Praticamente todo profissional de saúde sabe que a higiene das mãos é a mais poderosa barreira contra infecções, mas por que ele não adere a esta prática e o que a CCIH pode fazer para melhorar este cenário?
Em meio a avanços tecnológicos que transformam a assistência em saúde, uma medida simples e muitas vezes negligenciada continua sendo o divisor de águas entre a segurança e o risco: a higiene das mãos. Mais do que um procedimento básico, ela é uma estratégia comprovada para reduzir infecções relacionadas à assistência (IRAS), salvar vidas e otimizar recursos.
No entanto, a adesão segue aquém do ideal, revelando que o desafio não é apenas técnico, mas também comportamental e institucional. Este artigo aprofunda a história, a ciência e as estratégias multimodais que podem transformar o “ato de higienizar as mãos” em uma cultura de segurança consolidada.
1.0 Introdução: O Gesto que Salva Vidas e Transforma a Segurança do Paciente
Em uma era marcada por avanços tecnológicos exponenciais na medicina, desde a cirurgia robótica à terapia gênica, a medida mais fundamental e eficaz para garantir a segurança do paciente permanece surpreendentemente simples: a higiene das mãos (Ref. 1, 2). Este gesto, quando executado corretamente e nos momentos certos, representa a pedra angular na prevenção das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), um dos eventos adversos mais frequentes e impactantes nos serviços de saúde em todo o mundo (Ref. 3, 4). A transmissão de patógenos, incluindo microrganismos multirresistentes, ocorre predominantemente através das mãos dos profissionais de saúde, tornando a higiene das mãos uma barreira crítica e indispensável na cadeia de infecção (Ref. 1, 5).
Apesar de seu reconhecimento científico há mais de um século e meio, a adesão às práticas de higiene das mãos continua a ser um desafio global persistente, com taxas de conformidade frequentemente abaixo do ideal (Ref. 6, 7). Este paradoxo revela que o problema transcendeu a esfera microbiológica — o “o quê” e o “porquê” já estão consolidados — e evoluiu para um complexo desafio de engenharia de sistemas e ciência comportamental: o “como” garantir que a prática seja consistentemente implementada no ponto de cuidado (Ref. 8).
Este artigo propõe uma exploração exaustiva, crítica e inspiradora da higiene das mãos, destinada a profissionais de controle de infecção, gestores e equipes de saúde. Partindo das raízes históricas que fundamentaram o conceito, mergulhamos na ciência da transmissão, analisamos as evidências mais robustas sobre o impacto das intervenções e dissecamos as estratégias multimodais que representam o padrão-ouro para a mudança de comportamento. O objetivo é ir além da simples reiteração de diretrizes, oferecendo uma análise aprofundada que integra evidências globais, o contexto regulatório brasileiro e os insights da psicologia comportamental, a fim de equipar os profissionais com o conhecimento e a motivação necessários para liderar a transformação da cultura de segurança em suas instituições. A excelência na higiene das mãos não é um objetivo final, mas um processo contínuo de vigilância, educação e inovação, e é a jornada para essa excelência que exploraremos a seguir.
2.0 A Pedra Angular da Prevenção: Uma Perspectiva Histórica e Contemporânea
A compreensão da relevância atual da higiene das mãos exige uma apreciação de sua jornada histórica, marcada por descobertas brilhantes, ceticismo arraigado e uma lenta, mas inexorável, consolidação como pilar da medicina moderna.
2.1 Os Pioneiros: A Luta de Semmelweis e Holmes Contra o Ceticismo
Em meados do século XIX, muito antes da teoria dos germes ser universalmente aceita, dois médicos, de forma independente, fizeram observações que mudariam para sempre o curso da saúde pública. Em Viena, o médico húngaro Ignaz Semmelweis confrontou taxas alarmantes de mortalidade por febre puerperal em uma das clínicas obstétricas do Hospital Geral de Viena. Em 1847, ele notou uma disparidade gritante: a clínica atendida por médicos e estudantes de medicina, que realizavam autópsias antes de examinar as parturientes, apresentava taxas de mortalidade de até 16%, enquanto a clínica atendida por parteiras registrava taxas em torno de 7% (Ref. 1).
Semmelweis hipotetizou que “partículas cadavéricas” eram transportadas nas mãos dos médicos do necrotério para as pacientes. Para testar sua teoria, instituiu uma política rigorosa de lavagem das mãos com uma solução de cal clorada antes de qualquer contato com as pacientes. Os resultados foram imediatos e dramáticos: a taxa de mortalidade despencou para cerca de 3%. Esta foi a primeira evidência documentada de que a antissepsia das mãos poderia interromper a transmissão de doenças em ambiente hospitalar. Simultaneamente, em Boston, o médico Oliver Wendell Holmes chegou a conclusões semelhantes, defendendo que a febre puerperal era contagiosa e transmitida pelos profissionais de saúde. Tragicamente, as ideias de ambos os pioneiros foram recebidas com hostilidade e ridicularização pela comunidade médica da época, um poderoso lembrete da resistência inerente à mudança de paradigmas e práticas estabelecidas (Ref. 1, 22).
2.2 A Consolidação do Conceito: Da Antissepsia à Padronização Global
A aceitação das práticas de higiene das mãos só começou a ganhar força com os trabalhos de Louis Pasteur e Joseph Lister, que solidificaram a teoria dos germes. A evolução conceitual e prática, no entanto, foi gradual. A década de 1980 marcou um ponto de inflexão com a publicação das primeiras diretrizes nacionais de higiene das mãos nos Estados Unidos. Em 1995 e 1996, o Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC) do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendou o uso de sabão antimicrobiano ou um antisséptico sem enxágue ao sair dos quartos de pacientes com patógenos multirresistentes (Ref. 1).
O verdadeiro divisor de águas ocorreu no início do século XXI. As diretrizes do CDC/HICPAC de 2002 e, posteriormente, as abrangentes Diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre Higiene das Mãos na Assistência à Saúde de 2009, estabeleceram a fricção com preparação alcoólica (alcohol-based hand rub – ABHR) como o padrão-ouro para a higiene das mãos na maioria das situações clínicas. Essa mudança representou um avanço pragmático, reconhecendo que a fricção alcoólica é mais rápida, mais eficaz contra um espectro mais amplo de patógenos e melhor tolerada pela pele do que a lavagem repetida com água e sabão, removendo barreiras significativas à adesão (Ref. 1, 22). No Brasil, essa diretriz foi consolidada pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 42/2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que tornou obrigatória a disponibilização de preparação alcoólica para a higiene das mãos nos pontos de assistência em todos os serviços de saúde do país (Ref. 2).
