Quem realmente previne infecções no hospital? Artigo discute as competências e as interfaces entre a CCIH, infectologia hospitalar, segurança do paciente e epidemiologia hospitalar. Existe competição ou trabalho sinérgico pela qualidade dos serviços de saúde?
Você que é de CCIH sabe que embora o infectologista hospitalar, o controlador de infecção e o epidemiologista hospitalar tenham uma interface significativa, a confusão entre estas atividades é frequente e pode comprometer a efetividade de suas atribuições. Todos são extremamente importantes para a gestão da qualidade em serviços de saúde, mas com atribuições bem definidas, que desenvolveremos neste artigo.
Vamos começar definindo as formas de trabalho em equipe, sempre focando na área da saúde. Este artigo tem como foco principal a prevenção e o controle de infecção, que foi a pioneira, mais desenvolvida e experiente destas comissões que gerenciam riscos intra-hospitalares, estes conceitos também são aplicáveis à segurança do paciente e outras comissões que dependem de informações epidemiológicas para o controle de adversidades.
No campo da saúde, principalmente para o controle de infecção e segurança do paciente, os termos multiprofissional, multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar descrevem diferentes níveis de interação e colaboração entre profissionais. Embora pareçam similares, cada um representa uma abordagem distinta na busca pela promoção da saúde e no tratamento de doenças. Vamos explorar as definições e exemplos práticos e qual sua importância para a assistência à saúde.
Multiprofissional
Uma abordagem multiprofissional envolve a atuação de diversos profissionais de diferentes áreas, mas com pouca ou nenhuma comunicação entre si. Cada profissional trabalha de forma independente, focado em sua própria especialidade, sem uma integração real dos conhecimentos ou um objetivo comum compartilhado. O paciente é atendido por vários especialistas, mas o tratamento pode ser fragmentado, sem uma visão holística.
Exemplo prático na saúde:
Imagine um paciente com diabetes que precisa consultar um endocrinologista (para controlar o açúcar no sangue), um nutricionista (para orientações alimentares), um oftalmologista (para verificar a visão) e um podólogo (para cuidados com os pés). Nesse cenário multiprofissional, cada profissional atende o paciente separadamente, em seu consultório, e pode não haver troca de informações entre eles sobre o plano de tratamento geral do paciente. O paciente é o principal responsável por coordenar as informações e garantir que cada profissional esteja ciente do que os outros estão fazendo. Os registros nos prontuários dos pacientes, são um exemplo deste tipo de interação.
Multidisciplinar
A abordagem multidisciplinar é um avanço em relação à multiprofissional, pois embora os profissionais também atuem em suas especialidades, há um reconhecimento da importância das diferentes perspectivas para o cuidado do paciente. Existe um objetivo comum de cuidado, mas a comunicação e a colaboração são mais limitadas, ocorrendo geralmente em reuniões ou discussões de caso, sem que as fronteiras das disciplinas sejam necessariamente transpostas. Cada profissional continua a aplicar seus métodos e conhecimentos de forma separada, mas há um esforço para que as ações sejam coordenadas.
Exemplo prático na saúde:
Um paciente com câncer em tratamento pode ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta por um oncologista, um psicólogo, um nutricionista e um fisioterapeuta. Eles podem se reunir periodicamente para discutir o caso do paciente, compartilhar suas avaliações e progresso, e planejar as próximas etapas. No entanto, cada um continua a atuar dentro de sua área de expertise específica, sem que um profissional execute tarefas ou se aprofunde significativamente na área do outro. A comunicação existe, mas o foco ainda é a contribuição individual de cada disciplina. As reuniões para discussão de casos de infecção ou de eventos adversos com profissionais de várias formações pode ser um exmplo de atuação multidisciplinar.
Interdisciplinar
A interdisciplinaridade representa um nível mais elevado de integração. O prefixo “inter” significa “entre”, indicando uma interação e troca recíproca entre as diferentes disciplinas. Os profissionais não apenas se comunicam, mas também colaboram ativamente, trocando ferramentas, técnicas e métodos. Há um objetivo comum mais complexo, que exige a fusão de conhecimentos para a construção de um plano de cuidado mais abrangente e eficaz. As fronteiras entre as disciplinas começam a se tornar mais fluidas, e há um aprendizado mútuo.
Exemplo prático na saúde:
Consideremos uma equipe que atende crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Uma equipe interdisciplinar pode incluir um neuropediatra, um fonoaudiólogo, um terapeuta ocupacional e um psicólogo. Eles trabalham juntos, com um plano terapêutico unificado. O fonoaudiólogo pode utilizar técnicas do terapeuta ocupacional para melhorar a comunicação, e o psicólogo pode orientar os pais sobre estratégias de manejo de comportamento que integrem as abordagens do fonoaudiólogo e do terapeuta ocupacional. As informações e as estratégias são compartilhadas e adaptadas, visando um desenvolvimento integral da criança. As rondas da equipe assistencial à beira do leito para definição de condutas podem ser um exemplo de uma atuação interdisciplinar.
Transdisciplinar
A transdisciplinaridade é o nível mais avançado de integração, indo “além” das disciplinas. Ela busca uma unidade do conhecimento, superando as fronteiras disciplinares e criando uma abordagem totalmente nova e integrada para lidar com problemas complexos. Nesse modelo, os profissionais não apenas trocam conhecimentos, mas também podem desenvolver novos conceitos e metodologias que transcendem as disciplinas originais. O foco não é apenas a soma das partes, mas a criação de um todo que é maior que a soma delas. Os limites éticos e as competências de cada profissão são respeitados, mas a atuação é verdadeiramente conjunta e sem hierarquia rígida.
