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Como se bastasse a pandemia Covid-19, a hepatite misteriosa, agora a varíola de macacos parece nos ameaçar com uma das maiores pragas vividas pela humanidade. Tire suas dúvidas lendo este artigo, onde discutimos:

  • Doenças infecciosas de animais, como a varíola de macaco, podem afetar a espécie humana?
  • O que são zoonoses e qual seu impacto na saúde humana?
  • O que sabemos sobre as doenças infecciosas comuns de homens e animais?
  • Por que cada vez mais vivenciamos essas ameaças microbianas?
  • Quando a varíola humana foi oficialmente erradicada?
  • Macacos brasileiros são afetados pela varíola?
  • Quando foi descoberto que o vírus da varíola do macaco pode afetar humanos?
  • Quais são os sinais e sintomas da varíola de macaco nos humanos?
  • Como se desenvolve a varíola nos macacos?
  • Como se dá a transmissão da varíola de macacos?
  • O que sabemos sobre o atual surto de infecção pelo Monkeypox?
  • Qual o prognóstico e o tratamento recomendado para casos de infecção por Monkeypox?
  • Quais são as principais medidas de prevenção recomendadas?
  • Existe uma vacina específica para prevenção da varíola de macacos?
  • Apenas o Monkeypox tem sido associado à transmissão de varíola de macacos para humanos?
  • O mais podemos fazer diante deste cenário?

Doenças infecciosas de animais, como a varíola de macaco, podem afetar a espécie humana?

As doenças transmissíveis comuns do homem e de animais representam importante ameaça para a saúde e bem-estar da população mundial. São mais problemáticas nos países subdesenvolvidos em zonas periurbanas e rurais. Apresentam estreita relação entre saúde pública, meio ambiente e nível socioeconômico. Neste grupo de doenças temos as verdadeiras zoonoses e as doenças infecciosas comuns em homens e animais.

O que são zoonoses e qual seu impacto na saúde humana?

Zoonoses são doenças infecciosas que têm nos animais (principalmente vertebrados) o seu hospedeiro natural, que os mantém na natureza, sendo a espécie humana seu hospedeiro acidental. A varíola de macaco faz parte deste grupo. A principal forma de contágio das zoonoses é a ingestão destes animais, mas pode também ocorrer transmissão aérea e por contato.

Novas enfermidades zoonóticas surgem continuamente com a incorporação da atividade humana (desmatamento) em novos territórios que contém os focos naturais de infecção e com o aprimoramento dos recursos diagnósticos.

Os dados sobre a frequência de muitas zoonoses são fragmentários e pouco fidedignos, pois dependem de programas de saúde pública bem desenvolvidos, abrangentes e aprimoramentos na vigilância epidemiológica e notificação compulsória das enfermidades.

O que sabemos sobre as doenças infecciosas comuns de homens e animais?

Geralmente homens e animais contraem a infecção a partir das mesmas fontes, por exemplo: solo, água, vetores invertebrados e plantas ou de infectados/colonizados. Nestes casos os animais não representam um papel essencial na manutenção da doença, mas podem contribuir em grau variável com a distribuição e transmissão de infecções.

Dentre todos os animais, devido seu maior grau de semelhança genética com a espécie humana, os macacos são animais com maior risco potencial deste intercâmbio de agentes etiológicos.

Por que cada vez mais vivenciamos essas ameaças microbianas?

Um número crescente de doenças infecciosas pode ser incluída neste grupo, que aumenta à medida que a espécie humana invade ambientes selvagens, desenvolve tecnologias para seu diagnóstico e amplia o conhecimento sobre epidemiologia, ecologia, ciências biológicas e sociais.

As guerras e conflitos de toda espécie tem originado o problema dos refugiados, que se espalham pelo mundo, podendo levar consigo doenças desconhecidas em seus novos habitats. Com a globalização, o deslocamento de pessoas ou animais a grandes distâncias pode também introduzir doenças exóticas, que podem ou não se tornarem endêmicas em novas regiões, de acordo com os determinantes ecológicos dos agentes etiológicos.