2.3 Terminologia Essencial e Definições Padronizadas
Para uma discussão precisa, é fundamental o uso de uma terminologia padronizada, conforme definido por órgãos reguladores e diretrizes internacionais (Ref. 1, 2).
- Higiene das Mãos (HM): Termo geral que abrange qualquer ação de limpeza das mãos, seja por lavagem com água e sabonete ou por fricção com preparação alcoólica. Seu objetivo é remover sujidade, matéria orgânica e a microbiota transitória.
- Lavagem das Mãos: Refere-se especificamente à higiene das mãos com água e sabonete (comum ou antimicrobiano). É indicada quando as mãos estão visivelmente sujas, contaminadas com matéria orgânica ou após o contato com pacientes com infecção por patógenos esporulados, como Clostridioides difficile, ou norovírus (Ref. 2).
- Fricção Antisséptica das Mãos: Consiste na aplicação de uma preparação alcoólica em todas as superfícies das mãos para reduzir ou inibir o crescimento de microrganismos. É o procedimento de escolha para a maioria das situações clínicas quando as mãos não estão visivelmente sujas.
- Antissepsia Cirúrgica das Mãos: Procedimento realizado pela equipe cirúrgica antes de procedimentos invasivos para eliminar a microbiota transitória e reduzir a microbiota residente das mãos. Pode ser realizado por meio de degermação com sabonete antisséptico ou por fricção com preparação alcoólica específica para fins cirúrgicos.
A Tabela 1 resume os marcos históricos e regulatórios que moldaram as práticas atuais de higiene das mãos.
Tabela 1: Marcos Históricos e Regulatórios da Higiene das Mãos
Ano | Evento | Significado |
1847 | Ignaz Semmelweis implementa a lavagem das mãos com solução de cal clorada em Viena. | Primeira evidência documentada de que a antissepsia das mãos reduz a mortalidade hospitalar. |
1980s | Publicação das primeiras diretrizes nacionais de higiene das mãos nos EUA. | Início da padronização formal das práticas de higiene das mãos em nível nacional. |
1995-1996 | HICPAC/CDC recomenda o uso de agentes antissépticos para o cuidado de pacientes com MDROs. | Reconhecimento da necessidade de medidas mais robustas para conter a disseminação de patógenos resistentes. |
2002 | Diretrizes do CDC/HICPAC estabelecem a preparação alcoólica (ABHR) como o padrão de cuidado. | Mudança de paradigma da lavagem com água e sabão para a fricção alcoólica, visando maior eficácia e adesão. |
2009 | OMS lança a campanha global “SAVE LIVES: Clean Your Hands” e publica suas diretrizes abrangentes. | Consolidação de uma estratégia multimodal global e do modelo dos “5 Momentos” como padrão internacional. |
2010 | ANVISA (Brasil) publica a RDC nº 42, tornando obrigatória a disponibilização de ABHR nos serviços de saúde. | Incorporação das melhores práticas internacionais na legislação sanitária brasileira, garantindo o acesso ao insumo essencial. |
3.0 A Ciência por Trás do Contato: Mecanismos de Transmissão e o Paradigma dos 5 Momentos
A eficácia da higiene das mãos não é um postulado, mas uma conclusão baseada em um profundo entendimento da microbiologia e da epidemiologia da transmissão de patógenos. A lógica por trás de cada recomendação está ancorada em uma cadeia de eventos bem definida e em um modelo conceitual que traduz essa ciência em ações práticas no ponto de cuidado.
3.1 A Cadeia de Transmissão Pelas Mãos
A transmissão de microrganismos de um paciente para outro, ou a autoinoculação de um sítio corporal para outro no mesmo paciente, mediada pelas mãos dos profissionais de saúde, segue uma sequência lógica e previsível de cinco etapas (Ref. 1):
- Presença de Microrganismos: Patógenos estão presentes na pele do paciente (mesmo que intacta) e em superfícies inanimadas em seu entorno imediato (grades da cama, monitores, mesas de cabeceira).
- Transferência para as Mãos: Durante o cuidado rotineiro, que envolve contato direto com o paciente ou com essas superfícies, os microrganismos são transferidos para as mãos do profissional de saúde.
- Sobrevivência nas Mãos: Os patógenos devem ser capazes de sobreviver nas mãos por, no mínimo, alguns minutos até que ocorra o próximo contato.
- Higiene Inadequada ou Ausente: O procedimento de higiene das mãos é omitido ou realizado de forma incorreta (tempo insuficiente, técnica inadequada ou produto ineficaz), permitindo que as mãos permaneçam contaminadas.
- Transmissão para Outro Paciente ou Sítio: As mãos contaminadas do profissional tocam outro paciente ou um dispositivo invasivo (como um cateter) a ser inserido, completando a cadeia de transmissão.
A interrupção de qualquer um desses elos impede a transmissão. A higiene das mãos atua de forma decisiva na quarta etapa, eliminando os patógenos antes que a quinta etapa possa ocorrer.
3.2 O Modelo Conceitual da OMS: “Meus 5 Momentos para a Higiene das Mãos”
Para traduzir a complexa dinâmica da transmissão em um guia prático e fácil de memorizar, a OMS desenvolveu o modelo “Meus 5 Momentos para a Higiene das Mãos” (Ref. 1, 2, 19). Este modelo conceitual foi revolucionário por deslocar o foco do motivo da higiene (ex: “antes de um procedimento invasivo”) para o fluxo de trabalho do profissional, criando gatilhos claros e universais para a ação. Os cinco momentos são:
- Momento 1: Antes de tocar o paciente.
- Objetivo: Proteger o paciente contra a aquisição de microrganismos carreados nas mãos do profissional.
- Exemplo: Antes de apertar a mão do paciente, ajudá-lo a se mover ou realizar um exame físico.
- Momento 2: Antes de realizar procedimento limpo/asséptico.
- Objetivo: Proteger o paciente contra a introdução de microrganismos em sítios corporais estéreis ou vulneráveis.