Exemplo prático na saúde:
Em cuidados paliativos para um paciente com uma doença crônica terminal, uma equipe transdisciplinar pode ser formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e até mesmo líderes religiosos ou terapeutas holísticos. A abordagem vai além do tratamento da doença em si, focando na qualidade de vida do paciente e de sua família, no bem-estar físico, emocional, social e espiritual. Os profissionais não apenas colaboram, mas desenvolvem uma compreensão compartilhada e integrada da experiência do paciente, criando soluções inovadoras que podem envolver, por exemplo, a espiritualidade no manejo da dor, ou a arte-terapia como forma de expressão e acolhimento. A interação é tão profunda que os papéis podem se sobrepor em algumas situações, com profissionais adquirindo conhecimentos e práticas de outras áreas para proporcionar um cuidado verdadeiramente integral.
O desenvolvimento do modelo brasileiro de controle de infecção a partir da experiência dos extintos Centros de Treinamento no Ministério de Saúde para o desenvolvimento do Programa Nacional de Controle de Infecção foram um exemplo clássico desta abordagem, onde gestores, epidemiologistas, enfermeiros, infectologistas, microbiologistas e farmacêuticos construíam em conjunto, sem hierarquia, como estruturar o controle de infecção dentro da realidade brasileira.
A evolução dessas abordagens reflete uma busca por um cuidado em saúde cada vez mais holístico, integrado e centrado no paciente, reconhecendo a complexidade do ser humano e a necessidade de múltiplas perspectivas para promover a saúde e o bem-estar.
A CCIH é mais que uma comissão pioneira
A prevenção e controle de doenças, em particular as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), antigamente conhecidas como infecções hospitalares, é fundamentalmente interdisciplinar e, idealmente, busca a transdisciplinaridade e no seu nascedouro foi até transdisciplinar.
Vamos entender por quê:
Não é meramente multiprofissional: Se fosse multiprofissional, cada profissional (médico, enfermeiro, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, etc.) agiria de forma isolada em suas atribuições, sem troca de informações ou coordenação efetiva. Isso seria ineficaz para controlar um problema tão complexo como as IRAS, que dependem da ação conjunta e harmonizada de todos.
É, no mínimo, multidisciplinar: A abordagem multidisciplinar já é um passo importante. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), por exemplo, é um grupo multidisciplinar. Seus membros (geralmente epidemiologistas, infectologistas, enfermeiros, farmacêuticos, microbiologistas) reúnem-se para discutir casos, analisar dados de vigilância, elaborar protocolos e propor medidas preventivas. Há um objetivo comum (reduzir as IRAS), e a comunicação é estabelecida para coordenar as ações.
É, de fato, interdisciplinar: Para ser realmente eficaz, a prevenção e controle de IRAS exige uma abordagem interdisciplinar. Isso significa que os profissionais da CCIH e os demais profissionais da assistência não apenas se comunicam, mas também integram seus conhecimentos, ferramentas e métodos para um objetivo comum. Exemplos dessa interdisciplinaridade incluem:
Enfermeiros educando outros profissionais e pacientes sobre a importância da higienização das mãos, do uso correto de EPIs, de protocolos assistenciais para a prevenção das infecções e das técnicas assépticas.
Médicos prescrevendo antibióticos de forma racional, evitando a resistência microbiana e discutindo com o infectologista a terapia mais adequada.
Farmacêuticos auxiliando no gerenciamento do estoque de antimicrobianos e na análise de perfis de sensibilidade e resistência de microrganismos e de programas de Stewardship de antimicrobianos.
Epidemiologistas consolidando e analisando as informações obtidas para dar subsídios para as ações de prevenção e controle.
Microbiologistas realizando testes de sensibilidade aos antimicrobianos, contribuindo com o conhecimento da microbiota hospitalar e dos principais mecanismos de resistência microbiana presentes, fornecendo subsídios para o uso correto de antibióticos
Fisioterapeutas implementando medidas para prevenir pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), como elevação da cabeceira e mobilização precoce, em conjunto com a enfermagem.
Dentistas coordenando os cuidados orais e até eventuais tratamentos para reduzir a incidência de PAV.
Nutricionistas garantindo a adequada nutrição do paciente para fortalecer o sistema imunológico, em coordenação com a equipe médica e de enfermagem.
Profissionais da limpeza e higienização realizando a desinfecção adequada dos ambientes e equipamentos, seguindo as orientações da CCIH.
Engenheiros de segurança e técnicos de manutenção garantindo a qualidade do ar, da água e dos equipamentos hospitalares.
Gestores hospitalares apoiando as ações de todos estes profissionais e das respectivas comissões intra-hospitalares direcionando investimentos para aprimorar a qualidade assistencial, prevenindo adversidades.
Nesse cenário interdisciplinar, as fronteiras entre as disciplinas se tornam mais fluidas. Um enfermeiro pode ter um conhecimento aprofundado sobre o impacto da terapia nutricional na prevenção de IRAS, e um médico pode estar ciente das práticas de limpeza e desinfecção. Há um aprendizado mútuo e uma complementariedade de ações.
Busca a transdisciplinaridade (o ideal): Embora a interdisciplinaridade seja crucial, o ideal para a prevenção e controle de IRAS seria uma abordagem transdisciplinar. Isso significaria ir além das disciplinas, criando uma cultura organizacional onde a prevenção de infecções é intrínseca a todas as práticas e decisões. Não seria apenas uma função da CCIH, mas uma responsabilidade compartilhada por todos, desde a alta gestão até os profissionais de apoio, permeando a cultura da instituição. Nesse nível, novos conceitos e práticas podem surgir da fusão de conhecimentos, transcendendo as abordagens disciplinares tradicionais para criar um ambiente hospitalar intrinsecamente seguro contra infecções. Vale ressaltar que o modelo brasileiro de controle de infecção, nasceu com esta característica transdisciplinar, que hoje enfrenta a tentativa de monopólio de algumas profissões, que embora importantes, são superadas por esse compartilhamento do conhecimento.
Resumidamente, a prevenção e controle de infecções hospitalares é um campo complexo que exige a atuação coordenada e integrada de múltiplos profissionais, o que o torna, no mínimo, multidisciplinar, e com maior eficácia, interdisciplinar e até mesmo transdisciplinar. A busca por um ambiente hospitalar verdadeiramente seguro contra infecções e que forneça segurança aos pacientes aponta para a necessidade de uma abordagem transdisciplinar, onde o pioneirismo da prevenção de infecções é uma filosofia integrada à essência da instituição.