Além disso, investigações recentes têm comprovado que algumas doenças infecciosas humanas têm os animais como hospedeiros ocasionais, onde apesar de provocar poucos sintomas, podem ter participação na manutenção da endemicidade da doença a até sua disseminação para novas áreas como o caso das aves migratórias.

No caso de vírus, podem ocorrer mudanças radicais na sua estrutura antigênica, causando pandemias explosivas devido a recombinação com vírus de origem animal, que esteja infectando ao mesmo tempo um hospedeiro. Esta é uma provável explicação para a origem da atual pandemia Covid-19.

Afinal, o mundo se tornou rapidamente mais vulnerável à erupção e à propagação global de moléstias infecciosas antigas ou novas para nossa espécie. O grande aumento da movimentação de gente, mercadorias, novas tecnologias e até ideias que influenciam comportamentos é a força motriz. Distúrbios ecológicos, que promovem por exemplo o aquecimento global, podem favorecer a expansão da distribuição de vetores que viajam escondidos nos veículos ou mercadorias que se espalham pelo mundo.

Quando a varíola humana foi oficialmente erradicada?

A varíola foi durante muito tempo um grande flagelo para a humanidade. Ela foi a principal responsável pela derrota do poderoso Império Asteca diante de poucos navegantes espanhóis, determinando a invasão europeia das américas. Graças a uma campanha mundial de imunização, ela foi declarada oficialmente erradicada em 1980, pois seu último caso na natureza ocorreu em 1977. Tivemos casos esporádicos de exposição laboratorial à amostras do vírus guardadas em laboratório.

No entanto, desde então a Comissão Mundial para Erradicação da Varíola formulou recomendações para a vigilância permanente a supostos casos de varíola contraídos a partir de macacos principalmente na África Ocidental e África Central. A existência de possíveis reservatórios animais do vírus da varíola humana tem sido outra preocupação, opção descartada até o momento. Portanto, o foco de preocupação é a transmissão da varíola de macacos para humanos.

Macacos brasileiros são afetados pela varíola?

O vírus da varíola de macacos chama-se Monkeypox e foi identificado laboratorialmente em 1958. Mas anteriormente a esta data já havia sido descrita em macacos de zoológicos uma enfermidade semelhante à varíola humana na Índia, Brasil, Trinidad e Panamá, mas o vírus não pode ser identificado laboratorialmente e não sabemos de os casos foram provocados pelo vírus humano ou um próprio dos macacos.

A partir da década de 70, em vários zoológicos da Europa e Estados Unidos tem sido identificados surtos de varíola em macacos pelo Monkeypox. Inquéritos sorológicos entre macacos na natureza na Asia e África revelou uma incidência relativamente baixa deste vírus aparentemente restrito a África Central e Ocidental, mas onde também foi encontrada positividade sorológica em roedores e algumas aves.

Quando foi descoberto que o vírus da varíola do macaco pode afetar humanos?

Em 1970 na República Democrática do Congo (ex- Congo Belga e Zaire) foi diagnosticada a primeira infecção humana pelo vírus da varíola do macaco. Durante os anos 80 acometia principalmente crianças não vacinadas contra o vírus da varíola humana, sendo relativamente baixa a taxa de transmissão inter-humana, ao ser comparada com a varíola humana (4% x 25 a 40%). Nesta época a maioria da população mundial havia recebido a vacina antivariólica e a varíola de macaco era bastante rara entre vacinados.

Quais são os sinais e sintomas da varíola de macaco nos humanos?

São similares aos da varíola humana, com período de incubação de 7 a 15 dias. Os sintomas prodrômicos, que duram até 3 dias, são: fadiga extrema, febre, mialgia e a seguir erupção máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas em torno de 10 dias e a descamação pode durar até 3 semanas. As lesões evoluem de maneira uniforme e são mais abundantes nas extremidades.

Como se desenvolve a varíola nos macacos?

Desenvolvem pápulas múltiplas de até 4 milímetros principalmente na palma das mãos e algumas nos troncos. As lesões são umbilicadas com conteúdo espesso semelhante a pus. Podem aparecer lesões ulcerativas na cavidade oral.