- Exemplo: Antes de inserir um cateter vascular ou urinário, preparar medicações ou realizar um curativo.
- Momento 3: Após risco de exposição a fluidos corporais.
- Objetivo: Proteger o profissional de saúde e o ambiente da contaminação com os microrganismos do paciente.
- Exemplo: Após o contato com sangue, secreções, excreções, mucosas, pele não intacta ou após a remoção de luvas.
- Momento 4: Após tocar o paciente.
- Objetivo: Proteger o profissional de saúde e o ambiente da contaminação com os microrganismos da flora do paciente.
- Exemplo: Após o contato físico com o paciente, mesmo que a pele esteja intacta.
- Momento 5: Após tocar o entorno do paciente.
- Objetivo: Proteger o profissional de saúde e o ambiente da contaminação com microrganismos presentes nas superfícies próximas ao paciente.
- Exemplo: Após tocar em equipamentos médicos, grades da cama, roupas de cama ou outros objetos no ambiente imediato do paciente.
É crucial notar a lógica dual deste modelo: os momentos 1 e 2 visam primariamente a proteção do paciente, enquanto os momentos 3, 4 e 5 visam a proteção do profissional e a prevenção da contaminação ambiental, que, por sua vez, protege futuros pacientes. Infelizmente, estudos consistentemente demonstram que a adesão é mais baixa justamente no Momento 1, sugerindo um viés comportamental em direção à autoproteção em detrimento da proteção do paciente (Ref. 4).
3.3 A Microbiologia da Prática
A escolha do agente para a higiene das mãos depende da situação clínica e do patógeno em questão.
- Preparações Alcoólicas (ABHRs): Contendo etanol, isopropanol ou n-propanol (em concentrações de 60% a 80%), são os agentes mais eficazes e de mais amplo espectro. Possuem excelente atividade contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas (incluindo MRSA e VRE), Mycobacterium tuberculosis, diversos fungos e a maioria dos vírus envelopados (ex: Influenza, Coronavírus, HIV). O etanol tende a ter maior atividade virucida que o isopropanol (Ref. 1).
- Clorexidina: Um agente antisséptico com boa atividade contra bactérias Gram-positivas e alguma atividade contra Gram-negativas e vírus envelopados. Sua principal vantagem é o efeito residual (persistência da atividade antimicrobiana na pele após a aplicação) (Ref. 1, 23).
- Iodóforos (ex: PVPI): Possuem amplo espectro de atividade, incluindo alguma atividade contra esporos, mas podem ser mais irritantes para a pele e são inativados por matéria orgânica (Ref. 1).
- Limitações: Nenhum dos agentes antissépticos comuns possui atividade confiável contra esporos bacterianos, como os de Clostridioides difficile, ou oocistos de protozoários. Nestes casos, a ação mecânica da lavagem das mãos com água e sabonete é indispensável para remover fisicamente os esporos da pele (Ref. 2).
4.0 Evidências e Resultados: O Impacto Mensurável da Higiene das Mãos
A recomendação para a prática da higiene das mãos não se baseia apenas em princípios teóricos, mas em um robusto corpo de evidências científicas que demonstram seu impacto direto na redução das IRAS e na melhoria da segurança do paciente. A análise de ensaios clínicos, estudos de intervenção e meta-análises fornece dados quantitativos que sustentam a sua centralidade nas estratégias de prevenção.
4.1 O Desafio Persistente: Taxas de Adesão Globais e Regionais
Apesar do conhecimento generalizado sobre sua importância, a adesão à higiene das mãos permanece um desafio significativo. Uma meta-análise abrangendo estudos na Região do Mediterrâneo Oriental revelou uma prevalência de adesão de apenas 32%, indicando que aproximadamente dois terços dos profissionais de saúde não cumpriam as práticas padrão (Ref. 13). No Brasil, os índices também se mostram abaixo do ideal, com estudos apontando uma média de adesão em torno de 50% nas instituições investigadas, reforçando a natureza multifacetada do problema, que envolve desde a infraestrutura até fatores comportamentais (Ref. 21). Uma revisão sistemática de ensaios clínicos publicados entre 2014 e 2020 encontrou uma adesão basal média de 41% em 57 estudos, que aumentou para uma média de 67% após as intervenções, demonstrando que, embora a melhoria seja possível, o ponto de partida é frequentemente baixo (Ref. 5).
4.2 O Impacto das Intervenções: Redução Comprovada de IRAS
A principal justificativa para os programas de higiene das mãos é a sua capacidade de reduzir as taxas de infecção. Diversos estudos de alta qualidade estabeleceram essa ligação causal.
- Um estudo de seguimento de longo prazo que utilizou um sistema eletrônico de monitoramento de higiene das mãos (EHHMS) em um departamento de nefrologia demonstrou que intervenções de feedback (em grupo e individual) não apenas sustentaram a melhoria na adesão, mas também resultaram em uma redução estatisticamente significativa no número de infecções da corrente sanguínea associadas aos cuidados de saúde (HABSIs) (p=0.01), com o maior efeito observado sobre as infecções por Staphylococcus aureus (Ref. 7).
- Outro estudo que avaliou um sistema automatizado de conformidade com a higiene das mãos (HHCS) em uma UTI e uma unidade de cuidados semi-intensivos encontrou uma associação entre a implementação do sistema, a melhoria na adesão e uma redução significativa nas taxas de IRAS comuns, incluindo organismos multirresistentes (MDROs), infecções da corrente sanguínea associadas a cateter central (CLABSIs) e infecções do trato urinário associadas a cateter (CAUTIs) (Ref. 17).
- A revisão da Cochrane, embora cautelosa devido à heterogeneidade dos estudos, concluiu que intervenções multimodais podem reduzir ligeiramente as taxas de infecção e colonização, e que o feedback de desempenho provavelmente reduz ligeiramente as taxas de infecção, fornecendo evidências de certeza moderada para este desfecho (Ref. 8).
A Tabela 2 sintetiza os resultados de estudos recentes que demonstram o impacto quantitativo das intervenções de higiene das mãos na redução de IRAS.