Infectologista hospitalar e a CCIH
Embora tanto o infectologista hospitalar quanto o controlador de infecção (também conhecido como profissional de controle de infecção) atuem na prevenção e controle de infecções em ambientes de saúde, seus papéis e âmbitos de atuação possuem distinções importantes, com pontos de forte convergência.
Infectologista Hospitalar (Médico Infectologista)
O que é: O infectologista hospitalar é um médico especialista em doenças infecciosas e parasitárias. Ele possui formação em medicina, seguida de residência em clínica médica e, posteriormente, em infectologia. Sua atuação é predominantemente clínica e assistencial, focada no diagnóstico, tratamento e manejo de pacientes com infecções.
Âmbito de Atuação:
Diagnóstico e Tratamento de Infecções: É o principal responsável por diagnosticar e tratar uma ampla gama de infecções, desde as mais comuns (pneumonias, infecções urinárias) até as mais complexas e raras (septicemias, tuberculose multirresistente, infecções em imunocomprometidos).
Manejo de Antimicrobianos: Atua ativamente na prescrição racional de antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários, buscando otimizar a terapia e minimizar o desenvolvimento de resistência antimicrobiana (parte do que se chama “stewardship de antimicrobianos”).
Interconsultas: É frequentemente consultado por outros médicos para casos de infecções de difícil diagnóstico, infecções refratárias ao tratamento ou para orientar sobre o manejo de infecções em pacientes com comorbidades.
Investigação Clínica de Surtos: Participa da investigação de surtos de infecção dentro do hospital, focando na identificação dos pacientes afetados, na etiologia dos casos e no manejo clínico individual. A avaliação dos dados epidemiológicos, que possibilitam a confirmação de um surto e a certeza de seu controle, habitualmente é feita pela CCIH, onde a formação em epidemiologia é essencial.
Educação Clínica: Orienta e educa outros profissionais de saúde sobre o manejo clínico de doenças infecciosas.
Pesquisa Clínica: Pode se envolver em pesquisas sobre novas terapias antimicrobianas, epidemiologia de infecções e desenvolvimento de vacinas.
Controlador de Infecção
O que é: O controlador de infecção é um profissional de saúde, com especialização e experiência em epidemiologia e controle de infecções. Seu foco é a gestão e a vigilância epidemiológica das infecções dentro da instituição. Portaria ministerial define a composição da CCIH e de seu grupo executivo, requerendo uma abordagem de vários profissionais de saúde, destacando enfermeiro, médico, farmacêutico, microbiologista e representante da administração, pelo menos.
Âmbito de Atuação:
Vigilância Epidemiológica: Realiza a busca ativa e sistemática de casos de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), coleta e analisa dados epidemiológicos (taxas de infecção, microrganismos prevalentes, padrões de resistência).
Elaboração e Implementação de Protocolos: Desenvolve, revisa e implementa protocolos e políticas de prevenção e controle de infecções (ex: higienização das mãos, uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, processamento de produtos para a saúde, técnicas de inserção e manutenção de cateteres).
Educação e Treinamento: É o principal responsável pela educação continuada e treinamento de todo o corpo funcional do hospital (médicos, enfermeiros, técnicos, pessoal de limpeza, etc.) sobre as práticas de prevenção e controle de infecção.
Investigação de Surtos: Participa ativamente da investigação de surtos, identificando a fonte, o modo de transmissão e implementando medidas de contenção e confirmando sua erradicação.
Auditoria e Monitoramento: Monitora a adesão às práticas de controle de infecção, realiza auditorias e fornece feedback para os setores.
Gestão de Riscos: Identifica riscos para o desenvolvimento de infecções e propõe soluções.
Gestão Ambiental: Colabora com a equipe de engenharia e limpeza para garantir um ambiente seguro em relação à infecção (qualidade do ar, água, desinfecção de superfícies).
Elaboração de Relatórios: Produz e divulga relatórios sobre as taxas de IRAS e as ações de controle para a direção do hospital e órgãos reguladores. É de sua competência a elaboração, implementação, monitoramento a aprimoramento do Programa de Controle de Infecção, uma obrigação legal de todas as instituições de saúde.
Conhecimento em Epidemiologia: Os integrantes do grupo executivo da CCIH precisam ter um sólido conhecimento em epidemiologia para entender os padrões de ocorrência e disseminação das infecções.
Vigilância de IRAS: Embora com focos diferentes, ambos tanto o infectologista hospitalar como os membros da CCIH contribuem para a vigilância de IRAS, o infectologista mais no aspecto clínico dos casos e o controlador na coleta e análise de dados para o sistema de vigilância.
Racionalização de Antimicrobianos: O infectologista lidera as decisões clínicas, e o controlador auxilia na implementação de políticas de uso racional de antimicrobianos e na educação sobre elas.
Investigação de Surtos: Trabalham em colaboração na investigação de surtos, o infectologista focando na parte diagnóstica e terapêutica dos pacientes e o controlador na identificação de falhas nos processos e na implementação de medidas corretivas, além da importantíssima abordagem epidemiológica tanto na interpretação dos dados, como coordenando todas as etapas da investigação epidemiológica do surto.
Para confirmar tudo que dissemos, o infectologista hospitalar é o “especialista clínico” que lida com a doença no indivíduo, enquanto o controlador de infecção é o “especialista em sistemas e processos” que atua na prevenção da doença em toda a instituição. Ambos são complementares e indispensáveis para um programa eficaz de prevenção e controle de infecções em um hospital, trabalhando em uma relação altamente interdisciplinar.
Integração com a Gestão Hospitalar
A integração do infectologista hospitalar e do controlador de infecção com a gestão hospitalar e os demais profissionais de saúde é crucial para a segurança do paciente e a eficiência operacional. Essa colaboração não só otimiza o controle de infecções, mas também impacta positivamente os custos e a qualidade do atendimento.