Como se dá a transmissão da varíola de macacos?

O reservatório natural parece ser macacos principalmente na África, mas outras espécies podem estar envolvidas. Os casos transmitidos na natureza parecem ser devidos a alimentação ou coabitação.  O potencial de contágio da varíola de macacos para humanos parece ser baixo. A vacinação antivariólica protegia do contágio, mas desde a confirmação da erradicação da varíola humana esta prática foi interrompida, tendo muitos suscetíveis.

A transmissão do vírus da varíola dos macacos ocorre quando uma pessoa entra em contato com o vírus de um animal, humano ou materiais contaminados com o vírus. A porta de entrada do vírus no corpo se dá através lesões da pele (mesmo que não seja visível), do trato respiratório ou das membranas mucosas (olhos, nariz ou boca). A transmissão de animal para humano pode ocorrer por mordida ou arranhão, preparação de carne de caça, contato direto com fluidos corporais ou material da lesão ou contato indireto com material da lesão, como por meio de cama contaminada. Acredita-se que a transmissão de humano para humano ocorra principalmente através de gotículas respiratórias. As gotículas respiratórias geralmente não podem viajar mais do que alguns metros, portanto, é necessário um contato pessoal prolongado. Outros métodos de transmissão de humano para humano incluem contato direto com fluidos corporais ou material da lesão e contato indireto com material da lesão, como roupas ou lençóis contaminados.

O que sabemos sobre o atual surto de infecção pelo Monkeypox?

Até 21/05 tínhamos mais de 80 casos de varíola dos macacos foram confirmados em pelo menos 12 países. A Organização Mundial da Saúde disse que outros 50 casos suspeitos estão sendo investigados – sem nomear nenhum país – e alertou que mais casos provavelmente serão relatados. As infecções foram confirmadas em nove países europeus, bem como nos EUA, Canadá e Austrália.

Qual o prognóstico e o tratamento recomendado para casos de infecção por Monkeypox?

No momento, não há tratamentos específicos disponíveis para a infecção por varíola, mas os surtos de varíola podem ser controlados.

Vacina contra varíola, cidofovir, ST-246 e imunoglobulina vaccinia (VIG) podem ser usados para controlar um surto de varíola. A orientação do CDC foi desenvolvida usando as melhores informações disponíveis sobre os benefícios e riscos da vacinação contra a varíola e uso de medicamentos para a prevenção e gestão de infecções por varíola símia e outras infecções por ortopoxvírus.

A doença geralmente dura de 2 a 4 semanas. Na África, a varíola dos macacos causa a morte de até 1 em cada 10 pessoas que contraem a doença.

Quais são as principais medidas de prevenção recomendadas?

Existem várias medidas que podem ser tomadas para prevenir a infecção pelo vírus da varíola dos macacos:

  • Evite o contato com animais que possam abrigar o vírus (incluindo animais doentes ou que foram encontrados mortos em áreas onde ocorre a varíola dos macacos).
  • Evite o contato com qualquer material, como roupas de cama, que tenha estado em contato com um animal doente.
  • Isole os pacientes infectados de outros que possam estar em risco de infecção.
  • Pratique uma boa higiene das mãos após o contato com animais ou humanos infectados. Por exemplo, lavar as mãos com água e sabão ou usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Use equipamento de proteção individual (EPI) ao cuidar de pacientes.

Para pacientes ou animais em tratamento, uma combinação de precauções padrão, de contato e de gotículas deve ser aplicada em todos os serviços de saúde quando um paciente apresenta febre e erupção vesicular/pustulosa. Além disso, devido ao risco teórico de transmissão aérea do vírus da varíola dos macacos, as precauções por aerossóis devem ser aplicadas sempre que possível.

Existe uma vacina específica para prevenção da varíola de macacos?