Tabela 2: Síntese de Evidências Recentes: Impacto de Intervenções em Higiene das Mãos na Redução de IRAS
Estudo (Autor, Ano) | País/Contexto | Desenho do Estudo | Intervenção Principal | Desfecho Primário (IRAS) | Resultado Estatístico (Redução) | Valor-p |
Mareckova, M. et al. (2023) (Ref. 7) | Europa / Nefrologia | Estudo de seguimento de longo prazo | Sistema eletrônico de monitorar (EHHMS) com feedback em grupo e individual | Infecções da corrente sanguínea (HABSIs) | Redução significativa no número de casos de HABSI | 0.01 |
Haas, J. P. et al. (2017) (Ref. 17) | EUA / UTI | Estudo de coorte retrospectivo observacional | Sistema automatizado de monitoramento (HHCS) | MDROs, CLABSI, CAUTI | Redução significativa nas taxas de infecção (dados específicos no estudo) | <0.05 |
Wang, J. et al. (2021) (Ref. 4) | Global / Diversos | Meta-análise | Pandemia de COVID-19 (aumento da percepção de risco) | Adesão à Higiene das Mãos (proxy para risco de IRAS) | Aumento da adesão geral para 74% (IC 95%: 65%-84%) | <0.001 |
Clancy, C. et al. (2021) (Ref. 5) | Global / Diversos | Revisão Sistemática | Intervenções multimodais e únicas | Adesão à Higiene das Mãos (proxy para risco de IRAS) | Aumento médio de 26% na adesão pós-intervenção | N/A |
4.3 A Pandemia de COVID-19 como Intervenção em Larga Escala
A pandemia de COVID-19 funcionou como um “experimento natural” em escala global sobre o impacto da percepção de risco no comportamento de higiene das mãos. Uma meta-análise que avaliou estudos durante este período encontrou um aumento notável na adesão geral dos profissionais de saúde para uma média de 74% (IC 95%: 65%-84%). Este valor é significativamente superior às taxas basais historicamente relatadas (Ref. 4). Este fenômeno demonstra poderosamente que, quando a ameaça é percebida como imediata e pessoal, as barreiras comportamentais à adesão podem ser drasticamente reduzidas. A análise também revelou que, mesmo neste cenário de alta adesão, a conformidade permaneceu mais baixa no “Momento 1: antes do contato com o paciente” (68%), reforçando a persistência de vieses comportamentais mesmo sob alta pressão (Ref. 4).
5.0 Estratégias para a Excelência: A Abordagem Multimodal e a Ciência do Comportamento
A evidência é clara: a higiene das mãos funciona. A questão central, portanto, não é mais “se” devemos promovê-la, mas “como” fazê-lo de forma eficaz e sustentável. A resposta reside em uma abordagem multifacetada que combina mudanças sistêmicas com uma compreensão profunda dos fatores humanos que governam o comportamento.
5.1 A Estratégia Multimodal da OMS: Uma Abordagem Integrada
Reconhecendo que nenhuma intervenção isolada é suficiente para superar as complexas barreiras à adesão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu e promoveu uma Estratégia Multimodal para a Melhoria da Higiene das Mãos. Esta abordagem holística é considerada o padrão-ouro e se baseia em cinco componentes interdependentes que devem ser implementados simultaneamente (Ref. 1, 19, 22):
- Mudança de Sistema: Este componente foca em garantir a infraestrutura necessária. A ação mais crítica é a disponibilização de preparação alcoólica (ABHR) no ponto de cuidado — ou seja, ao alcance do braço do profissional onde quer que o cuidado ao paciente ocorra. Isso remove a barreira do tempo e da distância, tornando a ação correta a mais fácil de ser executada. Inclui também o acesso confiável a pias, sabonete e toalhas de papel.
- Treinamento e Educação: A educação contínua é essencial para garantir que os profissionais não apenas saibam “o que” fazer, mas também compreendam o “porquê” por trás de cada ação. O treinamento deve ser prático, focado nas técnicas corretas e no modelo dos 5 Momentos, e reforçado periodicamente.
- Monitoramento e Feedback de Desempenho: “O que não é medido, não é gerenciado.” A observação sistemática das práticas de higiene das mãos e o fornecimento de feedback regular e construtivo às equipes são cruciais para a conscientização e a melhoria contínua. Os dados de adesão devem ser transparentes e apresentados de forma clara e oportuna.
- Lembretes no Local de Trabalho: Pistas visuais, como cartazes e alertas nos pontos de cuidado, servem como lembretes cognitivos que ajudam a manter a higiene das mãos como uma prioridade em meio a um ambiente de trabalho agitado e exigente.
- Clima de Segurança Institucional: Este é talvez o componente mais crítico e abrangente. Envolve o compromisso visível e ativo da liderança, a criação de uma cultura onde a segurança do paciente é uma responsabilidade compartilhada e a capacitação de todos os profissionais para agirem como defensores da higiene das mãos.
Uma meta-análise confirmou que intervenções que utilizam as diretrizes da OMS têm mais de duas vezes a probabilidade de melhorar as taxas de adesão em comparação com nenhuma intervenção (OR = 2.26; IC 95%: 2.09 – 2.44) (Ref. 13).
5.2 A Ciência por Trás da Mudança: Insights Comportamentais
A eficácia da estratégia multimodal pode ser amplificada pela aplicação de princípios da ciência comportamental, que ajudam a entender e influenciar as decisões humanas.
- Cultura de Segurança e Responsabilidade: Estudos qualitativos com líderes de controle de infecção revelam que a promoção de uma cultura de responsabilidade pessoal e de grupo é fundamental. A estratégia mais eficaz é vincular explicitamente a adesão aos desfechos do paciente. Mensagens como “Nenhum paciente terá uma infecção sob minha vigilância” e enquadrar a falha na higiene das mãos como um dano direto ao paciente, análogo a um erro de medicação, são extremamente poderosas para gerar um senso de propriedade e responsabilidade coletiva (Ref. 10).
- “Nudges” e Arquitetura da Escolha: Intervenções sutis, ou “nudges”, podem influenciar o comportamento sem restringir a escolha. Um estudo demonstrou que lembretes visuais focados na segurança do paciente (“A higiene das mãos previne que os pacientes contraiam infecções”) foram significativamente mais eficazes em aumentar a adesão do que lembretes focados na segurança pessoal (“A higiene das mãos previne que você contraia infecções”) (Ref. 11). Isso sugere que apelar ao profissionalismo e ao altruísmo pode ser um motivador mais forte.