A CCIH contribui com a gestão de diversas formas, oferecendo uma perspectiva clínica e estratégica:
Consultoria em Política de Antimicrobianos: Atua diretamente na definição e implementação da política de uso racional de antimicrobianos (conhecida como Stewardship de Antimicrobianos). Isso é vital para combater a resistência bacteriana, um problema global de saúde pública, e para otimizar os custos com medicamentos.
Gestão de Riscos Clínicos: Identifica e avalia riscos relacionados a infecções, como surtos, uso inadequado de cateteres ou procedimentos cirúrgicos de alto risco, fornecendo dados e análises que subsidiam as decisões da gestão para mitigar esses riscos.
Análise de Desempenho e Qualidade: Participa da análise de indicadores de qualidade relacionados a infecções (taxas de IRAS, incidência de microrganismos multirresistentes), ajudando a gestão a entender o impacto clínico dessas infecções na permanência hospitalar, custos e resultados de saúde.
Assessoria em Crises e Surtos: Em caso de surtos epidêmicos (como a COVID-19 demonstrou), a CCIH é fundamental na assessoria à alta direção sobre medidas de contenção, isolamento, tratamento e orientações para a comunidade hospitalar e também foi essencial para a notificação dos casos para as autoridades sanitárias, apoiando substancialmente a contenção intra e extra hospitalar desta pandemia.
Participação em Comitês Estratégicos: Geralmente, faz parte de comitês estratégicos, como a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e o Comitê de Farmácia e Terapêutica, garantindo que as decisões clínicas sobre infecções estejam alinhadas com os objetivos da gestão. Tem ampla interface com outras comissões hospitalares como: segurança do paciente, comitê de reprocessamento, programa de gestão de resíduos dos serviços de saúde, entre outras.
Vigilância Epidemiológica e Dados para Decisão: Coleta, analisa e interpreta dados de vigilância epidemiológica de IRAS, fornecendo informações precisas e em tempo real para a gestão. Esses dados são essenciais para identificar tendências, áreas problemáticas e para justificar investimentos em prevenção.
Desenvolvimento e Monitoramento de Indicadores de Qualidade: Ajuda a estabelecer metas e indicadores de qualidade relacionados ao controle de infecção e monitora o progresso em relação a essas metas, reportando-os à gestão.
Gestão de Processos e Fluxos: Propõe e implementa melhorias nos processos assistenciais e de apoio (limpeza, esterilização) que impactam a prevenção de infecções, visando a otimização e a segurança.
Análise de Custos e Benefícios: Contribui para a gestão financeira ao demonstrar o impacto econômico das IRAS (prolongamento de internação, uso de antibióticos mais caros, etc.) e o retorno do investimento em medidas preventivas.
Elaboração de Orçamentos: Pode auxiliar na elaboração de orçamentos para aquisição de insumos (EPIs, saneantes), equipamentos e tecnologias de prevenção de infecções, justificando a necessidade com base em dados.
Conformidade Regulatória: Garante que o hospital esteja em conformidade com as normas e regulamentações dos órgãos de saúde (como a ANVISA no Brasil) relacionadas ao controle de infecções, evitando multas e sanções.
Interface com os demais profissionais de saúde
A colaboração entre o infectologista, o controlador de infecção e os demais profissionais de saúde é a espinha dorsal de um programa de controle de infecção eficaz.
Com Médicos de Outras Especialidades (Clínicos, Cirurgiões, Intensivistas, etc.)
Infectologista:
Consultoria Clínica: Fornece pareceres e orientações sobre diagnóstico e tratamento de infecções em pacientes específicos.
Educação em Prescrição: Orienta sobre o uso adequado de antimicrobianos, escolha da terapia empírica, duração do tratamento e descalonamento.
Discussão de Casos Complexos: Participa de rounds multidisciplinares e discussões de caso para otimizar o manejo de pacientes com infecções.
Atualização Científica: Compartilha as últimas evidências e diretrizes sobre o manejo de doenças infecciosas e resistência.
Controlador de Infecção:
Monitoramento da Adesão: Realiza auditorias e fornece feedback aos médicos sobre a adesão a protocolos de prevenção (ex: higienização das mãos antes de manipular cateteres, técnicas assépticas para inserção de dispositivos).
Educação em Boas Práticas: Orienta sobre técnicas corretas para inserção e manutenção de dispositivos invasivos (cateteres venosos centrais, sondas vesicais), manejo de feridas cirúrgicas e uso de EPIs.
Alerta de Dados Epidemiológicos: Informa sobre a epidemiologia local das infecções (bactérias prevalentes, perfis de resistência) para guiar as decisões terapêuticas.
Com a Equipe de Enfermagem (Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem)
Infectologista:
Suporte no Cuidado: Oferece suporte para o manejo de pacientes com infecções complexas ou resistentes.
Esclarecimento de Dúvidas Clínicas: Disponível para tirar dúvidas sobre sinais e sintomas e tratamento de infecção, com apoio ao programa de stewarship de antimicrobianos.
Controlador de Infecção:
Treinamento Contínuo: É o principal educador da equipe de enfermagem, realizando treinamentos sobre higienização das mãos, uso de EPIs, técnicas assépticas e de isolamento, cuidado com cateteres, prevenção de lesões por pressão infectadas, etc.
Auditoria e Feedback: Realiza auditorias diretas das práticas de enfermagem nos leitos, fornecendo feedback construtivo e identificando pontos de melhoria.
Elaboração de Pop’s (Procedimentos Operacionais Padrão): Desenvolve e atualiza os POPs de enfermagem relacionados à prevenção e controle de infecções.
Investigação de Eventos Adversos: Colabora na investigação de infecções relacionadas a falhas de processo na enfermagem.
Processamento de produtos para saúde: Interage com o responsável pelo CME e com o Comitê de Reprocessamento para procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização.
Com a Equipe de Farmácia
Infectologista:
Farmacovigilância: Trabalha em conjunto na identificação e manejo de reações adversas a antimicrobianos.
