Que pontos precisam ser melhor observados na implementação de um programa abrangente sobre higiene das mãos?
O documento descreve a implementação e os resultados de um programa abrangente de observação de higiene das mãos (HH) no Hospital Infantil da Filadélfia (CHOP) entre 2011 e 2019. O programa, baseado em observações abertas e feedback em tempo real, visava melhorar a conformidade com as práticas de HH para prevenir infecções associadas aos cuidados de saúde.
FAQ: Implementando um Programa Abrangente de Higiene das Mãos
Esta seção de Perguntas Frequentes (FAQ) foi desenvolvida para orientar gestores hospitalares, membros da CCIH, médicos, farmacêuticos e enfermeiros na construção e sustentação de um programa de higiene das mãos de alto impacto. O foco vai além das ações isoladas, abordando a implementação da Estratégia Multimodal da OMS para criar uma cultura de segurança duradoura.
Seção 1: Fundamentos de um Programa Abrangente
1. O que diferencia um “programa abrangente” de ações isoladas, como a simples instalação de dispensadores?
Um programa abrangente entende que a adesão à higiene das mãos é um comportamento complexo. Ele vai além de apenas fornecer o insumo (álcool em gel) e utiliza uma abordagem estruturada, a Estratégia Multimodal da OMS, que atua simultaneamente em cinco frentes: infraestrutura, educação, monitoramento, lembretes visuais e cultura de segurança. Ações isoladas falham por não abordarem todas essas facetas.
- Referências:
2. Qual é a “Estratégia Multimodal” da OMS e por que ela é a base para um programa de sucesso?
É uma estrutura de melhoria da qualidade projetada para promover a higiene das mãos de forma sustentável. Ela é composta por cinco componentes interdependentes que, juntos, abordam todas as barreiras conhecidas à adesão:
- Mudança no Sistema: Garantir a infraestrutura e os insumos necessários.
- Treinamento e Educação: Capacitar os profissionais.
- Avaliação e Feedback: Medir a adesão e devolver a informação às equipes.
- Lembretes no Local de Trabalho: Reforçar a mensagem visualmente.
- Clima de Segurança Institucional: Engajar líderes e criar uma cultura de segurança.
3. Quais são os “5 Momentos para a Higiene das Mãos” e por que eles são o pilar técnico do programa?
Os 5 Momentos são o “quando” da higiene das mãos, indicando os pontos de maior risco de transmissão de germes durante o cuidado. São eles:
- Antes de tocar o paciente.
- Antes de realizar procedimento limpo/asséptico.
- Após risco de exposição a fluidos corporais.
- Após tocar o paciente.
- Após tocar superfícies próximas ao paciente.Eles são o pilar técnico porque traduzem a complexidade da prevenção em ações claras e fáceis de lembrar.
- Referências:
4. Por que a adesão à higiene das mãos, mesmo sendo simples, ainda é um desafio global?
O desafio reside no fato de ser um comportamento que precisa ser repetido dezenas de vezes por turno, em um ambiente de alta pressão e interrupções. As principais barreiras incluem o esquecimento, a sobrecarga de trabalho, a falta de insumos no ponto de cuidado, a irritação da pele (dermatite), a falta de exemplo da liderança e a crença de que as luvas substituem a higiene das mãos.
- Referência:
Seção 2: A Estratégia Multimodal na Prática
5. O que significa “Mudança no Sistema” (Componente 1) e qual o papel dos gestores?
Significa garantir a infraestrutura para que a higiene das mãos seja fácil. O papel dos gestores é fundamental aqui, alocando recursos para:
- Ter dispensadores de álcool em gel em todos os pontos de cuidado (ao lado de cada leito, na entrada dos quartos, etc.).
- Garantir que as pias sejam funcionais e abastecidas com sabão e papel toalha.
- Assegurar um fornecimento ininterrupto de produtos de qualidade.
- Referência:
6. Como devem ser os treinamentos (Componente 2) para serem realmente eficazes?
Os treinamentos devem ser práticos, interativos e contínuos. Aulas expositivas longas têm baixo impacto. Abordagens eficazes incluem simulações realísticas, demonstrações práticas, discussões de casos reais, e o uso de tecnologias como caixas reveladoras com luz UV para mostrar as falhas na técnica.
7. Quais as melhores formas de monitorar a adesão (Componente 3) e dar feedback?
O monitoramento pode ser feito por observação direta (padrão-ouro), onde observadores treinados registram a adesão aos 5 momentos, ou de forma indireta, medindo o consumo de álcool em gel. O feedback deve ser regular, respeitoso, apresentado em gráficos de fácil compreensão e divulgado para as equipes, permitindo que elas vejam seu próprio progresso.