- Engajamento do Paciente: Capacitar pacientes e suas famílias para participarem ativamente da prevenção de infecções é uma fronteira promissora. Criar um ambiente onde os pacientes se sintam à vontade para perguntar aos profissionais “Você higienizou suas mãos?” transforma a dinâmica de poder e reforça a higiene das mãos como uma norma social e uma expectativa de cuidado, não apenas um requisito técnico (Ref. 12).
5.3 Recomendações Práticas para a Implementação
Com base nas diretrizes de sociedades de especialistas como SHEA/IDSA/APIC e órgãos reguladores como a ANVISA, algumas recomendações práticas são essenciais para a implementação bem-sucedida (Ref. 2, 3):
- Saúde da Pele e Unhas: Promover ativamente a saúde da pele, fornecendo hidratantes compatíveis com antissépticos e luvas. Manter unhas curtas e naturais é mandatório, e o uso de unhas artificiais ou extensões deve ser proibido para profissionais que atuam em áreas de alto risco.
- Seleção de Produtos: Envolver os profissionais da linha de frente na seleção de preparações alcoólicas para garantir boa aceitabilidade e tolerância cutânea. O produto deve ter no mínimo 60% de álcool (70% para gel).
- Acessibilidade dos Insumos: Garantir que os dispensadores de preparação alcoólica sejam onipresentes, visíveis e localizados no fluxo de trabalho natural. A recomendação mínima é de um dispensador por leito em quartos privativos e um para cada dois leitos em ambientes multipacientes.
- Higiene de Pias: As pias devem ser dedicadas à lavagem das mãos sempre que possível e não devem ser usadas para descarte de fluidos corporais ou outras substâncias que promovam o crescimento de biofilme. Suprimentos de cuidado ao paciente não devem ser armazenados a menos de 1 metro das pias.
6.0 Fatores Limitantes e Desafios Metodológicos na Avaliação
A avaliação da eficácia das intervenções de higiene das mãos é metodologicamente complexa. Uma compreensão crítica desses desafios é essencial para interpretar a literatura científica de forma acurada e para desenhar programas de melhoria mais robustos.
6.1 O Efeito Hawthorne: O Paradoxo da Observação
O desafio mais significativo na medição da adesão à higiene das mãos é o Efeito Hawthorne — a tendência das pessoas de alterarem seu comportamento simplesmente porque sabem que estão sendo observadas (Ref. 9). Este efeito pode inflar artificialmente as taxas de adesão, mascarando o verdadeiro desempenho basal e subestimando a necessidade de intervenção.
A magnitude deste efeito foi dramaticamente ilustrada em uma meta-análise realizada durante a pandemia de COVID-19. Estudos que utilizaram observação direta (aberta ou secreta) relataram uma taxa de adesão de 91%, enquanto aqueles que utilizaram sistemas de monitoramento eletrônico automatizado registraram uma taxa de apenas 53% (Ref. 4). Essa discrepância gritante sugere que a observação direta, embora considerada por muito tempo o “padrão-ouro”, pode superestimar a conformidade em quase o dobro. Instituições que se baseiam exclusivamente neste método podem ter uma falsa sensação de segurança sobre suas práticas.
6.2 Estratégias para Mitigação de Viés
Para obter uma medição mais precisa da adesão, é crucial empregar estratégias que minimizem o Efeito Hawthorne (Ref. 9):
- Vigilância Disfarçada (Covert Observation): Utilizar observadores que não são facilmente identificados como auditores (ex: estudantes, pessoal administrativo treinado) pode fornecer uma visão mais realista do comportamento habitual.
- Monitoramento Eletrônico (EHHMS): Sistemas que utilizam sensores, radiofrequência (RFID) ou vídeo para monitorar o uso de dispensadores ou a entrada/saída de quartos oferecem dados objetivos e contínuos, menos suscetíveis à reatividade do observado.
- Análise de Consumo de Produto: Medir o volume de preparação alcoólica ou sabonete consumido por paciente-dia é um indicador indireto e objetivo que não é influenciado pelo Efeito Hawthorne, embora não forneça detalhes sobre em quais dos 5 momentos a higiene foi realizada.
- Observações Curtas e Não Anunciadas: Realizar sessões de observação mais curtas (10-20 minutos) e em horários imprevisíveis pode reduzir a capacidade dos profissionais de se prepararem ou alterarem seu comportamento por longos períodos.
6.3 Fatores de Confusão e a Dificuldade de Atribuição Causal
As intervenções de higiene das mãos raramente ocorrem no vácuo. Elas são frequentemente parte de “pacotes” (bundles) de medidas de prevenção ou implementadas simultaneamente com outras iniciativas de melhoria da qualidade, como otimização da limpeza ambiental ou programas de stewardship de antimicrobianos. Isso cria um desafio metodológico significativo: atribuir uma redução nas taxas de IRAS especificamente à melhoria da higiene das mãos é difícil. A revisão da Cochrane destaca essa limitação, observando a dificuldade em isolar o efeito de componentes individuais dentro de estratégias multimodais complexas (Ref. 8).
6.4 A Suficiência da Estratégia Multimodal
Embora a estratégia multimodal da OMS seja amplamente recomendada, sua eficácia não é automática e depende criticamente da fidelidade da implementação e do contexto local. Um ensaio clínico randomizado por cluster em degraus (stepped-wedge) realizado na Tailândia, um país de renda média, encontrou que a implementação da estratégia da OMS resultou em uma melhoria estatisticamente significativa, mas muito modesta, na adesão (de 10.0% para 11.0%; OR 1.12) (Ref. 22). Este resultado sóbrio sublinha que a simples adoção de uma diretriz não garante o sucesso. Fatores como recursos institucionais, carga de trabalho, cultura de segurança preexistente e a qualidade da implementação são variáveis cruciais que podem limitar o impacto de estratégias baseadas em evidências.
7.0 Conclusões e Recomendações para a Prática e Pesquisa Futura
A jornada desde as observações pioneiras de Semmelweis até as complexas estratégias multimodais de hoje solidifica a higiene das mãos como uma intervenção de saúde pública de impacto inigualável. A evidência científica é inequívoca: a higiene das mãos eficaz previne infecções, salva vidas e é um indicador da qualidade e segurança do cuidado prestado. No entanto, a persistente lacuna entre o conhecimento e a prática diária demonstra que o sucesso não reside na simples disseminação de informações, mas na implementação de sistemas robustos e na promoção de uma cultura de segurança profundamente enraizada.