Otimização Terapêutica: Interage com o farmacêutico clínico sobre a melhor formulação, dose e via de administração de antimicrobianos.
Controlador de Infecção:
Gerenciamento de Antimicrobianos: Colabora com o farmacêutico para monitorar o consumo de antimicrobianos, identificar padrões de uso e auxiliar no desenvolvimento de diretrizes para o stewardship.
Disponibilidade de Insumos: Assegura que o hospital tenha insumos essenciais para controle de infecção, como desinfetantes e EPIs adequados, em estoque.
Com a Equipe de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Infectologista:
Orientação em Mobilização: Em casos de pacientes com infecções respiratórias, orienta sobre a segurança na mobilização e os riscos de transmissão.
Controlador de Infecção:
Prevenção de Infecções Respiratórias: Orienta sobre a importância da higienização das mãos e do uso de EPIs durante as sessões de fisioterapia respiratória, especialmente em pacientes com pneumonia ou em ventilação mecânica.
Desinfecção de Equipamentos: Colabora para que os equipamentos de fisioterapia e terapia ocupacional sejam adequadamente limpos e desinfetados entre os pacientes.
Com a Equipe de Nutrição
Infectologista:
Impacto da Nutrição na Imunidade: Pode orientar a equipe sobre a importância de um bom estado nutricional para a resposta imune em pacientes infectados.
Controlador de Infecção:
Higiene na Manipulação de Alimentos: Garante que as práticas de higiene na conserva, manipulação e distribuição de alimentos minimizem o risco de infecções transmitidas por alimentos.
Desinfecção de Materiais: Orienta sobre a limpeza e desinfecção de utensílios e equipamentos da copa e lactário.
Com a Equipe de Higienização e Manutenção
Infectologista:
Visitas Técnicas: eventualmente pode acompanhar o controlador de infecção em visitas para avaliar a eficácia da limpeza e desinfecção de ambientes em casos de surtos.
Controlador de Infecção:
Treinamento em Limpeza e Desinfecção: É o principal responsável por treinar e supervisionar a equipe de higienização sobre as técnicas corretas de limpeza, desinfecção de superfícies e manejo de resíduos hospitalares.
Padronização de Produtos: Colabora na escolha e padronização de produtos de limpeza e desinfetantes eficazes.
Ambiente Seguro: Trabalha em conjunto com a manutenção para garantir a qualidade do ar, água e a funcionalidade de sistemas que impactam o controle de infecção (ex: sistema de ventilação de salas de isolamento).
Em síntese, a integração e contribuição desses profissionais são a base de um sistema robusto de segurança do paciente. O infectologista traz o conhecimento clínico profundo e a visão estratégica da doença, enquanto o controlador de infecção é o “arquiteto” e “educador” dos processos de prevenção, garantindo que as políticas se traduzam em práticas seguras no dia a dia do hospital.
Quem é o infectologista hospitalar e o controlador de infecção?
Quem pode atuar como infectologista hospitalar:
Apenas médicos podem atuar como infectologistas hospitalares.
Caminho de Formação:
Para se tornar um infectologista no Brasil, o profissional precisa:
Concluir a graduação em Medicina (6 anos).
Realizar a Residência Médica em Infectologia (geralmente 3 anos). Essa residência é de acesso direto, o que significa que não exige uma especialização prévia, como clínica médica.
Após a residência, muitos buscam a titulação pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o que atesta a qualificação e expertise na área.
Por que outras especialidades não podem atuar como infectologistas hospitalares:
A atuação do infectologista é intrinsecamente ligada ao diagnóstico clínico, prescrição de medicamentos, interpretação de exames complexos e manejo de condições médicas graves e infecciosas. Essas são prerrogativas exclusivas da profissão médica, que exige anos de formação específica e o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Quem pode atuar como controlador de Infecção
O controlador de infecção é um profissional de saúde responsável pela vigilância e controle de infecções hospitalares. No Brasil, embora a Portaria GM/MS nº 2.616/98 mencione que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) deve ser composta por profissionais de nível superior da área da saúde. Geralmente no núcleo executivo temos um enfermeiro e um médico, não obrigatoriamente infectologista ou epidemiologista, mas idealmente com especialização reconhecida pelo MEC em prevenção e controle de infecção.
Caminho de Formação:
Concluir a graduação na área da saúde.
Realizar uma pós-graduação ou especialização em Controle de Infecção Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar ou áreas afins. Existem programas de residência multiprofissional específicos para Controle de Infecção Hospitalar.
É desejável ter experiência prévia na área assistencial ou em epidemiologia.
Outras especialidades na equipe de controle de infecção:
A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), órgão que define e executa as políticas de controle de infecção na instituição, é obrigatoriamente multiprofissional. Ela deve incluir além do enfermeiro:
Médicos: é geralmente o coordenador médico da CCIH ou um membro consultor chave.
Farmacêuticos: Essenciais para o controle do uso de antimicrobianos (stewardship) e para a vigilância da resistência.
Microbiologistas ou Biomédicos: Atuam na análise laboratorial, identificação de microrganismos e seus padrões de resistência.
Representantes da direção e de serviços de apoio: Como nutrição, serviço de higienização e engenharia, são fundamentais para garantir a implementação das medidas de controle em todas as áreas do hospital.
Porque o controle de infecção exige conhecimentos especializados?
A função do controlador de infecção envolve a vigilância ativa, a educação contínua da equipe, a auditoria de processos e a implementação direta de protocolos no ambiente hospitalar. Essas são atividades que se alinham fortemente com as competências de profissionais de saúde que têm uma visão holística da assistência à saúde e uma presença constante em todos os setores do hospital.
Outros profissionais, como o médico infectologista ou o farmacêutico, trazem conhecimentos específicos e complementares para a CCIH, que são cruciais para a tomada de decisão estratégica e o manejo clínico, mas as tarefas diárias de vigilância, educação e auditoria geralmente recaem sobre a equipe executiva do controle de infecção.
Qual o papel do epidemiologista hospitalar?