JYNNEOSTM (também conhecido como Imvamune ou Imvanex) é uma vacina de vírus vivo atenuado que foi aprovada pela Food and Drug Administration dos EUA para a prevenção da varíola dos macacos. O Comitê Consultivo de Práticas de Imunização (ACIP) está atualmente avaliando o JYNNEOSTM para a proteção de pessoas em risco de exposição ocupacional a Ortopoxvírus, como varíola e varíola dos macacos.

Apenas o Monkeypox tem sido associado á transmissão de varíola de macacos para humanos?

Outro vírus da família dos Ortipoxvírus pode ser transmitido do macaco para o homem. O Tanapox provocou uma epidemia de doença semelhante à varíola, mas com lesões menos frequente em extremidades, entre 1978 e 1981 ao longo do Rio Tana na República Democrática do Congo entre o pessoal que trabalhava com os macacos afetados. Surtos posteriores entre macacos envolvendo seus cuidadores ou observadores também foram encontrados.  Em outras famílias de vírus encontramos o Yababox que contaminou um humano a partir da manipulação laboratorial.

O mais podemos fazer diante deste cenário?

Desta forma, gestores do sistema de saúde, profissionais de saúde pública, biólogos, médicos, veterinários e demais profissionais de saúde devem estar familiarizados com a geomedicina, distribuição e redistribuição dos agentes infecciosos, com os quadros clínicos que provocam, para poderem contribuir com a prevenção da introdução de enfermidades exóticas em seus países e poder diagnosticá-las tão logo sejam introduzidas, implantando medidas de prevenção e controle, prevenindo sua endemicidade.

Isto tudo confirma a importância que a Organização Mundial de Saúde deu para o controle de infecções, colocado como prioridade para a saúde pública mundial e confirma nosso lema que devemos evoluir da segurança do paciente para a segurança da humanidade, atuando sobre os principais fatores que provocam estas alterações.

A varíola de macaco vem apresentando um número incomum de casos atualmente. Ainda não sabemos o motivo principal desta alteração e em consequência ainda não podemos ter um claro dimensionamento de sua extensão, mas temos que estar atentos aos seus possíveis casos, para definirmos as medidas de saúde pública cabíveis caso a doença continue a se espalhar, porém cada vez está mais evidente que estamos provocando desequilíbrio ecológico e social nunca antes visto na história da humanidade, que aliado à globalização pode trazer consequências imprevisíveis, se não mudarmos nossas formas de interação social e ecológica. Nós profissionais de saúde habitualmente atuamos apenas sobre o resultado, tentando atenuar seus impactos sobre as populações humanas, mas muito mais deve ser feito, pois até que ponto planeta terra conseguirá manter seu equilíbrio autorregulador, que sustenta a nossa vida e civilização?

Sinopse por Antonio Tadeu Fernandes

Fonte e links: Acha PN, Szyfres B. Zoomosis y enfermidades transmissibles comunes al hombre y a los animales. Washington, Organizacion Panamericana de La Salud.

https://www.bbc.com/news/health-61532083

https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/index.html

https://www.ccih.med.br/pandemias-na-historia-da-humanidade/

https://www.ccih.med.br/saude-e-politica/

https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/

Palavras chave / TAGs: varíola de macaco, monkeypox, zoonoses, doenças transmissíveis, animais, homem, saúde pública, meio ambiente, nível socioeconômico, zoonoses, hospedeiro animal, hospedeiro natural, hospedeiro acidentel, ingestão, transmissão aérea, desmatamento, vigilância epidemiológica, notificação compulsória, solo, água, vetores invertebrados, plantas, semelhança genética, macaco, epidemiologia, ecologia, ciências biológicas, ciências sociais, guerras, refugiados, globalização, endemicidade, recombinação, mobilidade, distúrbios ecológicos, erradicação, Império Asteca, laboratório, África central, África ocidental, Índia, Brasil, Trinidad, Panamá, República Democrática do Congo, vacina antivariólica, período de incubação, porta de entrada, mordida, arranhão,  contato, direto, indireto, aérea, cidofovir, ST-246, imunoglobulina, higiene das mãos, EPI, Imvanex, Imvamune, JYNNEOSTM, Tanapox, Yababox, Organização

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