7.1 Síntese dos Achados
Este artigo demonstrou que a higiene das mãos é uma ciência multifacetada. A transmissão de patógenos via mãos dos profissionais de saúde segue uma cadeia de eventos previsível, que pode ser eficazmente interrompida pela aplicação do modelo dos “5 Momentos” da OMS. Intervenções, particularmente as multimodais, têm um impacto mensurável e estatisticamente significativo na melhoria da adesão e na redução das taxas de IRAS, como as infecções da corrente sanguínea. Contudo, a avaliação dessas intervenções é complexa, sendo o Efeito Hawthorne um viés metodológico substancial que pode superestimar a adesão quando se utiliza apenas a observação direta. A integração de insights da ciência comportamental é crucial para superar as barreiras humanas à adesão, transformando a higiene das mãos de uma tarefa para um valor profissional intrínseco.
7.2 Recomendações para a Prática Clínica
Com base na síntese das evidências, as seguintes recomendações são propostas para fortalecer os programas de higiene das mãos nos serviços de saúde:
- Adotar a Estratégia Multimodal da OMS como Estrutura Fundamental: Ir além da simples disponibilização de preparação alcoólica. É imperativo implementar todos os cinco componentes da estratégia, com ênfase especial no engajamento da liderança e na criação de um clima de segurança institucional, onde a higiene das mãos é visivelmente valorizada e praticada por todos, desde a alta gestão até a linha de frente.
- Investir em Sistemas de Monitoramento Robustos e Diversificados: Não depender exclusivamente da observação direta. Combinar diferentes métodos de monitoramento — como auditorias por observadores secretos, análise de consumo de produtos e, onde viável, o uso de tecnologias de monitoramento eletrônico — para obter uma visão mais precisa e menos enviesada do desempenho real e para fornecer feedback mais rico e acionável.
- Integrar a Ciência Comportamental no Desenho das Intervenções: Utilizar “nudges” e mensagens que ressoem com os valores profissionais. Enquadrar a higiene das mãos em termos de proteção do paciente e responsabilidade coletiva. Tornar a ação correta a mais fácil e intuitiva, otimizando o posicionamento de dispensadores e integrando lembretes ao fluxo de trabalho.
- Empoderar Pacientes e Famílias como Parceiros: Desenvolver e implementar programas que eduquem e incentivem os pacientes a participar de sua própria segurança, incluindo a prática de se sentirem à vontade para lembrar os profissionais de saúde sobre a higiene das mãos. Isso reforça a transparência e a responsabilidade mútua.
- Quadro profissional compatível com carga de trabalho: Este é um ponto importantíssimo, pois muitos profissionais, principalmente quando sobrecarregados, priorizam ações diretas no cuidado do paciente às ações de prevenir danos, que envolvem um dispêndio adicional de tempo, mesmo que seja apenas de segundos, como no caso da fricção das mãos com soluções alcoólicas. Também as situações emergenciais dificultam a adesão.
7.3 Agenda para Pesquisas Futuras
Apesar dos avanços, lacunas importantes no conhecimento permanecem. A pesquisa futura deve se concentrar em:
- Ensaios Clínicos Metodologicamente Robustos: São necessários mais ensaios clínicos randomizados por cluster para dissecar os componentes mais eficazes das estratégias multimodais. Qual é o impacto incremental da educação, do feedback ou dos lembretes quando adicionados a uma base de mudança de sistema?
- Custo-Efetividade de Novas Tecnologias: Avaliar rigorosamente a custo-efetividade dos sistemas eletrônicos de monitoramento em diferentes contextos, especialmente em países de recursos limitados, para guiar as decisões de investimento.
- Sustentabilidade das Intervenções: A maioria dos estudos foca em melhorias a curto e médio prazo. São necessárias pesquisas de longo prazo para entender como sustentar altos níveis de adesão após o término das intervenções intensivas e como integrar a higiene das mãos de forma permanente na cultura organizacional.
- Adaptação Cultural e Contextual: Investigar como adaptar as estratégias multimodais para diferentes contextos culturais e de recursos, reconhecendo que uma abordagem “tamanho único” pode não ser universalmente eficaz.
Em última análise, a prevenção de infecções está, literalmente, em nossas mãos. O desafio contínuo para a comunidade de controle de infecção é transformar este gesto simples em uma prática universal e inabalável, garantindo que cada contato com o paciente seja um contato seguro.
8.0: Conclusão
A higiene das mãos é, ao mesmo tempo, um gesto simples e uma intervenção de impacto incomparável na segurança do paciente. O artigo demonstra que as falhas não residem na falta de evidências, mas na dificuldade de transformar conhecimento em prática sustentável.
A adoção de estratégias multimodais, associadas à ciência comportamental e ao engajamento institucional, pode ser o ponto de virada para transformar esse desafio global em uma história de sucesso local.
Em última análise, a prevenção de infecções está, literalmente, em nossas mãos – e a responsabilidade de torná-la uma prioridade inegociável cabe a cada profissional e gestor da saúde.
9.0 Referências Bibliográficas Comentadas
- LOTFINEJAD, Nasim; PITTET, Didier. Hand Hygiene. In: JARVIS, William R. (ed.). Bennett & Brachman’s Hospital Infections. 7. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2023. cap. 3.
- DOI/Link: Acesso via aquisição do livro.
- Resumo Comentado: Este capítulo serve como a base fundamental para este artigo, fornecendo um panorama histórico detalhado desde Semmelweis, definições terminológicas padrão, o modelo de transmissão de patógenos pelas mãos e a estrutura conceitual dos “5 Momentos” da OMS. Os autores, líderes mundiais no campo, consolidam décadas de pesquisa e estabelecem o estado da arte das práticas de higiene das mãos.
- AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA Nº 05/2024: Orientações gerais para a higiene das mãos em serviços de saúde. Brasília, DF: ANVISA, 14 nov. 2024.
- DOI/Link:(https://www.ccih.med.br/wp-content/uploads/2024/11/NOTA-TECNICA-2024-HIGIENE-DAS-MAOS-14-11-24_.pdf)
- Resumo Comentado: Documento regulatório essencial que adapta as diretrizes globais ao contexto brasileiro. Detalha os tipos de higiene das mãos, os produtos recomendados e suas especificações técnicas, e as diretrizes para a implementação da Estratégia Multimodal da OMS, sendo uma referência crucial para a prática e padronização nos serviços de saúde do Brasil.