A Epidemiologia Hospitalar é a aplicação dos princípios e métodos da epidemiologia ao ambiente hospitalar. Ela foca no estudo da distribuição, dos determinantes e dos padrões de ocorrência de doenças, agravos e eventos relacionados à saúde (especialmente infecções ou eventos de insegurança dos pacientes) dentro de uma instituição de saúde, com o objetivo final de controlá-los e prevenir sua recorrência.
Em essência, a epidemiologia hospitalar é a inteligência de dados em saúde dentro do hospital. Ela transforma dados brutos em informações acionáveis para melhorar a segurança do paciente e a qualidade do atendimento.
Principais Atribuições da Epidemiologia Hospitalar:
As atribuições da epidemiologia hospitalar, geralmente conduzidas por um Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (NVEH) ou pela equipe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) com suporte epidemiológico, incluem:
Vigilância Epidemiológica de Eventos Relacionados à Saúde:
Vigilância de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS): A principal atribuição. Envolve a coleta sistemática e contínua de dados sobre incidentes e infecções, incluindo taxas de incidência e prevalência, tipo de microrganismos, perfil de resistência antimicrobiana, unidades mais afetadas, e fatores de risco.
Vigilância de Doenças de Notificação Compulsória: Identificação e notificação de doenças e agravos (como tuberculose, meningite, dengue, sarampo, etc.) que são de interesse da saúde pública e exigem comunicação às autoridades sanitárias.
Vigilância de Outros Eventos Adversos: Monitoramento e análise de outros eventos adversos à saúde do paciente, como quedas, erros de medicação, lesões por pressão, eventos transfusionais, entre outros (muitas vezes em conjunto com o Núcleo de Segurança do Paciente).
Vigilância de Agravos e Doenças Ocupacionais: Monitoramento de doenças ou acidentes de trabalho entre os profissionais de saúde.
Análise e Interpretação de Dados:
Processamento, análise estatística e interpretação dos dados coletados para identificar padrões, tendências, desvios da normalidade e fatores de risco.
Cálculo e monitoramento de indicadores epidemiológicos (taxas, densidade de incidência, distribuição, etc.).
Investigação de Surtos e Eventos Inusitados:
Realização de investigações epidemiológicas rápidas e detalhadas quando há um aumento inesperado de casos de uma doença ou infecção, ou a ocorrência de eventos atípicos.
Identificação da fonte, modo de transmissão e populações em risco para implementar medidas de controle e contenção.
Recomendação e Avaliação de Medidas de Prevenção e Controle:
Com base nas análises epidemiológicas, propõe e recomenda intervenções para prevenir e controlar doenças e agravos.
Avalia a eficácia e o impacto das medidas de controle implementadas, utilizando indicadores para verificar se as ações estão gerando os resultados esperados.
Comunicação e Disseminação de Informações:
Elaboração e divulgação de relatórios epidemiológicos periódicos (boletins, informes técnicos) para a equipe assistencial, gestão hospitalar e, quando aplicável, autoridades de saúde.
Apresentação de dados de forma clara e compreensível para subsidiar a tomada de decisão.
Educação e Treinamento:
Apoio na educação continuada dos profissionais de saúde sobre a importância da vigilância, os métodos de prevenção e o manejo de eventos adversos, utilizando os dados epidemiológicos para sensibilizar e engajar a equipe.
Assessoria Técnica e Consultoria:
Oferece suporte técnico e consultoria para as comissões hospitalares (CCIH, segurança do paciente, farmácia e terapêutica, óbitos) e para a gestão, fornecendo dados e análises epidemiológicas.
O Papel de um Profissional com Sólida Formação em Epidemiologia nela:
Um profissional com sólida formação em epidemiologia (um epidemiologista, por exemplo, ou um profissional de saúde que realizou nosso MBAEQS) é o cérebro metodológico e analítico da epidemiologia hospitalar. Seu papel é crucial e insubstituível para a qualidade e profundidade do trabalho:
Expertise Metodológica:
Desenho de Estudos: É capaz de desenhar estudos epidemiológicos (observacionais, de intervenção) para investigar problemas específicos no hospital, como a eficácia de uma nova política ou a identificação de fatores de risco para uma infecção rara. Além disso, pode avaliar criticamente as informações para a condutas em saúde com base nas evidências científicas.
Validação de Dados: Garante a validade e confiabilidade dos dados coletados, desenvolvendo métodos para minimizar vieses e erros.
Definição de Critérios: Ajuda a estabelecer critérios claros e padronizados para a definição de casos, a coleta de dados e a vigilância, garantindo a comparabilidade dos dados ao longo do tempo e entre diferentes hospitais.
Análise Estatística Avançada:
Não apenas calcula taxas, mas aplica métodos estatísticos complexos para identificar associações, prever tendências, avaliar significância estatística e controlar por variáveis de confusão.
Utiliza softwares estatísticos (como Excel, EPIINFO R, Stata, SPSS, SAS) para realizar análises aprofundadas.
Interpreta os resultados das análises de forma crítica, evitando conclusões precipitadas e identificando as limitações dos dados.
Investigação de Surtos de Alta Complexidade:
Lidera a investigação epidemiológica de surtos, aplicando os “sete passos da investigação de surtos” (confirmação do diagnóstico, definição de caso, busca ativa, etc.), que exigem um profundo conhecimento epidemiológico.
Realiza a análise de curvas epidêmicas, mapas de casos e outras ferramentas para elucidar a dinâmica de transmissão.
Avaliação de Impacto e Eficácia:
Desenvolve e aplica metodologias para avaliar o real impacto das intervenções de controle, mensurando a efetividade das ações implementadas e o retorno do investimento.
Ajuda a responder à pergunta: “Nossas ações estão realmente funcionando?”
Geração de Evidências e Pesquisa Aplicada:
Transforma os dados de vigilância em conhecimento aplicável, produzindo relatórios e, eventualmente, artigos científicos que contribuem para a literatura e para a melhoria das práticas de saúde.
Identifica lacunas no conhecimento e propõe pesquisas para preenchê-las.
