é uma aliada dos profissionais da saúde e na prevenção de infecções, porém, como bem ressaltado no artigo, cada dia mais torna-se importante considerar que seu amplo uso aumenta os riscos de ocorrência de reação de hipersensibilidade.

Apesar de informativo, o artigo possui alguns pontos a serem considerados com cautela. Primeiro foi a escolha dos autores de utilizar uma única pesquisa nas bases de dados e foram incluídas apenas publicações disponíveis integralmente em língua inglesa, o que apesar de justificável limitou a variedade de países incluídos na análise. Além disso, os autores sugerem diversas abordagens para a mitigação dos riscos relacionados ao uso da clorexidina na conclusão do artigo, de forma consideravelmente superficial. Por fim, os autores declaram existência de conflito de interesses por serem inventores de uma tecnologia relacionada a temática e licenciada pela mesma empresa que financiou a publicação; essa mesma tecnologia é recomendada entre as possíveis estratégias de mitigação.

Por fim, mesmo considerando-se que em muitos casos não é notificada a alergia, o amplo emprego da clorexidina e ter poucos casos publicados da reação alérgica questiona o relação custo-benefício de realizar rotineiramente a pesquisa indicada no texto, mais um exemplo a impacto do conflito de interesses.

Fonte: Gerges BZ, Rosenblatt J, Truong YL, Reitzel RA, Raad I. Review of allergic reactions from use of chlorhexidine on medical products in clinical settings over 40 years: Risks and mitigations. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Jun;43(6):775-789

Link: https://doi.org/10.1017/ice.2021.150

Links relacionados:

ImmunoCAP Specific IgE test: an objective tool for research and routine allergy diagnosis – https://doi.org/10.1586/14737159.4.3.273

Chlorhexidine Allergy: Current Challenges and Future Prospects – https://doi.org/10.2147%2FJAA.S207980

IgE-mediated chlorhexidine allergy: a new occupational hazard? – https://doi.org/10.1093/occmed/kqp042

Antissepsia: https://www.ccih.med.br/antissepsia/

Antissépticos na prática hospitalar: https://www.ccih.med.br/antissepticos-na-pratica-hospitalar/

Uso de cateteres venosos centrais impregnados com antissépticos: https://www.ccih.med.br/o-uso-de-cateteres-venosos-centrais-impregnados-com-antissepticos/

CCIH: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/

Sinopse por: Maria Julia Ricci

E-mail: [email protected]

Instagram: https://www.instagram.com/sonojuju/

Linkedin; www.linkedin.com/in/mariajuliaricci

TAG / palavras chaves: clorexidina, alergia, alérgeno, hipersensibilidade, dermatite, anafilaxia, cateter vascular, pré-sensibilizado, anticorpos IgE, kit de detecção

 

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