- ELLINGSON, Katherine D. et al. Strategies to prevent healthcare-associated infections through hand hygiene: 2022 Update. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 44, n. 9, p. 1-28, 2023.
- DOI/Link:(https://www.cambridge.org/core/journals/infection-control-and-hospital-epidemiology/article/strategies-to-prevent-healthcareassociated-infections-through-hand-hygiene-2022-update/1375E1CCB547A05505435B47F5E93E46)
- Resumo Comentado: Esta atualização de um compêndio de estratégias liderado pela SHEA, IDSA e APIC fornece recomendações práticas e baseadas em evidências. É particularmente valioso por suas orientações detalhadas sobre saúde da pele, cuidados com as unhas, seleção de produtos e medidas para reduzir a contaminação ambiental associada a pias, oferecendo um guia acionável para programas de prevenção de infecções.
- WANG, J. et al. Compared hand hygiene compliance among healthcare providers before and after the COVID-19 pandemic: A rapid review and meta-analysis. Journal of Global Health, v. 11, p. 05021, 2021.
- DOI/Link: https://doi.org/10.7189/jogh.11.05021
- Resumo Comentado: Esta meta-análise quantifica o impacto da pandemia de COVID-19 na adesão à higiene das mãos, mostrando um aumento significativo para 74%. O estudo é crucial por demonstrar o poder da percepção de risco na mudança de comportamento e por revelar as persistentes taxas mais baixas de adesão no “Momento 1”, além de destacar a grande discrepância entre os métodos de monitoramento.
- CLANCY, C. et al. Hand-hygiene-related clinical trials reported between 2014 and 2020: a comprehensive systematic review. Journal of Hospital Infection, v. 111, p. 6-26, 2021.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.jhin.2021.03.007
- Resumo Comentado: Uma revisão sistemática abrangente que compila 57 ensaios clínicos recentes, oferecendo um panorama global das intervenções de higiene das mãos. Seus achados são fundamentais para entender os tipos de intervenções mais estudadas (multimodais), as populações-alvo (enfermeiros e médicos) e o efeito líquido médio das intervenções (aumento de 26% na adesão).
- JAHANI, M. et al. The Effectiveness of Interventions in Improving Hand Hygiene Compliance: A Meta-Analysis and Logic Model. Journal of Multidisciplinary Healthcare, v. 14, p. 1827-1841, 2021.
- DOI/Link:(https://doi.org/10.2147/JMDH.S315570)
- Resumo Comentado: Esta meta-análise identifica as intervenções mais eficazes para melhorar a adesão e, crucialmente, propõe um modelo lógico baseado em uma abordagem socioecológica (individual, interpessoal, organizacional). O estudo fornece uma estrutura teórica para o desenho de intervenções mais eficazes, alinhando a prática do controle de infecção com a ciência da mudança de comportamento.
- MARECKOVA, M. et al. Investigating Individual Hand Hygiene Improvements and Effect on Hospital-acquired Infections Using an Electronic Hand Hygiene Monitoring System: A Long-term Follow-up Study. American Journal of Infection Control, v. 51, n. 7, p. 753-759, 2023.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2022.11.010
- Resumo Comentado: Este estudo de longo prazo demonstra a eficácia de um sistema eletrônico de monitoramento (EHHMS) com feedback para sustentar a melhoria da adesão e, mais importante, para reduzir significativamente as infecções da corrente sanguínea (p=0.01). Fornece forte evidência do impacto clínico direto da tecnologia de monitoramento na prevenção de IRAS.
- GOULD, D. J. et al. Interventions to improve hand hygiene compliance in patient care. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 9, art. n. CD005186, 2017.
- DOI/Link:(https://doi.org/10.1002/14651858.CD005186.pub4)
- Resumo Comentado: Uma revisão sistemática da Cochrane que avalia a eficácia de diversas intervenções. É uma fonte de alta credibilidade que destaca a baixa a muito baixa certeza da evidência para muitas intervenções, sublinhando os desafios metodológicos na área e a necessidade urgente de pesquisas mais robustas para identificar os componentes mais eficazes das estratégias multimodais.
- SRIGLEY, J. A.; GARDAM, M.; LIGHTSTONE, L.; FERRATO, C. The Hawthorne Effect in Infection Prevention and Epidemiology. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 36, n. 9, p. 997-1002, 2015.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1017/ice.2015.122
- Resumo Comentado: Este artigo oferece uma análise aprofundada do Efeito Hawthorne, um viés crítico na medição da adesão à higiene das mãos. Descreve as características do fenômeno e discute estratégias para quantificar e mitigar seu impacto, como o uso de vigilância disfarçada e sistemas eletrônicos, sendo essencial para uma avaliação crítica da literatura sobre o tema.
- STEWARDSON, A. J. et al. “Not on my watch”: a qualitative study of the institutional drivers of infection control practice. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 35, n. 11, p. 1354-1360, 2014.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1086/678440
- Resumo Comentado: Estudo qualitativo que explora os fatores institucionais que impulsionam a adesão. Seus achados sobre a importância de vincular a prática aos desfechos do paciente e de gerar responsabilidade de grupo (“not on my watch”) fornecem insights valiosos da ciência comportamental para a criação de uma cultura de segurança sustentável.
- VANDER WEG, M. W. et al. Improving hand hygiene compliance with point-of-use reminder signs designed using theoretically-grounded messages. Infection Control & Hospital Epidemiology, v. 35, n. 5, p. 593-594, 2014.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1086/675825
- Resumo Comentado: Este estudo demonstra a eficácia de “nudges” comportamentais, mostrando que lembretes focados na segurança do paciente são mais eficazes do que aqueles focados na segurança pessoal. É um excelente exemplo de como a aplicação de teorias da psicologia social pode otimizar as intervenções de controle de infecção.
- KINGSTON, L. et al. Empowering patients to prevent healthcare-associated infections: a systematic review. American Journal of Infection Control, v. 45, n. 10, p. 1149-1159, 2017.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2017.05.006
- Resumo Comentado: Esta revisão sistemática explora a eficácia de intervenções de empoderamento do paciente. Conclui que envolver pacientes e famílias como parceiros na prevenção de infecções é uma estratégia promissora, alinhada com as tendências modernas de cuidado centrado no paciente e segurança compartilhada.