Linguagem Comum:
Atua como uma ponte entre os dados técnicos e a equipe clínica/gestão, traduzindo achados complexos em informações claras e relevantes para a tomada de decisão.
Sobre a importância do epidemiologista hospitalar:
Enquanto outros profissionais da saúde (médicos, enfermeiros) fornecem o conhecimento clínico e a capacidade de implementação, o epidemiologista traz a rigor científico e a capacidade analítica que garantem que as ações de controle de infecção e segurança do paciente sejam baseadas em evidências sólidas, mensuráveis e eficazes. Ele é o especialista que assegura que o hospital não apenas faz coisas, mas faz as coisas certas, da forma mais eficaz possível.
A epidemiologia hospitalar não é importante apenas para a CCIH ou segurança do paciente; ela é uma ferramenta estratégica e fundamental para a gestão da instituição como um todo e para a atuação de diversas outras comissões hospitalares, com um papel central na segurança do paciente.
Epidemiologia Hospitalar e a Gestão da Instituição
Para a gestão hospitalar, a epidemiologia hospitalar fornece informações vitais para a tomada de decisões estratégicas e para o planejamento.
Papel na Gestão:
Visibilidade e Transparência: Transforma dados brutos em informações acionáveis e transparentes sobre a qualidade e segurança do cuidado. A gestão precisa saber, por exemplo, qual a taxa de infecção de sítio cirúrgico em cirurgias cardíacas ou a taxa de úlceras por pressão adquiridas no hospital, pois isso reflete a qualidade dos processos.
Alocação de Recursos: Os dados epidemiológicos direcionam a alocação de recursos financeiros e humanos. Se a epidemiologia mostra um aumento de infecções em uma determinada unidade ou associadas a um procedimento específico, a gestão pode direcionar investimentos em treinamento, equipamentos ou mais pessoal para aquela área.
Avaliação de Desempenho e Qualidade (acreditação): Permite que a gestão avalie o desempenho do hospital em relação a metas de qualidade e segurança. É a base para programas de melhoria contínua da qualidade e para acreditação hospitalar.
Redução de Custos: Infecções e outros eventos adversos hospitalares aumentam significativamente os custos de internação (dias de internação prolongados, uso de antibióticos mais caros, mais exames). A epidemiologia quantifica esses custos e demonstra o retorno do investimento em prevenção.
Benchmarking: Permite que o hospital compare seus indicadores de desempenho (taxas de infecção, por exemplo) com os de outras instituições semelhantes (benchmarking), identificando áreas onde pode melhorar e onde está se destacando.
Gerenciamento de Riscos: Ajuda a identificar proativamente riscos à saúde dos pacientes e dos funcionários, permitindo que a gestão implemente planos de contingência e estratégias de mitigação.
Reputação e Imagem Institucional: Um hospital com baixas taxas de infecção e um forte programa de segurança do paciente, evidenciado por dados epidemiológicos, constrói uma reputação positiva que atrai pacientes, profissionais de saúde e apoia escolha preferencial para encaminhamento de pacientes pelas operadoras de saúde.
Planejamento Estratégico: As tendências epidemiológicas (como o surgimento de microrganismos multirresistentes, doenças emergentes e até pandemias ou o aumento de doenças crônicas) informam o planejamento de longo prazo da instituição, influenciando a aquisição de tecnologias, a especialização de equipes e a expansão de serviços.
Epidemiologia Hospitalar e Outras Comissões Hospitalares
A epidemiologia hospitalar é uma ferramenta que subsidia o trabalho de várias outras comissões, além da CCIH, por fornecer dados sobre eventos adversos e resultados assistenciais.
Papel em Outras Comissões:
Núcleo de Segurança do Paciente (NSP):
Identificação de Eventos Adversos: A epidemiologia não se limita apenas a infecções, mas abrange todos os eventos adversos (EAs) e incidentes (quase-erros) que ocorrem no hospital. Ela fornece os métodos para identificar, classificar e analisar esses eventos, como quedas, erros de medicação, lesões por pressão e infecções.
Análise de Causas Raiz: Ao analisar padrões de EAs, a epidemiologia ajuda o NSP a identificar as causas raízes sistêmicas por trás desses eventos, em vez de focar apenas no erro individual.
Monitoramento de Indicadores de Segurança: O epidemiologista auxilia o NSP na criação e monitoramento de indicadores de segurança do paciente, avaliando a eficácia das intervenções implementadas para reduzir os EAs.
Cultura de Segurança: Dados epidemiológicos que mostram a frequência de EAs e seu impacto podem ser usados para sensibilizar a equipe e a gestão sobre a importância de uma cultura de segurança robusta.
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT):
Uso Racional de Medicamentos: A epidemiologia pode analisar padrões de prescrição, erros de medicação e seus resultados, fornecendo dados para a CFT otimizar o formulário terapêutico e promover o uso racional de medicamentos.
Resistência Antimicrobiana (em conjunto com a CCIH e a microbiologia): Monitora a evolução da resistência a antibióticos, informando a CFT sobre a necessidade de atualizar protocolos de tratamento e formulários.
Comissão de Óbitos e Revisão de Prontuários:
Análise de Causas de Óbito: A epidemiologia auxilia na análise de óbitos hospitalares, identificando se há padrões de mortalidade relacionados a infecções, falhas assistenciais ou outros eventos adversos, contribuindo para a revisão da qualidade do cuidado.
Qualidade da Documentação: A análise de prontuários, muitas vezes com metodologia epidemiológica, pode revelar falhas na documentação que impactam a segurança e a qualidade do cuidado.
Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS):
Embora menos direta, a epidemiologia pode identificar a correlação entre a geração e manejo de resíduos e a ocorrência de acidentes de trabalho ou infecções em profissionais, contribuindo para a segurança.
Conclusão:
A epidemiologia hospitalar é muito mais do que uma ferramenta para a CCIH. Ela é uma disciplina transversal que fornece os dados, as análises e as metodologias necessárias para a gestão estratégica da qualidade e segurança em todo o hospital. Ao munir a alta direção e as diversas comissões com informações baseadas em evidências, a epidemiologia capacita a instituição a identificar problemas, planejar intervenções eficazes, alocar recursos de forma inteligente e, fundamentalmente, proteger a saúde e a segurança de seus pacientes e profissionais.