8. Pôsteres e lembretes visuais (Componente 4) ainda funcionam?
Sim, se usados de forma estratégica. Eles devem ser posicionados em locais de alta visibilidade e no ponto de tomada de decisão (ex: sobre o dispensador de álcool, na saída do quarto). Para manterem o impacto, devem ser renovados periodicamente e ter mensagens claras e diretas, como os pôsteres dos 5 Momentos.
9. O que é um “Clima de Segurança Institucional” (Componente 5)?
É uma cultura organizacional onde a segurança do paciente é uma prioridade explícita da alta gestão e um valor compartilhado por todos. Nesse clima, líderes participam ativamente das campanhas, a higiene das mãos é vista como responsabilidade de todos, e os profissionais se sentem seguros para lembrar seus colegas – e até mesmo seus superiores – sobre a prática, sem medo de retaliação.
10. Qual o papel da CCIH em cada um dos cinco componentes?
A CCIH é a arquiteta e a gestora do programa. Ela:
- (Sistema): Mapeia a necessidade de insumos e infraestrutura.
- (Educação): Planeja e executa os treinamentos.
- (Avaliação): Coleta e analisa os dados de adesão e consumo.
- (Lembretes): Produz e distribui os materiais visuais.
- (Clima): Engaja a liderança e promove as campanhas institucionais.
- Referência:
- CCIH Brasil (YouTube) – O Papel da CCIH no Engajamento das Equipes (Link ilustrativo para o conceito)
Seção 3: Papéis Multiprofissionais e Desafios
11. Para gestores: Como o investimento em higiene das mãos gera Retorno sobre o Investimento (ROI)?
O ROI é altíssimo. Um programa eficaz reduz as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Cada IRAS evitada representa uma economia direta com diárias de internação prolongadas, uso de antimicrobianos de alto custo, exames diagnósticos e tratamentos de complicações. Além disso, melhora a reputação e a segurança da instituição.
12. Para médicos: Qual o impacto do médico como “modelo de papel” (role model)?
É enorme. Estudos mostram que a adesão da equipe de enfermagem e de outros profissionais é diretamente influenciada pela adesão da equipe médica. Quando os médicos higienizam as mãos de forma visível e consistente, eles legitimam a importância da prática e estabelecem um padrão de excelência para toda a equipe.
13. Para enfermeiros: Como a liderança de enfermagem pode capacitar sua equipe?
A liderança de enfermagem (coordenadores, supervisores) deve ser a “campeã” da higiene das mãos na unidade. Isso inclui dar o exemplo, realizar micro-treinamentos durante a rotina, fornecer feedback imediato (tanto de reconhecimento quanto de correção), garantir que os insumos nunca faltem e envolver a equipe na análise dos seus próprios dados de adesão.
14. Para farmacêuticos: Qual o papel da farmácia na seleção dos produtos?
O farmacêutico tem um papel técnico crucial. Na comissão de padronização, ele avalia se os produtos (álcool em gel, sabonete) possuem registro na Anvisa e atendem às especificações técnicas. Além disso, ele deve considerar a aceitabilidade do produto pela equipe, avaliando fatores como a presença de emolientes (para evitar ressecamento), a fragrância e a textura, que impactam diretamente na adesão.
- Referência:
15. Como lidar com a dermatite, uma das principais barreiras à adesão?
A instituição deve selecionar produtos de alta qualidade, com agentes emolientes e hidratantes. A CCIH, junto com a Medicina do Trabalho, deve promover a cultura do cuidado com as mãos, incentivando o uso de cremes hidratantes pelos profissionais e oferecendo avaliação e tratamento para os casos de dermatite.
- Referência:
- OMS – Hand Hygiene and Skin Care (Página 162 do Guia da OMS)
Seção 4: Medição e Sustentabilidade
16. Além da taxa de adesão, quais outros indicadores medem o sucesso do programa?
- Consumo de álcool em gel: (Volume consumido / nº de pacientes-dia). É um indicador indireto robusto.
- Taxas de IRAS: Principalmente as taxas de IPCSL e de transmissão de bactérias multirresistentes.
- Conhecimento da equipe: Medido através de pré e pós-testes nos treinamentos.
- Percepção de segurança: Medida através de pesquisas de cultura de segurança.
- Referência:
17. Como a tecnologia (ex: monitoramento eletrônico) pode aprimorar um programa?
Sistemas eletrônicos usam sensores nos dispensadores e crachás para monitorar a frequência de higiene das mãos de forma automática e contínua. Eles eliminam o viés do observador (Efeito Hawthorne), fornecem dados em tempo real e podem dar feedback imediato e individualizado, sendo uma ferramenta poderosa para programas maduros.
- Referência:
18. Qual a diferença entre higienizar as mãos com água e sabão e com álcool em gel?
- Álcool em gel: É o método de escolha para a maioria das situações de rotina, por ser mais rápido, eficaz e acessível no ponto de cuidado.
- Água e sabão: É obrigatório quando as mãos estão visivelmente sujas, após usar o banheiro, e em casos de exposição a patógenos que formam esporos (como Clostridioides difficile) ou resistentes ao álcool (como Norovírus).