- AL-HUSSAMI, M. et al. Hand hygiene compliance among healthcare workers in the Eastern Mediterranean Region: a systematic review and meta-analysis. Journal of Infection Prevention, v. 23, n. 4, p. 157-169, 2022.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1177/17571774221081702
- Resumo Comentado: Esta meta-análise fornece dados quantitativos sobre as baixas taxas de adesão (32%) em uma vasta região geográfica. É útil para contextualizar a magnitude do desafio da higiene das mãos como um problema global e persistente.
- IGWE, U. et al. Effectiveness of infection prevention and control interventions in health care facilities in Africa: A systematic review. American Journal of Infection Control, 2024.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2024.05.021
- Resumo Comentado: Revisão sistemática que destaca o potencial das intervenções de Prevenção e Controle de Infecções (PCI), incluindo higiene das mãos, para reduzir IRAS em contextos de recursos limitados na África. O estudo reforça que, mesmo em cenários desafiadores, a implementação de estratégias baseadas em evidências pode gerar melhorias significativas.
- KELLY, G. et al. Visitor hand hygiene compliance in hospital settings: a systematic review and meta-analysis. Infection, Disease & Health, 2024.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.idh.2024.05.003
- Resumo Comentado: Embora focada em visitantes, esta meta-análise ilustra que a baixa adesão à higiene das mãos é um problema que se estende para além dos profissionais de saúde. Isso reforça a necessidade de uma abordagem cultural abrangente que inclua todos os indivíduos dentro do ambiente de saúde.
- WIEMKEN, T. L. et al. Googling your hand hygiene data: Using Google Forms, Google Sheets, and R to collect and automate analysis of hand hygiene compliance monitoring. American Journal of Infection Control, v. 46, n. 6, p. 617-619, 2018.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2017.12.007
- Resumo Comentado: Este artigo apresenta uma abordagem inovadora e de baixo custo para a coleta e análise de dados de higiene das mãos usando ferramentas gratuitas. É uma referência prática valiosa que demonstra como a tecnologia acessível pode ser usada para otimizar o monitoramento e o feedback, liberando tempo dos profissionais de controle de infecção para se concentrarem em intervenções.
- HAAS, J. P. et al. Effectiveness of an electronic hand hygiene monitoring system in increasing compliance and reducing healthcare-associated infections. American Journal of Infection Control, v. 45, n. 7, p. 719-724, 2017.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2017.01.028
- Resumo Comentado: Estudo observacional que demonstra o duplo benefício de um sistema eletrônico: melhoria na adesão à higiene das mãos e redução nas taxas de IRAS. Fornece mais uma evidência forte para o papel da tecnologia na superação das limitações da observação humana e na obtenção de resultados clínicos positivos.
- GOULD, D. J. et al. Interventions to improve hand hygiene compliance in patient care. Journal of Hospital Infection, v. 68, n. 3, p. 193-202, 2008.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.jhin.2007.11.011
- Resumo Comentado: Uma revisão sistemática anterior que serve como um importante ponto de referência histórico. Destaca as limitações metodológicas dos estudos mais antigos e a conclusão de que abordagens multifacetadas pareciam mais eficazes, estabelecendo o cenário para pesquisas mais rigorosas que se seguiram.
- ALHUMAID, S. et al. Improving Hand Hygiene Compliance in a Tertiary Care Hospital in Central Saudi Arabia: A Quasi-Experimental Study. Journal of Infection and Public Health, v. 12, n. 4, p. 480-484, 2019.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.jiph.2019.01.058
- Resumo Comentado: Este estudo quasi-experimental demonstra a aplicação bem-sucedida da Estratégia Multimodal da OMS em um contexto específico, resultando em uma melhoria significativa na adesão (de 49.1% para 69.6%). É um exemplo prático da eficácia da estratégia quando implementada de forma sistemática.
- CURAN, G. R. F.; ROSSETTO, E. G. Interventions to decrease catheter-associated bloodstream infections in newborns: an integrative review. Texto & Contexto – Enfermagem, v. 26, n. 1, e5020015, 2017.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1590/0104-07072017005020015
- Resumo Comentado: Revisão integrativa com foco no contexto neonatal brasileiro que identifica a higiene das mãos como um componente essencial de pacotes de medidas (bundles) para a prevenção de infecções da corrente sanguínea. O estudo reforça a importância da higiene das mãos dentro de uma abordagem de intervenções múltiplas.
- VALIM, M. D. et al. Adesão à higiene das mãos antes e após intervenções educativas do dia mundial para higienização das mãos em um hospital universitário. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 11, n. 16, e1354, 2019.
- DOI/Link: https://doi.org/10.25248/reas.e1354.2019
- Resumo Comentado: Este estudo brasileiro avalia o impacto de intervenções educativas, fornecendo dados locais sobre os baixos índices de adesão. É relevante por contextualizar o desafio da adesão no Brasil e demonstrar o papel da educação como um dos componentes da estratégia multimodal.
- GIRARD, R. et al. Hand Hygiene in hospitals: Anatomy of a revolution. Journal of Hospital Infection, v. 101, n. 4, p. 383-392, 2019.
- DOI/Link: https://doi.org/10.1016/j.jhin.2018.09.002
- Resumo Comentado: Artigo de revisão que narra a “revolução” da higiene das mãos, contextualizando a mudança de paradigma da lavagem com água e sabão para a fricção alcoólica. Oferece uma perspectiva histórica e cultural valiosa sobre como essa mudança foi implementada globalmente, destacando o papel da OMS.
- SOUZA, L. M. et al. Adesão à higiene das mãos em unidade de terapia intensiva: estudo de intervenção. Acta Paulista de Enfermagem, v. 34, eAPE002825, 2021.
- DOI/Link: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO002825
- Resumo Comentado: Estudo de intervenção brasileiro realizado em UTI que, além de avaliar o impacto de uma estratégia multimodal, discute o viés de autoproteção. A observação de maior adesão nos momentos “após” o contato com o paciente reforça a necessidade de estratégias comportamentais que foquem na proteção do paciente.
9. Sinopse por:
Antonio Tadeu Fernandes:
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