Que competências são importantes para um infectologista hospitalar em relação ao controle de infecções?
Para médicos e outros profissionais de saúde que atuam em uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), a prioridade de aprofundar conhecimentos em infectologia ou epidemiologia depende fundamentalmente da sua formação principal e do seu papel específico dentro da CCIH.
Ambas as áreas são interdependentes e cruciais para o sucesso do controle de infecções, mas o foco e a profundidade necessários variam.
Infectologista hospitalar
Para o médico infectologista na CCIH, a prioridade é ter uma base sólida e aprofundada em infectologia, complementada por um conhecimento robusto em epidemiologia hospitalar.
Aprofundar em Infectologia (Prioridade, mas de certa forma já suprida se cursou uma boa residência em infectologia):
O médico infectologista é o especialista em doenças infecciosas. Ele precisa dominar a fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e prognóstico de uma vasta gama de infecções.
Isso inclui conhecimento sobre microrganismos (bactérias, vírus, fungos, parasitas), mecanismos de resistência antimicrobiana, farmacologia de antimicrobianos, interações medicamentosas, síndromes infecciosas específicas do ambiente hospitalar (pneumonia associada à ventilação, infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter, infecção de sítio cirúrgico, infecção urinária associada ao cateter), e infecções em populações especiais (imunocomprometidos, idosos, neonatos).
Esse conhecimento clínico-assistencial é fundamental para a avaliação individual dos casos de IRAS, a orientação terapêutica, o manejo de surtos do ponto de vista clínico e o programa de stewardship de antimicrobianos.
Aprofundar em Epidemiologia Hospitalar (Essencial e o diferencial para poder atuar em CCIH):
Embora o foco principal seja a clínica, o infectologista na CCIH precisa entender profundamente os princípios da epidemiologia. Ele não precisa ser um estatístico expert, mas deve saber interpretar dados epidemiológicos, entender taxas, tendências, conceitos de risco e associação. Ele deve entender o processo saúde doença sob o ponto de vista epidemiológico, diferenciando de sua atuação tradicional, que vê este processo sob o viés clínico.
Deve ser capaz de participar ativamente da investigação de surtos, compreender a cadeia epidemiológica das infecções e a aplicação de métodos de vigilância.
É o elo entre a manifestação clínica da doença e seus padrões populacionais no hospital.
A infectologia é a base da sua atuação, mas a epidemiologia é a lente pela qual ele entende o comportamento das infecções no hospital e toma decisões mais amplas.
Controlador de infecção
Para o controlador de infecção, a prioridade é ter um conhecimento aprofundado em epidemiologia hospitalar, complementado por um bom entendimento dos princípios da infectologia relevantes para o controle.
Aprofundar em Epidemiologia Hospitalar (Prioridade):
O controlador de infecção é o principal responsável pela vigilância epidemiológica ativa, coleta, análise e interpretação dos dados de IRAS.
Ele precisa dominar a metodologia da vigilância, cálculo de indicadores, identificação de eventos adversos e surtos.
Deve ser proficiente em ferramentas e softwares epidemiológicos básicos, e capaz de criar relatórios que traduzam os dados em informações compreensíveis e acionáveis.
O conhecimento epidemiológico permite que ele identifique padrões, priorize intervenções, avalie a eficácia dos protocolos e eduque a equipe com base em dados.
Aprofundar em Infectologia (Essencial e Complementar):
O controlador de infecção pode não ser um infectologista, mas precisa ter um sólido entendimento dos conceitos básicos de microbiologia, mecanismos de transmissão de infecções, classificação de microrganismos, princípios de antibioticoterapia (mesmo que não prescreva), e conhecimento das principais síndromes infecciosas e seus fatores de risco.
Esse conhecimento o ajuda a entender por que certas práticas de prevenção são importantes (ex: porque a higienização das mãos é crucial para determinado tipo de germe) e a identificar precocemente sinais de infecção nos pacientes para notificação e investigação.
A epidemiologia é a sua principal ferramenta para gerenciar e monitorar o controle de infecções, enquanto a infectologia fornece o contexto clínico necessário para suas ações.
Para Outros Profissionais (Farmacêuticos, Microbiologistas, etc.)
Farmacêutico na CCIH:
Prioridade: Aprofundar em Farmacologia Clínica e Microbiologia Aplicada (especialmente resistência antimicrobiana). Seu papel no stewardship de antimicrobianos é crucial, exigindo conhecimento detalhado sobre as drogas, suas interações e os mecanismos de resistência.
Essencial: Conhecimento em Epidemiologia para analisar o consumo de antimicrobianos, monitorar a resistência no hospital e avaliar o impacto das intervenções do stewardship.
Microbiologista/Biomédico na CCIH:
Prioridade: Aprofundar em Microbiologia Clínica (identificação de microrganismos, testes de sensibilidade/resistência, genotipagem).
Essencial: Conhecimento em Epidemiologia para entender a dinâmica de disseminação de microrganismos, participar da investigação de surtos e interpretar dados de vigilância laboratorial.
Conclusão: A Interdependência transdisciplinar.
Não se trata de escolher uma área em detrimento da outra, mas sim de reconhecer a prioridade para cada papel e a necessidade de intersecção entre os conhecimentos. A CCIH funciona como uma orquestra, onde cada músico (profissional) tem seu instrumento principal (sua área de prioridade), mas precisa entender como ele se encaixa e harmoniza com os demais para a música (controle de infecções) soar perfeita.
A transdisciplinaridade é a chave. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, microbiologistas e outros profissionais devem colaborar, trocando conhecimentos e construindo uma visão compartilhada, onde a infectologia, microbiologia, farmácia clínica informam a clínica e a epidemiologia, que organiza e avalia a saúde da população hospitalar.
Autor:
Antonio Tadeu Fernandes:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
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