- Referência:
19. Como manter o programa vivo e relevante ao longo do tempo?
A sustentabilidade exige compromisso contínuo. As estratégias incluem: variar as campanhas anuais (com temas e visuais novos), celebrar os “heróis” da higiene das mãos, integrar a higiene das mãos às metas de desempenho dos setores, e continuar o ciclo de monitoramento e feedback, mostrando às equipes que o trabalho delas importa e faz a diferença.
- Referência:
- https://www.youtube.com/@CCIHCursosMBA
20. Onde encontrar as ferramentas e guias oficiais da OMS para implementar a Estratégia Multimodal?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e seu braço nas Américas, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), disponibilizam gratuitamente todos os guias, pôsteres, checklists de avaliação e ferramentas de implementação em seu site oficial, na página da campanha anual “SALVE VIDAS: Higienize Suas Mãos”.
Metodologia:
- Observações foram realizadas em 29 unidades do hospital, com uma média mensal de 1.490 observações.
- O programa incluiu treinamento robusto para observadores, baseado nos “Cinco Momentos para a Higiene das Mãos” da OMS.
- Dados foram coletados e analisados por unidade, tipo de provedor e temas de falhas de HH.
Resultados:
- A conformidade institucional com HH manteve-se acima de 95% de 2013 a 2019.
- As falhas mais comuns incluíam “tocar em si mesmo” e “usar o telefone” durante o cuidado ao paciente.
- O programa melhorou a comunicação sobre segurança do paciente e práticas de prevenção de infecções.
Desafios e Limitações:
- Crescimento da instituição e rotatividade de pessoal.
- Efeito Hawthorne, onde a consciência de ser observado pode influenciar o comportamento.
Conclusões:
- O programa aumentou a conscientização sobre práticas de prevenção de infecções e melhorou a conformidade com HH.
- A análise temática ajudou a identificar áreas específicas para melhorias.
- O programa serviu como um modelo para a cultura de segurança do paciente no hospital.
O documento destaca a importância de observações abertas e feedback em tempo real para melhorar a higiene das mãos e prevenir infecções em ambientes hospitalares.
Como a análise temática ajudou a melhorar a higiene das mãos?
A análise temática ajudou a melhorar a higiene das mãos (HH) ao identificar padrões específicos de falhas e áreas que necessitavam de intervenção. A partir de 2014, as falhas de HH foram categorizadas em seis temas, como “antes de tocar no paciente”, “uso de luvas em vez de HH”, “uso do telefone durante o cuidado ao paciente”, “tocar em si mesmo durante o cuidado ao paciente”, “após tocar no paciente” e “após tocar no ambiente do paciente”.
Essa categorização permitiu:
Identificação de Problemas Comuns: A análise revelou que “tocar em si mesmo” e “usar o telefone” eram causas comuns de falhas de HH.
Educação Direcionada: Com base nos temas identificados, foram desenvolvidas intervenções educacionais específicas para abordar esses problemas. Por exemplo, a educação sobre a necessidade de silenciar os telefones durante o cuidado ao paciente e a importância de evitar tocar em si mesmo.
Feedback Específico: A análise temática permitiu fornecer feedback mais detalhado e específico aos profissionais de saúde, ajudando-os a entender melhor os momentos críticos para a HH e como evitar falhas.
Melhoria Contínua: A revisão mensal dos temas ajudou a monitorar o progresso e ajustar as estratégias de intervenção conforme necessário.
Essas ações resultaram em uma redução significativa nas falhas de HH relacionadas aos temas identificados, contribuindo para uma maior conformidade e melhorando a segurança do paciente.
Fonte:
Kimberly B. et cols: The power of feedback: Implementing a comprehensive hand hygiene observer program. American Journal of Infection Control 51 (2023) 142−148.
Link: https://www.ajicjournal.org/article/S0196-6553(22)00477-1/abstract
Outros links:
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
ANVISA lança nota técnica sobre higiene das mãos: https://www.ccih.med.br/anvisa-lanca-nota-tecnica-sobre-higiene-das-maos/
Estratégias Multimodais para Campanhas de Conscientização sobre Higiene das Mãos em Hospitais: https://www.ccih.med.br/estrategias-multimodais-para-campanhas-de-conscientizacao-sobre-higiene-das-maos-em-hospitais/
Debatendo o novo guia SHEA/ISDA/APIC sobre higiene das mãos: https://www.ccih.med.br/debatendo-o-novo-guia-shea-isda-apic-sobre-higiene-das-maos/
Higiene das mãos: implementação de ações de acordo com SHEA/IDSA/APIC: https://www.ccih.med.br/higiene-das-maos-implementacao-de-acoes-de-acordo-com-shea-idsa-apic/
Sinopse por:
Antonio Tadeu Fernandes:
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